Gênesis 48 é um capítulo profundo e emocionante. Ao ler esse texto, fico impressionado com a forma como Deus conduz a história da redenção até nos pequenos detalhes familiares. Aqui, vemos um Jacó envelhecido, consciente de sua mortalidade, mas cheio de fé, passando adiante as bênçãos que recebeu. É um momento que mistura passado, presente e futuro. O encontro de Jacó com os filhos de José não é só uma despedida, é também um ato profético e cheio de significado.
Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 48?
O capítulo se insere nos últimos momentos da vida de Jacó, também chamado Israel. Ele está no Egito, junto com sua família, abrigado das consequências da fome, graças à posição de José no governo. Segundo Waltke e Fredericks (2010), esse momento é cuidadosamente estruturado no livro de Gênesis como parte do encerramento da história patriarcal. A bênção de Jacó sobre José e seus filhos prepara o caminho para o futuro das tribos de Israel.
No contexto cultural do antigo Oriente Próximo, especialmente entre os povos cananeus e mesopotâmicos, era comum o patriarca abençoar os descendentes antes da morte. Esse ato tinha valor legal e espiritual, pois a bênção era entendida como transmissora de autoridade e prosperidade (WALTKE; FREDRICKS, 2010).
Além disso, a prática de adoção de netos, como Jacó faz aqui, também encontra paralelos históricos. O Comentário Histórico-Cultural da Bíblia destaca textos do Código de Hamurábi e documentos ugaríticos que mostram avôs adotando netos para garantir herança e continuidade familiar (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018).
Teologicamente, esse capítulo reforça o tema central de Gênesis: Deus abençoa o seu povo, não conforme a lógica humana, mas segundo sua soberania. Como já vimos na história de Isaque e Jacó, o mais novo pode ser favorecido sobre o mais velho, contrariando a expectativa social, porque Deus escolhe agir assim.
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O pano de fundo maior é a promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó: eles teriam descendência numerosa e a terra de Canaã como herança perpétua. Essa promessa agora se estende a Efraim e Manassés, netos nascidos no Egito, mas incorporados à linhagem das doze tribos.
Como o texto de Gênesis 48 se desenvolve?
O capítulo pode ser dividido em três momentos: a aproximação de José e seus filhos (v. 1-7), a adoção de Efraim e Manassés (v. 8-12) e a bênção trocada, com a elevação de Efraim sobre Manassés (v. 13-22).
Aproximação de José e seus filhos (Gênesis 48.1-7)
O texto começa narrando que José foi chamado porque seu pai estava doente:
“Seu pai está doente” (v. 1).
Essa é a primeira vez que a Bíblia menciona explicitamente a palavra “doença”, como apontam Waltke e Fredericks (2010). O clima é solene. José leva seus dois filhos, Manassés e Efraim, para que recebam a bênção do avô.
Jacó, enfraquecido, reúne suas forças e se senta na cama. Ele então recorda a aparição de Deus em Luz, nome antigo de Betel (v. 3), onde recebeu a promessa de uma grande descendência e da posse perpétua da terra (ver Gênesis 28).
É nesse contexto que Jacó adota formalmente Efraim e Manassés:
“Agora, pois, os seus dois filhos que lhe nasceram no Egito… serão reconhecidos como meus” (v. 5).
Isso significa que os dois netos terão o mesmo status dos filhos de Jacó, recebendo parte da herança e lugar entre as tribos. Como explica Walton, Matthews e Chavalas (2018), essa adoção é uma maneira de José, primogênito de Raquel, receber a porção dobrada da herança.
Jacó então menciona Raquel, sua esposa amada, que morreu a caminho de Efrata (Belém). Essa lembrança carrega emoção e prepara o terreno para entender por que ele valoriza tanto os filhos de José.
Adoção de Efraim e Manassés (Gênesis 48.8-12)
Israel, já com a visão enfraquecida pela idade, pergunta:
“Quem são estes?” (v. 8).
Embora ele soubesse quem eram, essa pergunta faz parte do ritual legal de adoção, como destaca Waltke (2010). José responde, afirmando que são os filhos que Deus lhe deu no Egito, e traz os meninos para perto de Jacó.
O texto registra o carinho do patriarca:
“Beijou-os e os abraçou” (v. 10).
Essa cena lembra outros encontros cheios de emoção em Gênesis, como o reencontro de Jacó e Esaú (Gn 33.4). Para Jacó, ver os filhos de José é um presente de Deus:
“Nunca pensei que veria a sua face novamente, e agora Deus me concede ver também os seus filhos!” (v. 11).
José então retira os meninos do colo do avô e se curva com o rosto em terra, num gesto de respeito profundo, típico da cultura da época.
A bênção trocada e a elevação de Efraim (Gênesis 48.13-22)
José posiciona Manassés à direita de Jacó, como o mais velho, e Efraim à esquerda. Mas o patriarca, guiado pela soberania de Deus, cruza os braços, colocando a mão direita sobre Efraim, o caçula (v. 14).
