Êxodo 27 é um capítulo profundamente simbólico. Ao descrevê-lo, percebo que Deus não está apenas orientando a construção de objetos sagrados. Ele está, na verdade, desenhando um caminho de aproximação. Cada detalhe revela algo do Seu caráter, da Sua presença e da Sua vontade para o Seu povo. O altar, o pátio e as lâmpadas falam de sacrifício, santidade e direção. E tudo isso continua ecoando em nossa caminhada hoje.
Qual é o contexto histórico e teológico de Êxodo 27?
Êxodo é parte do Pentateuco e tradicionalmente atribuído a Moisés. O capítulo 27 está inserido na seção em que Deus entrega instruções minuciosas sobre o Tabernáculo — o santuário portátil onde Ele habitaria entre os israelitas durante a jornada pelo deserto.
Naquele momento da história, Israel havia sido libertado do Egito, mas ainda não havia chegado à Terra Prometida. Deus estava formando uma identidade espiritual no povo. Ele não queria apenas libertá-los da escravidão, mas estabelecer uma relação íntima com eles. Por isso, o Tabernáculo seria central — um local onde Deus se revelaria e onde os homens se aproximariam d’Ele por meio dos sacrifícios.
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Segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), o altar descrito neste capítulo representava o elo entre a generosidade de Deus e a resposta do povo. O pátio, por sua vez, era um espaço de transição entre o mundo profano e o sagrado, enquanto as lâmpadas simbolizavam a presença contínua do Senhor.
Victor P. Hamilton (2017) destaca que Êxodo 27 marca uma transição do aspecto estrutural do Tabernáculo para suas funções práticas, revelando o papel do povo e do sacerdócio na manutenção da adoração.
Como o texto de Êxodo 27 se desenvolve?
1. Como era o altar dos holocaustos? (Êxodo 27.1–8)
O capítulo começa com as instruções sobre o altar da oferta queimada: “Faça um altar de madeira de acácia. Será quadrado, com dois metros e vinte e cinco centímetros de largura e um metro e trinta e cinco centímetros de altura” (Êxodo 27.1). O altar era o local onde os sacrifícios eram oferecidos. Era quadrado, com chifres nos cantos e feito de madeira oca, revestida de bronze — um material resistente e menos valioso que o ouro, apropriado para o uso externo e cotidiano.
Além da estrutura, vários utensílios eram fabricados: “os recipientes para recolher cinzas, as pás, as bacias de aspersão, os garfos para carne e os braseiros” (Êxodo 27.3). Cada peça tinha função prática e simbólica. As cinzas representavam o que restava da oferta; os garfos removiam a carne; os braseiros sustentavam o fogo — tudo apontava para a seriedade da adoração.
Segundo Hamilton (2017), o altar era carregado de significados. Era o lugar da oferta, do encontro, do arrependimento. Os “chifres” fundidos na estrutura tinham forte simbologia. No antigo Oriente Próximo, representavam força e proteção. Na Bíblia, também simbolizavam poder e refúgio (1 Samuel 2.1, Salmos 18.2).
O altar também era portátil: “Faça varas de madeira de acácia […] e coloque-as nas argolas” (Êxodo 27.6-7). Isso destaca a mobilidade do povo e a presença de Deus que os acompanhava. Walton e Matthews (2018) explicam que o altar era um ponto de contato com Deus, mesmo não sendo tão sagrado quanto a arca.
2. O que representava o pátio do Tabernáculo? (Êxodo 27.9–19)
Em seguida, o texto descreve o átrio, ou pátio externo: “Faça um pátio para o tabernáculo” (Êxodo 27.9). Era um retângulo com cerca de 45 metros por 22,5 metros, cercado por cortinas de linho trançado com 2,25 metros de altura, sustentadas por postes de bronze com ganchos de prata. O contraste entre os materiais (prata nos ganchos, bronze nas bases) seguia um padrão de hierarquia de santidade: materiais mais nobres nas partes mais sagradas, mais simples nas áreas comuns.
O pátio era o limite entre o santo e o profano. Ao atravessar aquelas cortinas, o adorador saía do cotidiano e entrava em um espaço consagrado. O reposteiro da entrada (Êxodo 27.16) era cuidadosamente bordado com cores que simbolizavam realeza e santidade.
