Mateus 17 é um dos capítulos mais marcantes dos Evangelhos. Ele nos conduz da glória do monte da transfiguração ao confronto com a fraqueza humana no vale. Enquanto leio esse trecho, percebo o quanto o Evangelho não esconde as realidades da vida cristã: momentos de revelação profunda seguidos por desafios e decepções.
R. C. Sproul observa que “a transfiguração foi um vislumbre do céu, uma antecipação da glória eterna de Cristo e uma preparação para o caminho da cruz” (SPROUL, 2017, p. 448).
Neste capítulo, Mateus mostra como a identidade de Jesus como o Filho glorificado, seu cumprimento das profecias e o chamado à fé prática se entrelaçam de forma maravilhosa.
Por que a transfiguração revela tanto sobre Jesus? (Mateus 17.1–9)
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Mateus começa o capítulo narrando um dos episódios mais extraordinários do ministério de Jesus. Seis dias após a confissão de Pedro (Mateus 16.16) e o anúncio da cruz, Jesus leva Pedro, Tiago e João a um monte. A tradição aponta o Monte Tabor ou o Monte Hermom como locais prováveis, embora Hendriksen prefira a localização mais próxima da Galileia, como Jebel Jermak (HENDRIKSEN, 2010, p. 199).
O texto diz: “Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz” (v. 2). A palavra grega usada aqui é metamorphoō, de onde vem nossa palavra metamorfose. Não foi apenas uma mudança exterior. A glória de Cristo, que sempre esteve velada em sua humanidade, irrompeu diante dos discípulos.
Hendriksen destaca que “não se trata de um simples reflexo da glória, como aconteceu com Moisés, mas da glória interior de Cristo, que se manifesta exteriormente” (HENDRIKSEN, 2010, p. 203).
Além disso, Moisés e Elias aparecem conversando com Jesus (v. 3). Moisés representa a Lei e Elias, os Profetas — todo o Antigo Testamento convergindo para Cristo, o Messias prometido. Lucas relata que falavam sobre “sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém” (Lucas 9.31), ou seja, sobre sua morte.
Diante dessa cena gloriosa, Pedro, como sempre, fala sem pensar: “Senhor, é bom estarmos aqui…” (v. 4). Ele queria prolongar aquele momento sublime. Quantas vezes também eu não quis permanecer apenas nos “altos montes” da vida espiritual, sem encarar o vale que me espera?
Enquanto Pedro ainda falava, uma nuvem luminosa os envolve e a voz do Pai declara: “Este é o meu Filho amado em quem me agrado. Ouçam-no!” (v. 5). É impossível não lembrar do batismo de Jesus em Mateus 3.17, quando o Pai fez uma declaração semelhante.
Sproul comenta: “A voz do Pai não apenas afirma o amor pelo Filho, mas também ordena que o ouçam — um eco direto de Deuteronômio 18.15, onde Deus promete levantar um profeta como Moisés, a quem o povo deve ouvir” (SPROUL, 2017, p. 450).
Os discípulos caem de bruços, aterrorizados (v. 6). Diante da santidade e majestade de Deus, o medo é inevitável. Mas Jesus, com ternura, se aproxima e diz: “Levantem-se! Não tenham medo!” (v. 7). Essa cena me lembra como a presença de Cristo transforma temor em consolo.
Quando abrem os olhos, “não viram mais ninguém a não ser Jesus” (v. 8). Que verdade poderosa! Em meio à glória, à Lei, aos Profetas, ao esplendor, no fim, resta apenas Jesus. Só Ele permanece. Só Ele é suficiente.
Na descida do monte, Jesus ordena silêncio até que ressuscite (v. 9). Eles não compreenderiam plenamente a transfiguração sem a cruz e a ressurreição.
O que significa a vinda de Elias antes do Messias? (Mateus 17.10–13)
Os discípulos, ainda intrigados, questionam Jesus sobre o ensino dos mestres da lei de que Elias deveria vir antes do Messias (v. 10). Essa crença se baseava em Malaquias 4.5–6, promessa bem conhecida entre os judeus.
Jesus responde: “De fato, Elias vem e restaurará todas as coisas. Mas eu lhes digo: Elias já veio, e eles não o reconheceram…” (v. 11–12). Ele está se referindo a João Batista, que veio “no espírito e no poder de Elias”, conforme Lucas 1.17.
