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Números 28 Estudo: Por que Deus exigia ofertas diárias?

Diego Nascimento
Escrito por Diego Nascimento

Números 28 é um chamado à fidelidade e à adoração constante. Ele reorganiza as ofertas diárias, sabáticas, mensais e festivas para uma nova geração de israelitas que em breve entraria em Canaã. Não é apenas sobre sacrifícios, mas sobre uma vida ritmada pela presença de Deus, onde cada dia, cada estação e cada celebração são oportunidades para se lembrar do Senhor.

Qual é o contexto histórico e teológico de Números 28?

Números 28 está inserido na última seção do livro, quando o povo de Israel se prepara para conquistar a Terra Prometida. Após quase 40 anos de peregrinação no deserto, uma nova geração substitui a antiga, que morreu por causa da incredulidade (Nm 26.64-65). Era necessário relembrar e reafirmar as instruções do Senhor, especialmente quanto à adoração e ao culto no contexto de uma vida sedentária, agrícola e estabelecida na terra.

O capítulo se concentra em ofertas regulares: diárias, sabáticas, mensais e festivas. Como explicam Walton, Matthews e Chavalas, essas práticas não eram exclusivas de Israel. No antigo Oriente Próximo, os povos ofereciam sacrifícios regularmente aos seus deuses, especialmente nas fases lunares e durante as estações agrícolas (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018). O diferencial de Israel, porém, estava em sua motivação: os sacrifícios não eram para manipular divindades, mas para responder à aliança com o Deus vivo.

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Além disso, Merrill destaca que essa legislação era fundamental na véspera da conquista, pois a vida em Canaã exigiria uma renovação do compromisso com Deus (MERRILL, 1985). Cada oferta era um lembrete: Israel pertencia ao Senhor e devia honrá-lo com constância e reverência.

Como o texto de Números 28 se desenvolve?

1. Por que Deus ordena ofertas diárias? (Números 28.1–8)

“Esta é a oferta preparada no fogo que vocês apresentarão ao Senhor: dois cordeiros de um ano, sem defeito, como holocausto diário” (Nm 28.3).

Essas ofertas eram feitas todas as manhãs e tardes, simbolizando uma entrega contínua. Eram sacrifícios comunitários — não individuais. A constância apontava para uma vida de gratidão, submissão e aliança. Como em [Êxodo 29.38–46], o Senhor queria habitar entre seu povo, e os holocaustos representavam essa comunhão diária.

Segundo Walton e colegas, a interrupção desse ciclo era vista como algo perigoso, pois rompia a conexão do povo com Deus (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018). Em Daniel 8.11–14, por exemplo, a suspensão das ofertas diárias é apresentada como uma afronta grave à santidade do culto.

2. Qual o significado da oferta do sábado? (Números 28.9–10)

“No dia de sábado, façam uma oferta de dois cordeiros… além do holocausto diário” (Nm 28.9-10).

O sábado era o dia semanal de descanso e lembrança da libertação do Egito (Êxodo 20.11). A oferta adicional nesse dia reforçava que o descanso era sagrado e centrado em Deus. Merrill destaca que esta é a primeira instrução específica sobre o ritual sabático, apesar de o sábado já ser reconhecido como dia santo (MERRILL, 1985).

Não era uma prática isolada de famílias, mas uma ação nacional. Interessante notar que, segundo Walton, não há evidência de culto comunitário regular aos sábados em Israel antigo, como temos hoje. O foco era no descanso e na santificação diante de Deus (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018).

3. O que representava a oferta da Lua nova? (Números 28.11–15)

“No primeiro dia de cada mês, apresentem ao Senhor um holocausto de dois novilhos…” (Nm 28.11).

A Lua nova marcava o início de cada mês no calendário lunar. Nos povos vizinhos, como os mesopotâmicos, era ligada à adoração ao deus da lua, Sin. Em Israel, essa marcação era usada para reafirmar a soberania do Senhor sobre o tempo e a criação.

As ofertas eram ainda mais robustas do que nos sábados: dois novilhos, um carneiro, sete cordeiros e um bode pelo pecado. Essa abundância expressava gratidão e consagração mensal, reafirmando a aliança a cada ciclo de tempo.

Além disso, como relata Números 10.10, o toque das trombetas nas Luas novas tinha o objetivo de lembrar o povo de sua identidade e do favor de Deus.

