Vivemos tempos interessantes, onde a incerteza é o novo normal e a dúvida aparece como uma nuvem escura sobre nossas cabeças. Estudos recentes indicam que quase 65% dos cristãos admitem ter experimentado sérias dúvidas sobre sua fé (Pew Research Center, 2022). Isso nos leva a refletir sobre o propósito e a relevância da fé na nossa vida cotidiana.
Nesta série, vamos explorar e entender melhor o fundamento da fé em meio à dúvida. Afinal, a dúvida é uma hesitação ou incerteza em acreditar em algo, uma falta de convicção.
Já, a fé no contexto bíblico, é a “certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11:1). Ou seja, em sua essência, a fé é a certeza em meio à incerteza.
O que nos traz consolo é o fato de que não estamos sozinhos nessa jornada. Mesmo os grandes homens e mulheres da Bíblia, que vemos como pilares de fé, tiveram seus momentos de dúvida. O que importa não é a ausência de dúvida, mas a nossa resposta a ela. Como diz o ditado: a dúvida é a sala de espera da fé.
Durante esta série de mensagens, iremos explorar vários personagens bíblicos que, apesar de suas dúvidas, escolheram manter sua fé. Vamos aprender com suas experiências e descobrir como podemos também manter nossa fé mesmo em tempos de dúvida. Convido você a embarcar nesta jornada comigo, na certeza de que sairemos fortalecidos e mais equipados para enfrentar nossas dúvidas com fé.
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Fé em meio à incerteza
“Creu, pois, Abrão no SENHOR, e isso lhe foi imputado como justiça.” (Gênesis 15:6)
A primeira pessoa sobre quem, nós vamos refletir é Abraão, muito conhecido entre nós cristãos, como o “pai da fé”. A história de Abraão é uma das mais notáveis nas escrituras. Ele é mencionado mais de 300 vezes na Bíblia, o que por si só revela a magnitude de sua fé.
Contudo, o que mais nos impressiona sobre Abraão é a sua habilidade de acreditar em Deus mesmo em meio à incerteza. Na sua história, podemos ver como ele estava disposto a deixar a sua terra natal e a sua família, somente com base na promessa de Deus (Gênesis 12:1).
Deus prometeu a Abraão que ele seria o pai de muitas nações, mas ele e Sara, sua esposa, não tinham filhos. Para uma promessa tão incrível, a realidade parecia totalmente oposta.
De acordo com o Instituto Nacional de Saúde, a possibilidade de um casal conceber naturalmente diminui significativamente após os 35 anos, e ainda mais após os 40 anos. Abraão e Sara já eram muito mais velhos, e ainda assim, ele escolheu acreditar na promessa de Deus.
Vivemos num mundo onde a probabilidade e as estatísticas são muitas vezes usadas para prever e controlar o nosso futuro. Somos ensinados a basear as nossas decisões naquilo que parece provável e razoável. No entanto, a fé de Abraão desafia essa lógica. Ele escolheu acreditar em Deus apesar das probabilidades desfavoráveis.
Podemos imaginar as dúvidas que poderiam ter surgido na mente de Abraão. Será que ele entendi direito? Será que estou agindo pela emoção? No entanto, Gênesis 15:6 nos diz que Abraão acreditou em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça. Ele escolheu acreditar na palavra de Deus em vez de em sua situação.
Da mesma forma, nós também enfrentamos situações onde a realidade parece desafiar a promessa de Deus. Seja um diagnóstico médico, uma crise financeira ou um relacionamento quebrado, podemos nos encontrar em circunstâncias onde a dúvida parece mais razoável do que a fé.
No entanto, a história de Abraão nos convida a escolher a fé em meio à incerteza. Não importa o quão improvável a promessa de Deus possa parecer à luz da nossa realidade, somos chamados a acreditar.
Neste sentido, Philip Yancey disse o seguinte: “Deus nos leva ao fim de nossos recursos para que possamos descobrir a vastidão dos Seus. A fé vive no território do ‘não sei’.” – Philip Yancey
Isso acontece, não porque negamos a realidade, mas porque sabemos que o Deus em quem acreditamos é maior do que qualquer circunstância. Ele é o Deus do impossível, o Deus que cumpre suas promessas, o Deus que nos chama a ter fé, mesmo em dias de dúvida.
Fé na angústia
“És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” (Mateus 11:3)
João Batista é conhecido por sua forte convicção e fervor religioso, vivendo no deserto e pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Mas até João, com sua fé inabalável, teve um momento de dúvida.
No contexto de Mateus 11:3, João se encontrava na prisão. Ele havia sido preso por Herodes Antipas por ter repreendido publicamente seu relacionamento de adultério com a mulher do seu irmão.
