Romanos 3 é, sem dúvida, um dos textos mais cruciais de toda a carta aos Romanos e talvez de todo o Novo Testamento. Ao ler esse capítulo, eu percebo o quanto o apóstolo Paulo vai direto ao ponto, desmontando as falsas seguranças religiosas e apresentando o evangelho como a única esperança real para a humanidade. Ele não suaviza o problema do pecado, mas também não deixa o ser humano sem saída. É o equilíbrio perfeito entre o diagnóstico severo e a solução gloriosa em Cristo.
Qual é o contexto histórico e teológico de Romanos 3?
A carta aos Romanos foi escrita por Paulo por volta do ano 57 d.C., provavelmente durante sua estadia em Corinto, em sua terceira viagem missionária (KEENER, 2017). Roma era a capital do império mais poderoso do mundo. Uma cidade multicultural, politicamente influente, mas espiritualmente decadente.
No ambiente religioso de Roma, conviviam o paganismo dominante, filosofias helenísticas e uma expressiva comunidade judaica. Essa diversidade gerava tensões, especialmente entre judeus e gentios convertidos ao cristianismo. Muitos judeus se agarravam às suas tradições, como a lei e a circuncisão, como garantias de salvação. Paulo escreve para desarmar essa falsa confiança e mostrar que todos — judeus e gentios — estão igualmente condenados diante de Deus e igualmente dependentes da graça.
Hernandes Dias Lopes destaca que, para os judeus, o argumento de Paulo era escandaloso. Eles viam a posse da Lei e da circuncisão como um passaporte automático para o favor divino (HERNANDES DIAS LOPES, 2010, p. 135-179). Já os gentios estavam mergulhados no paganismo e na idolatria, ignorando ou rejeitando a revelação de Deus.
Teologicamente, Romanos 3 é a ponte entre a primeira grande parte da carta — que apresenta a depravação e a culpa universal — e a revelação do caminho da salvação pela fé em Cristo. Aqui, Paulo derruba as pretensões humanas e eleva a graça de Deus como o único caminho possível.
Como o texto de Romanos 3 se desenvolve?
1. Existe alguma vantagem em ser judeu? (Romanos 3.1-8)
Paulo inicia com uma pergunta retórica: “Que vantagem há então em ser judeu, ou que utilidade há na circuncisão?” (Romanos 3.1). Embora já tenha deixado claro que os judeus também estão debaixo do pecado, ele não nega os privilégios que Deus concedeu a esse povo.
A maior vantagem foi ter recebido as palavras de Deus (Romanos 3.2). Ser guardião da revelação divina era, sem dúvida, uma honra. Mas, como destaca Keener (2017), privilégio implica responsabilidade. Muitos judeus confundiram esse privilégio com garantia automática de salvação.
Paulo então antecipa uma objeção: “Se alguns foram infiéis, isso anula a fidelidade de Deus?” (Romanos 3.3). A resposta é enfática: “De maneira nenhuma!” (Romanos 3.4). Mesmo que o homem seja infiel, Deus permanece fiel. Aqui, Paulo cita o Salmo 51.4 para mostrar que Deus será sempre justo em seus julgamentos.
Outra objeção surge: “Se nossa injustiça ressalta a justiça de Deus, Ele seria injusto ao nos punir?” (Romanos 3.5). Paulo rejeita categoricamente esse raciocínio. Deus é justo e o justo Juiz do mundo. Ele não se contradiz nem age de maneira parcial.
Por fim, ele refuta a absurda ideia de que pecar seria justificável se isso trouxesse glória para Deus (Romanos 3.7-8). A condenação de quem pensa assim é justa, pois distorce o caráter de Deus e perverte o entendimento da graça.
Nosso sonho é que este site exista sem precisar de anúncios.
Se o conteúdo tem abençoado sua vida, você pode nos ajudar a tornar isso possível.
Contribua para manter o Jesus e a Bíblia no ar e sem publicidade:
2. Todos estão debaixo do pecado? (Romanos 3.9-20)
Paulo apresenta aqui o clímax de sua argumentação sobre a universalidade da culpa humana. Não há distinção: “Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado” (Romanos 3.9).
Para reforçar esse ponto, ele usa o recurso rabínico de unir várias citações do Antigo Testamento, formando um verdadeiro “colar de pérolas” de textos bíblicos (KEENER, 2017).
A sequência é devastadora:
- “Não há nenhum justo, nem um sequer” (Romanos 3.10).
- “Não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus” (Romanos 3.11).
- “Todos se desviaram”, “não há quem faça o bem” (Romanos 3.12).
- A fala humana é contaminada: “Suas gargantas são um túmulo aberto”, “veneno de serpentes está em seus lábios”, “suas bocas estão cheias de maldição e amargura” (Romanos 3.13-14).
