Mateus 18 é um dos capítulos mais intensos e pastorais do Evangelho. Aqui, Jesus instrui seus discípulos sobre humildade, cuidado mútuo, pureza espiritual, disciplina e perdão. O que impressiona nesse texto é a maneira prática e profunda como o Mestre aborda as relações dentro do Reino de Deus.
Como observa R. C. Sproul, “Mateus 18 é um manual de Cristo para a vida em comunidade. Ele ensina como lidar com os tropeços, o pecado e as ofensas dentro da igreja” (SPROUL, 2010, p. 467).
Neste comentário, quero explorar o capítulo em detalhes, usando o que aprendi com Sproul e William Hendriksen, e conectando cada parte à nossa vida hoje.
Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 18?
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Mateus escreveu seu Evangelho por volta da década de 60 d.C., direcionado especialmente aos judeus, para apresentar Jesus como o Messias prometido. Ele organiza seu relato em cinco grandes discursos. Mateus 18 faz parte do quarto discurso, conhecido como o “Discurso Comunitário”, no qual Jesus ensina princípios para o convívio entre seus seguidores.
O cenário envolve os discípulos ainda confusos sobre o Reino. Embora já tivessem confessado que Jesus é o Cristo (Mateus 16.16), ainda nutriam expectativas de poder e grandeza terrena.
Por isso, o ensino de Jesus sobre se tornar como crianças e o alerta sobre tropeços soam tão confrontadores. Como destaca Hendriksen, “os discípulos tinham em mente um reino político e terreno. Jesus os chama para uma revolução interior de humildade e santidade” (HENDRIKSEN, 2001, p. 728).
Além disso, o capítulo revela o cuidado pastoral de Cristo ao ensinar sobre disciplina, perdão e restauração — aspectos essenciais para uma comunidade saudável.
O que Jesus ensina sobre grandeza no Reino? (Mateus 18.1–5)
Os discípulos, ainda com uma visão mundana de grandeza, perguntam a Jesus: “Quem é o maior no Reino dos céus?” (v. 1). A resposta de Jesus quebra todas as expectativas: Ele chama uma criança e a coloca no meio deles.
Jesus afirma: “Se não se converterem e não se tornarem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus” (v. 3). Note que Ele não fala apenas de quem será o maior, mas de quem sequer poderá entrar no Reino.
O chamado à humildade é radical. Jesus usa a criança como símbolo, não de ingenuidade, mas de dependência e simplicidade. Como explica Sproul, “as crianças confiam nos pais sem reservas. Assim também devemos depender do Pai Celeste” (SPROUL, 2010, p. 470).
A humildade é o caminho para a grandeza. Não se trata de posição ou prestígio, mas de quebrantamento e reconhecimento de nossa pequenez diante de Deus.
Por que o cuidado com os pequeninos é tão sério? (Mateus 18.6–14)
Jesus segue o ensino, agora alertando sobre o perigo de fazer tropeçar um desses pequeninos — aqueles que creem nele. A linguagem é forte: “Melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar” (v. 6).
Esse ensino não se limita às crianças pequenas, mas inclui todos os que têm fé simples e frágil, especialmente os novos convertidos.
Jesus também reconhece que “é inevitável que venham escândalos” (v. 7), ou seja, neste mundo caído, tentações e tropeços sempre existirão. Mas há uma grave condenação para quem se torna instrumento de queda.
O Senhor ainda usa a hipérbole para falar sobre medidas drásticas contra o pecado: “Se a sua mão ou o seu pé o fizerem tropeçar, corte-os e jogue-os fora” (v. 8). Não é literal, mas expressa a urgência de eliminar da nossa vida tudo o que nos afasta de Deus.
O ensino se completa com a parábola da ovelha perdida (v. 12–14), onde Jesus mostra o cuidado do Pai em buscar quem se desvia. Como destaca Hendriksen, “Deus não deseja que nenhum dos pequeninos se perca. Sua graça se estende até os fracos e errantes” (HENDRIKSEN, 2001, p. 735).
Esse texto nos lembra que a vida cristã é coletiva. Devemos zelar uns pelos outros e proteger os mais vulneráveis, como vemos também em Lucas 15.
Como deve ser o processo de disciplina na igreja? (Mateus 18.15–20)
Jesus apresenta aqui o procedimento para lidar com pecados dentro da comunidade:
- Confronto pessoal e reservado (v. 15).
