Gênesis 1 apresenta o relato bíblico da Criação e a origem da vida na Terra. O capítulo descreve, em seis dias, a formação do universo pela palavra de Deus. A afirmação de Gênesis 1:1 — “No princípio Deus criou os céus e a terra” — estabelece a base teológica da fé cristã: Deus é o Criador de todas as coisas, distinto e soberano sobre a criação.
O texto divide a Criação em duas fases: nos três primeiros dias, Deus organiza o caos inicial; nos três seguintes, Ele preenche a criação com vida. Ao final, cria o ser humano à Sua imagem e confere a ele autoridade sobre toda a Terra (Gn 1:26-28). O capítulo termina com a declaração de que tudo era “muito bom” (Gn 1:31).
Como material complementar, destacam-se os livros Como Tudo Começou e Gênesis 1 e 2, do Professor Adalto Lourenço, e a palestra Como Tudo Começou, que ajudam a relacionar o texto bíblico com temas científicos contemporâneos.
Contexto histórico e teológico de Gênesis 1
Gênesis 1 está entre os textos mais conhecidos da Bíblia e ocupa um papel central tanto na teologia cristã quanto no pensamento judaico. Como ponto de partida da narrativa bíblica, ele oferece não apenas uma explicação sobre a origem do universo, mas também estabelece fundamentos para a fé, a moral e o relacionamento humano com Deus e com a criação.
Tradicionalmente atribuído a Moisés, o livro de Gênesis foi escrito para o povo de Israel durante ou após o período do êxodo egípcio. A intenção teológica era clara: mostrar que o Deus que havia libertado Israel do Egito era também o Criador de todas as coisas. O relato do Gênesis se apresenta em contraste direto com os mitos de criação das nações vizinhas, como os babilônicos e egípcios. Enquanto esses mitos descrevem a criação como resultado de conflitos entre deuses, Gênesis apresenta um único Deus soberano que cria pela Sua Palavra, de forma ordeira e deliberada (ROSS, 1985, p. 27).
O capítulo também funciona como prólogo para toda a Escritura. Ele antecipa temas como redenção, soberania divina, propósito da criação e o papel do ser humano no mundo. O Deus que cria é o mesmo que estabelece alianças, dá leis, julga e salva.
Gênesis 1:1-2 – O princípio da criação
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“No princípio Deus criou os céus e a terra.” (Gn 1:1)
O versículo inicial declara com simplicidade e profundidade que Deus é o autor da criação. O termo hebraico bārā’ (“criou”) aparece aqui no sentido de criar de forma absoluta, algo novo e perfeito, e sempre tem Deus como sujeito (ROSS, 1985, p. 27).
O versículo 2 descreve um estado de desordem: “a terra era sem forma e vazia.” A expressão hebraica tohu va-bohu sugere um ambiente caótico, ainda não moldado. A ação do Espírito de Deus “movendo-se sobre a face das águas” indica preparo para o início da criação ordenada. Como cristão, vejo aqui o primeiro sinal da ação redentora de Deus, que transforma o caos em ordem.
Gênesis 1:3-5 – O primeiro dia: a criação da luz
“Disse Deus: ‘Haja luz’; e houve luz.” (Gn 1:3)
A luz surge como a primeira criação específica. Ela não depende do sol, que será criado depois, mas manifesta a própria presença de Deus como fonte de vida e ordem. A separação entre luz e trevas representa, simbolicamente, a distinção entre bem e mal (ROSS, 1985, p. 28). Ao ler esse trecho, eu percebo como a luz de Deus é a resposta imediata ao caos e à escuridão.
Gênesis 1:6-8 – O segundo dia: o firmamento
Deus separa as águas com o firmamento, criando o céu. O texto não tem preocupação científica, mas funcional. O firmamento serve para regular o clima e delimitar o espaço da criação. Walton observa que, no mundo antigo, isso indicava a organização dos domínios cósmicos por Deus (WALTON, 2018, p. 32).
Gênesis 1:9-13 – O terceiro dia: terra seca e vegetação
Aqui vemos a ordem surgir de forma prática: águas se ajuntam, aparece terra seca, e a vegetação surge com capacidade de reprodução. A repetição da expressão “de acordo com as suas espécies” mostra intencionalidade e diversidade. Deus não criou um mundo estático, mas cheio de potencial e movimento.
Gênesis 1:14-19 – O quarto dia: luminares
Os luminares são colocados para governar o tempo. Interessantemente, o texto evita os nomes “sol” e “lua”, que estavam associados a deuses nas religiões vizinhas. Chamar o sol de “luminar maior” e a lua de “luminar menor” foi uma forma de despersonalizar esses corpos celestes e reafirmar que eles não são deuses, mas criações de Deus (WALTON, 2018, p. 33).
