Gênesis 47 é um capítulo que revela de forma profunda como Deus cuida do Seu povo mesmo em meio às adversidades. Aqui, vemos o desenrolar da chegada da família de Jacó ao Egito, o estabelecimento em Gósen e a sábia administração de José em meio à crise. Ao ler esse texto, percebo como a fidelidade de Deus se mantém mesmo quando as circunstâncias parecem difíceis, e como Ele usa pessoas comuns, como José, para cumprir Seus propósitos.
Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 47?
O livro de Gênesis foi escrito por Moisés, em um período em que o povo de Israel precisava lembrar de suas origens e do Deus que os formou como nação. O capítulo 47 se insere no final da narrativa patriarcal, onde Jacó e sua família finalmente se estabelecem no Egito durante o governo de José, em meio a uma fome severa que assolava toda a região.
Historicamente, o texto menciona a “região de Ramessés” (Gênesis 47.11), identificada com a terra de Gósen, uma parte fértil do delta oriental do Nilo. Essa área era conhecida pela presença de povos semitas, como os hebreus, e, segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), esteve ligada à atividade dos hicsos, povos estrangeiros que governaram partes do Egito entre os séculos 18 e 16 a.C.
O relato também reflete práticas sociais e econômicas comuns do antigo Oriente Próximo, como o escambo (47.16-17), a escravidão por dívida (47.21-25) e a posse de terras pelo Estado (47.20-26). José, ao administrar a crise, segue padrões conhecidos da época, mas também demonstra sabedoria e compromisso com o bem-estar do povo.
Teologicamente, o capítulo destaca o cuidado de Deus ao preservar a família de Jacó, garantindo-lhes terras e sustento no Egito. Como observa Waltke (2010), o encontro entre Jacó e o faraó justapõe dois modos de vida: o patriarca peregrino, portador das promessas de Deus, e o faraó, símbolo do poder político egípcio. Apesar da aparente vulnerabilidade de Jacó, é ele quem abençoa o faraó, mostrando que a verdadeira bênção vem do Deus de Israel.
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Como o texto de Gênesis 47 se desenvolve?
O capítulo pode ser dividido em duas grandes seções: o estabelecimento da família de Jacó no Egito (v. 1-12) e a administração de José durante o período de fome (v. 13-31).
A família de Jacó se estabelece no Egito (Gênesis 47.1-12)
A narrativa começa com José informando ao faraó sobre a chegada de sua família:
“Meu pai e meus irmãos chegaram de Canaã com suas ovelhas, seus bois e tudo o que lhes pertence, e estão agora em Gósen” (v. 1).
Essa informação não é apenas logística, mas uma estratégia para garantir que sua família se estabeleça em uma região isolada, longe da influência cultural e religiosa dos egípcios. Waltke (2010) destaca que José enfatiza a profissão de pastores para assegurar ao faraó que sua família não tem ambições sociais ou políticas e para protegê-los de casamentos mistos e práticas pagãs.
O faraó, reconhecendo o valor de José e sua família, oferece o melhor da terra e ainda sugere que alguns sejam responsáveis pelo seu rebanho (v. 6). Isso demonstra o favor que Deus concedeu a José e, por consequência, à sua família.
Em seguida, acontece o encontro entre Jacó e o faraó. A cena é carregada de significado espiritual. Jacó, um velho patriarca peregrino, abençoa o faraó (v. 7, 10). Como observa Waltke (2010), mesmo diante do governante mais poderoso da terra, Jacó é o portador da bênção divina.
Jacó também compartilha um testemunho sincero sobre sua vida:
“Foram poucos e difíceis e não chegam aos anos da peregrinação dos meus antepassados” (v. 9).
Essa fala revela a humildade e a consciência do patriarca sobre as lutas e as promessas de Deus em sua jornada.
Por fim, José instala sua família na região de Ramessés, onde eles prosperam e são sustentados (v. 11-12). Esse detalhe revela o início do cumprimento da promessa de Deus de transformar os descendentes de Jacó em uma grande nação, como já havia sido dito em Gênesis 46.
A administração de José e a crise no Egito (Gênesis 47.13-31)
A segunda parte do capítulo descreve o agravamento da fome e as medidas tomadas por José. Primeiramente, todo o dinheiro do Egito e de Canaã é recolhido em troca de alimento (v. 13-14). Quando o dinheiro acaba, o povo oferece seus rebanhos (v. 15-17) e, depois, suas terras e a si mesmos como servos do faraó (v. 18-21).
