O capítulo 26 de Mateus marca o início da reta final do ministério terreno de Jesus. Estamos às vésperas de sua prisão, julgamento e crucificação. Todo o Evangelho até aqui preparou o leitor para este momento. Como lembra R. C. Sproul, “Mateus organiza sua narrativa com o propósito de conduzir o leitor ao clímax inevitável: a morte e ressurreição do Messias” (SPROUL, 2010, p. 665).
O ambiente histórico é o de Jerusalém durante a Páscoa, a mais importante festa judaica. A cidade estava cheia de peregrinos vindos de todas as partes, o que aumentava a tensão política e religiosa. A liderança judaica já havia decidido matar Jesus, mas precisava encontrar o momento certo para isso, como se vê em Mateus 26.4–5.
Do ponto de vista teológico, este capítulo revela a soberania de Deus em meio à maldade humana. Nada do que acontece escapa ao plano divino. Como destaca William Hendriksen, “Mesmo nas tramas dos líderes e na traição de Judas, percebemos o cumprimento exato das Escrituras e o avanço do plano redentor de Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 935).
Jesus não é vítima do acaso. Ele caminha voluntariamente para a cruz, consciente de sua missão como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29).
Como podemos analisar Mateus 26.1–67?
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O anúncio da morte (Mateus 26.1–2)
O capítulo começa com uma declaração direta de Jesus: “Estamos a dois dias da Páscoa, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (v. 2). Mais uma vez, Ele antecipa sua morte, deixando claro que tudo ocorre no tempo de Deus, não dos homens.
A conspiração dos líderes (Mateus 26.3–5)
Os principais sacerdotes e anciãos se reúnem no palácio de Caifás para planejar a prisão e morte de Jesus. Eles querem agir de forma discreta, longe da multidão, mas como veremos, seus planos serão frustrados pela soberania de Deus.
A unção em Betânia (Mateus 26.6–13)
Jesus está na casa de Simão, o leproso. Uma mulher, identificada em João 12 como Maria, unge a cabeça de Jesus com um perfume muito caro.
Os discípulos se indignam com o aparente desperdício, mas Jesus defende a atitude da mulher. Ele a interpreta como um ato de preparação para seu sepultamento, dizendo: “Onde quer que este evangelho for anunciado, também o que ela fez será contado” (v. 13).
Hendriksen observa que “esse gesto humilde e amoroso contrasta diretamente com a frieza dos líderes e com a traição de Judas” (HENDRIKSEN, 2001, p. 942).
A traição de Judas (Mateus 26.14–16)
Em choque com o gesto de Maria, Judas Iscariotes busca os líderes religiosos e negocia a entrega de Jesus por trinta moedas de prata. É impressionante notar o valor irrisório atribuído ao Filho de Deus — o preço de um escravo (cf. Êxodo 21.32).
Como bem destaca Sproul, “Judas não foi uma peça passiva; ele agiu livremente, mas, ao mesmo tempo, cumpria o plano soberano de Deus” (SPROUL, 2010, p. 677).
A preparação para a Páscoa (Mateus 26.17–19)
Os discípulos questionam onde prepararão a Páscoa. Jesus dá instruções específicas, revelando mais uma vez sua soberania sobre os acontecimentos. Ele controla cada detalhe, desde o local até o momento em que a refeição será celebrada.
A ceia e o anúncio da traição (Mateus 26.20–25)
Durante a ceia, Jesus revela que será traído por um dos presentes. Cada discípulo se entristece e pergunta: “Com certeza não sou eu, Senhor?”. Judas, por sua vez, finge inocência. Jesus confirma: “Sim, é você”.
Essa cena revela não apenas a hipocrisia de Judas, mas a fragilidade de todos os discípulos. Todos eles seriam abalados naquela noite.
A instituição da Ceia do Senhor (Mateus 26.26–29)
Jesus transforma a ceia pascal em um memorial da nova aliança. O pão representa seu corpo entregue. O cálice, seu sangue derramado para perdão de pecados.
Sproul explica que “neste ato, Jesus aponta para a cruz e inaugura um novo momento na história da redenção — a era da nova aliança” (SPROUL, 2010, p. 687).
