O livro de Êxodo começa onde Gênesis termina: com a família de Jacó estabelecida no Egito. Essa mudança não é apenas narrativa, mas teológica. Êxodo 1 mostra como uma família se transforma numa nação, e como a promessa feita por Deus a Abraão começa a se cumprir — com bênçãos e sofrimento.
O versículo 1 apresenta os nomes dos filhos de Israel, remetendo a Gênesis 46, quando Jacó desceu ao Egito por causa da fome. John D. Hannah observa que “o propósito inicial do capítulo é mostrar como a bênção de Deus em Gênesis continua em Êxodo, mesmo num contexto de opressão” (HANNAH, 1985, p. 108).
Victor P. Hamilton destaca que o livro começa com silêncio da parte de Deus, mas isso não é sinal de ausência. Ele escreve: “Deus ainda está agindo, silenciosamente. Ele multiplica o povo, preparando o palco para a libertação” (HAMILTON, 2017, p. 38).
O pano de fundo histórico sugere uma mudança de dinastia egípcia — possivelmente após a expulsão dos hicsos — o que explicaria o novo rei que “não conhecia José” (v. 8). Isso tem implicações políticas e teológicas: líderes mudam, mas os propósitos de Deus permanecem firmes.
1. Como Deus transforma uma família em um povo? (Êxodo 1:1–7)
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“São estes, pois, os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito…” (v. 1)
A repetição da genealogia no início de Êxodo não é redundante. É um lembrete da fidelidade de Deus. O número de “setenta” descendentes (v. 5) representa um grupo pequeno, mas cheio de promessa.
O versículo 7 é chave: “Os israelitas, porém, eram férteis, proliferaram, tornaram-se numerosos e fortaleceram-se muito, tanto que encheram o país.” Hamilton mostra que os seis verbos usados aqui ecoam Gênesis 1:28, onde Deus abençoa o ser humano com a ordem de frutificar (HAMILTON, 2017, p. 51). A criação está se renovando — mesmo no Egito.
Esse trecho me lembra que Deus não precisa de circunstâncias ideais para cumprir Sua promessa. Ele pode multiplicar onde há escassez, fortalecer onde há opressão e fazer crescer onde parece haver estagnação.
2. O que acontece quando líderes rejeitam a história de Deus? (Êxodo 1:8–10)
“Então subiu ao trono do Egito um novo rei, que nada sabia sobre José.” (v. 8)
A nova liderança egípcia não reconhece nem honra o legado de José. Isso não é apenas esquecimento, é uma rejeição. Hannah comenta: “O novo Faraó via os israelitas como ameaça, não como bênção” (HANNAH, 1985, p. 109). O medo do outro gera paranoia, e a paranoia gera opressão.
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O Faraó teme que, em caso de guerra, Israel se una aos inimigos do Egito e fuja. Mas na prática, ele quer manter o povo preso, explorado, sem força para reagir.
Ao ler isso, eu penso em quantas vezes o mundo também tenta controlar aquilo que não entende. Ser abençoado, ser diferente, carregar uma promessa… tudo isso incomoda. Mas Deus nunca deixa de cuidar dos Seus, mesmo que os governos mudem.
3. Por que o sofrimento aumentou mesmo com a bênção de Deus? (Êxodo 1:11–14)
“Estabeleceram, pois, sobre eles chefes de trabalhos forçados, para os oprimir com tarefas pesadas.” (v. 11)
A estratégia do Faraó é clara: enfraquecer o povo pela opressão. Os israelitas são forçados a construir as cidades-celeiro de Pitom e Ramessés. Segundo Hamilton, essas cidades serviam como pontos logísticos para o exército egípcio — verdadeiros centros militares sustentados pelo suor dos hebreus (HAMILTON, 2017, p. 52).
Mas o plano fracassa. O versículo 12 diz: “Quanto mais eram oprimidos, mais numerosos se tornavam e mais se espalhavam.” Isso revela algo profundo: a opressão não interrompe o plano de Deus, ela o impulsiona.
Esse versículo me impacta. Às vezes, penso que o sofrimento vai me enfraquecer. Mas a Palavra mostra que, em Deus, a dor pode se transformar em crescimento. Como está escrito em Romanos 5:3–5, a tribulação produz perseverança, e a perseverança, caráter.
