Gênesis 15 é um dos textos mais profundos sobre fé, promessa e aliança em toda a Bíblia. Sempre que leio esse capítulo, sou lembrado de que a caminhada com Deus não é feita apenas de conquistas imediatas, mas de confiança paciente nas Suas promessas. Aqui, vemos Deus não apenas fazendo promessas a Abrão, mas selando-as com uma aliança visível, que aponta para o cuidado e o compromisso divino com o futuro do Seu povo.
Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 15?
O livro de Gênesis foi escrito por Moisés, provavelmente durante o período do êxodo ou logo depois, no século XV ou XIII a.C., conforme defendem os estudiosos mais conservadores. Esse capítulo está inserido no ciclo da vida de Abrão, o patriarca escolhido por Deus para ser o início de um povo especial, Israel.
Abrão já havia experimentado o chamado divino para deixar sua terra em Gênesis 12, a promessa de bênçãos e a experiência de livramento nas batalhas, como vemos no capítulo 14. Contudo, mesmo depois dessas experiências, Abrão ainda não tinha um herdeiro, e a promessa da terra ainda estava pendente de confirmação formal.
Nesse ponto, a cultura do antigo Oriente Próximo oferece elementos importantes para compreender o texto. Segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), alianças entre reis e servos ou entre partes de um tratado eram comuns. Tais alianças frequentemente envolviam rituais simbólicos, como o corte de animais ao meio, indicando as consequências de quebrar o pacto.
Waltke e Fredericks (2010) também apontam que o contexto cultural ajuda a entender como Deus comunica a Abrão através de uma visão e de imagens familiares à sua época, mas com um significado teológico único. Diferente dos deuses pagãos, que exigiam sacrifícios e eram instáveis, o Deus de Israel aparece como um Deus pessoal, fiel e justo.
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Teologicamente, Gênesis 15 marca o fortalecimento da aliança abraâmica. Aqui, Deus confirma de forma solene e visível aquilo que já havia prometido: Abrão terá descendentes e herdará a terra. Além disso, o versículo 6 introduz de forma explícita o conceito da justificação pela fé, tema central em toda a Escritura.
Como o texto de Gênesis 15 se desenvolve? (Gênesis 15.1-21)
O capítulo é estruturado em dois momentos principais: o primeiro trata da promessa da descendência (v. 1-6), e o segundo da promessa da terra (v. 7-21). Ambos os momentos incluem um diálogo entre Deus e Abrão, seguido de sinais ou rituais que confirmam as palavras divinas.
Promessa da Descendência e Justificação pela Fé (Gênesis 15.1-6)
O texto começa com Deus falando a Abrão em visão:
“Não tenha medo, Abrão! Eu sou o seu escudo; grande será a sua recompensa!” (Gênesis 15.1).
Segundo Waltke e Fredericks (2010), a expressão “Eu sou o seu escudo” retoma o episódio da vitória sobre os reis inimigos no capítulo 14. Deus se apresenta como protetor, e o “grande galardão” contrasta com os despojos rejeitados por Abrão anteriormente.
Ainda assim, Abrão expressa sua frustração:
“Ó Soberano Senhor, que me darás, se continuo sem filhos?” (Gênesis 15.2).
A situação cultural da época permitia que um servo fosse adotado como herdeiro (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018), mas Abrão anseia pelo cumprimento literal da promessa de Deus. A resposta divina não deixa dúvidas:
“Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado por você mesmo será o seu herdeiro” (Gênesis 15.4).
Deus então o leva para fora e o convida a olhar as estrelas:
“Assim será a sua descendência” (Gênesis 15.5).
Aqui, o texto alcança um dos pontos mais importantes:
“Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gênesis 15.6).
Esse versículo fundamenta toda a doutrina bíblica da justificação pela fé, como explicado em Romanos 4 e Gálatas 3. Como ressalta Waltke (2010), Abrão é declarado justo não por suas obras, mas por confiar na promessa de Deus, antecipando a experiência de todos os que creem em Cristo.
Promessa da Terra e o Ritual da Aliança (Gênesis 15.7-21)
Na sequência, Deus reafirma:
“Eu sou o Senhor, que o tirei de Ur dos caldeus para dar-lhe esta terra como herança” (Gênesis 15.7).
Abrão, em um gesto honesto de fé, pergunta:
“Ó Soberano Senhor, como posso saber que tomarei posse dela?” (Gênesis 15.8).