A predição do abandono e da negação (Mateus 26.30–35)
Jesus avisa que todos o abandonarão naquela noite. Pedro, impulsivo, garante lealdade, mas Jesus lhe anuncia que antes do amanhecer o negará três vezes. Todos os discípulos fazem promessas semelhantes, revelando sua fragilidade diante da crise.
A agonia no Getsêmani (Mateus 26.36–46)
Jesus leva os discípulos ao jardim do Getsêmani. Lá, Ele revela o peso de sua angústia, orando três vezes ao Pai para que, se possível, o cálice da ira fosse afastado. Mesmo assim, Ele se submete plenamente: “Não seja como eu quero, mas como tu queres” (v. 39).
O sono dos discípulos contrasta com a vigilância de Jesus. A expressão “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (v. 41) expõe nossa tendência ao fracasso espiritual sem o auxílio de Deus.
A prisão de Jesus (Mateus 26.47–56)
Judas chega com uma multidão armada. O beijo da traição identifica Jesus. Pedro tenta reagir com a espada, mas Jesus o repreende, lembrando que tudo deve ocorrer conforme as Escrituras.
A frase de Jesus é contundente: “Todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (v. 52). Ele demonstra poder ao dizer que poderia invocar legiões de anjos, mas escolhe o caminho da submissão.
Os discípulos, tomados de medo, fogem, cumprindo a profecia de Zacarias 13.7: “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersas”.
O julgamento religioso (Mateus 26.57–67)
Jesus é levado à casa de Caifás, onde o Sinédrio se reúne. Testemunhas falsas são apresentadas, mas não conseguem construir uma acusação sólida. Por fim, o sumo sacerdote exige que Jesus declare se é o Cristo.
Jesus responde de maneira firme: “Tu mesmo o disseste. Mas eu digo a todos vós: chegará o dia em que vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (v. 64).
Essa resposta ecoa as profecias de Daniel 7.13–14 e do Salmo 110, afirmando sua divindade e autoridade messiânica.
Diante disso, o sumo sacerdote o acusa de blasfêmia. O veredito de morte é dado, e Jesus começa a ser humilhado e agredido.
Como Mateus 26 cumpre as profecias?
Diversas profecias se cumprem neste capítulo:
- A traição por trinta moedas cumpre Zacarias 11.12–13.
- O abandono dos discípulos cumpre Zacarias 13.7.
- A instituição da nova aliança cumpre Jeremias 31.31–34.
- A figura do Messias sofredor remete a Isaías 53.
- A afirmação sobre o Filho do Homem vindo sobre as nuvens cumpre Daniel 7.13–14.
Hendriksen observa que “Mateus é intencional em mostrar que nada do que acontece com Jesus foge ao controle ou às promessas de Deus” (HENDRIKSEN, 2001, p. 951).
Quais lições espirituais e aplicações práticas encontramos aqui?
Ao ler Mateus 26, sou profundamente confrontado com a realidade da fraqueza humana e da fidelidade de Deus.
- A soberania de Deus: Nada acontece fora do plano do Pai. Nem a traição, nem o abandono, nem o sofrimento. Isso traz consolo para os dias difíceis da nossa caminhada.
- A fragilidade dos discípulos: Como eles, também falhamos, mesmo desejando seguir Jesus. Isso nos lembra que nossa segurança está em Cristo, não em nossa força.
- O exemplo de submissão de Jesus: No Getsêmani, Ele nos ensina a entregar nossa vontade ao Pai, mesmo em meio à dor e incerteza.
- A seriedade da Ceia do Senhor: Ela não é um ritual vazio, mas o memorial da nova aliança e do sacrifício que nos salvou. Cada vez que participamos, lembramos do preço pago por nossa redenção (1 Coríntios 11.23–26).
- O desafio do discipulado: Seguir Jesus envolve risco, coragem e disposição para, como Ele, enfrentar injustiças e humilhações.
Mateus 26 me mostra que o Evangelho não é sobre evitar o sofrimento, mas sobre enfrentá-lo com confiança no Deus soberano que transforma até mesmo a traição em instrumento de salvação.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.