João 10 é uma das passagens mais conhecidas e amadas de todo o Evangelho. É aqui que Jesus se revela como o Bom Pastor, aquele que cuida, protege e dá a vida pelas suas ovelhas. Esse capítulo é, ao mesmo tempo, um consolo para os que creem e um confronto direto aos falsos líderes espirituais.
O cenário é uma continuação dos acontecimentos de João 9, quando Jesus cura um cego de nascença e enfrenta a incredulidade e dureza dos fariseus. A metáfora do pastor e das ovelhas vem justamente para revelar o contraste entre Cristo e os líderes religiosos de sua época.
Qual é o contexto histórico e teológico de João 10?
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O Evangelho de João foi escrito entre os anos 85 e 95 d.C., por João, o apóstolo, o discípulo amado. João escreveu com o propósito claro de apresentar Jesus como o Filho de Deus e o único Salvador do mundo. Em João 20.31 ele declara: “Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e, crendo, tenham vida em seu nome”.
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O contexto imediato de João 10 está diretamente ligado ao capítulo 9. Como destaca Hernandes Dias Lopes, “os capítulos 9 e 10 são inseparáveis. O discurso do Bom Pastor é, na verdade, uma resposta à maneira como os fariseus trataram o homem cego curado por Jesus” (LOPES, 2015, p. 272).
Naquele tempo, os líderes religiosos judeus — fariseus, escribas e saduceus — eram vistos como pastores do povo, responsáveis por ensinar, conduzir e proteger espiritualmente as pessoas. Porém, muitos haviam se tornado maus líderes, preocupados apenas com o poder e o prestígio.
A metáfora do pastor não é nova. No Antigo Testamento, Deus é frequentemente apresentado como o Pastor de Israel (Salmo 23.1; Ezequiel 34.11–16). Também havia a expectativa messiânica de que Deus enviaria um verdadeiro Pastor para cuidar do seu povo, como prometido em Ezequiel 34.23: “Estabelecerei sobre elas um só pastor, o meu servo Davi, e ele as apascentará”.
Jesus, ao afirmar que Ele é o Bom Pastor, está se declarando o cumprimento dessa profecia. Ele se apresenta como aquele que veio cuidar das ovelhas, oferecer salvação e condenar os falsos líderes.
Como Jesus se revela como o Bom Pastor? (João 10.1–21)
Logo no início do capítulo, Jesus usa a ilustração do aprisco e da porta para ensinar verdades espirituais profundas:
“Eu lhes asseguro que aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante” (João 10.1).
Aqui, Jesus confronta diretamente os líderes religiosos. J. C. Ryle explica que “os falsos ensinadores não entraram no ministério pelo caminho legítimo, que é Cristo. Vieram por outro caminho, movidos por interesses egoístas e vaidade” (RYLE, 2018, p. 193).
Em contraste, o verdadeiro pastor entra pela porta. Ele é reconhecido pelas ovelhas, chamado pelo porteiro e conduz o rebanho. As ovelhas ouvem sua voz, seguem-no e não seguem estranhos.
Essa figura aponta tanto para Cristo como o Bom Pastor quanto para os verdadeiros líderes espirituais que o representam. Como afirma Hernandes Dias Lopes, “o verdadeiro pastor conhece as ovelhas, chama-as pelo nome, guia-as, protege-as e se sacrifica por elas” (LOPES, 2015, p. 274).
Jesus então revela uma das declarações mais preciosas do Evangelho:
“Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem” (João 10.9).
Cristo é o único caminho para Deus. Não são as tradições, os rituais ou o mérito humano que abrem a porta do aprisco. Somente Jesus pode oferecer salvação, segurança e sustento.
Na sequência, Jesus se apresenta como o Bom Pastor:
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (João 10.11).
Essa afirmação revela o amor sacrificial de Cristo. Ele não é como o mercenário que foge diante do perigo. Ele enfrenta os lobos, protege o rebanho e entrega a própria vida pelas ovelhas.
Ryle destaca que “o bom pastor conhece intimamente suas ovelhas, supre suas necessidades e deu sua vida por elas. Não há amor maior do que este” (RYLE, 2018, p. 195).
Além disso, Jesus anuncia que tem outras ovelhas que ainda não estão no aprisco (João 10.16), uma referência clara à inclusão dos gentios no povo de Deus.
