Apocalipse 15 inicia uma nova seção do livro. Ela serve como introdução para o capítulo 16, onde são descritas as sete últimas pragas que compõem o juízo definitivo de Deus sobre a terra. O tom é solene. A cena está no céu. E tudo aponta para um momento decisivo na história: a consumação da ira divina.
João, exilado na ilha de Patmos, escreve para igrejas sob perseguição (Ap 1.9). Elas enfrentavam pressões externas do Império Romano e perigos internos de apostasia. Ao revelar os juízos de Deus, João encoraja os fiéis a permanecerem firmes. Porque o mal não triunfará.
Hernandes Dias Lopes resume bem: “Essas taças da ira de Deus são as últimas. Não há mais tempo para arrependimento” (LOPES, 2005, p. 291). E Simon Kistemaker afirma: “O número sete indica a totalidade e completude da ação divina. Esse é o último ciclo de juízos” (KISTEMAKER, 2014, p. 551).
Esse capítulo é breve, mas impactante. Ele revela duas cenas: a celebração dos santos vitoriosos (vv. 1–4) e a solenidade do templo celestial onde se preparam os juízos (vv. 5–8). Antes da destruição, João vê adoração. Antes da ira, há glória.
O que representam os sete anjos com os flagelos finais? (Apocalipse 15:1)
“Vi no céu outro sinal, grande e maravilhoso: sete anjos com as sete últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus” (v. 1)
João vê um novo sinal no céu. Ele o descreve como grande e maravilhoso, destacando sua importância e impacto. São sete anjos com as últimas pragas — o último ciclo de juízos, completando os selos e as trombetas.
O termo flagelos remete às pragas do Egito (Êxodo 7–12), mas agora se aplica ao mundo inteiro. E a expressão “com elas se completa a ira de Deus” indica que não haverá outros juízos semelhantes após isso. É o clímax do juízo divino.
Essa linguagem ressoa com Apocalipse 16:17: “Está feito”. Assim como Jesus declarou na cruz “Está consumado” (Jo 19.30), agora o juízo está plenamente consumado. Não há mais espaço para arrependimento, apenas para execução.
Quem são os vitoriosos junto ao mar de vidro? (Apocalipse 15:2–4)
“Vi algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo, e, de pé, junto ao mar, os que tinham vencido a besta, a sua imagem e o número do seu nome. Eles seguravam harpas […] e cantavam o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro” (vv. 2–3)
A cena muda. Antes do juízo, João contempla os santos vitoriosos diante do trono. Eles estão junto ao mar de vidro, uma imagem já mencionada em Apocalipse 4:6. Aqui, ele está misturado com fogo, o que sugere juízo, pureza e a glória de Deus.
Esses vencedores são descritos como aqueles que não cederam à besta nem à sua marca (cf. Ap 13). Eles não foram poupados do sofrimento — muitos morreram — mas foram preservados em fidelidade. Kistemaker explica: “Eles são os que, mesmo diante da morte, triunfaram espiritualmente, pois não se curvaram ao sistema do mal” (KISTEMAKER, 2014, p. 555).
O que me toca profundamente é que, em vez de murmurar, eles cantam. Com harpas nas mãos, entoam dois cânticos: o de Moisés e o do Cordeiro.
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Esses dois cânticos não são distintos, mas complementares. O de Moisés (Êx 15.1–18) celebra a libertação do Egito; o do Cordeiro celebra a redenção eterna. Como afirma Hernandes: “Assim como Moisés tributou a vitória a Deus, os remidos também o fazem” (LOPES, 2005, p. 295).
O cântico é centrado em Deus:
- “Grandes e maravilhosas são as tuas obras” – exaltam o poder criador e redentor.
- “Justos e verdadeiros são os teus caminhos” – reconhecem a integridade de Deus nos seus atos, mesmo os de juízo.
- “Tu somente és santo… todas as nações virão e te adorarão” – antecipam a adoração universal que se cumpre plenamente em Apocalipse 21.
Essas palavras ecoam salmos e profecias (Sl 86.9; Is 2.2–4; Jr 10.7). O louvor dos redimidos é bíblico, reverente e profético. Não há vaidade, apenas exaltação a Deus.
O que revela a abertura do templo celestial? (Apocalipse 15:5–6)
“Vi que se abriu no céu o santuário, o tabernáculo da aliança. Saíram do santuário os sete anjos com as sete pragas” (vv. 5–6)
A segunda parte do capítulo retoma o tema do juízo. O santuário, o lugar mais sagrado, se abre no céu. João vê a tenda do testemunho — uma referência à morada de Deus no Antigo Testamento (Êx 40.34–35).
