João 1 é uma das passagens mais profundas e gloriosas de toda a Bíblia. Ele não começa falando do nascimento de Jesus ou de sua genealogia, mas da eternidade e da divindade do Verbo. João vai direto ao ponto: Jesus é Deus, o Criador, a fonte de toda vida e luz. Esse capítulo inaugura o quarto Evangelho revelando quem Cristo realmente é e, ao mesmo tempo, mostra o início do ministério de Jesus, a apresentação de João Batista e o chamado dos primeiros discípulos.
Qual é o contexto histórico e teológico de João 1?
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O Evangelho de João foi escrito por volta do final do primeiro século, provavelmente entre 85 e 95 d.C. João, o apóstolo, é o autor. Ele era um dos doze discípulos de Jesus, conhecido como “o discípulo amado”. Nessa época, os outros evangelhos já circulavam entre os cristãos: Mateus, Marcos e Lucas. Porém, João escreve com um propósito distinto: apresentar Jesus como o Filho de Deus e mostrar que a salvação vem pela fé nele.
Hernandes Dias Lopes observa que “João não se detém tanto em narrar milagres ou parábolas, mas em expor, com profundidade, a natureza e a missão do Filho de Deus” (LOPES, 2017, p. 23). Enquanto os outros evangelistas enfatizam o aspecto humano de Cristo, João destaca sua divindade eterna e sua relação íntima com o Pai.
O cenário histórico é o final do primeiro século, um tempo em que o cristianismo já se espalhava pelo Império Romano, mas também enfrentava perseguições e heresias. Entre elas, destacava-se o gnosticismo, que negava a encarnação real de Cristo. João escreve para afirmar com clareza que o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
Como João 1 revela a identidade de Jesus? (João 1.1–18)
O prólogo do Evangelho (João 1.1–18) é uma das declarações mais impactantes da Bíblia sobre Jesus.
“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus” (João 1.1). Aqui, João conecta Jesus à criação, usando as mesmas palavras de Gênesis 1.1. Isso revela que Cristo é eterno, distinto do Pai, mas plenamente Deus.
J. C. Ryle explica que “João declara, com sublime clareza, que o Verbo não teve começo; ele existia desde a eternidade, coexistindo com o Pai, e sendo o Criador de todas as coisas” (RYLE, 2018, p. 18).
João afirma que todas as coisas foram feitas por meio do Verbo (v. 3) e que nele estava a vida e a luz dos homens (v. 4). Essa luz resplandece nas trevas, e as trevas não a derrotaram.
A seguir, João apresenta o ministério de João Batista, o precursor de Cristo (v. 6–8). Ele veio para preparar o caminho, mas não era a luz. A verdadeira luz estava chegando ao mundo.
O texto ressalta a tragédia da rejeição: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (v. 11). Apesar disso, os que o receberam foram feitos filhos de Deus (v. 12–13).
O ápice do prólogo está no versículo 14: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós”. Jesus, o Verbo eterno, se fez homem e habitou conosco.
Como destaca Hernandes Dias Lopes, “A encarnação de Cristo é o ponto mais sublime da revelação de Deus à humanidade. O infinito se fez finito. O eterno entrou no tempo. O invisível tornou-se visível” (LOPES, 2017, p. 30).
Qual foi o testemunho de João Batista sobre Jesus? (João 1.19–34)
João Batista, ao ser interrogado pelos líderes religiosos, deixou claro que não era o Messias, nem Elias, nem o Profeta (v. 19–21). Ele era apenas a voz que clamava no deserto, preparando o caminho para o Senhor (v. 23).
Essa referência vem de Isaías 40.3, uma profecia que apontava para o precursor do Messias. João cumpriu esse papel com humildade, dizendo que não era digno de desamarrar as sandálias daquele que viria depois dele (v. 27).
No dia seguinte, ao ver Jesus, João declarou: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (v. 29). Essa é uma das declarações mais profundas sobre o propósito de Cristo: ser o sacrifício pelos pecados da humanidade.
Segundo J. C. Ryle, “Ao chamar Jesus de Cordeiro de Deus, João aponta para o sacrifício substitutivo que traz redenção ao pecador. Cristo é o cumprimento dos sacrifícios do Antigo Testamento” (RYLE, 2018, p. 39).
