Êxodo 40 é o clímax do livro. Aqui, toda a obediência, o detalhamento dos capítulos anteriores e o cuidado com a presença de Deus convergem para um momento impressionante: o Senhor habita entre o seu povo. Ao ler esse capítulo, eu fico impactado por três coisas: o zelo de Moisés, a glória de Deus enchendo o tabernáculo e a certeza de que esse Deus continua guiando os que o seguem.
Qual é o contexto histórico e teológico de Êxodo 40?
O capítulo 40 encerra o livro de Êxodo com a montagem final do tabernáculo, cerca de nove meses depois que Israel chegou ao monte Sinai (Êxodo 19.1). O povo já havia recebido as tábuas da aliança, ouvido os mandamentos e visto a manifestação do Senhor em meio a trovões, relâmpagos e nuvens espessas. Agora, o Deus que falou do monte se prepara para habitar no meio do acampamento.
Segundo Walton, Matthews e Chavalas, o tabernáculo foi erguido no “primeiro dia do primeiro mês”, o que corresponde ao início do novo ano religioso (Êxodo 40.17). Isso não é apenas um detalhe cronológico, mas teológico: marca um novo começo, não só no calendário, mas na forma como Deus se relaciona com seu povo. Era o início de um modelo visível de adoração e presença (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018, p. 151).
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A construção do tabernáculo foi feita exatamente conforme as instruções divinas. E isso se repete sete vezes em Êxodo 40 (vv. 19, 21, 23, 25, 27, 29, 32). A obediência detalhada revela a seriedade com que Israel devia tratar a santidade de Deus. Hamilton observa que esse padrão de repetições remete à criação (sete dias), sugerindo que a conclusão do tabernáculo é, de certa forma, uma nova criação (HAMILTON, 2017, p. 858–867).
Como o texto de Êxodo 40 se desenvolve?
1. Deus dá a ordem final para Moisés (Êxodo 40.1–16)
Deus manda Moisés armar o tabernáculo “no primeiro dia do primeiro mês” (v. 2). A ordem inclui não apenas a montagem da estrutura, mas também a colocação dos móveis, a unção dos objetos e a consagração de Arão e seus filhos.
Cada item tem seu lugar. A arca da aliança, com o véu protetor; a mesa, com os pães da Presença; o candelabro com as lâmpadas; o altar de incenso; o altar dos holocaustos; a bacia para lavagens; e o pátio ao redor (vv. 3–8). É um processo minucioso.
Nos versos 9 a 11, vemos a consagração dos objetos. A raiz hebraica q-d-š (santificar) aparece nove vezes nesses versículos, indicando o peso da separação desses itens para Deus.
Arão e seus filhos são então apresentados, lavados e vestidos com as vestes sacerdotais. A função sacerdotal, como indica o termo kehunnâ (v. 15), é estabelecida como perpétua, geração após geração.
2. Moisés executa tudo como Deus ordenou (Êxodo 40.17–33)
Essa seção mostra a fidelidade de Moisés. Ele arma o tabernáculo no tempo exato e executa cada detalhe conforme foi instruído. O texto destaca sua obediência com a frase repetida: “como o Senhor havia ordenado a Moisés”.
A montagem segue a ordem do capítulo: tabernáculo, móveis internos, véu, mesa, candelabro, altar de incenso, cortina, altar dos holocaustos, bacia, lavagens dos sacerdotes, e por fim, o pátio. Quando Moisés termina, o texto declara: “Assim, Moisés terminou a obra” (v. 33).
Essa frase remete diretamente a Gênesis 2.2: “Deus terminou a sua obra”. Segundo Victor Hamilton, há uma ligação intencional entre a conclusão da criação e a conclusão do tabernáculo — ambos são moradas de Deus, seja no mundo ou no meio do seu povo (HAMILTON, 2017).
3. A glória de Deus enche o tabernáculo (Êxodo 40.34–38)
Agora vem o momento mais sublime: “A nuvem cobriu a Tenda do Encontro, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo” (v. 34). A presença de Deus desce. A mesma nuvem que esteve no Sinai agora paira sobre a Tenda do Encontro. E o texto diz que nem mesmo Moisés pôde entrar (v. 35).
Esse é o clímax teológico de todo o livro. O Deus transcendente, que libertou o povo do Egito, agora habita com eles. Como aconteceu em Êxodo 3.5 e Êxodo 24.16, a presença divina torna o local sagrado e restrito.
Segundo o comentário histórico-cultural, a expressão hebraica šākān (habitar) e o termo kabôd (glória) se repetem aqui para enfatizar que Deus não está preso ao Sinai, mas se move com o seu povo (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018).
Os versos 36 a 38 mostram que a nuvem serviria como guia. Quando se erguia, o povo partia. Quando permanecia, eles ficavam. À noite, havia fogo na nuvem. A presença de Deus era visível — dia e noite — em todas as jornadas de Israel.
Quais profecias e conexões messiânicas aparecem em Êxodo 40?
A primeira conexão está na presença visível de Deus no meio do seu povo. Essa realidade se concretiza de forma definitiva em Jesus: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14). O termo grego eskenosen (habitou) é o equivalente direto ao hebraico šākān, usado em Êxodo 40.
Em Mateus 17, durante a transfiguração, uma nuvem os envolve e Deus fala de dentro dela — mesma linguagem usada aqui no verso 35. A nuvem da presença continua guiando e confirmando a identidade divina de Cristo.
A imagem da glória de Deus enchendo o tabernáculo aponta para o templo escatológico, descrito em Apocalipse 21.3: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens”. O plano divino de habitar com o homem começa no Éden, passa pelo tabernáculo e templo, encarna em Cristo, e culmina na Nova Jerusalém.
Por fim, a interdição de Moisés (v. 35) prepara o caminho para um novo mediador. No Novo Testamento, Jesus é aquele que “entrou no santuário, uma vez por todas” (Hebreus 9.12). Ele não só teve acesso à presença, como abriu o caminho para todos nós.
O que Êxodo 40 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me ensina que a presença de Deus é prioridade. Não bastava ter uma estrutura montada. Não bastava Moisés obedecer cada detalhe. A obra só estava completa quando a glória de Deus veio habitar ali. Isso me faz refletir: tenho buscado mais a presença ou a aparência?
Outra lição profunda está na obediência. Moisés não improvisou. Ele não adaptou. Ele fez “como o Senhor havia ordenado”. Isso me desafia a não tratar com leviandade aquilo que Deus manda. A fidelidade nos detalhes é uma marca de quem ama a Deus.
O fato de Moisés não poder entrar na Tenda do Encontro (v. 35) também me lembra que, por mais íntimos que sejamos de Deus, Ele continua sendo santo. Há limites que precisamos respeitar. A reverência é fundamental. Nem tudo é sobre acesso irrestrito — é também sobre temor.
A imagem da nuvem me conforta. Deus não apenas habita, Ele guia. Ele mostra quando parar, quando andar, e está sempre visível, mesmo que seja como nuvem ou fogo. Isso me encoraja a confiar na direção divina mesmo quando não entendo o caminho.
Por fim, o capítulo termina olhando para o futuro. A jornada continua. O tabernáculo está armado, a glória está presente, mas Canaã ainda está adiante. Isso me ensina que, mesmo com Deus entre nós, ainda caminhamos rumo à plenitude. Ainda estamos peregrinando.
Referências
- HAMILTON, Victor P. Êxodo. Tradução: João Artur dos Santos. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.