4. Quem teve coragem de dizer “não” ao poder? (Êxodo 1:15–19)
“O rei do Egito ordenou às parteiras dos hebreus…” (v. 15)
Diante do fracasso da escravidão, o Faraó parte para o genocídio. Ele tenta cooptar as parteiras hebreias para que matem os meninos ao nascer. Mas Sifrá e Puá o desobedecem. Por quê? “Temeram a Deus.” (v. 17)
Esse temor é revolucionário. Victor Hamilton afirma: “As parteiras nos mostram que o temor do Senhor está acima da obediência cega ao Estado” (HAMILTON, 2017, p. 53). E Hannah observa que “essa é uma das primeiras manifestações de fé prática em Êxodo” (HANNAH, 1985, p. 110).
As parteiras desafiam o rei com uma justificativa simples: “as hebreias são mais vigorosas e dão à luz antes que cheguemos” (v. 19). Pode ter sido uma meia-verdade. Mas o foco do texto não é a precisão da desculpa — e sim a fidelidade corajosa.
Esse trecho me faz pensar: o que me move? O medo dos homens ou o temor do Senhor? Sifrá e Puá não tinham poder político, mas tinham temor — e isso foi suficiente para mudar a história.
5. Como Deus recompensa quem O teme? (Êxodo 1:20–21)
“Deus foi bondoso com as parteiras…” (v. 20)
A fidelidade delas não passou despercebida. Deus lhes dá famílias — algo extremamente valioso na cultura hebraica. Enquanto o Faraó impõe morte, Deus responde com vida.
Hamilton observa: “É irônico: o Faraó, figura de poder, permanece anônimo. As parteiras, figuras marginalizadas, têm seus nomes eternizados” (HAMILTON, 2017, p. 55). Isso mostra o que realmente importa aos olhos de Deus.
Esse texto me encoraja a permanecer fiel mesmo nos bastidores. Deus vê, recompensa e honra os que O temem. Como Jesus disse em Mateus 6:6, o Pai que vê em secreto recompensa.
6. Até onde o mal pode ir? (Êxodo 1:22)
“Então o faraó ordenou a todo o seu povo…” (v. 22)
O capítulo termina com um decreto tenebroso: “Lancem no Nilo todo menino hebreu recém-nascido.” O Faraó mobiliza a população para cumprir sua política de extermínio. Isso mostra o quão longe a injustiça pode ir quando se torna lei.
Esse versículo prepara o terreno para Êxodo 2, onde um menino lançado nas águas — Moisés — será instrumento de salvação. O rio da morte se tornará o começo da libertação.
Cumprimento das profecias
Êxodo 1 é cumprimento direto de Gênesis 15:13, onde Deus avisa a Abraão que seus descendentes seriam oprimidos numa terra estrangeira por 400 anos. A fidelidade de Deus se manifesta tanto no crescimento quanto na dor.
Além disso, esse capítulo aponta para Jesus. Assim como Moisés escapou da matança dos meninos, Jesus também foi preservado de um infanticídio em Mateus 2:16–18. Ambos foram libertadores levantados por Deus para salvar o povo.
Lições espirituais e aplicações práticas de Êxodo 1
- Deus trabalha mesmo quando parece ausente – O silêncio de Deus no início do capítulo não é inação, mas preparação.
- A fidelidade a Deus vale mais que o medo dos homens – Sifrá e Puá escolheram obedecer ao Senhor, mesmo sob risco de morte.
- O sofrimento não paralisa o propósito de Deus – Quanto mais oprimido, mais o povo crescia. Isso vale para nós hoje.
- A injustiça institucionalizada exige resistência piedosa – Nem toda ordem legal é moral. Temer a Deus é mais importante.
- Deus vê os fiéis que ninguém vê – Ele honra os que O honram, mesmo que os homens os ignorem.
- O mal pode lançar decretos, mas Deus já preparou a salvação – O capítulo termina com ameaça, mas o libertador já está a caminho.
Conclusão
Êxodo 1 é mais do que o relato de uma escravidão. É o início da redenção. Deus prepara o cenário onde Sua glória será revelada. O silêncio não significa ausência. A opressão não impede a bênção. E a fidelidade, mesmo em pequenos atos, pode gerar grandes mudanças.
Que eu e você sejamos como Sifrá e Puá — firmes, fiéis e movidos pelo temor do Senhor. O mundo pode tentar controlar, oprimir e silenciar. Mas a Palavra de Deus corre livre. A história não terminou no versículo 22. Ela está só começando.
Referências
- HANNAH, John D. Exodus. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Org.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985, p. 108–110.
- HAMILTON, Victor P. Êxodo. Tradução de João Artur dos Santos. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 33–55.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.