2 Reis 9 é um divisor de águas. Aqui, a promessa de juízo contra a casa de Acabe finalmente começa a se cumprir com força total. O capítulo apresenta a unção de Jeú, seu golpe contra o rei Jorão, a execução de Acazias, rei de Judá, e o fim trágico de Jezabel. Esse cenário mostra que o juízo de Deus não falha e que, quando Ele fala, cumpre.
Ao ler esse capítulo, percebo que Deus é paciente, mas não é indiferente. Ele vê a idolatria, o sangue inocente derramado e a corrupção dos líderes. E, no tempo certo, intervém — com justiça e santidade.
Qual era o contexto histórico e espiritual de Israel neste momento?
Israel vivia sob o domínio da casa de Acabe. Apesar da morte do próprio Acabe, sua linhagem seguia influente por meio de Jorão, seu filho, e Jezabel, ainda viva. Espiritualmente, o povo estava mergulhado na idolatria. O culto a Baal, promovido por Jezabel, ainda tinha espaço nos corações e nas práticas religiosas.
Segundo Constable (1985), “Jeú foi o instrumento escolhido por Deus para destruir a casa de Acabe, conforme a antiga profecia de Elias (1 Rs 21.21–24)” (CONSTABLE, 1985, p. 554). A missão de Jeú não era apenas política — era profética. Deus estava restaurando a justiça por meio de um novo líder.
O Comentário Histórico-Cultural (WALTON et al., 2018, p. 514) lembra que a unção de um rei era, em Israel, símbolo da eleição divina. A unção de Jeú, portanto, não era apenas um rito — era um sinal público de que ele agora agiria como braço de Deus.
Como foi a unção e o reconhecimento de Jeú como rei? (2 Reis 9.1–13)
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Tudo começa de forma quase clandestina. Eliseu envia um de seus discípulos para ungir Jeú. A ordem é clara: “Derrame o óleo e fuja” (2 Rs 9.3). Isso mostra o caráter explosivo da missão. Um novo rei estava sendo proclamado em meio a uma monarquia ainda em vigor.
A cerimônia é feita em particular, mas logo explode em público. Quando Jeú compartilha com os oficiais o que aconteceu, eles não hesitam. Imediatamente “pegaram os seus mantos… tocaram a trombeta e gritaram: ‘Jeú é rei!’” (v. 13). Assim como vimos em 1 Reis 1, essa aclamação era típica de um novo rei em Israel.
O detalhe simbólico é forte: o óleo derramado marca Jeú como ungido do Senhor. E o gesto dos companheiros — estender seus mantos — expressa submissão. Na prática, uma revolução silenciosa começou ali.
Segundo Constable, “a cerimônia foi simples, mas o conteúdo da profecia foi carregado de justiça divina” (CONSTABLE, 1985, p. 554).
Por que Jeú executou Jorão e Acazias? (2 Reis 9.14–29)
Jeú parte de Ramote-Gileade com pressa. O texto é claro: “Se vocês me apoiam, não deixem ninguém sair escondido da cidade para nos denunciar” (v. 15). Ele sabia que precisava agir rápido antes que a notícia se espalhasse.
A narrativa então se concentra em Jezreel, onde Jorão se recuperava de ferimentos e recebia a visita de Acazias, rei de Judá. A aproximação de Jeú é tão intensa que o sentinela o identifica pela forma agressiva de dirigir: “Dirige como louco” (v. 20). Isso revela não só o estilo de Jeú, mas o ímpeto divino por trás de seus atos.
Quando Jorão o encontra, pergunta: “Você vem em paz, Jeú?”. E Jeú responde com uma pergunta profética: “Como pode haver paz, enquanto continua toda a idolatria e as feitiçarias de sua mãe Jezabel?” (v. 22). Essa frase resume tudo. Não há paz sem arrependimento. E não há estabilidade quando a idolatria domina o trono.
Jeú mata Jorão com uma flecha certeira e joga seu corpo “na propriedade que pertencia a Nabote” (v. 25), cumprindo assim a palavra do Senhor. Já Acazias tenta fugir, mas é atingido e morre em Megido (v. 27). Esse detalhe cumpre as palavras dos profetas sobre a decadência da aliança entre Judá e Israel.
O Comentário Histórico-Cultural lembra que “a execução de Acazias representa não só o fim de uma aliança política, mas também o juízo de Deus sobre a cumplicidade espiritual entre os reinos” (WALTON et al., 2018, p. 516).
