O capítulo 4 de 2 Reis se passa durante o ministério de Eliseu, no Reino do Norte de Israel, um tempo marcado por decadência espiritual, idolatria e instabilidade política. Após os confrontos travados por Elias contra os profetas de Baal, Eliseu assume a liderança profética com uma ênfase mais pastoral: socorrer os fiéis, realizar milagres e manter viva a fé em um Deus pessoal.
Israel vivia sob a influência de reis como Acabe e Jorão, que davam continuidade à idolatria institucionalizada. No entanto, mesmo em tempos sombrios, havia fiéis — como a viúva de um profeta, a mulher sunamita e os discípulos dos profetas — que buscavam manter a aliança com o Senhor. Esses relatos mostram que Deus não abandonou seu povo, mas agia poderosamente para sustentar os que O temiam.
Thomas Constable comenta que “as ações de Eliseu demonstram o cuidado de Deus por indivíduos fiéis em meio à apostasia nacional” (CONSTABLE, 1985, p. 544). O cenário espiritual era frágil, mas Deus ainda se manifestava por meio de pequenos gestos e grandes milagres.
Como Deus agiu na crise da viúva? (2 Reis 4:1–7)
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“Tua serva não tem nada além de uma vasilha de azeite” (2 Rs 4.2)
A primeira história deste capítulo é comovente. Uma mulher, cujo marido era discípulo dos profetas, está prestes a perder seus dois filhos para a escravidão por causa de dívidas. Ela clama por ajuda a Eliseu, que ouve, orienta e intervém.
Na cultura do Antigo Oriente Próximo, a escravidão por dívida era comum. O Comentário Histórico-Cultural explica que “a lei israelita limitava o tempo de servidão a seis anos”, mas isso não tornava a situação menos angustiante (WALTON et al., 2018, p. 505).
Eliseu pede que ela reúna muitas vasilhas e, em segredo com os filhos, encha cada uma com azeite. O milagre se dá na medida da fé: quanto mais vasilhas, mais azeite. Quando não há mais vasilhas, o azeite para. Isso ensina que o suprimento de Deus acompanha a disposição do coração.
Ela vende o azeite, paga a dívida e ainda vive do que sobra. É um milagre que mostra que Deus não apenas resolve problemas, mas provê dignidade. Ao ler esse trecho, lembro que, mesmo diante da escassez, a provisão de Deus é abundante quando respondemos em fé. Para um aprofundamento semelhante, veja o estudo de 1 Reis 17, onde Elias também realiza milagre com azeite e farinha.
O que aprendemos com a mulher sunamita? (2 Reis 4:8–37)
“Por volta desta época, no ano que vem, você estará com um filho nos braços” (2 Rs 4.16)
A segunda história contrasta com a primeira. Aqui, temos uma mulher rica e influente, mas sem filhos. Ela oferece hospitalidade a Eliseu, reconhecendo que ele é um homem de Deus. Em gratidão, o profeta promete a ela um filho — e a promessa se cumpre.
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Mais tarde, porém, a criança morre repentinamente. Sua reação é surpreendente. Ela não entra em desespero, mas corre até Eliseu. No caminho, quando perguntada sobre seu estado, ela responde: “Está tudo bem” (v. 26). Que fé!
Quando chega ao profeta, ela se lança aos seus pés. O texto diz que Eliseu não sabia o que havia acontecido — algo raro, pois Deus costumava revelar essas coisas a ele (v. 27). Isso mostra que nem todo profeta tem acesso contínuo à revelação, apenas quando Deus deseja.
Eliseu envia Geazi com seu cajado, mas nada acontece. Só depois, quando o próprio profeta entra no quarto, ora e se deita sobre o menino, o milagre ocorre. O menino espirra sete vezes e volta à vida.
Segundo Walton, o gesto de deitar-se sobre o corpo era uma forma de transferir vitalidade segundo as crenças antigas, mas no caso de Eliseu, “a ação foi acompanhada de oração fervorosa, mostrando que o milagre veio de Yahweh, não de magia” (WALTON et al., 2018, p. 506).
Esse trecho é um dos mais tocantes da Bíblia. A fé da mulher, sua iniciativa, sua perseverança e a restauração do filho falam muito sobre como Deus honra a confiança daqueles que O buscam com sinceridade.