João também testemunhou ter visto o Espírito Santo descer sobre Jesus como pomba (v. 32–33), confirmando que ele era o Filho de Deus e aquele que batiza com o Espírito Santo.
Como Jesus chamou os primeiros discípulos? (João 1.35–51)
Os primeiros discípulos de Jesus foram atraídos por meio do testemunho de João Batista e pelo próprio chamado de Cristo.
Dois discípulos de João, ao ouvirem João dizer “Vejam! É o Cordeiro de Deus!”, seguiram Jesus (v. 36–37). Um deles era André, que logo compartilhou a boa notícia com seu irmão Simão Pedro, dizendo: “Achamos o Messias” (v. 41).
Esse padrão se repete com Filipe, chamado diretamente por Jesus (v. 43), que, por sua vez, chamou Natanael (v. 45). Mesmo diante do ceticismo de Natanael, Filipe disse: “Venha e veja” (v. 46).
Jesus surpreendeu Natanael ao revelar que o conhecia antes mesmo do encontro (v. 47–48). Natanael, então, reconheceu: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (v. 49).
O capítulo termina com a promessa de Jesus: “Vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem” (v. 51), uma referência ao sonho de Jacó em Gênesis 28.12, indicando que Cristo é a ponte entre o céu e a terra.
Que profecias se cumprem em João 1?
O capítulo cumpre diversas profecias do Antigo Testamento:
- Gênesis 1.1: O uso da expressão “No princípio” conecta Jesus à criação.
- Isaías 40.3: João Batista como a voz que prepara o caminho para o Senhor.
- Êxodo 12.1–11 e Isaías 53.7: Jesus como o Cordeiro de Deus.
- Gênesis 28.12: Cristo como a escada que liga o céu e a terra.
- Deuteronômio 18.15: A expectativa de um Profeta semelhante a Moisés.
João mostra que Jesus é o cumprimento dessas promessas, sendo o Messias esperado e o Filho de Deus revelado ao mundo.
O que João 1 me ensina para a vida hoje?
Ao ler João 1, sou confrontado com a grandeza de Cristo. Ele não é apenas um homem bom ou um mestre de moral. Ele é Deus encarnado, o Criador que veio habitar entre nós.
Isso me ensina que a fé cristã não se baseia em ideias abstratas, mas em um relacionamento pessoal com Jesus, o Verbo que se fez carne. Como João escreve, “a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (João 1.12).
Percebo também a importância do testemunho. João Batista apontou para Cristo com humildade. André e Filipe compartilharam sua fé com outros. Sou desafiado a fazer o mesmo — falar de Cristo com naturalidade, convidar as pessoas a “verem” quem ele é.
A promessa de Jesus a Natanael me consola: “Você verá coisas maiores do que essas!” (João 1.50). Isso me lembra que a vida cristã é uma jornada de revelação crescente. Sempre há mais de Cristo a descobrir.
Além disso, João 1 me desafia a crer, mesmo quando outros rejeitam a luz. O texto diz que “as trevas não a derrotaram” (João 1.5). Em um mundo confuso e perdido, Jesus continua sendo a luz que dissipa as trevas.
Por fim, ao lembrar que Jesus é o Cordeiro de Deus, sou levado a descansar na sua obra redentora. Meus pecados podem ser perdoados, não pelos meus méritos, mas porque ele levou minha culpa na cruz.
Se desejo conhecer a Deus, devo olhar para Cristo. Como João afirma: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido” (João 1.18).
Como João 1 me conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo me leva a revisitar vários textos bíblicos:
- A criação em Gênesis 1, onde o Verbo já existia.
- As profecias de Isaías 40, que preparam o caminho para o Messias.
- O Cordeiro do Êxodo e de Isaías 53, símbolo do sacrifício de Cristo.
- A escada de Gênesis 28, agora revelada plenamente em Jesus.
- A promessa messiânica de Deuteronômio 18.
O Evangelho de João amplia o entendimento dessas promessas e me convida a crer em Cristo, o Verbo eterno que veio ao mundo para me salvar.
Referências
- LOPES, Hernandes Dias. O Evangelho de João. São Paulo: Hagnos, 2017.
- RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. 2. ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.