João 12 marca o encerramento do ministério público de Jesus e o início dos momentos mais solenes de sua missão: o caminho da cruz. Nesse capítulo, encontramos um dos registros mais comoventes do Evangelho. Jesus é honrado em Betânia, entra triunfalmente em Jerusalém, revela o significado da sua morte e, por fim, faz um último apelo às multidões. É um texto carregado de significado, onde a glória, o sofrimento e o amor se misturam de forma profunda.
Qual é o contexto histórico e teológico de João 12?
>>> Inscreva-se no nosso Canal no Youtube
O Evangelho de João foi escrito no final do primeiro século, entre os anos 85 e 95 d.C., pelo apóstolo João, o discípulo amado de Jesus. O propósito desse evangelho é apresentar Jesus como o Filho de Deus e conduzir os leitores à fé nele, como João declara em João 20.31: “Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenham vida em seu nome”.
João não relata os eventos da vida de Jesus seguindo apenas uma cronologia, mas organiza o evangelho de forma teológica. Até o capítulo 11, acompanhamos os sinais e ensinos públicos de Jesus. A partir do capítulo 12, Jesus se volta aos seus discípulos, preparando-os para sua partida.
Nosso sonho é que este site exista sem precisar de anúncios.
Se o conteúdo tem abençoado sua vida, você pode nos ajudar a tornar isso possível.
Contribua para manter o Jesus e a Bíblia no ar e sem publicidade:
Estamos na reta final do ministério terreno de Cristo. Era a semana da Páscoa, a mais importante festa judaica, quando Jerusalém ficava lotada de peregrinos. Segundo Hernandes Dias Lopes, “Jerusalém fervilhava de expectativas políticas, religiosas e messiânicas. Enquanto Jesus caminhava para o Calvário, seus opositores tramavam sua morte” (LOPES, 2015, p. 315).
Esse é o cenário em que Jesus é ungido em Betânia, entra triunfalmente em Jerusalém e anuncia sua morte.
O que João 12 revela sobre os últimos dias de Jesus? (João 12.1–36)
O capítulo começa com uma cena íntima e profunda em Betânia. Jesus está na casa de Simão, o leproso (Mc 14.3). Ali, Marta serve, Lázaro está à mesa e Maria, mais uma vez, demonstra sua devoção ao Senhor.
Maria unge os pés de Jesus com um perfume caríssimo de nardo puro e os enxuga com seus cabelos (João 12.3). Esse gesto, além de ousado, é carregado de amor e sacrifício. J. C. Ryle observa que “Maria ofereceu o melhor que tinha. Ela não calculou o valor do perfume, mas o derramou com generosidade, mostrando que nada era caro demais para o Salvador” (RYLE, 2018, p. 231).
Judas Iscariotes, disfarçando sua avareza, critica Maria, alegando que o perfume poderia ser vendido e o dinheiro dado aos pobres (João 12.5). Mas o texto revela a hipocrisia de Judas, pois ele roubava o dinheiro da bolsa comum (João 12.6).
Jesus defende Maria e afirma: “Deixe-a em paz; que o guarde para o dia do meu sepultamento” (João 12.7). Maria havia compreendido algo que os discípulos ainda não entendiam: Jesus estava a caminho da cruz.
Enquanto isso, os líderes religiosos tramavam não apenas a morte de Jesus, mas também a de Lázaro, pois sua ressurreição era uma prova viva do poder de Cristo e muitos estavam crendo por causa dele (João 12.9–11).
No dia seguinte, Jesus entra em Jerusalém montado em um jumentinho, cumprindo a profecia de Zacarias 9.9. A multidão o recebe com ramos de palmeiras e gritos de “Hosana! Bendito é o que vem em nome do Senhor!” (João 12.13).
Essa entrada triunfal tinha um caráter profundamente messiânico, mas também humilde. Hernandes Dias Lopes destaca: “Jesus não entra como um guerreiro conquistador montado em um cavalo, mas como o Rei da paz, montado em um jumento” (LOPES, 2015, p. 321).
Os discípulos não compreendem o significado daquele momento, mas, depois da ressurreição, tudo lhes será esclarecido (João 12.16).
Entre os presentes na festa estavam alguns gregos que desejavam ver Jesus (João 12.20–22). A resposta de Jesus a esse pedido revela o centro da sua missão: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem” (João 12.23).
A glória de Cristo passaria pela cruz. Assim como o grão de trigo precisa morrer para produzir fruto, Jesus morreria para gerar vida eterna a muitos (João 12.24). Ele deixa claro: “Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna” (João 12.25).
