Romanos 4 é um dos capítulos mais claros e poderosos sobre o ensino da justificação pela fé. Ao ler esse texto, eu entendo de forma ainda mais profunda que a salvação nunca foi e nunca será conquistada pelo esforço humano. Deus sempre justificou o pecador com base na fé, e Paulo usa a vida de Abraão e de Davi para provar essa verdade, mostrando que ela está firmada no Antigo Testamento e no próprio caráter de Deus.
Qual é o contexto histórico e teológico de Romanos 4?
A carta aos Romanos foi escrita por Paulo por volta do ano 57 d.C., provavelmente durante sua estadia em Corinto, no final de sua terceira viagem missionária (Atos 20.2-3) (KEENER, 2017). Roma era o coração do império, um verdadeiro caldeirão de culturas, religiões e filosofias. Era também o centro do poder e da influência política, mas também de orgulho e decadência moral.
No meio dessa realidade, os judeus residentes em Roma se orgulhavam de serem descendentes de Abraão. Eles criam que sua herança espiritual e a prática da circuncisão garantiam uma posição especial diante de Deus. Os rabinos da época ensinavam que Abraão foi justificado pelas suas obras, especialmente pela sua obediência em episódios como o sacrifício de Isaque (Gênesis 22) e sua fidelidade a Deus (Gênesis 26.2-5) (HERNANDES DIAS LOPES, 2010, p. 183-198).
Mas Paulo, inspirado por Deus, confronta essa visão equivocada. Ele apresenta a justificação como uma dádiva divina, recebida exclusivamente pela fé. Para isso, ele usa o próprio Abraão como exemplo, mostrando que o patriarca foi declarado justo antes de ser circuncidado e muito antes de qualquer lei ser dada.
Keener (2017) explica que Paulo adota um estilo argumentativo típico dos mestres judeus da época, usando o Midrash, ou seja, uma interpretação cuidadosa do texto bíblico. Ele não cria uma doutrina nova, mas revela o real significado das Escrituras à luz de Cristo.
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Como o texto de Romanos 4 se desenvolve?
1. Abraão foi justificado pela fé, não pelas obras (Romanos 4.1-8)
O capítulo começa com uma pergunta retórica: “Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão?” (Romanos 4.1). Com isso, Paulo desafia o orgulho religioso dos judeus, convidando-os a refletir sobre as Escrituras.
Ele afirma: “Que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Romanos 4.3, citando Gênesis 15.6). A palavra “creditado”, segundo Keener (2017), era comum no mundo comercial da época e significa lançar um valor na conta de alguém, mesmo que a pessoa não o mereça.
Davi também é citado como exemplo. Paulo usa o Salmo 32, onde Davi, mesmo tendo pecado gravemente, experimenta o perdão e a bem-aventurança: “Como são felizes aqueles que têm suas transgressões perdoadas, cujos pecados são apagados” (Romanos 4.7, cf. Salmo 32.1-2).
Davi sabia que não podia se justificar pelas obras. Ele dependia da graça de Deus. Isso reforça o argumento de Paulo: ninguém é salvo por mérito pessoal.
2. Abraão foi justificado pela fé, não pela circuncisão (Romanos 4.9-12)
Paulo desmonta outro ponto central do orgulho judaico: a circuncisão. Ele pergunta: “Sob quais circunstâncias? Antes ou depois de ter sido circuncidado? Não foi depois, mas antes!” (Romanos 4.10).
Abraão foi declarado justo em Gênesis 15.6, mas só foi circuncidado muitos anos depois, em Gênesis 17.24-25. Isso prova que a circuncisão não foi a causa da justificação, mas apenas um sinal.
Assim, Abraão se torna pai de todos os que creem, sejam judeus ou gentios. A salvação é oferecida a todos, independentemente dos rituais externos ou da linhagem sanguínea.
3. Abraão foi justificado pela fé, não pela lei (Romanos 4.13-17a)
Outro argumento importante de Paulo é que a justificação de Abraão não veio pela lei, já que ela só foi dada séculos depois, no tempo de Moisés (Êxodo 20; Gálatas 3.17).
