O Salmo 111 é um salmo de sabedoria, que introduz uma série de cânticos conhecidos como “Salmos Aleluia”, por iniciarem com a expressão hebraica halelu-Yah (louvem o Senhor). No texto hebraico, esse salmo segue uma estrutura acróstica, na qual cada linha começa com uma letra do alfabeto. Essa forma literária aponta para o objetivo didático do salmo: ensinar, instruir e inspirar a meditação nas obras e no caráter de Deus.
O Salmo 111 forma um par temático e estrutural com o Salmo 112. Enquanto o primeiro celebra o Senhor por suas obras poderosas e fiéis, o segundo mostra como o caráter de quem teme ao Senhor reflete esse mesmo padrão de fidelidade e justiça. Ambos os salmos possuem dez versículos e se destacam por seu conteúdo teológico profundo, embora acessível a toda a comunidade de fé.
Hernandes Dias Lopes destaca que “o Salmo 111 exalta as obras de Deus como expressões visíveis do seu caráter invisível” (LOPES, 2022, p. 1201). Já Calvino ressalta que o salmista, ao assumir uma postura de louvor pessoal, “se põe como exemplo para levar outros a engajarem-se na celebração dos louvores de Deus” (CALVINO, 2009, p. 78).
O pano de fundo é litúrgico. Provavelmente, esse salmo era entoado nas grandes assembleias de Israel, como parte dos momentos solenes de adoração pública. Ele combina celebração, ensino e exortação, como também ocorre em outros salmos litúrgicos, como o Salmo 95.
1. Um louvor sincero e coletivo (Sl 111.1)
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“Aleluia! Darei graças ao Senhor de todo o coração na reunião da congregação dos justos.” (v. 1)
A adoração começa com uma expressão de júbilo: “Aleluia!”. Não é apenas uma saudação litúrgica, mas uma convocação espiritual. O salmista decide louvar a Deus com todo o coração, sem reservas. Ele não louva sozinho, mas em meio à congregação, destacando a importância do culto comunitário.
Calvino observa que “é melhor louvar em secreto, quando ninguém é cônscio disso, do que elevar a voz e publicar louvores com lábios fingidos” (CALVINO, 2009, p. 78). No entanto, a adoração pública também é fundamental, pois inspira e edifica a fé dos que a presenciam.
Ao ler este versículo, eu me lembro da importância de reunir-me com outros crentes para louvar a Deus, como vemos em Hebreus 10:25. O culto não é uma experiência solitária, mas uma resposta coletiva à grandeza de Deus.
2. A grandeza e beleza das obras de Deus (Sl 111.2–4)
“Grandes são as obras do Senhor; nelas meditam todos os que as apreciam. Os seus feitos manifestam majestade e esplendor, e a sua justiça dura para sempre. Ele fez proclamar as suas maravilhas; o Senhor é misericordioso e compassivo.” (v. 2–4)
As obras do Senhor são descritas como grandes, majestosas e dignas de meditação. Aqueles que as apreciam não apenas as contemplam, mas as estudam, as consideram, as celebram. Elas não são banais, mas revelações da glória e da justiça divinas.
Spurgeon (cit. em LOPES, 2022, p. 1202) comenta que essas obras são grandes “em projeto, tamanho, quantidade e excelência”. Meditar sobre elas é um exercício espiritual que fortalece a fé. E como vemos também no Salmo 19, as obras de Deus falam com clareza àqueles que têm ouvidos espirituais.
A proclamação das maravilhas divinas é um ato de generosidade do próprio Deus. Ele faz com que o povo se lembre do que Ele fez. Como cristão, eu sou convidado a relembrar diariamente as ações do Senhor em minha vida e na história da salvação.
3. A fidelidade da aliança (Sl 111.5–6)
“Deu alimento aos que o temiam, pois sempre se lembra de sua aliança. Mostrou ao seu povo os seus feitos poderosos, dando-lhes as terras das nações.” (v. 5–6)
Aqui, o salmista relembra o cuidado contínuo de Deus com seu povo. Ele proveu alimento no deserto (Êxodo 16), sustentou os que o temiam e honrou sua aliança com os patriarcas. A fidelidade de Deus não depende da nossa, e sim da sua própria natureza.
Calvino destaca que “o cuidado de Deus por seu povo é tal que o leva a fazer-lhe ampla provisão” (CALVINO, 2009, p. 83). Isso se torna evidente tanto na história de Israel como na vida da Igreja. O alimento, tanto físico quanto espiritual, é um sinal da aliança — algo que também vemos reafirmado em João 6:35.
A entrega das terras das nações não foi apenas uma conquista militar. Foi a concretização da promessa feita a Abraão, uma expressão do poder redentor e fiel de Deus.
4. A Palavra que permanece (Sl 111.7–8)
“As obras das suas mãos são fiéis e justas; todos os seus preceitos merecem confiança. Estão firmes para sempre, estabelecidos com fidelidade e retidão.” (v. 7–8)
Neste trecho, o salmista destaca a perfeita harmonia entre os feitos de Deus e sua Palavra. Seus mandamentos não são arbitrários. Eles refletem a mesma fidelidade e justiça que vemos em suas obras.