Eu percebo aqui um grande desafio para minha vida: seguir a Cristo exige renúncia, coragem e disposição para morrer para o mundo.
Na sequência, Jesus revela sua angústia: “Agora meu coração está perturbado” (João 12.27). Mesmo sendo Deus, ele sentiu o peso da cruz se aproximando. Mas, com obediência e submissão, ora: “Pai, glorifica o teu nome!” (João 12.28).
Deus responde audivelmente: “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente”. Essa foi uma das raras ocasiões em que o Pai falou do céu. Como destaca J. C. Ryle, “A voz do Pai foi um testemunho público da aprovação celestial ao Filho e à sua obra” (RYLE, 2018, p. 242).
Jesus então anuncia o juízo sobre o mundo e a derrota de Satanás: “Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo” (João 12.31). A cruz não seria derrota, mas a vitória definitiva de Cristo sobre o diabo.
Ele completa: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (João 12.32). Aqui, Jesus se refere à sua crucificação. Através da cruz, ele atrairia judeus e gentios, cumprindo a profecia de que o Salvador viria para todos os povos.
Mesmo com tantos sinais e revelações, muitos ainda não creram. Mas Jesus insiste: “Andem enquanto vocês têm a luz, para que as trevas não os surpreendam” (João 12.35).
Essa advertência continua atual. Quantas vezes deixamos de aproveitar a luz que recebemos? Hoje, o convite de Cristo ainda ecoa: “Creiam na luz enquanto vocês a têm, para que se tornem filhos da luz” (João 12.36).
Quais profecias se cumprem em João 12?
João 12 está repleto de referências e cumprimentos de profecias do Antigo Testamento. Destaco as principais:
- Zacarias 9.9: Jesus entra em Jerusalém montado num jumento, como o Rei da paz. João cita explicitamente essa profecia (João 12.15).
- Salmo 118.26: A multidão saúda Jesus com palavras messiânicas: “Bendito é o que vem em nome do Senhor” (João 12.13).
- Isaías 53.1: A incredulidade do povo, mesmo diante dos milagres de Jesus, cumpre a profecia: “Senhor, quem creu em nossa mensagem?” (João 12.38).
- Isaías 6.10: O endurecimento dos corações e a cegueira espiritual também estavam profetizados. João afirma que Isaías viu a glória de Cristo e falou dele (João 12.41).
Esses textos confirmam que a rejeição de Jesus, longe de surpreender, fazia parte do plano soberano de Deus. Como afirma Hernandes Dias Lopes: “Mesmo a incredulidade humana não escapa ao controle divino e cumpre, no fim, o propósito de Deus” (LOPES, 2015, p. 333).
Que lições práticas João 12 me ensina hoje?
Ao ler João 12, minha fé é confrontada de forma profunda. Vejo, em primeiro lugar, o contraste entre o amor sincero de Maria e a hipocrisia de Judas. Isso me ensina que devo oferecer a Jesus o meu melhor, com generosidade e verdade, sem me preocupar com a opinião alheia.
A entrada de Jesus em Jerusalém me lembra que ele é Rei, mas um Rei humilde. Não busco um Cristo triunfalista, que resolve tudo segundo o padrão humano. Sigo o Rei que venceu através da cruz.
Quando Jesus diz que “se o grão de trigo não morrer, fica só”, entendo que o caminho da verdadeira vida passa pela morte do eu. Renúncia, entrega e obediência são inegociáveis.
A angústia de Jesus me consola. Ele sabe o que é dor, medo e peso interior. Mas, como ele, posso orar: “Pai, glorifica o teu nome”, mesmo nos momentos difíceis.
A promessa de que ele “atrairá todos a si” renova minha esperança. A cruz ainda hoje tem poder para alcançar pessoas. Por isso, sigo anunciando Cristo crucificado.
Por fim, o alerta de Jesus sobre a luz me faz refletir. Não posso desperdiçar o tempo de oportunidade. Quero andar na luz, crer na luz e ser filho da luz.
Como João 12 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo me leva a vários outros textos da Palavra:
- As promessas messiânicas de Zacarias 9.
- As profecias do Salmo 118.
- As palavras de Isaías 6 e Isaías 53, que apontam para a rejeição e o sofrimento do Messias.
- A mensagem da cruz, que será detalhada nos próximos capítulos de João 19.
João 12 é o elo entre os sinais públicos de Jesus e sua entrega sacrificial. O Cristo glorificado passa, inevitavelmente, pelo caminho da cruz.
Referências
- LOPES, Hernandes Dias. João: As Glórias do Filho de Deus. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2015.
- RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.