Gênesis 1:20-23 – O quinto dia: vida nos mares e nos céus
Deus cria os peixes e as aves, abençoando-os com a capacidade de se multiplicar. O verbo bārā’ volta a aparecer aqui, indicando um novo ato criativo (ROSS, 1985, p. 29). A vida se expande, e todas as criaturas existem sob a autoridade do Criador. Quando leio essa parte, sou levado a refletir na riqueza da biodiversidade que revela a generosidade de Deus.
Gênesis 1:24-31 – O sexto dia: animais terrestres e a humanidade
O clímax da criação chega com a criação do homem e da mulher à imagem de Deus. Isso implica responsabilidade, consciência moral, criatividade e capacidade de se relacionar com Deus. O texto usa o plural divino: “Façamos o homem à nossa imagem”, sugerindo uma conversa no interior da divindade, o que para nós cristãos ecoa a Trindade.
O ser humano é colocado como administrador da criação, com autoridade para governar, mas também com responsabilidade (WALTON, 2018, p. 34). Como cristão, eu entendo que a imagem de Deus em nós envolve refletir Seu caráter no mundo, o que inclui justiça, sabedoria, compaixão e domínio com cuidado.
Cumprimento das profecias
Gênesis 1 não contém profecias explícitas, mas antecipa temas centrais que se cumprem no Novo Testamento. O mais evidente é o paralelo entre o “Haja luz” de Gênesis 1:3 e a proclamação do apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4:6: “Pois Deus que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nossos corações.” A nova criação em Cristo começa com luz espiritual.
Outro ponto importante é a imagem de Deus no ser humano, que foi desfigurada pelo pecado, mas restaurada em Cristo. Paulo afirma que os salvos são “nova criação” (2Co 5:17), recuperando o propósito original da criação.
O Apocalipse também completa o ciclo: o mundo que começou com ordem e luz, terminará em uma nova criação onde “não haverá mais noite” (Ap 21:25), refletindo a glória eterna de Deus. Leia mais sobre isso em Apocalipse 21.
Significado dos nomes e simbolismos
- Elohim: o nome usado para Deus neste capítulo. Está no plural, indicando plenitude de poder. Mesmo em sua forma plural, é tratado com verbo singular, reafirmando a unidade divina.
- Luz: mais do que fenômeno físico, representa a presença de Deus, a verdade e a vida (Jo 1:4-5).
- Imagem de Deus: implica capacidade de relacionamento, moralidade e responsabilidade. Não é aparência física, mas essência funcional.
- Dia: há debates sobre se se trata de um dia literal ou simbólico. A estrutura hebraica sugere dias normais (ROSS, 1985, p. 28), mas o foco do texto é mais teológico que cronológico.
- Bom e muito bom: a repetição desse juízo divino mostra que a criação não apenas funciona bem, mas reflete a natureza do Criador.
Lições espirituais e aplicações práticas
- Deus é soberano sobre tudo – Ao ler Gênesis 1, eu sou lembrado de que nada está fora do controle do Criador. Mesmo o caos pode ser moldado por Sua palavra.
- A criação tem ordem, propósito e beleza – Deus não age de forma aleatória. Cada coisa foi criada com função específica. Minha vida também tem um propósito definido por Ele.
- Ser feito à imagem de Deus dá dignidade a todo ser humano – Isso impacta como trato as pessoas: com respeito, compaixão e justiça. Nenhuma vida é sem valor.
- Somos mordomos, não donos da criação – A ordem de dominar a Terra envolve cuidado e responsabilidade. O meio ambiente, os animais e os recursos naturais são dádivas, não propriedades absolutas.
- O trabalho é parte da bênção de Deus – O texto termina com Deus abençoando o homem com o mandato de multiplicar e governar. O trabalho não é resultado do pecado, mas parte da dignidade humana.
- A ordem começa com a luz – Em minha vida, percebo que quando permito que a luz de Deus entre, o caos começa a se organizar. Assim como o universo, eu preciso da luz para florescer.
Conclusão
Gênesis 1 não é apenas uma narrativa sobre a origem do universo. É uma declaração teológica poderosa sobre quem é Deus, quem somos nós e qual é o nosso lugar no mundo. Ele revela um Deus que cria com propósito, sabedoria e amor. Um Deus que transforma caos em ordem, escuridão em luz, vazio em plenitude.
Ao ler este capítulo, eu sou confrontado com verdades fundamentais: Deus está no controle, a vida tem propósito, e a criação não é um acaso, mas uma obra de arte divina. Cabe a mim responder com reverência, gratidão e obediência.
Se você deseja se aprofundar, leia também João 1, onde a criação é retomada à luz da vinda de Jesus como a Palavra criadora que se fez carne.
Referências
- ROSS, Allen P. Genesis. In: WALVOORD, John F.; ZUCK, Roy B. (Ed.). The Bible Knowledge Commentary: Old Testament. Wheaton: Victor Books, 1985. p. 27-29.
- WALTON, John H. et al. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 31–34.