Hernandes Dias Lopes observa que “os preceitos divinos são inspirados, inerrantes, infalíveis, eternos” (LOPES, 2022, p. 1205). Isso é uma verdade fundamental para todo cristão: confiar na Palavra de Deus é confiar em seu caráter.
Como aprendemos no Salmo 119, a Palavra do Senhor é lâmpada para nossos pés e luz para o caminho. Ela é um firme alicerce em tempos de incerteza.
5. A redenção e o caráter de Deus (Sl 111.9)
“Ele trouxe redenção ao seu povo e firmou a sua aliança para sempre. Santo e temível é o seu nome!” (v. 9)
Este versículo destaca a obra mais gloriosa do Senhor: a redenção. No Antigo Testamento, a libertação do Egito é o grande marco da redenção. No Novo Testamento, essa libertação é plenamente cumprida em Cristo, que nos redimiu do pecado por meio da cruz.
Calvino declara que “na promulgação da lei, Deus também estabeleceu sua graça, para que a esperança da vida eterna pudesse vigorar para sempre na Igreja” (CALVINO, 2009, p. 86). Ao meditar nesse versículo, vejo como a fidelidade de Deus é o alicerce da minha salvação.
O nome do Senhor é “santo e temível” — digno de reverência e adoração. Como também é ensinado em Apocalipse 15:4, ninguém é como o Senhor, justo e verdadeiro em todos os seus caminhos.
6. O temor do Senhor e a sabedoria prática (Sl 111.10)
“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria; todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será louvado para sempre!” (v. 10)
O salmo termina com um princípio que ecoa em toda a literatura sapiencial: o temor do Senhor é o ponto de partida para a verdadeira sabedoria. Esse temor não é medo, mas reverência profunda, que se manifesta em obediência.
Calvino afirma que “os que não temem a Deus e não regulam suas vidas em conformidade com a lei de Deus são bestas rudes” (CALVINO, 2009, p. 87). Sabedoria bíblica não é teoria: é prática. Cumprir os preceitos do Senhor é sinal de bom senso, não de fanatismo.
Como cristão, aprendo aqui que viver com sabedoria é obedecer à Palavra de Deus, mesmo quando ela contraria as tendências culturais. É exatamente o que o salmista afirma também no Salmo 1: a vida abençoada começa com temor e termina em louvor eterno.
Cumprimento das profecias
Embora o Salmo 111 não seja uma profecia messiânica direta, ele aponta claramente para Jesus Cristo. A redenção mencionada no versículo 9 se realiza plenamente na obra de Cristo, que morreu e ressuscitou para firmar uma nova e eterna aliança com seu povo.
Como vemos em Hebreus 9:15, Cristo é o mediador dessa aliança. Ele é a expressão perfeita do caráter de Deus, como revelado nas obras, nos preceitos e na redenção mencionadas neste salmo.
Significado dos nomes e simbolismos
- Aleluia – Chamado coletivo à adoração; expressão de júbilo reverente.
- Obras do Senhor – Referem-se à criação, providência e especialmente à redenção.
- Aliança – Compromisso eterno entre Deus e seu povo, firmado em sua fidelidade.
- Redenção – Libertação graciosa de Deus, concretizada em Cristo.
- Temor do Senhor – Reverência prática e obediente; raiz da sabedoria bíblica.
Lições espirituais e aplicações práticas do Salmo 111
- Adoração sincera é integral e coletiva – Louvar a Deus com todo o coração nos une à comunidade da fé.
- Meditar nas obras de Deus fortalece nossa fé – As ações divinas são fontes inesgotáveis de sabedoria.
- A fidelidade de Deus à aliança é constante – Ele cuida, provê e cumpre suas promessas.
- A Palavra de Deus é firme e confiável – Podemos construir nossa vida sobre seus preceitos eternos.
- Redenção é prova da graça e do amor de Deus – Cristo é o cumprimento dessa promessa.
- Temer ao Senhor é viver com sabedoria – Obediência revela discernimento e bom senso espiritual.
Conclusão
O Salmo 111 é um hino à fidelidade de Deus. Ele nos chama a meditar em suas obras, confiar em sua Palavra, e viver com temor e sabedoria. Ao ler esse salmo, eu sou lembrado de que a fé verdadeira envolve gratidão, reverência e prática diária. Deus não apenas fez maravilhas no passado — Ele continua agindo hoje, sustentando, redimindo e chamando seu povo a louvá-lo para sempre.
Referências
- CALVINO, João. Salmos, org. Franklin Ferreira, Tiago J. Santos Filho e Francisco Wellington Ferreira; trad. Valter Graciano Martins. 1. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009. v. 4, p. 78–87.
- LOPES, Hernandes Dias.. Salmos: O Livro das Canções e Orações do Povo de Deus, org. Aldo Menezes. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2022. v. 1 e 2, p. 1201–1207.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.