Lucas 20 é um dos capítulos mais desafiadores e reveladores do Evangelho. Quando leio esse texto, fico impressionado com a sabedoria e firmeza de Jesus diante dos ataques religiosos e políticos. É um daqueles momentos em que o confronto entre a autoridade divina e o orgulho humano fica evidente. Aqui, Jesus não apenas responde aos líderes judeus, mas também os expõe, revela a hipocrisia deles e aponta o caminho da verdadeira fé.
Qual é o contexto histórico e teológico de Lucas 20?
O Evangelho de Lucas foi escrito com o propósito de apresentar um relato confiável e organizado sobre a vida e ministério de Jesus. Como lembra Hendriksen (2014), Lucas escreve para gentios e destaca o caráter universal do Evangelho. Já Keener (2017) ressalta que Lucas mostra Jesus como o Messias rejeitado, mas também como o Senhor vitorioso.
O capítulo 20 se passa durante a Semana da Paixão, em Jerusalém. Jesus já havia entrado triunfalmente na cidade e purificado o templo (Lucas 19.45-48). Agora, Ele ensina no templo e enfrenta duramente a oposição das autoridades religiosas: os principais sacerdotes, os escribas (mestres da lei), os anciãos e os saduceus. O cenário é tenso, carregado de hostilidade e intriga política.
Teologicamente, o capítulo destaca o conflito entre o Reino de Deus, representado por Jesus, e o sistema religioso corrompido. É o embate entre o Messias prometido e os líderes que, em vez de se renderem a Deus, se apegam ao poder e à aparência. Hendriksen (2014) aponta que Jesus, ao citar as Escrituras e fazer perguntas, revela a hipocrisia dos líderes e reafirma sua identidade messiânica.
Como o texto de Lucas 20 se desenvolve?
O capítulo pode ser dividido em quatro grandes momentos, que revelam o confronto direto entre Jesus e os líderes de Israel, além das lições eternas que podemos tirar desse cenário.
1. Com que autoridade Jesus faz essas coisas? (Lucas 20.1-8)
Enquanto Jesus ensinava no templo, os líderes se aproximaram para desafiá-lo:
“Com que autoridade estás fazendo estas coisas? Quem te deu esta autoridade?” (Lucas 20.2).
Ao ler isso, percebo que o que estava em jogo não era apenas uma dúvida teológica, mas o orgulho ferido desses homens. Eles não suportavam a influência de Jesus sobre o povo.
Jesus, em sua sabedoria, responde com outra pergunta:
“O batismo de João era do céu ou dos homens?” (Lucas 20.4).
Essa pergunta os colocou contra a parede. Se reconhecessem que João Batista era enviado por Deus, teriam de aceitar Jesus como o Messias, pois João o havia anunciado (João 1.29-34). Mas se dissessem que João era apenas um líder humano, o povo se revoltaria, pois via João como profeta.
Eles preferem o caminho da covardia e dizem:
“Não sabemos.” (Lucas 20.7).
Então, Jesus também se recusa a responder, expondo a hipocrisia deles. Como destaca Hendriksen (2014), essa tática rabínica de responder com uma contra-pergunta não era apenas um artifício, mas uma forma de revelar o coração endurecido dos líderes.
2. Qual é o significado da parábola dos lavradores maus? (Lucas 20.9-19)
Em seguida, Jesus conta a parábola dos lavradores maus. Um homem planta uma vinha, arrenda a alguns lavradores e parte para longe. No tempo da colheita, envia servos para buscar o fruto, mas todos são espancados ou mortos. Por fim, envia o próprio filho, mas os lavradores o matam, achando que assim herdariam a vinha.
Essa parábola é uma acusação direta contra os líderes religiosos. Deus é o dono da vinha (Isaías 5.1-7), Israel é a vinha, os servos são os profetas rejeitados, e o filho é o próprio Jesus.
O fim da parábola é dramático:
“Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros.” (Lucas 20.16).
O povo reage chocado: “Que isso nunca aconteça!” (Lucas 20.16).
Mas Jesus aprofunda o ensino, citando o Salmo 118.22:
“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.” (Lucas 20.17).
Jesus é essa pedra. Embora rejeitado pelas autoridades, Ele é o alicerce do Reino de Deus.
Keener (2017) explica que, ao citar o Salmo 118, Jesus não só anuncia sua rejeição e morte, mas também sua exaltação como Messias vitorioso. O Reino será tirado dos líderes corruptos e confiado a outros — os apóstolos e, posteriormente, à Igreja.
3. É lícito pagar imposto a César? (Lucas 20.20-26)
Os líderes, ainda tentando pegar Jesus em alguma contradição, enviam espiões com uma pergunta capciosa:
“É certo pagar imposto a César ou não?” (Lucas 20.22).
Era uma armadilha política. Se dissesse que sim, seria acusado de traição à fé judaica. Se dissesse que não, seria denunciado aos romanos como rebelde.