4. Como eram celebradas as festas anuais? (Números 28.16–31)

a) A Páscoa e a Festa dos Pães sem Fermento (28.16–25)

A celebração começava no dia 14 de nisã com a Páscoa (matança do cordeiro), seguida da Festa dos Pães sem Fermento do dia 15 ao 21. Cada dia dessa semana tinha sacrifícios semelhantes aos da Lua nova, além das ofertas diárias.

A festa coincidia com o início da colheita da cevada. O pão sem fermento, feito com o cereal recém-colhido, simbolizava pureza e pressa — lembrança da fuga do Egito. Como destacam Walton e colegas, essa conexão entre culto e agricultura era típica no Oriente Próximo, mas Israel reinterpretava esses ritos à luz da libertação divina (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018).

b) A Festa das Semanas (Pentecostes) (28.26–31)

Celebrada sete semanas após a Páscoa, marcava o fim da colheita do trigo. Também conhecida como Pentecostes, incluía os mesmos tipos de sacrifícios: dois novilhos, um carneiro, sete cordeiros e um bode como oferta pelo pecado.

Essa festa, segundo Merrill, tinha como foco a gratidão pela colheita e a renovação da aliança (MERRILL, 1985). Tradicionalmente, também era associada à entrega da Lei no Sinai. Era tempo de reconhecer que tudo vinha do Senhor — o pão, a terra, a Lei e a comunhão.

Como Números 28 aponta para Cristo e o Novo Testamento?

Números 28 está repleto de sombras que se cumprem em Jesus.

O sacrifício diário da manhã e da tarde aponta para a obra contínua de Cristo. Ele é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29). Sua morte foi única, mas seus méritos são eternos. Ele intercede por nós dia e noite (Hebreus 7.25).

O sábado, como descanso ordenado, se cumpre em Cristo. Em Mateus 11.28, ele convida os cansados a encontrarem descanso nele. O sábado semanal era um prenúncio do descanso espiritual que só Jesus pode dar.

As Luas novas e festas sazonais, com suas ofertas repetitivas, foram superadas no Novo Pacto. Como ensina Colossenses 2.16–17, “essas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo”.

A Festa das Semanas, ou Pentecostes, ganha novo significado em Atos 2. Naquele mesmo dia, em que os judeus agradeciam pela colheita do trigo, Deus iniciou uma nova colheita: o derramar do Espírito e o nascimento da Igreja.

Cristo é o cumprimento de cada oferta, cada festa e cada símbolo. Ele é o nosso holocausto, a nossa oferta de comunhão, nosso sumo sacerdote e nosso descanso.

O que Números 28 me ensina para a vida hoje?

Ao ler Números 28, sou confrontado com o chamado à constância. Deus deseja ser lembrado diariamente. As ofertas diárias me ensinam que devo começar e terminar meu dia na presença do Senhor. Minha vida não pode ser vivida no piloto automático. Preciso cultivar uma espiritualidade cotidiana, marcada por devoção sincera.

O sábado me lembra que preciso parar. Em um mundo acelerado, Deus me chama ao descanso. Um descanso que não é ociosidade, mas adoração. É um lembrete semanal de que não sou escravo do tempo nem do desempenho.

As Luas novas me desafiam a marcar novos começos com consagração. Cada mês que se inicia pode ser um tempo de revisão, entrega e gratidão. Posso perguntar: o que preciso oferecer a Deus neste novo ciclo?

As festas sazonais falam sobre ritmo. A vida cristã não é feita apenas de momentos pontuais, mas de estações. Há tempo de plantar, de colher, de celebrar, de jejuar. Preciso estar atento aos movimentos de Deus em minha história.

Também aprendo que o culto envolve tudo: tempo, recursos, alimentos, vinho, azeite, trabalho. Deus quer meu todo. Meu culto não se limita a um domingo de manhã, mas se espalha por todas as áreas da vida.

Além disso, o fato de essas ofertas serem comunitárias me lembra que não vivo a fé sozinho. O povo ofertava junto. Caminhava junto. Adorava junto. Eu também preciso de uma comunidade de fé com quem dividir sacrifícios e celebrações.

E, por fim, vejo que Cristo é tudo. Ele é o centro do calendário, o alvo da adoração e o sacrifício perfeito. Quando me sinto cansado ou inadequado, lembro que Ele já se ofereceu por mim. Hoje, posso viver uma vida de culto não para alcançar o favor de Deus, mas porque já fui aceito por meio de Jesus.


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