Colossenses 3: O que significa pensar nas coisas do alto hoje?

Colossenses 3 é, para mim, um dos textos mais práticos e transformadores de toda a carta. Sempre que leio essas palavras, percebo como o evangelho toca cada área da minha vida — do meu coração às minhas relações familiares e profissionais. Aqui, Paulo não nos apresenta apenas doutrina, mas um convite diário à santidade, à comunhão e à transformação interior, tendo Cristo como nosso centro e padrão.

Qual é o contexto histórico e teológico de Colossenses 3?

A carta aos Colossenses foi escrita pelo apóstolo Paulo por volta do ano 60 ou 61 d.C., durante sua primeira prisão em Roma, período em que também produziu outras epístolas conhecidas como “cartas da prisão”, como Efésios e Filipenses (Colossenses 4.10,18).

A cidade de Colossos estava localizada na região da Frígia, atual Turquia. Embora não fosse um grande centro comercial ou político como Éfeso ou Laodiceia, possuía uma comunidade cristã relevante, provavelmente fundada por Epafras, colaborador de Paulo (Colossenses 1.7; 4.12).

O cenário espiritual da época era permeado por sincretismo religioso, misticismo e forte influência de filosofias humanas. Havia a tendência de misturar o evangelho com práticas judaicas, regras ascéticas e especulações sobre seres espirituais intermediários, como anjos (Colossenses 2.8,16-18,23).

Craig Keener destaca que a religiosidade popular greco-romana alimentava essa fascinação por forças espirituais invisíveis e práticas de auto-negação. Nesse ambiente, muitos viam o mundo espiritual como algo inacessível, a não ser por meio de rituais ou figuras intermediárias (KEENER, 2017).

Paulo, então, escreve para reafirmar a suficiência absoluta de Cristo. Ele é o mediador único entre Deus e os homens, o Criador e Sustentador de todas as coisas, e, como veremos neste capítulo, também o modelo e a fonte para uma nova vida.

William Hendriksen ressalta que Colossenses 3 representa o momento em que a teologia da supremacia de Cristo (capítulos 1 e 2) se traduz em instruções práticas para a vida cristã, mostrando que nossa união com Cristo precisa afetar nosso comportamento diário (HENDRIKSEN, 2007).

Como o texto de Colossenses 3 se desenvolve?

1. Buscar as coisas do alto (Colossenses 3.1-4)

Paulo começa nos lembrando de nossa nova posição espiritual: “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto” (Colossenses 3.1).

Essa ressurreição espiritual refere-se à nossa união com Cristo, simbolizada no batismo (Colossenses 2.12) e realizada pela fé. Nossa mente e nossos desejos precisam estar alinhados com essa nova realidade.

“Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas” (Colossenses 3.2) é um chamado à renovação interior. Significa viver com os olhos fixos em Cristo e nos valores eternos, em vez de sermos dominados pelas preocupações passageiras deste mundo.

“Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus” (Colossenses 3.3) fala da segurança e da intimidade que temos em Cristo. Nossa verdadeira vida está guardada em Deus, e isso nos dá estabilidade mesmo em meio às lutas.

Por fim, Paulo aponta para a glorificação futura: “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Colossenses 3.4). A esperança do cristão não se limita ao presente, mas aponta para o retorno de Cristo e nossa participação em sua glória.

2. Abandonar o velho homem (Colossenses 3.5-11)

Se estamos em Cristo, há uma ruptura com o passado. Por isso, Paulo diz: “Façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês” (Colossenses 3.5).

Ele lista comportamentos que precisam ser eliminados: imoralidade sexual, impureza, paixões desordenadas, desejos maus e ganância, que é idolatria. Essas práticas, além de desonrar a Deus, atraem a sua ira (Colossenses 3.6).

O apóstolo lembra que essas coisas faziam parte da antiga maneira de viver dos colossenses (Colossenses 3.7). Mas agora, em Cristo, é hora de abandonar também atitudes como ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem indecente e mentira (Colossenses 3.8-9).

O motivo? “Vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo” (Colossenses 3.9-10). Esse novo homem está sendo renovado “à imagem do seu Criador”, um retorno ao propósito original de Deus para a humanidade, como ensinado em Gênesis 1.26-27.

Em Cristo, as barreiras sociais e culturais são abolidas: “Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos” (Colossenses 3.11). A nova humanidade em Cristo é marcada pela unidade e igualdade espiritual.