- Se necessário, levar uma ou duas testemunhas (v. 16).
- Persistindo o pecado, levar o caso à igreja (v. 17).
- Caso ainda haja resistência, o pecador é tratado como pagão ou publicano — ou seja, como alguém fora da comunhão.
A disciplina não é vingança, mas um ato de amor e restauração. O objetivo é ganhar o irmão de volta.
Sproul ressalta: “A igreja que não pratica disciplina demonstra indiferença quanto à santidade e à salvação de seus membros” (SPROUL, 2010, p. 481).
Jesus também reafirma a autoridade da igreja ao dizer: “Tudo o que vocês ligarem na terra terá sido ligado no céu” (v. 18). Isso se refere ao reconhecimento da igreja sobre quem está em comunhão ou não, conforme o ensino de Mateus 16.19.
Por fim, Jesus garante sua presença onde dois ou três estão reunidos em seu nome (v. 20). Embora muitas vezes aplicamos esse versículo em reuniões de oração, o contexto imediato é a disciplina e a restauração de irmãos.
Qual o limite do perdão cristão? (Mateus 18.21–35)
Pedro, talvez se sentindo generoso, pergunta: “Senhor, até quantas vezes deverei perdoar…? Até sete vezes?” (v. 21). Para a mentalidade judaica da época, três vezes já seria suficiente.
Mas Jesus surpreende: “Não até sete, mas até setenta vezes sete” (v. 22). Ou seja, o perdão deve ser ilimitado.
Para ilustrar, Jesus conta a parábola do servo impiedoso. Um homem devia uma quantia incalculável ao rei — “milhares de talentos” (v. 24). Quando suplica por paciência, o rei faz muito mais: cancela toda a dívida (v. 27).
Mas, ao sair dali, o servo encontra alguém que lhe devia uma quantia muito menor — cem denários — e, sem compaixão, o lança na prisão (v. 30).
Ao saber disso, o rei se ira e o entrega aos torturadores.
A mensagem é clara: quem foi perdoado de uma dívida impagável (nossos pecados diante de Deus) não tem o direito de recusar perdão a outro.
Sproul afirma: “O perdão é uma exigência do Reino. A falta de perdão revela um coração endurecido e incrédulo” (SPROUL, 2010, p. 490).
Esse ensino ecoa em outros textos, como Mateus 6.14–15, onde Jesus diz que Deus perdoará nossos pecados conforme perdoamos os outros.
Como Mateus 18 cumpre as profecias?
Embora Mateus 18 não seja um texto messiânico no sentido clássico de profecias diretas, ele está profundamente alinhado com o caráter do Messias revelado no Antigo Testamento.
A imagem do bom pastor que busca a ovelha perdida ecoa profecias como Ezequiel 34.11–16, onde Deus promete buscar suas ovelhas dispersas.
Além disso, o chamado à humildade e ao cuidado com os fracos reflete textos como Isaías 57.15, onde o Senhor se revela como o Deus exaltado que habita com o contrito e humilde de espírito.
Jesus, ao ensinar sobre o Reino, mostra o cumprimento dessas promessas, revelando que o Reino dos céus é para os humildes, os quebrantados e os arrependidos — e não para os orgulhosos e autosuficientes.
O que Mateus 18 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me confronta profundamente. Primeiro, sou chamado a abandonar o orgulho e buscar a humildade de uma criança. Isso me lembra que no Reino de Deus não há espaço para autopromoção.
Depois, Jesus me alerta a ser radical contra o pecado. Preciso identificar o que me faz tropeçar e eliminar isso da minha vida, sem desculpas.
Além disso, aprendo que devo zelar pelos irmãos na fé, especialmente os novos convertidos e os mais frágeis. Não posso ser indiferente ao tropeço alheio.
A disciplina, por sua vez, me lembra que a comunhão cristã exige responsabilidade mútua. Quando alguém peca, devo buscar restaurá-lo com amor e verdade.
Por fim, o ensino sobre o perdão mexe com meu coração. Deus me perdoou uma dívida incalculável em Cristo. Não tenho o direito de guardar mágoa ou recusar perdão a quem me ofende.
Mateus 18 me chama a viver em humildade, pureza, cuidado e graça — refletindo o caráter do Rei que me resgatou.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.