2 Reis 22 começa com uma informação surpreendente: “Josias tinha oito anos de idade quando começou a reinar…” (2 Rs 22.1). Um menino no trono de Judá. E, ainda assim, a Bíblia diz que ele “fez o que o Senhor aprova e andou nos caminhos de Davi…” (2 Rs 22.2). Em meio à decadência espiritual do povo, surge um rei temente a Deus.
Josias foi uma exceção no meio do caos. Ele reinou de 640 a 609 a.C., exatamente no período em que a Assíria estava caindo e a Babilônia começava a ascender. Isso significa que o cenário político era instável, mas Josias manteve o foco em Deus. E fez isso sem se desviar “nem para a direita nem para a esquerda”.
Segundo Thomas Constable, “Josias foi um dos melhores reis de Judá. Paz, prosperidade e reforma caracterizaram seu reinado” (CONSTABLE, 1985, p. 581). O cronista complementa, em 2 Crônicas 34, que ele começou a buscar ao Senhor aos 16 anos e iniciou suas reformas com 20. Isso revela um processo de maturidade espiritual. Não foi repentino. Josias foi crescendo em zelo, até que chegou o momento decisivo de sua vida.
Por que Josias decidiu restaurar o templo? (2 Reis 22:1–7)
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No 18º ano de seu reinado, Josias tinha cerca de 26 anos. Ele ordena a restauração do templo, que havia sido profanado por Manassés (2 Rs 21.4-5,7). Havia herança de idolatria enraizada ali. Josias decide romper com esse passado e traz de volta a centralidade da adoração ao Senhor.
A reforma começou com os recursos que o povo vinha entregando no templo. O dinheiro foi confiado a homens fiéis, para que contratassem carpinteiros, pedreiros e artesãos (2 Rs 22.6). Isso se parece com a restauração feita por Joás em 2 Reis 12, mas com uma motivação ainda mais profunda.
Para mim, isso mostra que avivamento espiritual também passa por ações práticas. Não adianta dizer que queremos a presença de Deus se deixamos o templo — o lugar de adoração — abandonado. Josias age. E Deus responde.
Qual foi o impacto da descoberta do Livro da Lei? (2 Reis 22:8–13)
Durante a reforma, Hilquias encontra o Livro da Lei (provavelmente o Pentateuco). Ele entrega a Safã, que o lê ao rei. E a reação de Josias é imediata: “rasgou suas vestes” (2 Rs 22.11). Ele entende que Judá havia se desviado profundamente da vontade de Deus. A leitura do livro não foi apenas informativa — foi transformadora.
Esse momento me faz pensar: quantas vezes ouvimos a Palavra de Deus, mas não reagimos com arrependimento? Josias, ao ouvir a verdade, chorou. E não ficou paralisado. Ele agiu: “Vão consultar o Senhor por mim, pelo povo e por todo Judá…” (2 Rs 22.13).
Constable destaca: “A descoberta do Livro da Lei revela como a nação havia negligenciado as Escrituras por tanto tempo. A reação de Josias mostra sua sensibilidade ao que Deus exige” (CONSTABLE, 1985, p. 581).
Em nossos dias, a Bíblia está mais acessível do que nunca. Mas a pergunta continua: ela ainda nos comove? Ainda rasgamos o coração diante dela como Josias fez?
Por que Josias consultou a profetisa Hulda? (2 Reis 22:14–20)
Josias envia uma comitiva com cinco oficiais para ouvir de Deus por meio de um profeta. Curiosamente, mesmo com nomes como Jeremias e Sofonias atuando em Judá, a resposta vem por meio de uma mulher: Hulda.
Isso mostra que Deus usa quem Ele quiser, quando quiser. Hulda era esposa de um servo do templo e morava em uma região mais baixa da cidade. Mas sua voz ecoou até o trono do rei. O Espírito do Senhor estava sobre ela.
A resposta de Hulda é clara: o juízo viria, porque o povo abandonou o Senhor e se voltou aos ídolos (2 Rs 22.17). Mas Deus faria distinção com Josias: “porque você se humilhou… eu o ouvi” (2 Rs 22.19). A misericórdia viria ao rei — ele morreria em paz antes que o juízo caísse sobre Jerusalém.