Jacó então declara uma bênção poderosa, mencionando Deus como aquele que o pastoreou e o anjo que o livrou do mal:
“Que o Deus… o Anjo que me redimiu de todo o mal, abençoe estes meninos” (v. 15-16).
É interessante como Jacó associa Deus e o Anjo, indicando que o próprio Deus, na forma do Anjo do Senhor, o acompanhou e o protegeu ao longo da vida (WALTKE; FREDRICKS, 2010). Essa figura do Anjo remete às aparições anteriores, como no vale de Jaboque (Gn 32.24-30).
José se incomoda com o gesto do pai e tenta corrigir a posição das mãos, mas Jacó insiste:
“Eu sei, meu filho, eu sei” (v. 19).
Aqui vemos de novo o padrão bíblico onde o mais novo recebe destaque sobre o mais velho, como aconteceu com Isaque e Ismael, Jacó e Esaú, e agora com Efraim e Manassés.
Jacó declara que Efraim será maior e seus descendentes formarão muitos povos. De fato, mais tarde, a tribo de Efraim se torna uma das mais influentes em Israel, chegando a dar nome ao reino do norte (ver Isaías 7).
Por fim, Jacó dá a José um presente especial:
“Dou a você a região montanhosa que tomei dos amorreus” (v. 22).
Essa referência possivelmente aponta para a terra em Siquém, adquirida por Jacó e ligada ao futuro de José e seus descendentes (Gn 33.19).
Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 48?
Este capítulo carrega várias conexões importantes com o restante das Escrituras:
- A adoção de Efraim e Manassés antecipa o padrão da graça soberana de Deus, que escolhe conforme seu propósito, não segundo méritos humanos.
- O gesto de Jacó cruzando as mãos ilustra como Deus às vezes contraria as expectativas humanas para cumprir seus planos.
- O conceito do “Anjo do Senhor” que redime e livra aponta para a futura revelação do Messias, Jesus Cristo, o único que pode verdadeiramente nos redimir (Jo 1.14; Hb 1.3).
- A bênção sobre Efraim e Manassés tem ecos nas promessas feitas a Abraão, reafirmando que o plano de Deus segue em curso apesar das dificuldades e deslocamentos (WALTKE; FREDRICKS, 2010).
- A figura do pastor que guia Jacó remete ao cuidado constante de Deus, que mais tarde se revela plenamente em Cristo, o Bom Pastor (Jo 10.11).
Além disso, a ideia de que os nomes de Efraim e Manassés seriam usados para abençoar outros (v. 20) conecta-se ao tema central de Gênesis: Deus abençoa sua família para que sejam bênção a todas as nações (Gn 12.3).
O que Gênesis 48 me ensina para a vida hoje?
Lendo esse capítulo, percebo como Deus dirige cada detalhe da minha história, mesmo aqueles que não fazem sentido imediato. Jacó já estava velho, doente, à beira da morte, mas sua fé continuava firme, transmitindo as promessas de Deus às gerações seguintes.
Aprendo que Deus não age conforme as expectativas humanas. Ele escolheu o filho mais novo, Efraim, para ser maior. Na minha vida, isso me lembra que não devo me apegar ao que o mundo considera lógica ou justiça humana, mas confiar no agir soberano de Deus.
O cuidado de Deus como pastor me consola. Assim como Jacó reconheceu a presença fiel de Deus ao longo da sua vida cheia de altos e baixos, também posso confiar que o Senhor me conduz, mesmo nas dificuldades.
O Anjo que redimiu Jacó aponta para Cristo, meu Redentor. Só por meio dEle sou liberto do mal e recebo a bênção completa de Deus.
Por fim, vejo a importância de abençoar as próximas gerações. Assim como Jacó abençoou seus netos, sou chamado a ser uma influência espiritual para minha família e para quem está ao meu redor.
Como Gênesis 48 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo se encaixa perfeitamente no grande plano de Deus revelado na Bíblia:
- A bênção sobre Efraim e Manassés se alinha com as promessas feitas a Abraão e renovadas a Jacó (Gênesis 28).
- A referência ao pastor e ao Anjo aponta para Cristo, o Bom Pastor e Redentor (Jo 10.11; Jo 1.14).
- A preferência de Deus pelo mais novo ecoa em outros textos, como na escolha de Davi sobre seus irmãos (1Sm 16.11-13).
- O cuidado de Deus ao longo da vida de Jacó mostra que Ele cumpre seus propósitos, mesmo em meio às falhas humanas, algo que vemos ao longo de toda a história de Israel.
- O modelo de bênção sobre gerações se repete na oração sacerdotal (Nm 6.24-26) e no ensino de Jesus sobre cuidar dos pequenos (Mc 10.14).
Esse capítulo me mostra que a fidelidade de Deus atravessa as gerações, cumprindo seu plano redentor em Cristo, como vemos claramente no Novo Testamento.
Referências
- WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.