Atos 28 encerra o livro de Atos de uma maneira surpreendente e encorajadora. Ao ler este capítulo, vejo não apenas o final da longa jornada de Paulo rumo a Roma, mas também o cumprimento das promessas de Deus e o triunfo do evangelho, mesmo em meio às dificuldades. Deus transforma uma ilha desconhecida em um campo de milagres e faz da prisão de Paulo o ponto de partida para o evangelho alcançar o coração do Império.
Qual é o contexto histórico e teológico de Atos 28?
Lucas, o autor de Atos, termina o livro narrando a última etapa da viagem de Paulo, que já dura meses e inclui naufrágios, prisões e muita oposição. Segundo Kistemaker (2016) e Keener (2017), Atos 28 acontece por volta de 60-62 d.C., quando Paulo, como prisioneiro, finalmente chega a Roma para ser julgado por César.
A ilha de Malta, onde o navio naufragou, tinha uma história rica. Era habitada por descendentes de fenícios, com forte influência cartaginesa e romana. O domínio romano existia desde 218 a.C., mas, como explica Keener (2017), a população local falava majoritariamente o dialeto fenício, enquanto a elite falava latim e grego.
Roma, destino final de Paulo, era o centro do Império, com cerca de um milhão de habitantes. Os judeus formavam uma comunidade significativa, com sinagogas espalhadas pela cidade, mas sem um governo centralizado. Isso explicará a liberdade inicial de Paulo em compartilhar o evangelho ali.
Teologicamente, este capítulo conclui a grande narrativa de Atos: o evangelho alcançando “os confins da terra” (Atos 1.8). Apesar das cadeias, o Reino de Deus avança. Paulo continua pregando, demonstrando que as circunstâncias humanas não limitam o propósito de Deus.
Nosso sonho é que este site exista sem precisar de anúncios.
Se o conteúdo tem abençoado sua vida, você pode nos ajudar a tornar isso possível.
Contribua para manter o Jesus e a Bíblia no ar e sem publicidade:
Como o texto de Atos 28 se desenvolve?
O capítulo se divide em três grandes momentos: os milagres em Malta, a chegada a Roma e o testemunho final de Paulo.
1. O que aprendemos com os milagres em Malta? (Atos 28.1-10)
Depois do naufrágio, Paulo e os demais descobrem que estavam na ilha de Malta:
“Uma vez em terra, descobrimos que a ilha se chamava Malta” (Atos 28.1).
Keener (2017) destaca que o nome Melita pode significar lugar de refúgio, algo simbólico diante da situação dramática vivida pelos náufragos. É interessante notar a hospitalidade dos habitantes:
“Os habitantes da ilha mostraram extraordinária bondade para conosco” (Atos 28.2).
Mesmo considerados “bárbaros” no sentido de não falarem grego, esses homens agem com compaixão. Ao ler isso, sou lembrado de que Deus muitas vezes usa pessoas fora do círculo religioso para demonstrar cuidado.
Enquanto ajudava a alimentar a fogueira, Paulo é picado por uma víbora (Atos 28.3). Os nativos interpretam o fato à luz da superstição:
“Certamente este homem é assassino… a Justiça não lhe permite viver” (Atos 28.4).
Eles acreditavam que a deusa Justiça estava cobrando o preço. Porém, o inesperado acontece:
“Paulo sacudiu a cobra no fogo e não sofreu mal nenhum” (Atos 28.5).
Como explica Kistemaker (2016), a ausência de efeitos físicos imediatos surpreende a todos. Os malteses rapidamente mudam de opinião e passam a ver Paulo como um deus (Atos 28.6), algo semelhante ao que aconteceu em Listra (Atos 14.11-15).
Em seguida, vemos Paulo sendo hospedado por Públio, o homem principal da ilha. Ele ora e cura o pai de Públio, doente com febre e disenteria (Atos 28.7-8). Depois disso, muitos outros doentes são curados (Atos 28.9).
Para mim, este trecho revela o cuidado de Deus em meio às adversidades. O naufrágio não foi o fim, mas o início de um ministério frutífero em Malta. Quando confiamos em Deus, até as tempestades abrem portas para o evangelho.
2. Como aconteceu a chegada de Paulo a Roma? (Atos 28.11-16)
Após três meses, Paulo e seus companheiros embarcam rumo à Itália. O navio tinha por insígnia Castor e Pólux, deuses protetores dos marinheiros (Atos 28.11). Esse detalhe, segundo Keener (2017), mostra o contraste entre a confiança pagã e o livramento dado pelo Deus verdadeiro.