Essa passagem me toca profundamente. Porque revela que arrependimento genuíno não passa despercebido diante de Deus. Josias rasgou as vestes, mas mais importante — rasgou o coração. E Deus respondeu com graça.
As profecias de Hulda se cumpriram?
Sim. Quatro anos após a morte de Josias, a Babilônia invadiria Jerusalém (605 a.C.). Com o tempo, Nabucodonosor tomaria a cidade, deportaria os nobres e levaria Judá ao exílio. As palavras de Hulda se cumpriram com precisão.
Josias, no entanto, morreu antes disso. Ele foi poupado da tragédia, como prometido. O juízo viria por causa da idolatria acumulada nas gerações anteriores, como visto em 2 Reis 23, quando a aliança é renovada, mas o destino da nação já está traçado.
A fidelidade de Deus à Sua palavra — seja para bênção ou juízo — é um tema recorrente na Bíblia. Como vimos em 2 Reis 1, a palavra do Senhor nunca falha. O que Ele diz, Ele cumpre.
O que 2 Reis 22 revela sobre a importância das Escrituras?
Esse capítulo nos ensina que o afastamento da Palavra de Deus leva a uma decadência moral e espiritual profunda. Judá se corrompeu porque ignorou o Livro da Lei. Quando esse livro foi redescoberto, tudo mudou.
Hoje temos acesso à Bíblia em diversos formatos. Mas será que ela ainda ocupa o centro das nossas decisões? Ou será que deixamos que ela se perca, como no tempo de Manassés e Amon?
Josias nos ensina que quando a Palavra volta ao lugar de destaque, o avivamento começa. Primeiro no coração, depois na casa, e por fim, na nação.
Como aplicar 2 Reis 22 nos nossos dias?
- A juventude pode ser instrumento de Deus – Josias começou cedo, e isso não foi um empecilho. Ao contrário, foi um diferencial. Jovens que se consagram fazem diferença.
- A Palavra de Deus transforma – Quando Josias ouviu a Lei, algo nele mudou. Isso também acontece conosco, como vemos em Hebreus 4:12: “a Palavra de Deus é viva e eficaz…”
- Reformas espirituais começam com arrependimento – Não basta mudar o exterior. Josias rasgou as vestes, mas Deus viu o coração dele.
- O verdadeiro líder busca ouvir a voz de Deus – Josias consulta ao Senhor. Ele não se apoia apenas em sua própria sabedoria.
- Deus honra os que se humilham – Como ensina Tiago 4:6, Deus dá graça aos humildes. Josias foi poupado do juízo.
- A idolatria moderna também é perigosa – Hoje não adoramos imagens de madeira, mas podemos idolatrar sucesso, controle, dinheiro. Sempre que algo toma o lugar de Deus, estamos repetindo o erro de Judá.
- Não subestime o poder de um coração quebrantado – A resposta de Deus a Josias nos mostra que o arrependimento ainda move o céu.
Existe algum reflexo messiânico em 2 Reis 22?
Sim. Embora o texto não mencione diretamente o Messias, ele prepara o caminho para a necessidade do verdadeiro Rei que cumpriria perfeitamente a Lei de Deus. Josias tentou restaurar a aliança, mas só Jesus a cumpriu por completo. Em Mateus 5:17, Ele afirma: “Não vim abolir a Lei… mas cumpri-la.”
Além disso, o coração quebrantado de Josias antecipa a postura que Cristo espera de Seus discípulos. Em Lucas 18:14, Jesus diz que “quem se humilha será exaltado.” A humildade ainda é o caminho da graça.
Conclusão
2 Reis 22 nos apresenta um rei que, apesar da pouca idade, buscou agradar a Deus com todo o coração. Josias é exemplo de coragem, arrependimento e liderança espiritual. Ele encontrou a Palavra, reagiu com temor e liderou um avivamento.
Ao ler esse capítulo, eu me pergunto: o que Deus poderia fazer na minha casa, igreja ou nação, se eu levasse Sua Palavra tão a sério quanto Josias?
Como em Apocalipse 2, onde Jesus chama a igreja de volta ao primeiro amor, o Senhor continua procurando corações como o de Josias: sensíveis, obedientes e dispostos a agir.
Referência
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 581–582.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.