Romanos 15 é um dos textos mais ricos e pastorais dessa carta. Quando leio essas palavras de Paulo, percebo a profundidade do chamado cristão para vivermos em unidade e serviço, colocando o bem do outro acima dos nossos desejos. O apóstolo nos lembra que, assim como Cristo não viveu para si, nós também somos chamados a construir a vida cristã sobre o amor, a aceitação e a esperança. Além disso, Paulo compartilha seus planos e abre o coração sobre seu ministério, revelando sua paixão missionária e sua total submissão à vontade de Deus.
Qual é o contexto histórico e teológico de Romanos 15?
A carta aos Romanos foi escrita por Paulo por volta do ano 57 d.C., durante sua estadia em Corinto, em sua terceira viagem missionária (Atos 20.2-3) (KEENER, 2017). Roma, na época, era a capital do Império, símbolo de poder, influência e também de contrastes religiosos e sociais. Dentro dessa grande metrópole, havia uma comunidade cristã formada por judeus e gentios, o que naturalmente trazia tensões e desafios de convivência.
Romanos 15 está inserido na parte final da carta. Depois de apresentar as doutrinas da salvação, justificação e soberania de Deus (capítulos 1 a 11), e de aplicar essas verdades à vida prática da igreja (capítulos 12 a 15.13), Paulo agora conclui a epístola, revelando seus sentimentos, seus planos e o profundo zelo pelo evangelho e pela unidade do povo de Deus.
Keener (2017) destaca que, em uma sociedade marcada por divisões étnicas e sociais, especialmente entre judeus e gentios, a mensagem de reconciliação e unidade que Paulo traz ganha ainda mais relevância. Já Hernandes Dias Lopes (2010) ressalta que, mesmo sem ter fundado a igreja de Roma, o apóstolo demonstra profundo carinho por aqueles irmãos e deixa claro que sua autoridade e seu ministério vêm de Deus.
Como o texto de Romanos 15 se desenvolve?
1. Cristo é o exemplo supremo de serviço e aceitação (Romanos 15.1-7)
Paulo inicia o capítulo com um chamado à responsabilidade mútua. “Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos” (Romanos 15.1). Essa frase me confronta, pois revela que a maturidade cristã não é medida pelo quanto sei, mas pelo quanto suporto e sirvo aos outros.
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O apóstolo insiste: “Cada um de nós deve agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo” (Romanos 15.2). Esse é o espírito do evangelho: edificação mútua, e não satisfação egoísta.
O maior exemplo é Cristo: “Pois também Cristo não agradou a si próprio” (Romanos 15.3). Paulo cita o Salmo 69.9, mostrando que Jesus suportou insultos, rejeição e sofrimento pelo bem do próximo.
As Escrituras são apresentadas como fonte de perseverança e esperança: “Tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nos ensinar” (Romanos 15.4). Eu aprendo aqui que a Bíblia não é um livro distante ou ultrapassado. Ela é fonte viva de encorajamento para as lutas diárias.
Paulo conclui essa seção com um desejo: “O Deus que concede perseverança e ânimo dê-lhes um espírito de unidade, segundo Cristo Jesus” (Romanos 15.5). A unidade não acontece por acaso. É fruto da ação de Deus e da disposição dos crentes.
Por isso, ele conclama: “Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma como Cristo os aceitou” (Romanos 15.7). Cristo nos aceitou quando éramos indignos. Agora, devemos acolher uns aos outros, superando as barreiras culturais, religiosas e sociais.
2. Cristo confirma as promessas e une judeus e gentios (Romanos 15.8-13)
Paulo aprofunda o tema da unidade ao mostrar que Cristo veio tanto para os judeus quanto para os gentios. Ele afirma: “Cristo se tornou servo dos que são da circuncisão, por amor à verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos patriarcas” (Romanos 15.8).
Ao mesmo tempo, os gentios são incluídos no plano de Deus: “A fim de que os gentios glorifiquem a Deus por sua misericórdia” (Romanos 15.9). Para provar isso, Paulo cita o Antigo Testamento, recorrendo à Lei, aos Profetas e aos Escritos, mostrando que a inclusão dos gentios sempre fez parte do plano divino (Sl 18.49; Dt 32.43; Sl 117.1; Is 11.10).
Essa sequência de citações demonstra que a reconciliação entre judeus e gentios não é uma inovação de Paulo, mas o cumprimento das Escrituras. Isaías 11.10, por exemplo, fala do Messias como “a raiz de Jessé”, que se levantará para reinar sobre os gentios. Isso aponta para Cristo, que é esperança para todas as nações.
Paulo encerra esse trecho com uma oração que me toca profundamente: “Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo” (Romanos 15.13). A verdadeira alegria, paz e esperança não vêm das circunstâncias, mas da confiança em Deus e da ação do Espírito.