O pedido por garantias não é sinal de incredulidade, mas de fé amadurecendo, como destacam Waltke e Fredericks (2010).
Deus então instrui Abrão a preparar um ritual de aliança. Os animais cortados ao meio e as aves representam um rito de compromisso, como era costume no antigo Oriente Próximo (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018). Abrão defende os cadáveres das aves de rapina, simbolizando a proteção que Deus dará à promessa.
Ao pôr-do-sol, Deus fala a Abrão em meio ao sono profundo e a escuridão:
“Saiba que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não lhes pertencerá… Mas eu castigarei a nação a quem servirão como escravos e, depois de tudo, sairão com muitos bens” (Gênesis 15.13-14).
Essa profecia antecipa os 400 anos de Israel no Egito, a opressão e o êxodo, como registrado em Êxodo 12.
Por fim, o texto descreve:
“Eis que um fogareiro esfumaçante, com uma tocha acesa, passou por entre os pedaços dos animais” (Gênesis 15.17).
Essa imagem representa a presença de Deus, purificador e soberano. Conforme Waltke (2010), o ritual demonstra que Deus assume unilateralmente o compromisso da aliança — só Ele passa entre os pedaços, enfatizando a fidelidade divina, independentemente da fraqueza humana.
A aliança envolve a promessa da terra, desde o ribeiro do Egito até o Eufrates, abrangendo povos como queneus, hititas e jebuseus. Essas fronteiras representam tanto um ideal político quanto um significado espiritual, inserindo Israel entre as grandes nações do Oriente Próximo.
Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 15?
Gênesis 15 contém fortes elementos proféticos, que ecoam por toda a Bíblia:
- A profecia dos 400 anos de escravidão e do êxodo se cumpre em Êxodo 12.
- A promessa da descendência inumerável de Abrão se concretiza tanto no nascimento de Isaque quanto no crescimento de Israel e na vinda do Messias.
- O Novo Testamento interpreta a justificação de Abrão como modelo para os crentes em Cristo (Rm 4.22-25).
- A aliança da terra aponta para a herança celestial e definitiva dos que creem (Hb 11.8-16).
- O ritual da aliança prefigura o sacrifício de Cristo, o verdadeiro Cordeiro, que sela uma aliança eterna com Seu sangue.
Além disso, Abrão é chamado de “pai dos que creem”, e a sua experiência de confiar mesmo sem ver é central para o ensino cristão sobre fé e perseverança.
O que Gênesis 15 me ensina para a vida hoje?
Sempre que leio Gênesis 15, lembro que a caminhada com Deus é feita de promessas, mas também de espera. Assim como Abrão, muitas vezes me vejo perguntando: “Senhor, como saberei?”.
Deus não repreende Abrão por suas dúvidas, mas as transforma em um convite para confiar mais profundamente. Isso me ensina que fé e questionamento sincero podem caminhar juntos.
O versículo 6 me confronta: Abrão foi declarado justo por confiar em Deus, não por ser perfeito. Na vida cristã, também sou chamado a confiar nas promessas de Deus, mesmo quando o cenário parece desfavorável.
A visão do fogareiro e da tocha me lembra que Deus assume compromisso comigo, mesmo quando sou frágil. Ele é fiel, mesmo quando fraquejo. Essa é a base da minha segurança espiritual.
A promessa da terra me aponta para algo maior: minha verdadeira herança não está limitada a este mundo, mas na vida eterna em Cristo.
Por fim, aprendo que o processo de Deus pode envolver longas esperas, como os 400 anos profetizados. No entanto, o Senhor controla o tempo e cumpre Sua palavra no momento certo.
Como Gênesis 15 me conecta ao restante das Escrituras?
Este capítulo me ajuda a ver a Bíblia de forma conectada:
- Em Gênesis 12, vejo o chamado de Abrão; em Gênesis 15, a confirmação da aliança.
- O tema da justificação pela fé se desenvolve em Romanos 4 e Gálatas 3.
- O Êxodo cumpre a profecia de opressão e livramento anunciada aqui.
- O sacrifício de Jesus é a expressão suprema da aliança iniciada com Abrão.
- A herança da terra aponta para a pátria celestial, como descrito em Hebreus 11.
Percebo que a história de Abrão não é apenas dele. É o início de um plano maior que envolve Israel, o Messias e todos que creem em Cristo.
Referências
- WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.