Mateus 19 apresenta Jesus caminhando rumo ao sul, à Judéia, preparando-se para os momentos finais do seu ministério terreno. Neste capítulo, Mateus registra ensinos essenciais sobre casamento, divórcio, a simplicidade da fé das crianças, as exigências do discipulado e a recompensa eterna. É um texto que mexe com a nossa visão de família, riqueza, salvação e compromisso com Cristo.
Como destaca Hendriksen, “Mateus organiza seu Evangelho para apresentar Jesus não apenas como o Messias, mas como aquele que confronta as distorções religiosas e chama seus seguidores a um padrão de vida radicalmente diferente” (HENDRIKSEN, 2001, p. 777).
Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 19?
Jesus está deixando a Galileia e atravessando para a Pereia, território a leste do Jordão, em direção a Jerusalém. O ministério na Galileia está encerrado. Daqui em diante, os acontecimentos se intensificam até culminarem na cruz.
O pano de fundo teológico deste capítulo inclui debates sobre o casamento e o divórcio, comuns entre os judeus da época. Havia duas escolas predominantes: a de Shammai, mais rigorosa, permitia o divórcio apenas em casos de adultério; e a de Hillel, mais liberal, aceitava o divórcio por motivos triviais.
Jesus, porém, não entra no jogo dos fariseus. Ele volta às origens, à criação, para afirmar o propósito divino do casamento. Além disso, Jesus quebra paradigmas culturais ao valorizar as crianças e ao desmascarar o apego às riquezas como um obstáculo à salvação.
Como explica Sproul, “Jesus confronta as expectativas humanas e mostra que o Reino de Deus não é acessível por mérito, status ou posses, mas pela graça e pela rendição a Cristo” (SPROUL, 2010, p. 489).
O que o texto de Mateus 19 nos ensina, versículo por versículo?
>>> Inscreva-se em nosso Canal no YouTube
Casamento e divórcio (Mateus 19.1–12)
Jesus é abordado por fariseus com uma pergunta capciosa sobre o divórcio (v. 3). Eles não buscavam a verdade, mas uma armadilha. Jesus responde com base em Gênesis 1.27 e Gênesis 2.24: “Desde o princípio, o Criador os fez homem e mulher” (v. 4).
O propósito divino é claro: unidade, fidelidade e permanência. “Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe” (v. 6). Quando os fariseus citam Moisés (v. 7), Jesus os corrige: a permissão ao divórcio foi uma concessão diante da dureza humana, não o ideal de Deus (v. 8).
Ele estabelece a única exceção legítima ao divórcio: “exceto por imoralidade sexual” (v. 9), termo que, como aponta Hendriksen, deriva do grego porneia, abrangendo várias formas de infidelidade conjugal (HENDRIKSEN, 2001, p. 780).
Os discípulos, assustados, concluem: “É melhor não casar” (v. 10). Jesus reconhece que o celibato é um dom para alguns, especialmente por amor ao Reino (v. 11–12). Essa passagem exalta tanto a santidade do casamento quanto a dignidade da vida solteira consagrada a Deus.
Jesus e as crianças (Mateus 19.13–15)
Pais levam crianças a Jesus, mas os discípulos tentam impedir (v. 13). A atitude deles reflete a mentalidade da época, em que crianças tinham pouco valor social.
Jesus os repreende e afirma: “Deixem vir a mim as crianças… pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas” (v. 14). A fé simples e dependente das crianças é exaltada como exemplo para todos nós.
Sproul destaca: “As crianças nos ensinam sobre o Reino: total confiança, despretensão e humildade. É assim que se entra na presença de Deus” (SPROUL, 2010, p. 492).
Esse ensino conecta-se diretamente com o que vimos em Mateus 18, quando Jesus também exaltou a humildade infantil como requisito para o Reino.
O jovem rico (Mateus 19.16–22)
Um jovem rico se aproxima com uma pergunta sincera: “Que farei de bom para ter a vida eterna?” (v. 16). Ele pensa em termos de mérito e obras.
Jesus o leva a refletir sobre a bondade absoluta de Deus (v. 17) e aponta os mandamentos (v. 18–19). O jovem alega cumprir todos. Jesus, então, revela o verdadeiro ídolo do seu coração: “Vá, venda tudo o que possui, dê aos pobres… depois, venha e siga-me” (v. 21).
