Efésios 5 é um daqueles capítulos que nos confrontam, nos exortam e, ao mesmo tempo, nos mostram o padrão mais sublime de vida cristã. Aqui, Paulo não apenas nos chama a abandonar o velho estilo de vida, mas aponta para um caminho muito mais elevado: imitar a Deus em amor e viver guiados pelo Espírito. O apóstolo conecta nossa vida prática com o grande mistério do relacionamento entre Cristo e a igreja, revelando que tudo o que fazemos — no lar, no casamento ou na sociedade — deve refletir essa verdade.
Qual é o contexto histórico e teológico de Efésios 5?
A carta aos Efésios foi escrita por Paulo por volta de 60 ou 61 d.C., durante sua prisão em Roma, conforme lemos em Atos 28. Ela integra o conjunto das chamadas “cartas da prisão”, ao lado de Filipenses, Colossenses e Filemom.
Éfeso era uma cidade cosmopolita, situada na Ásia Menor (atual Turquia), conhecida por seu grande templo dedicado à deusa Ártemis. Era um dos centros mais importantes do comércio e da religiosidade pagã no Império Romano. A cidade respirava idolatria, práticas ocultas e imoralidade sexual, como vemos em Atos 19.
Segundo Hendriksen, a preocupação pastoral de Paulo nesta carta é mostrar que os cristãos foram chamados a viver de forma completamente diferente da cultura à sua volta, refletindo a glória de Cristo em cada esfera da vida (HENDRIKSEN, 1992).
Craig Keener destaca que Efésios não é apenas teórico, mas extremamente prático, especialmente ao abordar a ética sexual, os relacionamentos familiares e o papel da igreja como um sinal visível do reino de Deus no mundo (KEENER, 2017).
Em Efésios 5, o apóstolo enfatiza que o padrão de vida cristã não se baseia na cultura, mas no caráter de Deus revelado em Cristo.
Como o texto de Efésios 5 se desenvolve?
1. Imitem a Deus e andem em amor (Efésios 5.1-2)
Paulo começa com um convite profundo: “Sejam imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5.1). Esse é o chamado mais elevado que alguém pode receber. Fomos adotados como filhos e, por isso, devemos refletir o caráter do Pai.
Na prática, isso significa “vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus” (Ef 5.2). O amor aqui não é apenas sentimento, mas ação concreta e sacrificial, como a cruz demonstrou.
2. Renunciem às obras das trevas (Efésios 5.3-14)
Diante de uma sociedade marcada pela imoralidade sexual e ganância, Paulo exorta:
“Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual nem de qualquer espécie de impureza nem de cobiça” (Ef 5.3).
Ele prossegue condenando também a linguagem obscena, as conversas tolas e os gracejos imorais (Ef 5.4). Keener explica que piadas de conotação sexual e linguagem vulgar eram comuns nas mímicas e nos banquetes pagãos, e Paulo se opõe firmemente a essa prática (KEENER, 2017).
O apóstolo alerta que pessoas que vivem na imoralidade, impureza ou ganância — que ele associa à idolatria — “não têm herança no Reino de Cristo e de Deus” (Ef 5.5).
Paulo prossegue dizendo: “Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência” (Efésios 5.6). Hendriksen lembra que já naquela época alguns tentavam minimizar a gravidade do pecado, algo que vemos ainda hoje (HENDRIKSEN, 1992).
Por isso, Paulo insiste: “Não participem com eles dessas coisas” (Efésios 5.7).
O contraste entre a antiga vida e a nova é forte: “Outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz” (Efésios 5.8).
O fruto dessa luz se revela em bondade, justiça e verdade (Efésios 5.9). O cristão é chamado a discernir e praticar o que agrada ao Senhor (Efésios 5.10), rejeitando as obras infrutíferas das trevas e, ao contrário, expondo-as (Efésios 5.11).
Mesmo mencionar tais práticas é vergonhoso (Efésios 5.12), mas quando a luz de Cristo resplandece, tudo se torna visível e as pessoas são chamadas ao arrependimento.
Por isso, Paulo cita: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo resplandecerá sobre ti” (Efésios 5.14). Muitos estudiosos, como Hendriksen, entendem essa citação como uma adaptação de Isaías 60.1, usada em hinos cristãos para simbolizar o chamado ao arrependimento e à nova vida em Cristo (HENDRIKSEN, 1992).
3. Vivam com sabedoria e sejam cheios do Espírito (Efésios 5.15-21)
Paulo chama os cristãos a uma vida de sabedoria prática:
“Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios” (Efésios 5.15).
