Gênesis 35 marca um dos momentos mais simbólicos da caminhada espiritual de Jacó. Aqui, ele finalmente cumpre o voto que havia feito anos antes e volta a Betel, lugar onde Deus lhe apareceu no momento mais difícil de sua vida. Ao ler esse capítulo, percebo como Deus é paciente em sua condução, e como Ele usa até os tropeços e os recomeços para cumprir o que prometeu. Também vejo como a obediência e o arrependimento abrem espaço para novas bênçãos, mesmo quando carregamos as cicatrizes do passado.
Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 35?
O capítulo 35 está inserido na sequência da história dos patriarcas, mais especificamente na narrativa da vida de Jacó. O pano de fundo histórico se situa no início do segundo milênio a.C., em um ambiente cultural profundamente influenciado pelas tradições religiosas e sociais do antigo Oriente Próximo.
Como explicam Walton, Matthews e Chavalas (2018), era comum na Mesopotâmia e em Canaã a existência de deuses familiares e locais. Cada clã ou família possuía uma divindade protetora, responsável por sua segurança e prosperidade. Nessa mentalidade, os altares e os objetos religiosos não eram apenas sinais de fé, mas também marcavam a posse e a presença da divindade.
Gênesis 35 se destaca por mostrar o rompimento de Jacó com essas tradições. Ele chama sua família à pureza e se compromete publicamente com Yahweh, o Deus único, algo que contrastava com o politeísmo regional. Waltke e Fredericks (2010) ressaltam que, ao longo de Gênesis, Deus vai revelando gradativamente Seu plano de estabelecer um povo separado, marcado pela aliança e pela adoração exclusiva.
Além disso, esse capítulo marca a transição da liderança entre gerações. Enquanto Raquel e Isaque morrem, Jacó assume uma postura mais madura, confirmando sua identidade como Israel, o homem transformado pelo encontro com Deus.
Como o texto de Gênesis 35 se desenvolve?
O capítulo se organiza em quatro movimentos principais: o chamado à purificação e subida a Betel (v. 1-7), a renovação da aliança (v. 8-15), as perdas e conflitos familiares (v. 16-22) e a genealogia final (v. 23-24).
O chamado à purificação e subida a Betel (Gênesis 35.1-7)
O texto começa com a ordem de Deus:
“Suba a Betel e se estabeleça lá, e faça um altar ao Deus que lhe apareceu quando você fugia do seu irmão Esaú” (Gênesis 35.1).
Ao ouvir isso, percebo o cuidado de Deus em conduzir Jacó de volta ao ponto de partida. Betel foi o lugar onde Deus lhe prometeu proteção quando ele fugia, em Gênesis 28. Agora, Deus o convida a voltar, não mais como fugitivo, mas como patriarca.
Antes de subir, Jacó convoca sua casa ao arrependimento:
“Livrem-se dos deuses estrangeiros que estão entre vocês, purifiquem-se e troquem de roupa” (v. 2).
Segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), esse ato tem forte significado cultural. A troca de roupas e a purificação simbolizam uma mudança interior, um novo começo. Além disso, o enterro dos objetos idolátricos sob a grande árvore (v. 4) lembra as práticas antigas de considerar árvores e pedras como pontos de encontro com o divino, algo que Jacó agora submete ao verdadeiro Deus.
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O resultado dessa obediência é surpreendente:
“O terror de Deus caiu de tal maneira sobre as cidades ao redor que ninguém ousou perseguir os filhos de Jacó” (v. 5).
Como destaca Waltke (2010), o medo sobrenatural imposto por Deus é o que protege Jacó, e não sua astúcia ou força militar. É interessante lembrar que no capítulo anterior, Jacó estava amedrontado pelas possíveis represálias dos cananeus (Gênesis 34.30). Aqui, o Senhor intervém diretamente.
Em Betel, Jacó ergue um altar e dá o nome de El-Betel ao lugar:
“Porque ali Deus havia se revelado a ele, quando fugia do seu irmão” (v. 7).
Note como a narrativa fecha um ciclo espiritual. Jacó volta ao lugar do encontro, mas agora não teme mais. Ele celebra o Deus que o guardou em todos os seus caminhos.
A renovação da aliança (Gênesis 35.8-15)
Esse trecho começa com a morte de Débora, ama de Rebeca (v. 8). Waltke (2010) observa que essa menção parece deslocada, mas carrega simbolismo. Rebeca, que enganou Isaque e tramou para Jacó fugir, não tem sua morte registrada. Sua ama, porém, é homenageada, indicando uma crítica velada à postura de Rebeca.
Em seguida, Deus aparece novamente a Jacó e renova as promessas da aliança:
“Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome será Israel” (v. 10).
Essa mudança de nome já havia ocorrido no encontro com o anjo (Gênesis 32.28), mas agora Deus a oficializa. Waltke e Fredericks (2010) explicam que o nome Israel representa a nova identidade de Jacó como aquele que luta com Deus e vence. Isso simboliza sua maturidade espiritual e sua posição de líder do povo pactual.