- As ações são violentas: “Seus pés são ágeis para derramar sangue”, “ruína e desgraça marcam os seus caminhos” (Romanos 3.15-16).
- E a relação com Deus é inexistente: “Aos seus olhos é inútil temer a Deus” (Romanos 3.18).
Essa descrição não é exagerada, mas o diagnóstico espiritual do homem caído. O pecado corrompe a mente, o coração, a vontade e as ações. O ser humano não é apenas alguém que comete pecados, mas alguém totalmente inclinado ao mal.
Paulo encerra a acusação afirmando que a lei, ao invés de justificar, revela o pecado e cala toda boca humana diante de Deus (Romanos 3.19-20).
3. Qual é o caminho da salvação? (Romanos 3.21-31)
Depois do quadro sombrio da depravação humana, Paulo abre a porta da esperança com uma gloriosa adversativa: “Mas agora…” (Romanos 3.21).
Surge a revelação da justiça que provém de Deus, independente da obediência à lei, mas plenamente testemunhada pela Lei e pelos Profetas. A salvação pela fé não é uma invenção nova, mas o cumprimento das Escrituras.
Essa justiça vem “mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que crêem” (Romanos 3.22). Aqui, Paulo deixa claro que não há distinção: todos pecaram, todos carecem da glória de Deus e todos podem ser justificados pela graça.
A base dessa justificação é a redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.24). O termo redenção remete ao resgate de escravos, libertação mediante o pagamento de um preço. Esse preço foi o sangue de Jesus.
Paulo usa também a linguagem do templo: Jesus foi oferecido como “sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue” (Romanos 3.25). Keener (2017) explica que esse termo se refere à cobertura da arca da aliança, onde, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote aspergia o sangue, simbolizando o perdão e a reconciliação.
Na cruz, Deus demonstrou sua justiça. Ele não ignorou o pecado. A penalidade foi paga, não pelo pecador, mas pelo próprio Filho de Deus. Assim, Ele é ao mesmo tempo “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3.26).
A conclusão é inevitável: não há espaço para vanglória humana (Romanos 3.27). A salvação não é resultado das obras, mas um presente recebido pela fé. Deus é o Deus tanto de judeus quanto de gentios (Romanos 3.29-30). E a fé em Cristo não anula a lei, mas a confirma, ao cumprir seu propósito de apontar para o Salvador (Romanos 3.31).
Que conexões proféticas encontramos em Romanos 3?
Romanos 3 está profundamente conectado ao Antigo Testamento. Quando Paulo cita Salmos, Isaías e outros textos, ele mostra que a depravação humana e a necessidade da graça já estavam previstas nas Escrituras.
A promessa de justificação pela fé, independente das obras da lei, ecoa o que Deus revelou a Abraão, como será explicado em Romanos 4.
O conceito de propiciação também está enraizado no sistema sacrificial de Levítico, que apontava para o sacrifício definitivo de Cristo.
Assim, longe de ser uma ruptura com o Antigo Testamento, o evangelho anunciado por Paulo é o cumprimento perfeito das profecias e promessas de Deus.
O que Romanos 3 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me confronta e me consola ao mesmo tempo. Ele me ensina algumas verdades fundamentais:
- Ninguém é justo por si mesmo. Não importa o quanto eu tente ser bom. Diante de Deus, sou tão carente quanto qualquer outra pessoa.
- O pecado afeta todas as áreas da vida. Minha mente, minhas palavras, minhas ações — tudo precisa da graça de Deus.
- Não posso me gloriar em nada. Minha salvação não é mérito meu. É puro presente da graça.
- A cruz revela o caráter de Deus. Na cruz, vejo a justiça e o amor de Deus se encontrando. Ele não ignora o pecado, mas oferece perdão através do sacrifício de Cristo.
- A fé é o único caminho. Não é pelas minhas obras, mas pela confiança no que Cristo fez por mim que sou justificado.
Além disso, esse capítulo me lembra que a salvação é para todos. Deus não faz acepção de pessoas. Judeus e gentios, religiosos e irreligiosos, todos estão igualmente condenados e igualmente convidados a receber a salvação em Cristo.
Como Romanos 3 me conecta ao restante das Escrituras?
Romanos 3 é um elo entre o Antigo Testamento e o evangelho de Cristo. Ele confirma o diagnóstico do Gênesis sobre o pecado, ecoa as promessas feitas a Abraão e os sacrifícios da Lei, e aponta para a obra de Jesus como o Cordeiro de Deus.
Ele também prepara o caminho para o desenvolvimento da doutrina da salvação nos capítulos seguintes. Sem entender Romanos 3, não compreendemos a profundidade da justificação pela fé e da graça de Deus.
Referências
- HERNANDES DIAS LOPES. Romanos: O Evangelho Segundo Paulo. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2010.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.