Walton, Matthews e Chavalas (2018) explicam que a prática de adquirir terras para o Estado em momentos de crise era comum no antigo Oriente Próximo. José não age de forma opressora, mas oferece uma solução sustentável, fornecendo sementes e estabelecendo um arrendamento de 20% da produção (v. 23-24), o que era uma taxa justa para a época.
É interessante notar a reação do povo:
“Tu nos salvaste a vida” (v. 25).
Em vez de reclamar ou se revoltar, os egípcios reconhecem que José, com sua sabedoria, garantiu sua sobrevivência em tempos extremos. Isso contrasta com o que virá séculos depois, quando um novo faraó se esquecerá de José e o povo de Israel será oprimido (Êxodo 1).
Por fim, o texto mostra o florescimento dos israelitas em Gósen (v. 27) e a preocupação de Jacó com seu sepultamento. Ele faz José jurar que o levará de volta à terra dos seus antepassados (v. 29-31), revelando sua fé nas promessas de Deus.
Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 47?
Embora o texto não traga uma profecia direta, ele se conecta a várias promessas bíblicas e eventos futuros:
- O estabelecimento da família de Jacó no Egito cumpre a palavra de Deus a Abraão de que sua descendência peregrinaria em terra estrangeira (Gênesis 15.13).
- A multiplicação dos israelitas em Gósen antecipa o cenário do Êxodo, onde, mesmo oprimidos, eles continuam crescendo.
- A bênção de Jacó sobre o faraó ecoa o chamado de Deus para que Israel seja uma bênção às nações (Gênesis 12.3).
- A esperança de Jacó de ser sepultado na terra prometida aponta para a fidelidade de Deus e para a convicção de que Canaã não é apenas um território, mas o símbolo do cumprimento das promessas divinas, algo que se concretizará plenamente em Cristo.
O que Gênesis 47 me ensina para a vida hoje?
Ao meditar nesse texto, vejo lições muito práticas para minha vida:
Primeiro, aprendo sobre confiança nas promessas de Deus. Mesmo em um ambiente estranho como o Egito, Deus não abandona Jacó e sua família. Muitas vezes, me sinto deslocado ou enfrento situações difíceis, mas esse texto me lembra que o Senhor cuida dos Seus, onde quer que estejam.
Segundo, vejo que Deus usa pessoas comuns, como José, para grandes propósitos. Ele não era um sacerdote ou profeta, mas um administrador sábio e íntegro. Isso me ensina que Deus pode me usar no meu trabalho, nos negócios ou em qualquer área, se eu agir com sabedoria e fidelidade.
Outro ponto importante é o valor da integridade e da gratidão. José poderia ter se aproveitado do poder, mas trabalhou para o bem do povo e para a glória de Deus. E os egípcios, mesmo em situação de crise, reconheceram a ajuda recebida. No meu dia a dia, preciso agir com justiça e aprender a ser grato, mesmo quando as soluções não são ideais.
Também sou desafiado pelo exemplo de Jacó, que, mesmo tendo prosperidade no Egito, não perdeu de vista o propósito eterno. Ele sabia que o Egito não era o destino final. Assim como ele, preciso lembrar que, por mais que conquiste coisas neste mundo, minha verdadeira pátria é celestial, como o autor de Hebreus afirma:
“Eles estavam ansiosos por uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial” (Hebreus 11.16).
Por fim, o texto me ensina sobre o poder da bênção. Jacó abençoa o faraó, mostrando que, mesmo em circunstâncias de fragilidade, um filho de Deus carrega a autoridade espiritual para abençoar.
Como Gênesis 47 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo amplia minha visão sobre o plano de Deus:
- O crescimento de Israel no Egito prepara o caminho para o grande livramento do Êxodo, revelando a soberania divina.
- A terra de Gósen simboliza o cuidado especial de Deus com Seu povo, assim como hoje Ele nos guarda, mesmo em meio às dificuldades.
- José é um tipo de Cristo: ambos salvaram muitos da fome e da morte, ambos foram rejeitados e depois exaltados. Essa conexão me leva a olhar para Jesus como o verdadeiro Salvador.
- A promessa de Jacó de ser sepultado na terra dos pais aponta para a esperança da ressurreição e do descanso eterno no Reino de Deus.
Referências
- WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.