Hebreus 1 é um dos textos mais profundos do Novo Testamento sobre a identidade e a grandeza de Jesus Cristo. Sempre que leio esse capítulo, fico impressionado com a maneira como o autor apresenta o Filho de Deus, exaltando sua divindade, seu papel na criação e sua superioridade sobre todas as criaturas, inclusive os anjos. Esse texto me lembra que a fé cristã não se baseia em ideias vagas ou tradições humanas, mas na revelação definitiva e gloriosa de Deus por meio do próprio Cristo.
Qual é o contexto histórico e teológico de Hebreus 1?
A Epístola aos Hebreus foi escrita em um momento delicado para a igreja cristã primitiva. Muitos estudiosos sugerem que a carta foi direcionada a cristãos judeus, provavelmente em Roma ou em outra grande cidade do Império Romano, que estavam enfrentando perseguição e sofrendo pressão para abandonar sua fé em Cristo e retornar ao judaísmo tradicional.
Esses cristãos conheciam profundamente o Antigo Testamento, a tradição dos profetas e os ensinamentos sobre os anjos. Por isso, o autor — cuja identidade permanece incerta — não se apresenta, mas vai direto ao ponto, exaltando a supremacia de Jesus Cristo sobre todas as figuras reverenciadas na fé judaica.
Simon Kistemaker destaca que o autor de Hebreus, com grande habilidade, demonstra que Jesus é o cumprimento máximo da revelação de Deus. Ele mostra que, embora os profetas e os anjos tenham tido papéis importantes na história da salvação, Cristo é incomparável em sua pessoa e obra (KISTEMAKER, 2013).
Craig Keener acrescenta que o autor utiliza recursos literários sofisticados, como o paralelismo e o uso estratégico do Antigo Testamento, para dialogar diretamente com a mentalidade judaica dos leitores, sem perder de vista o contexto cultural helenístico da época (KEENER, 2017).
Teologicamente, Hebreus 1 deixa claro que Jesus não é apenas um profeta ou um ser exaltado, mas o próprio Filho de Deus, participante da criação, sustentador do universo e aquele que realizou a purificação dos pecados. Ele está entronizado à direita de Deus, acima de todos os anjos.
Como o texto de Hebreus 1 se desenvolve?
1. Deus falou por meio do Filho (Hebreus 1.1-2)
O capítulo começa de forma solene:
“Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo.” (Hb 1.1-2)
Eu gosto de pensar que, nesses primeiros versículos, o autor faz um resumo de toda a história da revelação divina. No passado, Deus falou por meio dos profetas — Isaías, Jeremias, Moisés, tantos outros. Mas agora, a revelação chegou à sua plenitude em Jesus.
A expressão “nestes últimos dias” não fala apenas de futuro, mas do início de uma nova era. A vinda de Cristo inaugurou o tempo do cumprimento, da esperança messiânica concretizada.
O Filho é apresentado como o herdeiro de todas as coisas, o que faz eco ao Salmo 2 e às promessas feitas ao Messias. Mais do que isso, ele é o agente da criação — “por meio de quem fez o universo”. Isso mostra que Jesus não surgiu em Belém, mas já existia eternamente, participando da obra criadora de Deus.
2. A glória e o poder do Filho (Hebreus 1.3-4)
O verso 3 é um dos textos mais ricos sobre a divindade de Cristo:
“O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas.” (Hb 1.3)
Sempre que leio essa parte, me lembro de como Jesus não apenas representa Deus, mas manifesta perfeitamente quem Deus é. Simon Kistemaker explica que o termo “expressão exata” remete a uma moeda cunhada ou um selo, ou seja, Jesus é a imagem exata, perfeita, da essência de Deus (KISTEMAKER, 2013).
Ele também sustenta o universo com sua palavra. Isso me faz refletir sobre o poder contido na simples fala de Cristo. O mesmo Deus que disse “Haja luz” em Gênesis 1 é aquele que mantém a criação em ordem até hoje.
A obra redentora também é destacada: Jesus “realizou a purificação dos pecados” e, em seguida, “se assentou à direita da Majestade”. Essa linguagem aponta para a conclusão da obra sacerdotal de Cristo e sua exaltação real.
Por fim, o autor declara:
“Tornando-se tão superior aos anjos quanto o nome que herdou é superior ao deles.” (Hb 1.4)
A partir daqui, a carta vai deixar claro: por mais admiráveis que sejam, os anjos não se comparam ao Filho.
3. A superioridade do Filho sobre os anjos (Hebreus 1.5-14)
Os versículos seguintes são uma sequência de citações do Antigo Testamento, cuidadosamente escolhidas para provar que Jesus é infinitamente superior aos anjos.
