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Ezequiel 26 Estudo: Por que Tiro foi condenada por Deus?

Diego Nascimento
Escrito por Diego Nascimento

Ezequiel 26 me ensina que nenhum poder humano pode resistir ao juízo de Deus. Tiro parecia inabalável. Sua força militar, riqueza e influência internacional eram inquestionáveis. Mas sua soberba diante da queda de Jerusalém e seu desejo de lucrar com a dor alheia atraíram sobre si a indignação do Senhor. Ao contemplar essa profecia, vejo que Deus derruba o orgulho e humilha tudo o que se exalta contra Ele. Nenhuma fortaleza marítima, nenhum império financeiro, nenhuma estrutura humana está fora do alcance da mão divina.

Qual é o contexto histórico e teológico de Ezequiel 26?

O capítulo 26 é um oráculo de juízo contra Tiro, a mais poderosa cidade fenícia do mundo antigo. Localizada em uma ilha a cerca de 550 metros da costa, Tiro era protegida naturalmente pelas águas profundas e por imponentes fortificações. Sua economia girava em torno do comércio marítimo e de colônias estratégicas como Cartago, Chipre e outras ao redor do Mediterrâneo (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018, p. 921). A cidade era símbolo de poder, beleza e riqueza.

No entanto, após a queda de Jerusalém em 586 a.C., Tiro reagiu com escárnio. Em vez de lamentar a destruição de Judá, alegrou-se e esperou se beneficiar economicamente, assumindo as rotas comerciais que antes passavam por Jerusalém (BLOCK, 2012, p. 57). Esse espírito de ganância despertou a ira de Deus, que anunciou, por meio de Ezequiel, o juízo sobre a cidade.

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Historicamente, Nabucodonosor, rei da Babilônia, iniciou um cerco a Tiro logo após a destruição de Jerusalém, por volta de 585 a.C., que se estendeu por treze anos (Josefo, Contra Apion, 1.21). Embora Tiro não tenha sido destruída completamente por ele, sua independência foi reduzida drasticamente, e sua dinastia ficou sob controle babilônico. A profecia de Ezequiel antecipa esse cerco, mas vai além, descrevendo uma devastação total que se cumpre plenamente apenas séculos depois, com Alexandre, o Grande.

Como o texto de Ezequiel 26 se desenvolve?

O capítulo se divide em quatro seções principais, cada uma introduzida pela expressão “assim diz o Soberano Senhor”, refletindo uma progressão lógica: o anúncio do juízo (vv. 1–6), a descrição da invasão liderada por Nabucodonosor (vv. 7–14), o impacto internacional da queda de Tiro (vv. 15–18) e, por fim, o retrato teológico de sua ruína no Sheol (vv. 19–21).

1. Por que Tiro foi julgada por Deus? (Ezequiel 26.1–6)

Tiro zombou de Jerusalém: “Ah! Ah! O portal das nações está quebrado… agora eu prosperarei” (v. 2). Sua alegria diante da queda de Judá era egoísta e oportunista. Em vez de se compadecer, desejou tirar proveito da tragédia. Deus responde: “Estou contra você, ó Tiro” (v. 3).

A imagem usada é poderosa: “trarei muitas nações contra você; virão como o mar quando eleva as suas ondas”. Essas ondas simbolizam os exércitos invasores. A cidade, outrora majestosa, seria reduzida a uma rocha nua, onde apenas redes de pesca seriam estendidas (v. 5). A profecia atinge não apenas a ilha, mas também os territórios continentais sob sua jurisdição, chamados de “filhas” (v. 6).

Ao ler essa parte, percebo que Deus leva a sério quando alguém se alegra com a dor do outro. Tiro não apenas ignorou Jerusalém — ela celebrou sua queda. Esse tipo de insensibilidade, motivada por ganância, revela um coração distante de Deus.

2. Como Nabucodonosor seria usado como instrumento de juízo? (Ezequiel 26.7–14)

Nabucodonosor é chamado de “rei de reis” (v. 7), título que ressalta sua autoridade temporal, mas que, na visão profética, não apaga o fato de ele ser apenas um servo nas mãos de Yahweh. Deus diz: “eu trarei contra você… Nabucodonosor”. A soberania divina dirige até mesmo os exércitos imperiais.

O texto descreve em detalhes as estratégias de guerra: muros de cerco, rampas, escudos, aríetes, machados (vv. 8–9). A poeira dos cavalos cobriria Tiro, seus muros tremeriam, seus habitantes seriam mortos, e suas colunas, símbolo de estabilidade e riqueza, ruiriam (vv. 10–11).

O saque seria total: “derrubarão seus muros e demolirão suas lindas casas, e lançarão suas pedras… ao mar” (v. 12). Esse detalhe ecoa fortemente nas campanhas posteriores de Alexandre, que literalmente usou os entulhos da cidade continental para construir um aterro e invadir a ilha.