Jesus, com sabedoria divina, pede um denário e pergunta:
“De quem é a imagem e a inscrição que há nele?” (Lucas 20.24).
Eles respondem: “De César.”
Então, Jesus conclui:
“Portanto, deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Lucas 20.25).
Ao meditar nisso, vejo o equilíbrio perfeito entre o respeito às autoridades e a fidelidade a Deus. Como destaca Hendriksen (2014), Jesus não se esquiva, mas coloca os governantes em seu devido lugar: devem ser respeitados, mas jamais adorados. Acima deles está Deus, o Senhor absoluto.
Os espiões ficam sem palavras, admirados com a resposta de Jesus.
4. O que Jesus ensinou sobre a ressurreição? (Lucas 20.27-40)
Depois, alguns saduceus, que não acreditavam na ressurreição, tentam ridicularizar essa doutrina com uma história absurda de uma mulher que se casou com sete irmãos, um após o outro, conforme a lei do levirato (Deuteronômio 25.5-6).
A pergunta deles é irônica:
“Na ressurreição, de quem ela será esposa?” (Lucas 20.33).
Jesus responde com clareza:
“Os que forem considerados dignos de tomar parte na era que há de vir e na ressurreição dos mortos não se casarão nem serão dados em casamento.” (Lucas 20.35).
A vida eterna não é uma simples continuação da vida presente, mas uma existência glorificada, sem morte, onde seremos como os anjos, filhos de Deus e da ressurreição.
Para provar a ressurreição, Jesus cita o episódio da sarça ardente (Êxodo 3.6), lembrando que Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e que Ele é Deus dos vivos, não dos mortos.
Como diz Keener (2017), ao recorrer ao Pentateuco, os livros que os saduceus mais valorizavam, Jesus desmonta o argumento deles, afirmando a esperança da vida eterna.
Os escribas, que eram fariseus e criam na ressurreição, reconhecem a sabedoria de Jesus:
“Respondeste bem, Mestre!” (Lucas 20.39).
5. Como Jesus revela sua verdadeira identidade? (Lucas 20.41-44)
Jesus, então, faz uma pergunta crucial:
“Como dizem que o Cristo é Filho de Davi?” (Lucas 20.41).
Ele cita o Salmo 110, onde Davi chama o Messias de Senhor. A implicação é clara: o Messias não é apenas descendente de Davi, mas é maior que Davi, é o Senhor divino.
Essa pergunta ecoa o coração da fé cristã. Jesus é o Filho de Davi segundo a carne, mas é o Senhor eterno, o Filho de Deus, aquele a quem todos devem se render.
Hendriksen (2014) destaca que essa passagem aponta para a divindade e soberania de Cristo, um dos temas centrais do Evangelho.
6. Por que Jesus denuncia os mestres da lei? (Lucas 20.45-47)
Por fim, Jesus adverte o povo contra a hipocrisia dos escribas:
“Cuidado com os mestres da lei.” (Lucas 20.46).
Eles buscavam status, reconhecimento, os melhores lugares nas sinagogas e nos banquetes. Pior ainda, exploravam as viúvas e faziam orações longas apenas para aparecer.
Jesus não tolera esse tipo de religiosidade vazia. A condenação é certa:
“Esses homens serão punidos com maior rigor!” (Lucas 20.47).
Essa advertência me faz lembrar que Deus não se impressiona com aparências, mas sonda o coração.
Quais profecias se cumprem em Lucas 20?
- A rejeição do Messias é antecipada nos Salmos, especialmente no Salmo 118.22, citado por Jesus.
- A parábola dos lavradores maus aponta para o destino de Israel e o surgimento da Igreja, como Jesus já havia indicado em outras passagens.
- A identidade do Messias como Senhor de Davi, revelada no Salmo 110, se cumpre em Jesus.
- A defesa da ressurreição está alinhada com a esperança veterotestamentária de uma vida após a morte, visível em textos como Daniel 12.2.
O que Lucas 20 me ensina para a vida hoje?
Ao meditar nesse capítulo, aprendo que:
- A autoridade de Jesus é absoluta. Não devo questioná-la como os líderes fizeram, mas me render a ela.
- A rejeição de Cristo pelos líderes me alerta para o perigo do orgulho e da religiosidade vazia.
- Deus espera frutos da minha vida, assim como o dono da vinha esperava dos lavradores.
- Sou chamado a respeitar as autoridades, mas minha lealdade final pertence a Deus.
- A esperança da ressurreição me consola diante da morte e me desafia a viver com os olhos na eternidade.
- Jesus é o Senhor, não apenas um grande mestre. Ele é digno da minha fé, adoração e obediência.
- A hipocrisia religiosa afasta de Deus. Sou chamado a viver uma fé sincera e humilde.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Lucas. Tradução: Valter Graciano Martins. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.