Se a herança dependesse da obediência à lei, a promessa feita por Deus seria anulada. Mas a promessa é baseada na fé, para que seja de acordo com a graça (Romanos 4.14-16).
Hernandes Dias Lopes (2010) destaca que a lei e a promessa não podem coexistir como base da salvação. A lei revela o pecado e a ira de Deus; a promessa aponta para a graça e o perdão.
4. Abraão foi justificado pela fé em Deus, não pela fé na fé (Romanos 4.17b-22)
Paulo também explica que a fé verdadeira não é apenas um sentimento otimista ou uma crença vazia. A fé de Abraão estava ancorada no Deus vivo, “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem” (Romanos 4.17).
Mesmo reconhecendo que seu corpo e o de Sara estavam envelhecidos, ele creu. “Sem se enfraquecer na fé, reconheceu que o seu corpo já estava sem vitalidade (…) Mesmo assim não duvidou (…) mas foi fortalecido em sua fé” (Romanos 4.19-20).
Keener (2017) lembra que, no contexto cultural da época, essa confiança radical em Deus era algo surpreendente. Abraão não se baseou em circunstâncias, mas no caráter e no poder de Deus.
Essa fé resultou em justiça. Abraão foi declarado justo por confiar plenamente em Deus.
5. Abraão foi justificado pela fé como exemplo para todos nós (Romanos 4.23-25)
Por fim, Paulo aplica essa verdade a todos nós. Ele afirma que o que aconteceu com Abraão serve de exemplo para nós, que cremos em Deus e em Cristo: “para nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor” (Romanos 4.24).
A base da nossa justificação é a mesma: a fé no Deus que ressuscitou Jesus. Cristo foi entregue por causa dos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação (Romanos 4.25).
Hernandes Dias Lopes (2010) explica que a cruz e a ressurreição de Jesus são inseparáveis. A cruz revela o preço do pecado; a ressurreição confirma que Deus aceitou o sacrifício de Cristo.
Que conexões proféticas encontramos em Romanos 4?
Romanos 4 conecta-se diretamente com as promessas de Deus no Antigo Testamento. A promessa feita a Abraão de que ele seria pai de muitas nações (Gênesis 17.5) se cumpre plenamente em Cristo, que reúne judeus e gentios em um só povo (Gálatas 3.6-9).
O Salmo 32, citado por Paulo, mostra que o perdão e a justificação pela graça sempre fizeram parte do plano de Deus, muito antes da vinda de Cristo.
Além disso, a fé de Abraão aponta para o cumprimento final em Jesus, que, por meio de sua morte e ressurreição, confirma o caminho da salvação para todas as nações (Mateus 28.19-20).
O que Romanos 4 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me ensina, de forma muito prática e libertadora, que a salvação não depende de mim. Eu não preciso conquistar o favor de Deus pelas minhas obras ou pela minha religião. Basta crer, como Abraão creu.
Aprendo que:
- A fé é a única base para a justificação.
- Rituais e símbolos, como o batismo ou a ceia, são importantes, mas não substituem a fé.
- Deus é poderoso para cumprir suas promessas, mesmo quando tudo parece impossível.
- Cristo morreu por meus pecados e ressuscitou para minha justificação.
- Assim como Abraão, sou convidado a confiar plenamente em Deus, mesmo contra a esperança.
Essa verdade traz descanso, segurança e alegria. A salvação é um presente, não uma conquista.
Como Romanos 4 me conecta ao restante das Escrituras?
Romanos 4 está em perfeita harmonia com toda a Bíblia. Ele confirma o plano de Deus desde o Antigo Testamento, revelado em Abraão, cumprido em Cristo e aplicado a todos que creem.
Mostra que a justificação pela fé sempre foi o caminho estabelecido por Deus, e que a salvação é, do começo ao fim, um ato da graça.
Além disso, prepara o terreno para o desenvolvimento da doutrina da salvação nos capítulos seguintes de Romanos, onde Paulo explicará com ainda mais detalhes a vida nova em Cristo.
Referências
- HERNANDES DIAS LOPES. Romanos: O Evangelho Segundo Paulo. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2010.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.