Marcos 5 nos conduz a um dos momentos mais intensos do ministério de Jesus. Neste capítulo, Ele enfrenta o caos espiritual, o preconceito social e o maior inimigo humano: a morte. À medida que leio, percebo como o poder de Cristo não conhece barreiras, seja no território dos gentios, na impureza social ou no luto mais profundo.
Qual é o contexto histórico e teológico deste capítulo?
O Evangelho de Marcos foi escrito, provavelmente, entre 60 e 70 d.C., para leitores gentios, muitos deles em Roma (HENDRIKSEN, 2014). O foco do evangelho é simples: mostrar o poder e a autoridade de Jesus em ação, em especial sobre o mal e o sofrimento.
No capítulo 5, a ação acontece em dois cenários distintos. Primeiro, na região de Decápolis, um território predominantemente gentio, onde Jesus enfrenta uma legião de demônios. Em seguida, de volta à Galileia, Jesus cura uma mulher socialmente excluída e devolve a vida à filha de um líder religioso.
Craig S. Keener (2017) destaca que o embate com os demônios e a superação das impurezas sociais revelam a chegada do Reino de Deus em situações onde o judaísmo tradicional via apenas condenação ou exclusão.
Além disso, o ambiente em que o primeiro milagre acontece — as proximidades de Gadara (cf. Mateus 8.28) — reforça o cenário gentio. Marcos menciona “Gerasa”, cidade mais distante e conhecida, enquanto Mateus usa “Gadara”, cidade mais próxima ao local do exorcismo, o que era comum em escritos antigos (KEENER, 2017).
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Como o texto se desenvolve?
A libertação do endemoninhado na região dos gerasenos (Marcos 5.1-20)
Jesus chega a Decápolis, território onde o judaísmo considerava os túmulos impuros e habitados por demônios. O cenário é sombrio: noite, cavernas e um homem possuído.
Esse homem vivia entre os sepulcros, isolado, se automutilava e possuía força sobrenatural:
“Esse homem vivia nos sepulcros, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com correntes” (Mc 5.3).
Nas culturas antigas, como Keener (2017) destaca, as possessões demoníacas muitas vezes se manifestavam com força incomum e comportamentos autodestrutivos, como cortes no corpo, prática comum em rituais pagãos (1Rs 18.28).
Quando o homem vê Jesus, corre e se prostra, mas quem fala através dele são os demônios:
“Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te por Deus que não me atormentes!” (Mc 5.7).
Essa súplica revela o reconhecimento, até pelos demônios, da autoridade divina de Jesus. A expressão “Rogo-te por Deus” lembra fórmulas de exorcismo usadas na época como tentativa de autoproteção, o que mostra o desespero das forças malignas diante do Filho de Deus (KEENER, 2017).
Jesus pergunta o nome do espírito:
“Meu nome é Legião”, respondeu ele, “porque somos muitos” (Mc 5.9).
O termo “legião” remete ao exército romano, indicando uma multidão de demônios no homem, algo tão devastador quanto assustador.
Os demônios pedem para entrar nos porcos — animais impuros para os judeus — e se precipitam no mar. Na tradição judaica, o mar era associado ao caos e à morada dos demônios (KEENER, 2017). O resultado? Destruição. A natureza do mal é exposta: roubar, matar e destruir.
O povo, ao ver o homem liberto e os porcos mortos, reage:
“Então o povo começou a suplicar a Jesus que saísse do território deles” (Mc 5.17).
Essa reação revela o quanto interesses econômicos e o medo do sobrenatural falavam mais alto que a libertação daquele homem.
O homem curado deseja seguir Jesus, mas o Mestre o envia de volta para sua terra como missionário:
“Vá para casa, para a sua família e anuncie-lhes quanto o Senhor fez por você” (Mc 5.19).
Na cultura gentia, proclamar as maravilhas de Deus era uma forma de corrigir a visão distorcida que viam de Jesus como mero mágico (KEENER, 2017). Assim, aquele homem se torna o primeiro missionário de Decápolis.