O que o fim de Jezabel nos ensina sobre o juízo de Deus? (2 Reis 9.30–37)
Essa é uma das cenas mais fortes do Antigo Testamento. Jezabel, ao saber da chegada de Jeú, se arruma, pinta os olhos e o desafia da janela: “Como vai, Zinri, assassino do seu senhor?” (v. 31). A referência a Zinri (1 Rs 16.9–20) é sarcástica: ela insinua que Jeú será um usurpador efêmero como Zinri foi.
Mas Jezabel não entende que Jeú não está apenas atrás de poder. Ele está cumprindo o juízo de Deus. Ao ouvir suas palavras, ele pergunta: “Quem está do meu lado?”. Dois ou três oficiais a empurram pela janela, e ela morre de forma trágica e humilhante: seu corpo é despedaçado e depois devorado por cães.
Jeú tenta honrá-la por ser filha de rei, mas ao procurarem seu corpo, só encontram “o crânio, os pés e as mãos” (v. 35). Então ele se lembra: “Cumpriu-se a palavra do Senhor… cães devorarão a carne de Jezabel” (v. 36).
O juízo foi completo, sem glória, sem sepultura, sem memória.
Segundo Constable, “Jezabel morreu como viveu — arrogante, desafiadora e cheia de si. Mas seu fim foi marcado pela vergonha, mostrando que Deus não se deixa escarnecer” (CONSTABLE, 1985, p. 557).
As profecias de Elias se cumpriram? (1 Reis 21.21–23)
Sim. E de forma literal. Elias havia declarado:
- Que a linhagem de Acabe seria exterminada;
- Que Jezabel morreria de forma vergonhosa;
- Que seus corpos seriam desprezados, como esterco.
Tudo isso se cumpriu em 2 Reis 9. Jeú foi o instrumento humano, mas o autor do plano foi o próprio Deus. Como vimos em 2 Reis 1, a palavra do Senhor é sempre fiel. Nenhuma de suas promessas — de juízo ou de restauração — falha.
Esse padrão de cumprimento literal reforça a confiabilidade das Escrituras e nos lembra que a história caminha segundo os propósitos eternos de Deus.
Que aplicações práticas tiramos de 2 Reis 9 para hoje?
- Deus levanta pessoas comuns para realizar propósitos extraordinários – Jeú era um comandante, não um sacerdote ou profeta. Mesmo assim, foi escolhido para executar a justiça divina. Deus ainda usa quem se dispõe.
- A idolatria destrói famílias, governos e nações – O que levou à queda de Jorão, Acazias e Jezabel foi a idolatria, promovida e sustentada por gerações. Como vemos em Êxodo 20.5, os pecados dos pais têm reflexos nas gerações seguintes.
- A Palavra de Deus nunca falha – Tudo o que foi profetizado se cumpriu. Isso nos convida a confiar nas promessas e a temer os alertas da Escritura.
- Jeú foi zeloso, mas também violento – O zelo de Jeú foi usado por Deus, mas como veremos em 2 Reis 10, ele não terminou bem. Isso nos ensina que é possível começar no Espírito e terminar na carne.
- A forma como morremos pode revelar como vivemos – Jezabel tentou manter a pose até o fim, mas morreu sozinha, sem honra. Sua morte refletiu a dureza do seu coração.
- Deus dá tempo para o arrependimento, mas esse tempo não dura para sempre – A casa de Acabe teve anos para se arrepender. Quando o juízo chegou, não havia mais volta.
Conclusão
2 Reis 9 é uma prova viva de que Deus cumpre Sua palavra — tanto em bênçãos quanto em juízo. Ele observa o coração dos reis, dos oficiais e do povo. E, no tempo certo, age com justiça.
Esse capítulo me confronta a avaliar quem está no trono do meu coração. Me chama a fugir da idolatria, a confiar nas Escrituras e a lembrar que a justiça de Deus nunca falha.
Jeú foi um instrumento. Jezabel foi julgada. E Israel começou a ver que a santidade de Deus não pode ser ignorada.
Como aprendemos em Apocalipse 19, o mesmo Deus que julgou Jezabel em Israel ainda virá para julgar a Babilônia espiritual dos nossos dias. Que Ele nos encontre fiéis.
Referências
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 554–557.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 514–517.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.