O jovem se entristece e vai embora, pois amava suas riquezas (v. 22). Ele queria a vida eterna, mas não ao custo de abrir mão do conforto terreno.
Esse episódio também se conecta ao alerta de Jesus em Mateus 6, quando Ele afirmou: “Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro”.
A dificuldade dos ricos e o poder de Deus (Mateus 19.23–26)
Jesus alerta: “Dificilmente um rico entrará no Reino dos céus” (v. 23). O apego ao dinheiro cria um falso senso de segurança e sufoca a fé.
Ele usa a imagem impactante do camelo e do fundo da agulha (v. 24), uma hipérbole para mostrar a impossibilidade humana de alcançar a salvação.
Os discípulos ficam perplexos: “Quem pode ser salvo?” (v. 25). Jesus responde: “Para o homem é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis” (v. 26). A salvação não depende de mérito ou esforço humano, mas da graça divina.
A mesma verdade é destacada por Paulo em Efésios 2.8–9: a salvação é dom de Deus.
A recompensa dos discípulos (Mateus 19.27–30)
Pedro pergunta sobre o que os espera por terem deixado tudo para seguir Jesus (v. 27). Jesus promete bênçãos eternas e temporais: os discípulos reinarão ao lado dele (v. 28), e todo sacrifício por amor a Cristo será recompensado cem vezes mais (v. 29).
A conclusão de Jesus inverte as expectativas humanas: “Muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros” (v. 30). No Reino de Deus, status e riqueza não determinam grandeza; o que conta é o coração humilde e entregue.
Esse princípio se repete ao longo do Evangelho, como em Mateus 5, nas bem-aventuranças, onde Jesus exalta os humildes e quebrantados.
Como Mateus 19 se conecta com o cumprimento das profecias?
Jesus reafirma o padrão estabelecido na criação, conforme Gênesis 1.27 e Gênesis 2.24, apontando para o ideal eterno de Deus para o casamento.
Além disso, o ensino sobre a dificuldade dos ricos e a necessidade da graça ecoa o que os profetas anunciaram sobre a incapacidade humana e a provisão salvadora de Deus, como lemos em Isaías 64.6 e Ezequiel 36.26.
O chamado de Jesus para deixar tudo e segui-lo remete ao padrão do discipulado radical, profetizado em textos como Salmos 45.10–11, onde a noiva é chamada a deixar sua casa para se unir ao Rei — um símbolo da entrega total ao Messias.
Quais lições práticas Mateus 19 traz para minha vida hoje?
Este capítulo fala profundamente ao meu coração. Ele me ensina que:
- O casamento é sagrado. Não é uma aliança descartável, mas um compromisso diante de Deus. Preciso lutar pela unidade e pureza do meu casamento, lembrando que o ideal de Deus permanece o mesmo.
- As crianças têm lugar especial no Reino. Jesus ama e valoriza os pequenos. Isso me desafia a investir na fé dos meus filhos e a cultivar uma fé simples e confiante, como a deles.
- Não posso servir a dois senhores. O jovem rico me confronta. Será que algo ocupa o lugar de Cristo no meu coração? Preciso estar disposto a abrir mão de qualquer ídolo para segui-lo.
- A salvação não depende de mim. É dom de Deus. Minha esperança está na graça, não nas minhas obras ou status.
- Vale a pena sacrificar por Cristo. Nenhuma renúncia é em vão. Ele prometeu recompensa aqui e, sobretudo, vida eterna.
- No Reino de Deus, os valores são invertidos. Não devo me deixar iludir pelos critérios do mundo. Deus vê o coração.
Este capítulo também me lembra da importância de confiar nas promessas de Deus, assim como Ele cumpriu suas promessas ao longo da história, como vemos em Gênesis 12 e Mateus 1.
O que Mateus 19 me ensina para a vida hoje?
Mateus 19 me desafia a levar o discipulado a sério. Não é um convite confortável. Jesus exige entrega, humildade e fé.
Ele valoriza o casamento, ama as crianças, confronta os apegos do meu coração e promete recompensas eternas. Mais do que regras, Ele aponta o caminho da graça e da verdadeira vida.
Como em Apocalipse 21, Ele nos lembra que existe uma realidade eterna esperando por aqueles que o seguem. E, mesmo que o caminho seja estreito, Ele já garantiu: “Para Deus, todas as coisas são possíveis” (Mateus 19.26).
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.