A cura da mulher e a ressurreição da filha de Jairo (Marcos 5.21-43)
De volta à Galileia, Jesus é procurado por Jairo, líder da sinagoga. Seu pedido é urgente:
“Minha filhinha está morrendo! Vem, por favor, e impõe as mãos sobre ela, para que seja curada e viva” (Mc 5.23).
O gesto de prostrar-se revela o reconhecimento da autoridade de Jesus, algo incomum para um homem influente como Jairo.
No caminho, uma mulher anônima interrompe o trajeto. Sofrendo de hemorragia há doze anos, ela estava social, religiosa e economicamente excluída (Lv 15.25-28). Como Keener (2017) explica, mulheres nessas condições eram evitadas, consideradas impuras e incapazes de gerar filhos — um estigma social severo.
Mesmo assim, ela ousa:
“Se eu tão-somente tocar em seu manto, ficarei curada” (Mc 5.28).
Ela toca. E, imediatamente, é curada.
Jesus percebe e busca o autor do toque. Ela, temendo, se revela. A resposta de Jesus é transformadora:
“Filha, a sua fé a curou! Vá em paz e fique livre do seu sofrimento” (Mc 5.34).
Além da cura física, Jesus restaura sua dignidade e identidade. Ele a chama de filha, em contraste com o isolamento social imposto a ela.
Enquanto isso, a notícia chega: a filha de Jairo morreu. Mas Jesus declara:
“Não tenha medo; tão-somente creia” (Mc 5.36).
Na casa de Jairo, o luto já havia tomado conta. Segundo Keener (2017), mesmo famílias humildes contratavam pranteadores; no caso de uma família influente, o alvoroço seria ainda maior.
Jesus entra, toma a menina pela mão e diz em aramaico:
“Talita cumi”, que significa: “Menina, eu lhe ordeno, levante-se!” (Mc 5.41).
A menina revive. A morte é vencida.
Que conexões proféticas existem neste capítulo?
Marcos 5 revela o cumprimento de várias profecias e expectativas messiânicas:
- Jesus como o “mais forte”: Ele amarra o “homem forte” (Mc 3.27), ou seja, subjuga as forças demoníacas.
- O Reino vencendo o mal: A libertação do endemoninhado antecipa a vitória final sobre Satanás, como vemos em Apocalipse 20.
- A restauração dos excluídos: A mulher curada e a menina ressuscitada apontam para o ministério de Cristo como aquele que traz vida e dignidade, cumprindo as promessas de restauração (Is 61.1-3).
- O toque do Messias vencendo a impureza: Enquanto a Lei declarava a mulher e o cadáver impuros (Lv 15; Nm 19), o toque de Jesus purifica e traz vida.
O que Marcos 5 me ensina hoje?
Este texto fala diretamente ao meu coração:
- Jesus vence o caos espiritual: Nenhuma força do mal resiste à autoridade de Cristo. Se estou sob ataque, posso confiar n’Ele.
- Ele restaura o que a sociedade exclui: Assim como a mulher, posso me aproximar, mesmo com medo ou vergonha. Jesus me acolhe.
- O toque da fé transforma: Um gesto simples de fé pode mudar toda a minha história.
- Cristo vence a morte: Mesmo quando tudo parece perdido, Jesus tem a última palavra.
- Sou chamado a testemunhar: Assim como o ex-endemoninhado, minha história é um instrumento para proclamar o poder de Deus.
Como este capítulo se conecta à Bíblia toda?
- A vitória sobre os demônios aponta para o triunfo final sobre o mal em Apocalipse 20.
- A restauração da mulher lembra o cuidado de Deus com os oprimidos, como em Isaías 61.
- A ressurreição da menina antecipa a esperança da ressurreição final, prometida em 1Coríntios 15.
Jesus, em Marcos 5, revela o Reino de Deus em ação: libertando, restaurando e vencendo a morte.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Marcos. Tradução: Lucas Ribeiro. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.
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Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.