Como as ovelhas se relacionam com o pastor? (João 10.22–30)
Durante a Festa da Dedicação, Jesus volta a ensinar no templo. Os judeus o pressionam a declarar abertamente se Ele é o Cristo. Jesus responde:
“Eu já lhes disse, mas vocês não crêem. As obras que eu realizo em nome de meu Pai falam por mim, mas vocês não crêem, porque não são minhas ovelhas” (João 10.25–26).
Aqui, Jesus revela uma grande verdade espiritual. Nem todos pertencem ao seu rebanho. Suas ovelhas o reconhecem, ouvem sua voz e o seguem.
E Ele faz uma das promessas mais consoladoras de toda a Escritura:
“Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão” (João 10.28).
Essa segurança não depende da força ou mérito das ovelhas, mas do poder do Pastor. Como afirma Hernandes Dias Lopes, “nossa salvação está segura, não por causa da nossa fidelidade, mas por causa do poder invencível de Cristo e do Pai” (LOPES, 2015, p. 286).
Jesus ainda declara sua unidade com o Pai:
“Eu e o Pai somos um” (João 10.30).
Essa afirmação reforça a divindade de Cristo e o coloca em plena igualdade com Deus.
Como João 10 cumpre as profecias do Antigo Testamento?
João 10 ecoa várias profecias messiânicas:
- Ezequiel 34.23: A promessa de que Deus levantaria um único pastor sobre o povo, da linhagem de Davi.
- Salmo 23: Deus como o pastor que guia, sustenta e protege suas ovelhas.
- Isaías 40.11: A ternura do Messias como pastor, que carrega os cordeiros no colo.
- Salmo 95.7: “Pois ele é o nosso Deus, e nós somos o povo do seu pasto, o rebanho que ele conduz”.
Ao se declarar o Bom Pastor, Jesus cumpre essas promessas. Ele é o Pastor prometido, o verdadeiro Messias que veio reunir as ovelhas perdidas e conduzi-las à vida eterna.
Além disso, ao falar de outras ovelhas (João 10.16), Jesus antecipa a inclusão dos gentios, como profetizado em Isaías 49.6, quando Deus declara que o Messias será luz para as nações.
O que João 10 me ensina para a vida hoje?
Ao meditar em João 10, meu coração se enche de esperança e confiança. Jesus é o meu Pastor. Ele me conhece pelo nome. Ele me conduz. Ele deu a vida por mim.
Viver como ovelha de Cristo é reconhecer minha fragilidade e total dependência dEle. Como diz J. C. Ryle, “a ovelha é um animal indefeso e míope. Ela não pode se proteger nem se guiar sozinha. Mas sob os cuidados do Bom Pastor, ela está segura” (RYLE, 2018, p. 196).
Essa passagem também me alerta sobre o perigo dos falsos líderes. Jesus os chama de ladrões e assaltantes. Eles não entram pela porta, não se preocupam com as ovelhas e só buscam seus próprios interesses. Preciso estar atento e seguir apenas a voz do verdadeiro Pastor.
Outra lição preciosa é a certeza da salvação. Jesus afirmou que suas ovelhas “jamais perecerão” (João 10.28). Não existe nada nem ninguém capaz de me separar do amor e da proteção do Pastor.
Além disso, sou desafiado a participar da missão de Cristo. Existem outras ovelhas que ainda precisam ouvir a voz do Bom Pastor. Como discípulo, sou chamado a proclamar o Evangelho e conduzi-las ao aprisco.
Por fim, ao olhar para Cristo, vejo o amor supremo revelado na cruz. Ele não foi forçado a morrer. Ele entregou a vida voluntariamente por mim. Como posso não amá-lo e segui-lo?
Como João 10 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo me leva a revisitar várias partes importantes da Bíblia:
- A promessa do Salmo 23, onde o Senhor é o nosso Pastor.
- A advertência de Ezequiel 34, contra os falsos pastores e a promessa do verdadeiro Pastor.
- A inclusão dos gentios, anunciada em Isaías 49.
- A segurança eterna proclamada em Romanos 8, de que nada pode nos separar do amor de Deus.
João 10 confirma que Jesus é o cumprimento dessas promessas e que, nEle, encontramos segurança, direção e vida eterna.
Referências
- LOPES, Hernandes Dias. João: As Glórias do Filho de Deus. São Paulo: Hagnos, 2015.
- RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

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