Hendriksen explica que “João Batista não era Elias literal, mas o cumprimento figurado da profecia de Malaquias 4.5–6, preparando o caminho do Senhor” (HENDRIKSEN, 2010, p. 210).
Os líderes rejeitaram João, assim como rejeitariam o próprio Cristo. João foi preso e morto por Herodes (Mateus 14.3–12), e Jesus também sofreria nas mãos dos homens.
Essa conexão entre Elias, João Batista e o sofrimento de Jesus mostra que o Reino de Deus não viria primeiro com glória, mas com dor. O caminho do Messias passa pela cruz.
Por que os discípulos falharam ao tentar expulsar o demônio? (Mateus 17.14–20)
Descendo do monte, Jesus encontra um cenário caótico. Um pai desesperado se ajoelha diante dele: “Senhor, tem misericórdia do meu filho. Ele tem ataques e está sofrendo muito” (v. 15).
Os discípulos haviam tentado curar o menino, mas fracassaram (v. 16). Marcos 9.14–29 e Lucas 9.37–43 também registram esse episódio, dando mais detalhes. O menino estava sob forte influência demoníaca, com sintomas semelhantes a epilepsia.
Diante disso, Jesus exclama: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês?” (v. 17). Essa repreensão se dirige não só aos discípulos, mas também ao povo e aos líderes incrédulos. É um eco do lamento de Deus em Deuteronômio 32.5.
Jesus então expulsa o demônio e o menino fica curado (v. 18). Depois, os discípulos o procuram em particular e perguntam o que havia dado errado (v. 19).
A resposta de Jesus é direta: “Por que a fé que vocês têm é pequena” (v. 20). Eles possuíam fé, mas ela estava enfraquecida, diluída pela dúvida e pela autossuficiência.
Sproul observa: “A fé dos discípulos era real, mas não vigorosa o suficiente para lidar com a magnitude do desafio espiritual que enfrentaram” (SPROUL, 2017, p. 458).
Jesus ilustra o poder da fé com a metáfora do grão de mostarda. Uma fé pequena, mas genuína e perseverante, pode realizar o impossível. Aqui, mover montanhas é uma expressão figurada para indicar que nada está fora do alcance da fé que se apega ao Deus todo-poderoso.
Marcos 9.29 acrescenta que essa situação exigia “oração e jejum”, indicando a necessidade de profunda dependência de Deus. Não se trata de técnicas ou fórmulas, mas de intimidade real com o Senhor.
Como esse capítulo cumpre as profecias do Antigo Testamento?
Mateus 17 revela o cumprimento direto de várias promessas e figuras messiânicas:
- A transfiguração cumpre o anúncio de Deuteronômio 18.15 sobre o profeta semelhante a Moisés, a quem o povo deve ouvir.
- Moisés e Elias apontam para o cumprimento da Lei e dos Profetas em Cristo, como confirmado em Lucas 24.44.
- A vinda de João Batista como “Elias” cumpre a profecia de Malaquias 4.5–6.
- A cena antecipa a glória futura de Cristo, conforme descrito em Apocalipse 21, onde não haverá sol ou lua, pois o Cordeiro será a luz da cidade.
Além disso, o episódio revela que o caminho para a glória passa, necessariamente, pela cruz. É o padrão do Reino.
O que Mateus 17 me ensina para a vida hoje?
Ao refletir sobre esse capítulo, percebo que a jornada cristã tem altos montes e profundos vales. Existem momentos de revelação e glória, mas também de fraqueza, incredulidade e luta.
Eu aprendo que:
- Preciso manter meus olhos em Jesus, o Filho amado do Pai. No fim, “não viram mais ninguém a não ser Jesus” (v. 8). Ele basta.
- Minha fé deve crescer e ser fortalecida. A fé pequena pode ser fortalecida pelo contato constante com Deus em oração.
- As montanhas só se movem quando minha confiança está no Senhor, não em mim.
- O sofrimento faz parte do plano de Deus. João Batista sofreu, Jesus sofreu, e o discipulado envolve carregar a cruz.
- A glória virá, mas agora é tempo de servir e confiar, mesmo sem entender tudo.
O que aconteceu no monte foi um vislumbre do futuro. Como Pedro escreveu mais tarde: “Nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade” (2 Pedro 1.16).
Assim como os discípulos, somos chamados a ouvir o Filho, confiar nele e perseverar, certos de que a glória revelada naquele monte será plena e definitiva na eternidade.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.