3. Paulo expressa confiança e propósito no seu ministério (Romanos 15.14-21)
Paulo elogia a igreja de Roma: “Estou convencido de que vocês estão cheios de bondade e plenamente instruídos, sendo capazes de aconselhar-se uns aos outros” (Romanos 15.14). Eu percebo aqui o equilíbrio de Paulo. Mesmo tendo feito advertências e exortações, ele reconhece as qualidades daqueles irmãos.
Ele explica o motivo de escrever com franqueza: “Para fazê-los lembrar-se novamente deles, por causa da graça que Deus me deu” (Romanos 15.15). Paulo não ensina algo novo, mas reforça verdades conhecidas, como bom pastor e mestre.
O apóstolo usa uma linguagem sacerdotal para descrever seu ministério: “De ser um ministro de Cristo Jesus para os gentios, com o dever sacerdotal de proclamar o evangelho de Deus, para que os gentios se tornem uma oferta aceitável a Deus” (Romanos 15.16).
Hernandes Dias Lopes (2010) destaca que Paulo se vê como um sacerdote oferecendo a Deus o fruto de seu trabalho missionário: vidas transformadas e santificadas pelo Espírito.
Paulo evita a autoglorificação. Ele deixa claro: “Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio” (Romanos 15.18). A obra é de Cristo. Paulo é apenas o instrumento.
Seu ministério é confirmado “pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus” (Romanos 15.19), o que, segundo Keener (2017), era uma marca apostólica, autenticação da mensagem.
Paulo também revela sua filosofia missionária: pregar onde Cristo ainda não era conhecido, “para não edificar sobre alicerce de outro” (Romanos 15.20). Ele se vê como um pioneiro, desbravador, levando o evangelho a lugares inexplorados.
4. Paulo compartilha seus planos missionários (Romanos 15.22-29)
O apóstolo abre o coração sobre seus planos. Ele sempre quis visitar Roma, mas as exigências do ministério no Oriente o impediram (Romanos 15.22-23).
Agora, com o trabalho ali praticamente concluído, ele deseja ir a Roma e, dali, partir para a Espanha, levando o evangelho até os confins do mundo conhecido (Romanos 15.24).
Antes, porém, ele precisa ir a Jerusalém, levar a oferta dos gentios aos crentes necessitados daquela cidade (Romanos 15.25-27). Para Paulo, essa coleta não é apenas uma ajuda financeira, mas uma demonstração concreta de unidade e gratidão. Os gentios, que receberam bênçãos espirituais dos judeus, agora retribuem com bens materiais.
Essa atitude revela o quanto o evangelho derruba muros e constrói pontes.
Paulo confessa: “Bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção de Cristo” (Romanos 15.29). Mesmo sem saber o que o esperava, ele confiava que Deus o conduziria e abençoaria o encontro com a igreja de Roma.
5. Paulo pede orações e conclui com bênçãos (Romanos 15.30-33)
Paulo termina com um pedido sincero: “Que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Romanos 15.30). Ele reconhece sua dependência de Deus e do apoio espiritual dos irmãos.
Os motivos da oração são claros: ser livre dos rebeldes da Judeia e que seu serviço em Jerusalém seja bem aceito (Romanos 15.31). Eu vejo aqui um apóstolo realista, que conhece os perigos e desafios, mas confia no poder da oração.
Ele se submete à vontade de Deus: “A fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria” (Romanos 15.32). Apesar dos planos e sonhos, Paulo sabe que Deus governa todas as coisas.
A carta se encerra com uma bela bênção: “E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!” (Romanos 15.33). Essa paz, tão desejada em um contexto de tensões e divisões, é fruto da presença de Deus.
Que conexões proféticas encontramos em Romanos 15?
Romanos 15 está repleto de conexões com o Antigo Testamento. As citações dos Salmos, de Deuteronômio e de Isaías apontam para o plano eterno de Deus de reunir judeus e gentios sob o senhorio do Messias.
Isaías 11.10, citado no versículo 12, é uma profecia messiânica que revela que a “raiz de Jessé”, ou seja, o Messias, reinará sobre os gentios e será a esperança das nações. Esse cumprimento se dá em Cristo.
Além disso, o ministério missionário de Paulo, indo até o extremo ocidental do império, à Espanha, aponta para o cumprimento de Atos 1.8, onde Jesus promete que seus discípulos seriam suas testemunhas até os confins da terra.
O que Romanos 15 me ensina para a vida hoje?
Ao ler Romanos 15, aprendo que:
- A maturidade cristã se revela em suportar, servir e edificar o próximo.
- A unidade da igreja é possível quando seguimos o exemplo de Cristo.
- As Escrituras são fonte de perseverança, ânimo e esperança.
- O evangelho derruba barreiras culturais e une povos diferentes em um só corpo.
- O ministério é serviço sacerdotal, oferecendo vidas santificadas a Deus.
- Precisamos depender da oração e da direção soberana de Deus em nossos planos.
Esse texto me desafia a viver o evangelho com humildade, disposição para servir e confiança plena no Senhor.
Referências
- HERNANDES DIAS LOPES. Romanos: O Evangelho Segundo Paulo. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2010.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.