Aproveitar bem o tempo é essencial, pois “os dias são maus” (Efésios 5.16). Vivemos em um mundo corrompido, e a sabedoria se revela ao discernir e praticar “a vontade do Senhor” (Efésios 5.17).
Paulo contrasta a embriaguez, tão comum nos rituais pagãos, com a verdadeira alegria e comunhão espiritual:
“Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito” (Efésios 5.18).
Ser cheio do Espírito resulta em cânticos espirituais, louvor sincero e gratidão constante a Deus (Efésios 5.19-20).
E isso também se expressa no relacionamento com os outros: “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Efésios 5.21).
Hendriksen destaca que essa submissão mútua é a base para todos os relacionamentos saudáveis no corpo de Cristo (HENDRIKSEN, 1992).
4. O relacionamento no casamento reflete Cristo e a igreja (Efésios 5.22-33)
Paulo aplica o princípio da submissão ao casamento, ensinando que as esposas devem se submeter aos maridos “como ao Senhor” (Ef 5.22), pois o marido é o cabeça da mulher, assim como Cristo é o cabeça da igreja (Ef 5.23-24).
Por outro lado, os maridos devem amar suas esposas “assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (Ef 5.25).
Esse amor é sacrificial e visa o bem espiritual da esposa, assim como Cristo santifica a igreja “pela lavagem de água mediante a palavra” (Ef 5.26), preparando-a para ser santa e imaculada (Ef 5.27).
Paulo compara o amor do marido pelo corpo da esposa ao cuidado que cada um tem de si mesmo (Ef 5.28-30), lembrando da unidade descrita em Gênesis 2.24: “os dois se tornarão uma só carne”.
Ele revela o profundo mistério por trás dessa união: “Refiro-me, porém, a Cristo e à igreja” (Ef 5.32).
Por isso, a esposa deve respeitar o marido e o marido deve amar a esposa como a si mesmo (Ef 5.33).
Keener observa que, embora Paulo utilize uma linguagem culturalmente compreensível à época, ele subverte os valores patriarcais ao exigir do marido um amor sacrificial, semelhante ao de Cristo, e ao chamar o casal à submissão mútua (KEENER, 2017).
Que conexões proféticas encontramos em Efésios 5?
Efésios 5 conecta o presente da igreja ao plano profético de Deus revelado nas Escrituras.
Quando Paulo fala da igreja sendo santificada e preparada para Cristo, ele ecoa as imagens proféticas de Isaías 61.10, onde Sião se alegra vestida como noiva adornada.
O chamado para despertar do sono e levantar-se dos mortos (Ef 5.14) lembra o anúncio profético de Isaías 60, em que a luz de Deus resplandece sobre o Seu povo.
A submissão mútua e o amor sacrificial no casamento apontam para o grande dia das bodas do Cordeiro, descrito em Apocalipse 19.7-9, quando a igreja será apresentada a Cristo como noiva pura e gloriosa.
Assim, Efésios 5 nos lembra que o cotidiano da vida cristã — no lar, na linguagem, nos relacionamentos — está conectado às realidades eternas e ao cumprimento do plano de Deus.
O que Efésios 5 me ensina para a vida hoje?
Ao ler Efésios 5, sou desafiado a viver com coerência e intencionalidade.
Primeiro, aprendo que minha vida precisa refletir o caráter de Deus. Sou chamado a imitar o amor de Cristo, que se entregou por mim.
Segundo, entendo que devo rejeitar qualquer prática que desonre a Deus — seja na área sexual, na ganância ou na linguagem. A cultura pode normalizar essas coisas, mas, como filho da luz, preciso andar de forma diferente.
Também percebo que o Espírito Santo é a fonte da verdadeira alegria e força. Encher-me do Espírito significa viver com gratidão, louvor e sabedoria, em contraste com os excessos e enganos do mundo.
No casamento, vejo que o padrão não é o egoísmo, mas o amor sacrificial e o respeito mútuo. Isso se aplica não só aos casais, mas a toda forma de relacionamento no corpo de Cristo.
Por fim, Efésios 5 me faz lembrar que minha vida aponta para algo maior: o relacionamento eterno entre Cristo e sua igreja. Cada atitude, cada palavra, cada escolha revela se estou ou não vivendo como filho da luz.
Que, dia após dia, eu escolha imitar o amor de Deus, andar em sabedoria, encher-me do Espírito e honrar o nome de Cristo em todas as áreas da vida.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses. Tradução: Valter Graciano Martins. 3. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1992.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

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