Isso mostra que os juízos vêm diretamente da presença de Deus. Eles não são fruto do acaso nem obra exclusiva de anjos. São ordens do trono santo.
Os sete anjos saem do templo vestidos de linho puro e com cinturões de ouro. Isso indica pureza, autoridade e dignidade. Eles são ministros da justiça divina. Kistemaker observa: “Eles não agem por si mesmos, mas como representantes do Rei dos reis” (KISTEMAKER, 2014, p. 561).
João deixa claro: o juízo que virá é legítimo, justo e inquestionável. Ele parte do próprio trono.
O que significam as taças da ira de Deus? (Apocalipse 15:7–8)
“Um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de Deus… O santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e do seu poder” (vv. 7–8)
As taças são recipientes litúrgicos. No Antigo Testamento, elas continham incenso (Êx 25.29). Agora, contêm juízo. A ira de Deus é santa, justa e necessária diante do pecado obstinado.
Um dos quatro seres viventes — que representam a criação — entrega as taças aos anjos. Isso mostra que toda a criação está envolvida no drama do juízo final. O mundo geme (Rm 8.22), mas também será renovado (Ap 21.1).
A fumaça da glória de Deus enche o templo, a ponto de ninguém mais poder entrar. Isso remete a Êxodo 40.34–35 e 1 Reis 8.10–11. Mas aqui o sentido é solene: não há mais intercessão. O tempo da misericórdia cessou.
Como diz Hernandes: “Agora Deus está inacessível para tudo o mais. […] Chegou a hora final. É a consumação da cólera de Deus” (LOPES, 2005, p. 298).
Isso me faz pensar. Há um limite para a paciência divina. Quando a medida se completa, o juízo é inevitável.
Essas profecias já se cumpriram ou ainda se cumprirão?
Apocalipse 15 antecipa juízos que ocorrem ao longo da história, mas que se intensificam nos últimos dias. As taças da ira são o fechamento do ciclo iniciado com os selos e trombetas. Representam o juízo final e completo.
Sete trombetas | Sete taças | ||
---|---|---|---|
1. | terra (8.7) | 1. | terra (16.2) |
2. | mar (8.8–9) | 2. | mar (16.3) |
3. | rios, fontes (8.10–11) | 3. | rios, fontes (16.4–5) |
4. | sol, lua, estrelas (8.12) | 4. | sol (16.8) |
5. | poço do abismo (9.1) | 5. | trono da besta (16.10) |
6. | rio Eufrates (9.13–14) | 6. | rio Eufrates (16.12) |
7. | raio, granizo (11.15, 19) | 7. | raio, granizo (16.17, 21) |
Kistemaker afirma: “As taças têm um foco escatológico, mas também expressam o juízo progressivo de Deus na história” (KISTEMAKER, 2014, p. 563). Em outras palavras, o que vemos são manifestações históricas de um juízo que culminará na volta de Cristo.
Como vimos em Apocalipse 14, a colheita está madura. E as taças são o desfecho.
Quais lições espirituais Apocalipse 15 nos ensina?
Ao ler esse capítulo, algumas lições tocam meu coração:
- Deus tem um limite para sua paciência – A ira dEle não é impulsiva, mas justa. E ela se completa.
- A vitória dos santos é espiritual, não política – Eles venceram a besta ao permanecer fiéis, mesmo morrendo.
- O juízo não anula a glória de Deus — exalta – Antes da ira, há adoração. Deus é digno mesmo quando julga.
- Louvar a Deus em meio às lutas é sinal de fé – Os remidos cantam diante do mar de vidro, não da ausência de dor.
- A adoração deve ser centrada em Deus, não no homem – O cântico dos vitoriosos exalta os atributos divinos, não suas conquistas.
- O templo celestial é real e ativo – A história não está à deriva. Há um trono e há propósitos eternos.
- Ainda é tempo de buscar ao Senhor – Porque virá o dia em que o santuário se fechará.
Conclusão
Apocalipse 15 é um capítulo de transição. Ele marca o início do fim. Mas faz isso com reverência, adoração e solenidade. Não há pressa, apenas certeza. Não há caos, apenas ordem. Porque Deus é soberano.
Antes do juízo, Ele mostra a glória. Antes das pragas, Ele exibe os santos. Isso me lembra que o fim não é tragédia para quem está em Cristo — é triunfo.
Como em Apocalipse 7, há um povo selado. E como em Apocalipse 21, há uma nova realidade à nossa espera.
Enquanto isso, seguimos adorando. Porque grandes e maravilhosas são as obras do Senhor.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
- LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: O futuro chegou. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2005.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.