A viagem segue por Siracusa, Régio e finalmente Putéoli, onde encontram irmãos da fé e permanecem sete dias (Atos 28.12-14). Essa breve pausa revela como o cristianismo já estava espalhado por toda parte.
Ao chegar a Roma, Paulo recebe uma calorosa recepção:
“Os irmãos… foram até a praça de Ápio e às Três Vendas para nos encontrar” (Atos 28.15).
Esse gesto de acolhimento emociona Paulo, que agradece a Deus e se sente encorajado. Eu aprendo aqui como o apoio dos irmãos é essencial para seguir firme na caminhada.
Já em Roma, Paulo recebe permissão para morar por conta própria, sob vigilância (Atos 28.16). Apesar das algemas, ele desfruta de relativa liberdade para pregar.
3. Qual foi o testemunho final de Paulo em Roma? (Atos 28.17-31)
Mesmo como prisioneiro, Paulo age com sabedoria e iniciativa. Três dias depois de sua chegada, ele convoca os líderes judeus para uma reunião (Atos 28.17).
Ele apresenta sua defesa, deixando claro que não é inimigo do povo judeu:
“Não tenho feito nada contra o nosso povo” (Atos 28.17).
Explica que sua prisão se deve à esperança de Israel, ou seja, ao Messias prometido (Atos 28.20). Os líderes afirmam que nada receberam contra ele e demonstram interesse em ouvir suas ideias (Atos 28.21-22).
Um grande número de judeus vai à casa de Paulo, onde ele passa o dia inteiro explicando as Escrituras e falando sobre Jesus:
“Ele lhes deu explicações e lhes testemunhou do Reino de Deus, procurando convencê-los a respeito de Jesus” (Atos 28.23).
Como em outros lugares, a reação é dividida. Alguns creem, outros rejeitam a mensagem (Atos 28.24).
Antes que o grupo se disperse, Paulo cita Isaías 6.9-10, aplicando o texto aos que recusam o evangelho. Essa profecia já havia sido usada por Jesus para descrever a dureza do coração de Israel (Mateus 13.14-15).
Paulo conclui:
“Portanto, que vocês saibam que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios; eles ouvirão” (Atos 28.28).
Os dois últimos versículos encerram o livro de maneira triunfante:
“Paulo permaneceu por dois anos em sua própria casa alugada e recebia a todos… pregando o Reino de Deus e ensinando as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo, com toda intrepidez e sem impedimento” (Atos 28.30-31).
O evangelho, mesmo diante das cadeias, segue avançando.
Que conexões proféticas encontramos em Atos 28?
Este capítulo evidencia o cumprimento das palavras de Jesus em Atos 1.8: o evangelho chega aos confins do Império. Roma, símbolo máximo do poder terreno, torna-se palco para a proclamação do Reino de Deus.
A resistência dos judeus e a abertura dos gentios também cumpre o padrão profético descrito em Isaías 6 e, posteriormente, aplicado por Jesus e pelos apóstolos.
Além disso, o livramento de Paulo do naufrágio e da serpente ecoa a promessa de Jesus em Marcos 16.18, sobre proteção divina aos que anunciam o evangelho.
O que Atos 28 me ensina para a vida hoje?
Ao refletir sobre este capítulo, meu coração se enche de esperança e desafio. Aprendo que:
- Deus transforma crises em oportunidades. O naufrágio virou um campo missionário.
- A fidelidade em pequenas atitudes, como ajudar a fazer uma fogueira, abre portas para grandes milagres.
- Deus usa até uma prisão para alcançar corações.
- A rejeição de alguns não impede o avanço do evangelho.
- O Reino de Deus cresce sem impedimento, mesmo em ambientes hostis.
- O encorajamento dos irmãos renova nossas forças na caminhada.
Atos 28 mostra que o final da história humana não é o final da missão de Deus. Ele segue agindo, abrindo caminhos e alcançando pessoas.
Como Atos 28 me conecta ao restante das Escrituras?
Este capítulo conclui o livro de Atos, mas aponta para o futuro do evangelho. Ele se conecta a toda a Bíblia ao:
- Revelar o cuidado providencial de Deus, como no Êxodo ou na história de José.
- Mostrar o cumprimento das promessas messiânicas anunciadas pelos profetas.
- Confirmar o envio de Deus aos gentios, como já havia sido revelado a Abraão (Gênesis 12.3).
- Encorajar a missão contínua da igreja, que ecoa até hoje.
Lucas encerra o livro sem narrar o julgamento de Paulo ou sua morte. Isso não é um esquecimento, mas um convite: a história da igreja continua, e nós fazemos parte dela.
Referências
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- KISTEMAKER, Simon. Atos. Tradução: Ézia Mullis e Neuza Batista da Silva. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.