3. Revestir-se do novo homem (Colossenses 3.12-17)

Agora, Paulo descreve as virtudes que devem caracterizar o cristão:

“Como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência” (Colossenses 3.12).

Essa transformação não é apenas uma mudança de comportamento externo, mas um reflexo da nova identidade em Cristo. Precisamos suportar uns aos outros e perdoar, seguindo o exemplo do perdão de Deus (Colossenses 3.13).

Acima de tudo, devemos nos revestir do amor, que é o elo perfeito (Colossenses 3.14). O amor é o vínculo que mantém todas as virtudes em harmonia.

Paulo também fala da importância da paz de Cristo em nossos corações e da gratidão constante (Colossenses 3.15). A vida cristã é marcada pela presença da Palavra, pelo ensino mútuo, pela adoração e pela gratidão a Deus (Colossenses 3.16).

Ele conclui essa seção dizendo: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus” (Colossenses 3.17). Toda a nossa vida deve ser vivida sob a autoridade e para a glória de Cristo.

4. Viver a nova vida nos relacionamentos (Colossenses 3.18-25)

Paulo aplica o ensino à vida prática, começando pela família:

• “Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor” (Colossenses 3.18). Como explica Hendriksen, essa submissão não implica inferioridade, mas reconhece a ordem criada por Deus para o lar (HENDRIKSEN, 2007).
• “Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura” (Colossenses 3.19). O amor do marido deve refletir o amor sacrificial de Cristo pela Igreja (Efésios 5.25-33).

A seguir, Paulo aborda a relação entre pais e filhos:

• “Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor” (Colossenses 3.20). A obediência dos filhos faz parte do testemunho cristão.
• “Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem” (Colossenses 3.21). O ensino e a disciplina devem ser equilibrados com amor e encorajamento.

Por fim, o apóstolo trata dos relacionamentos no contexto de trabalho, que naquela época incluía a escravidão:

• “Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos… com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem ao Senhor” (Colossenses 3.22).
• “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens” (Colossenses 3.23).

Paulo lembra que o serviço prestado, mesmo em condições difíceis, é, na verdade, um serviço a Cristo, e Ele recompensará justamente (Colossenses 3.24-25).

Keener observa que, embora Paulo não promova a abolição imediata da escravidão, o evangelho contém princípios que, a longo prazo, minam as estruturas injustas e promovem a dignidade e a igualdade de todos diante de Deus (KEENER, 2017).

Que conexões proféticas encontramos em Colossenses 3?

Este capítulo ecoa várias verdades do Antigo Testamento e aponta para o cumprimento em Cristo.

O chamado para buscar as coisas do alto remete à visão do Messias entronizado, como em Salmo 110.1, onde o Senhor é convidado a sentar-se à direita de Deus.

A renovação à imagem do Criador (Colossenses 3.10) retoma o projeto original de Gênesis 1.26-27, agora restaurado em Cristo.

A abolição de barreiras étnicas e sociais cumpre promessas como Isaías 49.6, onde o Messias seria luz para as nações.

O modelo de relacionamentos baseados no amor e no serviço reflete a ética do Reino, ensinada por Jesus e anunciada pelos profetas.

O que Colossenses 3 me ensina para a vida hoje?

Esse capítulo é um convite diário à transformação.

Eu aprendo que:

• Preciso direcionar meu coração e minha mente para as coisas do alto, onde Cristo reina.
• Minha nova identidade em Cristo exige a morte do velho eu, com seus pecados e vícios.
• Ser cristão não é só crer, mas também se revestir de compaixão, humildade e amor.
• O perdão que recebi precisa ser estendido aos outros, por mais difícil que seja.
• A gratidão deve ser constante, mesmo nos dias difíceis.
• Meus relacionamentos — no lar, no trabalho, na igreja — devem refletir o amor e o senhorio de Cristo.
• Não há área da minha vida que fique fora do alcance da transformação de Cristo.
• Cada tarefa, por mais simples que pareça, deve ser feita como para o Senhor.

Que eu e você possamos viver essa nova vida, lembrando que nossa esperança está em Cristo e que um dia seremos manifestados com Ele em glória.

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Referências

• HENDRIKSEN, William. 1 e 2 Tessalonicenses, Colossenses e Filemom. Tradução: Hope Gordon Silva, Valter Graciano Martins, Ézia Cunha Mullins. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
• KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
• Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.