Hamilton observa que havia 56 postes ao redor do átrio. Cada poste era sustentado por uma base de bronze, e as estacas mantinham a estrutura firme. Isso mostra como até o espaço externo era preparado com rigor. Cada detalhe comunicava a ordem e a glória de Deus.
3. Qual a importância do azeite e das lâmpadas? (Êxodo 27.20–21)
O capítulo termina com uma mudança: das estruturas físicas para a prática espiritual contínua. “Ordene aos israelitas que lhe tragam azeite puro de oliva batida para a iluminação, para que as lâmpadas fiquem sempre acesas” (Êxodo 27.20).
A lâmpada devia permanecer acesa continuamente. Era sinal de que Deus estava presente, e que Sua luz jamais se apagaria. A responsabilidade era de Arão e seus filhos, como sacerdotes.
O azeite deveria ser puro, extraído de azeitonas batidas, e não de prensas. Era um processo mais delicado e caro. Isso mostra que aquilo que sustenta a luz diante do Senhor exige dedicação e excelência. Segundo Hamilton (2017), essa pureza e constância apontam para a vigilância espiritual e o compromisso com a presença de Deus.
A frase “estatuto perpétuo entre os israelitas, geração após geração” (Êxodo 27.21) indica que esse era um dever contínuo. Em 1 Samuel 3.3, lemos que a lâmpada de Deus ainda não havia se apagado quando Samuel foi chamado — um sinal da fidelidade divina e sacerdotal.
Quais conexões proféticas encontramos em Êxodo 27?
O altar de bronze aponta diretamente para o sacrifício de Cristo. Ele é o nosso Cordeiro, oferecido fora do Santo dos Santos, no “pátio” da humanidade, para que pudéssemos ser purificados. Em Hebreus 13.10–12, o autor explica que Jesus sofreu fora do acampamento, como o sacrifício no altar externo.
Os chifres do altar, símbolo de força e refúgio, encontram eco em Jesus, nosso abrigo e libertador. Em Lucas 1.69, Zacarias profetiza que Deus levantou “um poderoso Salvador” — literalmente, “um chifre de salvação”.
A lâmpada que nunca se apaga representa Jesus, a luz do mundo. Em João 8.12, Ele declara: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas”.
Por fim, a ordem de manter a lâmpada acesa ecoa nas palavras de Jesus em Lucas 12.35: “Estejam prontos para servir e conservem acesas as suas candeias”. A vigilância constante é um chamado para os dias de hoje.
O que Êxodo 27 me ensina para a vida hoje?
Ao ler esse capítulo, eu percebo o quanto Deus valoriza os detalhes. Nada no Tabernáculo foi improvisado. Isso me ensina que a adoração também exige preparo, reverência e excelência.
O altar me lembra que a comunhão com Deus tem um custo. Sacrifício. Não de animais hoje, mas do nosso ego, da nossa vontade. Paulo usa essa imagem em Romanos 12.1, quando diz: “Ofereçam seus corpos como sacrifício vivo”.
O pátio representa a separação necessária entre o santo e o comum. Isso me confronta. Tenho separado um tempo e um espaço na minha rotina para Deus? Ou minha vida está tão misturada com as distrações que perdi o senso de reverência?
As lâmpadas acesas me falam de vigilância. Perseverança. Mesmo quando ninguém vê, a luz não pode se apagar. Eu preciso buscar azeite diariamente, em oração, na Palavra, na comunhão. Porque é esse óleo que mantém minha fé ardendo.
O fato de o povo ser o responsável por trazer o azeite me mostra que a adoração é comunitária. Cada um de nós contribui para que a luz permaneça. Isso me inspira a não negligenciar meu papel, por menor que pareça.
Por fim, Êxodo 27 me mostra que tudo no Tabernáculo apontava para Jesus. O altar, a luz, o sacerdócio. E isso me faz adorar com mais gratidão. Porque agora, por meio d’Ele, tenho acesso direto ao Pai — e a Sua presença está comigo, onde quer que eu vá.
Referências
- HAMILTON, Victor P. Êxodo. Tradução: João Artur dos Santos. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.
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