Qual o sentido do milagre da panela e da multiplicação dos pães? (2 Reis 4:38–44)
“Homem de Deus, há morte na panela!” (2 Rs 4.40)
“Eles comerão, e ainda sobrará” (2 Rs 4.43)
Os dois últimos milagres são curtos, mas repletos de significado.
Durante um período de fome, um dos discípulos dos profetas prepara um ensopado com ingredientes desconhecidos. O gosto era amargo e perigoso. Eliseu joga farinha no caldeirão e o alimento é purificado. O gesto pode parecer mágico, mas não era. Era uma demonstração do poder restaurador de Deus.
A farinha, como mostra o Comentário Histórico-Cultural, era usada em rituais antigos, mas “Eliseu a utiliza sem repetir as práticas mágicas, mostrando que a eficácia não está no elemento, mas no Deus que age” (WALTON et al., 2018, p. 506).
Na sequência, um homem traz vinte pães de cevada e algumas espigas. Eliseu manda servir aos cem homens — os discípulos dos profetas. Seu servo questiona a quantidade, mas o profeta insiste. O pão é multiplicado. É impossível não lembrar da multiplicação dos pães feita por Jesus, como lemos em Marcos 6.
Essa multiplicação ensina que Deus honra as ofertas dedicadas a Ele, mesmo que pareçam pequenas. Ele as transforma em abundância.
Esses milagres apontam para algo no Novo Testamento?
Sim, com clareza. Em vários pontos, os milagres de Eliseu antecipam a obra de Jesus:
- A provisão de azeite lembra a multiplicação do azeite e farinha feita por Elias em 1 Reis 17, mas também aponta para Jesus suprindo vinho nas bodas de Caná (Jo 2.1–11).
- A ressurreição do filho da sunamita antecipa a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7.11–17). Em ambos os casos, a dor de uma mãe é restaurada pela intervenção divina.
- A multiplicação dos pães em 2 Reis 4:42–44 se conecta diretamente com os milagres de Jesus em João 6. O próprio Jesus associa esse milagre ao pão que dá vida eterna.
- A purificação da panela envenenada nos lembra que Jesus também purifica, restaura e transforma aquilo que está corrompido.
Esses sinais serviam como anúncios do Reino de Deus. Eliseu não era apenas um profeta que realizava prodígios — ele era um instrumento de esperança e restauração.
Que lições práticas 2 Reis 4 ensina para hoje?
- Deus cuida dos que O temem – A viúva buscou o profeta porque sabia que havia socorro em Deus. Quando enfrentamos crises, devemos lembrar que o Senhor é refúgio e provedor.
- A fé ativa traz provisão – A mulher reuniu as vasilhas, confiando que algo sobrenatural aconteceria. Deus age quando damos passos concretos de fé.
- Hospitalidade gera bênçãos – A sunamita abriu sua casa, e Deus abriu seu ventre. Nossa generosidade se torna solo fértil para milagres.
- A perseverança da fé não se cala diante da dor – Ela não murmurou, não culpou ninguém. Simplesmente correu até o homem de Deus. A fé verdadeira não é passiva, mas persistente.
- A oração fervorosa gera transformação – Eliseu não recitou fórmulas. Ele orou, insistiu, se envolveu. Milagres não vêm de métodos, mas de relacionamento com Deus.
- Deus pode purificar o que parece perdido – Mesmo quando há “morte na panela”, Ele restaura. Isso vale para famílias, ministérios, sonhos.
- O pouco nas mãos de Deus se torna muito – Os pães serviram a cem homens porque foram apresentados com fé. Isso nos lembra que Deus usa o que temos, não o que falta.
Conclusão
2 Reis 4 é uma tapeçaria de milagres entrelaçada por fé, obediência e compaixão divina. Em meio à decadência espiritual de Israel, Deus não deixou de agir. Ele não só preservou vidas, mas demonstrou que está presente nos detalhes do cotidiano — no azeite, no parto, na comida, na dor.
Esse capítulo me ensina que Deus continua sendo o mesmo. Ele ainda provê, cura, restaura e multiplica. Mas espera que tenhamos fé como a da viúva e da sunamita — uma fé que age, corre atrás e não se cala.
Eliseu foi um profeta de milagres discretos, mas profundos. Suas ações revelam um Deus que se importa — não apenas com nações, mas com lares. Não apenas com líderes, mas com mães aflitas. E esse mesmo Deus segue conosco hoje.
Referências
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 544–546.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Trad. Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 505–507.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.