Deus ainda reafirma:
“De você procederão uma nação e uma comunidade de nações, e reis estarão entre os seus descendentes” (v. 11).
Aqui, vejo um eco das promessas feitas a Abraão e Isaque (Gênesis 17.6-8). A ênfase na descendência real aponta para o desenvolvimento futuro da história bíblica, especialmente em relação à linhagem de Judá e ao Messias.
Jacó então ergue uma coluna de pedra e derrama sobre ela uma oferta líquida (v. 14). Essa prática era comum no antigo Oriente Próximo como forma de marcar um encontro sagrado (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018). Mas, em vez de ser um objeto mágico, a coluna aponta para a presença do Deus verdadeiro.
As perdas e conflitos familiares (Gênesis 35.16-22)
Depois do momento espiritual em Betel, a narrativa volta à dureza da vida. Raquel entra em trabalho de parto e morre ao dar à luz:
“Já ao ponto de sair-lhe a vida, quando estava morrendo, deu ao filho o nome de Benoni. Mas o pai deu-lhe o nome de Benjamim” (v. 18).
Benoni significa “filho da minha dor”, enquanto Benjamim pode ser traduzido como “filho da mão direita”, indicando proteção ou prestígio. Ao refletir sobre isso, percebo como a dor e a esperança convivem lado a lado na caminhada de fé.
A morte de Raquel (v. 19-20) acontece perto de Belém, um local que mais tarde ganharia profundo significado messiânico (Miqueias 5.2; Mateus 2.1-6).
Em seguida, ocorre o triste episódio do incesto de Rúben com Bila (v. 22). Como explicam Walton, Matthews e Chavalas (2018), esse ato não foi apenas uma transgressão sexual, mas uma tentativa de usurpar a autoridade do pai. Por esse motivo, Rúben será preterido no futuro (Gênesis 49.3-4).
Mais uma vez, vejo que, mesmo em famílias escolhidas por Deus, há pecado, dor e disputas. Ainda assim, o plano de Deus segue adiante.
A genealogia final (Gênesis 35.23-24)
O capítulo encerra com o registro dos doze filhos de Jacó, organizados por mães. Essa lista sintetiza o cumprimento das promessas de descendência feitas a Jacó. Os filhos formarão as doze tribos de Israel, base da identidade do povo hebreu.
Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 35?
As promessas renovadas a Jacó apontam para o cumprimento progressivo da aliança abraâmica. Deus prometeu que dele sairia uma grande nação e que reis estariam entre seus descendentes (v. 11). Essa profecia se concretiza parcialmente com os reis de Israel e Judá, mas encontra seu clímax no Messias, Jesus Cristo, descendente de Jacó pela tribo de Judá.
Além disso, o cenário de Belém, onde Raquel é sepultada, será palco do nascimento do Salvador (Mateus 2.1). É como se o texto já apontasse para a esperança futura, mesmo em meio à dor presente.
Outro detalhe significativo é a mudança de nome de Jacó para Israel, algo reafirmado por Deus. Isso ecoa na identidade coletiva do povo escolhido, que carregará o nome Israel como sinal de sua história marcada por lutas, mas também por vitórias em Deus.
O que Gênesis 35 me ensina para a vida hoje?
Ao ler esse capítulo, percebo que Deus não desiste de mim, mesmo quando sou lento em obedecer ou quando minha família enfrenta problemas sérios. Jacó demorou para cumprir seu voto e permitiu que ídolos se acumulassem em sua casa. Mas, quando decidiu obedecer, Deus o conduziu, protegeu e renovou Suas promessas.
Também aprendo que momentos de crise, como o luto ou as falhas familiares, não anulam o plano de Deus. Raquel morreu, Rúben falhou, mas Deus continuou escrevendo Sua história através daquela família imperfeita.
Vejo ainda que devo constantemente me purificar e abandonar os “ídolos” que podem se acumular em minha vida. Isso inclui hábitos, pensamentos ou relacionamentos que me afastam de Deus. Como Jacó, preciso me levantar, voltar a Betel e renovar meu compromisso com o Senhor.
Por fim, esse texto me lembra que a caminhada de fé envolve altos e baixos. Há encontros com Deus e há perdas. Mas em tudo, Deus permanece fiel.
Como Gênesis 35 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo se liga diretamente ao grande tema bíblico da aliança e da fidelidade divina. Ele me faz lembrar:
- Da promessa feita a Abraão em Gênesis 12, renovada agora com Jacó.
- Da importância de Betel como símbolo de encontro com Deus, algo que ecoa em outros momentos da história de Israel.
- Da linhagem messiânica que passa por Jacó e Judá, culminando em Cristo.
- Da esperança que Belém traz, lugar de dor para Jacó, mas de nascimento do Salvador no futuro.
Por tudo isso, Gênesis 35 me encoraja a caminhar com Deus, mesmo em meio às lutas, confiando que Ele transforma dor em promessa e fraqueza em vitória.
Referências
- WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.