Salmo 2.7 e 2Samuel 7.14 (Hb 1.5)
“Pois a qual dos anjos Deus alguma vez disse: ‘Tu és meu Filho; eu hoje te gerei’? E outra vez: ‘Eu serei seu Pai, e ele será meu Filho’?”
Aqui, o autor mostra que a filiação divina de Cristo é única. Nenhum anjo jamais recebeu esse título no sentido pleno. Keener lembra que, na tradição judaica, alguns podiam tentar rebaixar Jesus ao status de um anjo exaltado, mas Hebreus combate diretamente essa ideia (KEENER, 2017).
Deuteronômio 32.43 (Hb 1.6)
“E ainda, quando Deus introduz o Primogênito no mundo, diz: ‘Todos os anjos de Deus o adorem’.”
Essa citação reforça a posição exaltada do Filho: ele não apenas é superior aos anjos, mas é objeto da adoração deles. Somente Deus pode ser adorado, o que aponta novamente para a divindade de Cristo.
Salmo 104.4 (Hb 1.7)
“Quanto aos anjos, ele diz: ‘Ele faz dos seus anjos ventos, e dos seus servos, clarões reluzentes’.”
Os anjos são apresentados como servos, instrumentos de Deus na criação. Kistemaker observa que, embora sejam poderosos como o vento ou o fogo, continuam sendo criaturas subordinadas à vontade divina (KISTEMAKER, 2013).
Salmo 45.6-7 (Hb 1.8-9)
“Mas a respeito do Filho, diz: ‘O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu Reino.’”
Aqui o Filho é chamado diretamente de “Deus”. Não há espaço para dúvidas: Jesus é eterno, justo, soberano. Ele governa com equidade e foi ungido com o “óleo da alegria”, expressão que aponta tanto para sua exaltação quanto para sua posição messiânica.
Salmo 102.25-27 (Hb 1.10-12)
“No princípio, Senhor, firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos…”
Essas palavras, originalmente dirigidas a Deus no Antigo Testamento, agora são aplicadas a Cristo. Ele é o Criador eterno, imutável, enquanto o mundo criado é passageiro. Essa aplicação do salmo evidencia que Jesus participa plenamente da divindade.
Salmo 110.1 (Hb 1.13)
“A qual dos anjos Deus alguma vez disse: ‘Senta-te à minha direita, até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés’?”
O Salmo 110 é um dos textos mais citados do Novo Testamento e aponta para a exaltação final de Cristo. Ele reina, e seus inimigos serão completamente subjugados.
Conclusão da seção (Hb 1.14)
“Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação?”
Esse versículo conclui o argumento mostrando o papel dos anjos: eles são servos a serviço dos santos. Já Cristo é o Senhor exaltado.
Que conexões proféticas encontramos em Hebreus 1?
Hebreus 1 está repleto de conexões com as profecias do Antigo Testamento. A promessa do Messias, o Filho de Deus, herdeiro de todas as coisas, ecoa os Salmos e os profetas.
O Salmo 2 aponta para o reinado do Filho. O Salmo 110 revela o domínio de Cristo à direita do Pai. Isaías já anunciava o Filho que seria chamado “Deus Forte” e “Príncipe da Paz” (Isaías 9.6).
Além disso, a associação de Jesus com o ato criador remete a Gênesis 1, e o contraste entre o Criador eterno e a criação perecível reflete as palavras de Isaías 51.
Essa unidade entre o Antigo e o Novo Testamento reforça a centralidade de Cristo em toda a revelação de Deus.
O que Hebreus 1 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo mexe muito comigo. Ele me lembra que a fé cristã não é sobre um líder religioso qualquer, mas sobre o próprio Deus que veio até nós em Cristo.
Eu aprendo que:
- Jesus não é apenas um profeta, mas o Filho eterno de Deus.
- Ele sustenta o universo com sua palavra. Isso me dá segurança, mesmo em tempos de caos.
- Sua obra de purificação dos pecados está completa. Não preciso me sentir preso à culpa.
- Os anjos são poderosos, mas Cristo é infinitamente maior.
- O Senhor Jesus reina, e um dia todos os seus inimigos serão derrotados.
Além disso, me faz refletir sobre a grandeza do evangelho. Se Jesus é tudo isso, como posso negligenciar tão grande salvação? Hebreus vai continuar a desenvolver esse tema, mas o primeiro capítulo já deixa claro: nossa fé está firmada em alguém absolutamente digno de confiança, majestoso e eterno.
Que possamos, como os anjos, adorar a Cristo e, mais ainda, como herdeiros da salvação, viver de maneira digna do nosso chamado.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Hebreus. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2013.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.