2 Reis 12 apresenta uma das histórias mais contrastantes do Reino de Judá. De um lado, vemos a continuidade de uma liderança temente a Deus, com o jovem rei Joás sendo orientado pelo sacerdote Joiada. Do outro, vemos a fraqueza humana, a corrupção do culto, a decadência espiritual e um fim trágico. Este capítulo, mesmo após um início promissor, revela o que acontece quando alguém perde o temor do Senhor e passa a confiar em alianças humanas.
Joás começou bem. Era o menino que havia sido escondido no templo para não ser morto por Atalia. Foi coroado com o povo gritando “Viva o rei!”, conforme vimos em 2 Reis 11. Mas, com o tempo, sua fé se diluiu. Este capítulo registra tanto o seu zelo inicial pela casa do Senhor quanto sua decadência espiritual posterior.
Ao ler esse texto, sou confrontado com uma pergunta: como é possível alguém começar tão bem e terminar de forma tão trágica?
Qual era o cenário histórico e espiritual de Judá neste momento?
Joás reinou em Judá por 40 anos. Era um rei do Reino do Sul, neto de Acabe por parte de mãe, mas descendente da linhagem de Davi. Seu reinado começou com apoio popular, graças à coragem do sacerdote Joiada e sua esposa, que o esconderam por seis anos do massacre de Atalia.
Segundo Thomas L. Constable (1985), “esta é a primeira vez em 1 e 2 Reis que se registra uma reforma no templo” (CONSTABLE, 1985, p. 561). Isso mostra como, durante anos, o templo ficou negligenciado. Durante o domínio de Atalia, que promoveu a idolatria, o templo sofreu abandono e até saques (cf. 2 Crônicas 24.7).
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O povo de Judá ainda oferecia sacrifícios nos altares idólatras, mesmo com o templo sendo reformado (2 Rs 12.3). Isso indica que a fé da nação estava dividida: uma religiosidade aparente, mas com raízes de idolatria ainda vivas.
Esse contexto mistura restauração e contradição. Joás queria reformar o templo, mas não confrontou os pecados mais profundos da nação.
Como Joás tentou restaurar o templo? (2 Reis 12:4–8)
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“Reúnam toda a prata trazida como dádivas sagradas ao templo do Senhor…” (2 Rs 12.4)
Joás teve uma boa iniciativa: restaurar a casa de Deus. Ele ordenou que os recursos recolhidos — como as ofertas de recenseamento (Êx 30.11–16), votos e ofertas voluntárias — fossem usados na reforma. Era uma tentativa legítima de reconstruir o que havia sido destruído pela idolatria.
Porém, o plano não funcionou como o esperado. Mesmo após 23 anos de reinado, os reparos não haviam sido feitos (v. 6). Isso sugere que os sacerdotes estavam retendo os recursos ou usando-os para outras finalidades.
Constable observa que “Joás demonstrou impaciência com os sacerdotes, que talvez não quisessem perder os recursos que garantiam sua subsistência” (CONSTABLE, 1985, p. 561).
O rei, então, instituiu uma nova forma de arrecadação e repassou a responsabilidade para outros homens, afastando os sacerdotes da administração direta do dinheiro. Isso mostra discernimento administrativo: Joás percebeu que o zelo espiritual não bastava, era preciso integridade prática.
Como funcionava a nova coleta de recursos? (2 Reis 12:9–16)
“O sacerdote Joiada pegou uma caixa, fez um furo na tampa…” (2 Rs 12.9)
A solução foi simples e eficiente: uma caixa com furo no topo, colocada perto do altar. O povo depositava ali suas ofertas, e a arrecadação era monitorada tanto pelo secretário real quanto pelo sumo sacerdote (v. 10). Essa combinação de controle espiritual e civil promovia transparência.
O dinheiro recolhido era entregue diretamente aos supervisores da obra, que pagavam os trabalhadores. O texto afirma: “Não se exigia prestação de contas… pois agiam com honestidade” (v. 15). Esse detalhe é precioso. Num tempo de corrupção, havia homens íntegros.
Constable destaca que “a honestidade dos supervisores era uma evidência de que a integridade havia retornado a Judá com a rededicação ao Senhor” (CONSTABLE, 1985, p. 562).
No entanto, a prata das ofertas pelo pecado e pela culpa não era usada na obra, mas ficava com os sacerdotes (v. 16). Isso demonstra uma separação clara entre o sustento dos levitas e a administração da reforma.
Essa seção nos ensina que zelo espiritual precisa ser acompanhado por boa administração. Deus não quer só boas intenções — Ele quer fidelidade no uso dos recursos que nos confia.