A música cessaria. O barulho das harpas e dos cânticos seria silenciado para sempre (v. 13). Tiro jamais seria reconstruída. A cidade que zombou da queda de Jerusalém agora seria o exemplo de ruína irreversível. Essa sentença, no final do trecho, é selada com a declaração divina: “pois eu, o Senhor, falei” (v. 14).

3. Como as outras nações reagiriam à queda de Tiro? (Ezequiel 26.15–18)

A destruição de Tiro teria um impacto internacional. As regiões costeiras tremeriam ao ouvir sobre sua queda (v. 15). Os príncipes do mar — governantes de outras cidades litorâneas — deixariam seus tronos e se vestiriam de pavor (v. 16). Um lamento seria entoado: “Como você está destruída, ó cidade de renome!” (v. 17).

Esses versos mostram que Tiro era um símbolo de estabilidade e força. Sua queda abalaria emocional e economicamente outras nações, como Cartago, Sidom e Chipre. O lamento se parece com os cânticos fúnebres do mundo antigo, nos quais se expressava dor e desorientação diante da perda de uma referência.

Aqui eu vejo algo profundo: até os inimigos de Tiro se abalariam. Isso revela como o orgulho humano é frágil. Tudo aquilo que parece inabalável aos olhos do mundo pode ruir num instante quando Deus decide intervir.

4. O que revela o retrato final de Tiro no Sheol? (Ezequiel 26.19–21)

Na última seção, o juízo assume um tom teológico e escatológico. Deus diz: “Farei de você uma cidade desolada… quando eu trouxer o grande abismo sobre você” (v. 19). As águas aqui representam mais que destruição literal — simbolizam o julgamento final de Deus.

Tiro é retratada descendo à cova, ao “mundo inferior”, junto com “o povo de tempos antigos” (v. 20). O destino da cidade é comparado ao de indivíduos que descem ao Sheol, local de escuridão e esquecimento. O texto reforça: “serás procurada, mas nunca serás achada novamente” (v. 21).

Daniel I. Block (2012, p. 69) destaca que, ao contrário das crenças cananeias sobre o submundo, em que deuses morriam e ressuscitavam ciclicamente, o Sheol de Ezequiel é um ponto final. Yahweh controla a entrada e ninguém sai de lá. Isso reforça a soberania de Deus até sobre a morte e o pós-morte.

Essa imagem final me impressiona. Tiro, que se julgava eterna, é lançada no esquecimento. É um aviso claro para qualquer pessoa, nação ou império que pense estar acima do juízo de Deus.

Como Ezequiel 26 se cumpre no Novo Testamento?

Embora Ezequiel 26 não tenha uma referência direta e messiânica no Novo Testamento, ele se encaixa perfeitamente na teologia do juízo que permeia os Evangelhos e o Apocalipse. A soberba de Tiro ecoa nos discursos de Jesus contra cidades que não se arrependem, como Mateus 11.20–24, quando Ele menciona Tiro e Sidom como exemplos de cidades que, se tivessem visto os milagres feitos por Ele, teriam se arrependido.

Além disso, a ideia de juízo divino contra sistemas econômicos arrogantes e exploradores reaparece em Apocalipse 18, na destruição da Babilônia, retratada como um centro comercial opulento que corrompe as nações. Assim como Tiro, ela é lamentada por reis, comerciantes e navegadores — todos impactados por sua queda.

A conexão está na mensagem: Deus não tolera arrogância, exploração ou confiança em riquezas. Seu juízo virá, e será definitivo.

O que Ezequiel 26 me ensina para a vida hoje?

Ao refletir sobre Ezequiel 26, eu aprendo que não posso me alegrar com a dor do outro, nem construir minha vida sobre o tropeço alheio. A atitude de Tiro me confronta. Quantas vezes, mesmo sem dizer, me alegrei ao ver alguém que me incomodava “cair”? Esse tipo de sentimento é um veneno espiritual que me afasta de Deus.

Também percebo que toda estrutura de segurança humana pode ruir. Fortalezas, navios, comércio, fama — nada disso sustenta uma alma diante do juízo de Deus. Se coloco minha confiança nessas coisas, corro o risco de cair como Tiro.

Outro ponto importante: o juízo de Deus não é apenas uma reação, mas uma forma de revelar Sua glória. Quando Ele derruba o orgulho e exalta Sua justiça, todos saberão que Ele é o Senhor. Isso me desafia a viver com humildade e reverência.

Ezequiel 26 é, acima de tudo, um chamado à vigilância espiritual. É fácil achar que estamos seguros quando tudo parece prosperar. Mas a verdadeira segurança está em obedecer e confiar no Senhor, e não em cercas, muros ou moedas.


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