Na prisão, privado de sua liberdade e enfrentando a perspectiva da morte a qualquer momento, João envia seus discípulos a Jesus com uma pergunta: “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?”
Aqui vemos um homem de fé forte em um momento de angústia e dúvida. A mesma boca que uma vez proclamou alegremente Jesus como o Cordeiro de Deus agora questiona se Jesus é realmente o Messias. Como muitos de nós, João se encontrava em um ponto de insegurança, onde as circunstâncias de sua vida levantavam dúvidas sobre a verdade que ele havia tão firmemente proclamado.
E como Jesus responde à pergunta de João?
Ele diz: “Ide e anunciai a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e aos pobres está sendo pregado o evangelho.” (Mateus 11:4-5).
Jesus responde a João, não apenas com palavras, mas apontando para as obras que ele estava fazendo – os milagres, sinais e maravilhas que confirmam seu ministério.
Talvez, como João, você se encontre em um momento de angústia, onde as circunstâncias de sua vida levantam dúvidas sobre sua fé. Pode ser uma perda, um desafio de saúde, uma crise financeira, ou qualquer outra situação que pareça contradizer a bondade de Deus. Em momentos como estes, devemos lembrar da resposta de Jesus a João. Ele aponta para as suas obras.
Deus pode não responder às nossas perguntas da maneira que esperamos. Ele pode não resolver nossas crises da maneira que queremos. Mas Ele está trabalhando, mesmo em meio à nossa angústia e dúvida. Ele está realizando milagres, sinais e maravilhas. Ele está transformando corações, curando feridas e restaurando vidas. Ele está mostrando Seu amor e bondade de maneiras que muitas vezes não esperamos ou entendemos.
Sobre isso, Charles Stanley disse: “Nossas circunstâncias não mudam o caráter de Deus. As mudanças de Deus nos capacitam a lidar com nossas circunstâncias.” – Charles Stanley.
Portanto, mesmo em meio à angústia, podemos ter fé. Podemos ter dúvidas, mas ainda assim podemos confiar em Deus. Como João Batista, podemos ter a certeza de que, mesmo nos momentos mais sombrios, a melhor resposta à dúvida é a fé em Jesus e a esperança em sua fidelidade.
Fé apesar da dúvida
“Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega também a tua mão, e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.” (João 20:27)
Tomé é conhecido pela sua dúvida em relação à ressurreição de Jesus, e talvez alguns de nós possamos nos identificar com ele. Afinal, ele era um homem que queria provas, que não estava disposto a aceitar cegamente o que lhe era dito.
Tomé nos ensina que é possível ter fé apesar da dúvida. Além disso, ele nos ensina a ser sinceros diante de Deus, sobre elas. Ele tinha dúvidas, é verdade, mas não parou por aí. Ele levou suas dúvidas a Jesus, o único que poderia responder às suas perguntas e acalmar suas inseguranças.
A dúvida de Tomé não é rejeitada ou ridicularizada por Jesus. Pelo contrário, Jesus convida Tomé a examinar suas feridas, a sentir a realidade da ressurreição. Jesus encontra Tomé em sua insegurança e oferece a evidência que ele precisa para crer. Em resposta, Tomé faz uma das mais belas confissões de fé na Bíblia, chamando Jesus de “Meu Senhor e meu Deus!”, sendo inclusive o primeiro do apóstolos a declarar isso (João 20:28)
Parte da tradição cristã e vários textos antigos afirmam que Tomé, o apóstolo, foi morto na Índia. De acordo com a maioria das histórias, ele foi morto por lanças enquanto pregava o Evangelho no que é agora o sul da Índia. Segundo a tradição, isso ocorreu em torno do ano 72 d.C.
Tomé nos mostra que é possível transformar a dúvida em fé. Ele nos encoraja a levar nossas dúvidas a Jesus, confiando que Ele pode lidar com elas. A dúvida não é o oposto da fé, mas pode ser o caminho para uma fé mais profunda e enraizada.
Sobre isso, o pastor Timothy Keller disse o seguinte: “Não tenha medo de suas dúvidas. Elas podem levar você a uma fé que está enraizada não em seus esforços para acreditar, mas na realidade da presença de Deus.” – Tim Keller.
Deus não tem medo das nossas dúvidas. Ele não se ofende com nossas perguntas. Ele não se afasta de nós quando lutamos com a incerteza. Pelo contrário, Ele convida-nos a vir a Ele com nossas dúvidas e medos. Ele nos chama para experimentar Sua realidade, para sentir Sua presença, para descobrir a verdade de quem Ele é.