Por que Joás entregou os tesouros a Hazael? (2 Reis 12:17–18)
“Então Joás… enviou tudo a Hazael, rei da Síria, que, assim, desistiu de atacar Jerusalém.” (2 Rs 12.18)
A segunda metade do capítulo muda drasticamente o tom. Hazael, rei da Síria, havia vencido Israel no norte e avançou para o sul. Depois de conquistar Gate, ameaçou Jerusalém. Joás, em vez de buscar a Deus, fez um acordo político. Ele entregou todo o ouro do templo e do palácio a Hazael, para evitar a invasão.
Essa atitude revela o declínio espiritual de Joás. Ele que começou reformando a casa de Deus, agora a saqueia para garantir segurança. Segundo 2 Crônicas 24.23, esse ataque foi um juízo de Deus por causa da apostasia de Joás após a morte de Joiada.
Constable comenta: “Esse resgate ilustra a fraqueza de Judá naquele tempo, causada pela apostasia de Joás” (CONSTABLE, 1985, p. 562).
Joás usou os tesouros consagrados a Deus como moeda de suborno. Isso mostra como a perda da fé resulta em perda de discernimento. Ele confiou mais nas riquezas do que no Senhor.
Como foi o fim de Joás? (2 Reis 12:19–21)
“Conspiraram contra ele e o assassinaram em Bete-Milo…” (2 Rs 12.20)
O final do reinado de Joás é sombrio. Depois de ser gravemente ferido pelos arameus (cf. 2 Cr 24.25), ele foi assassinado em sua cama por dois de seus oficiais. Segundo 2 Crônicas 24.20–22, esses oficiais agiram motivados pela morte de Zacarias, filho de Joiada. Joás havia ordenado o apedrejamento do profeta que o advertia.
Aquele que começou seu reinado no templo, restaurando a adoração ao Senhor, terminou em assassinato, fora dos túmulos reais, sem honra. Foi um fim indigno para quem havia sido tão promissor.
Essa história nos lembra que uma boa origem não garante um bom fim. A fidelidade precisa ser mantida até o último dia.
Há cumprimento profético neste capítulo?
Embora não haja uma profecia explícita de Elias ou Eliseu sobre Joás, 2 Crônicas 24 mostra que o juízo veio por meio da voz profética. Zacarias profetizou a queda de Joás, e sua palavra se cumpriu.
A cena ecoa o padrão dos reis que rejeitam os profetas e acabam enfrentando a justiça divina. Esse padrão continua no Novo Testamento, com líderes religiosos que mataram os profetas e, mais tarde, crucificaram Jesus (cf. Mt 23.37).
Além disso, a atitude de Joás reflete o tipo de rei que o Messias não seria. Enquanto Joás trai os conselhos de Deus, Jesus — o Rei perfeito — permanece fiel até a morte. Como lemos em Apocalipse 1, Ele é o “Rei dos reis”, que jamais corrompe sua fidelidade.
Quais aplicações espirituais tiramos de 2 Reis 12 para hoje?
- Um bom começo não garante um bom final – Joás começou bem, mas se desviou. Precisamos de constância, não apenas entusiasmo inicial.
- A liderança espiritual faz diferença – Enquanto Joiada estava vivo, Joás permaneceu firme. Isso mostra o valor de mentores espirituais fiéis.
- Zelo sem obediência é incompleto – Joás queria restaurar o templo, mas não removeu os altares idólatras (v. 3). A reforma externa sem arrependimento interno não é suficiente.
- Integridade importa em todas as áreas – Os trabalhadores do templo não precisavam prestar contas formais, pois eram honestos (v. 15). Deus valoriza a integridade.
- Substituir fé por diplomacia enfraquece o povo de Deus – Joás confiou no ouro mais do que no Senhor. O resultado foi vergonha e perda.
- Traição à verdade traz juízo – Matar o profeta Zacarias teve consequências. Quando rejeitamos a verdade de Deus, caminhamos para a ruína.
- Devemos vigiar até o fim – A história de Joás é um alerta para permanecermos fiéis até o fim da jornada.
Conclusão
2 Reis 12 é uma história de contrastes. Joás, que foi salvo milagrosamente na infância, cresceu com influência sacerdotal e promoveu uma reforma no templo. Mas, com o tempo, deixou-se corromper. Quando a voz profética se calou, ele seguiu maus conselhos. Quando veio a ameaça, confiou na prata e no ouro, não em Deus. Quando foi advertido, matou o profeta. E por fim, foi morto por seus próprios oficiais.
Este capítulo nos alerta sobre os perigos da superficialidade espiritual. Deus deseja fidelidade até o fim. Como aprendemos em Apocalipse 2:10, “seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.”
Referência
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 561–562.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.