Atos 14 é um capítulo que me impressiona sempre que leio. Aqui, vejo o Evangelho avançando entre povos diversos, mas também a dura realidade das perseguições que acompanham os servos de Deus. As cidades de Icônio, Listra e Derbe se tornam palco de milagres, confusão e oposição. Mas mesmo em meio às dificuldades, o Reino de Deus cresce e se fortalece.
Neste estudo, quero te conduzir pelos detalhes desse texto, entendendo o que aconteceu, por que aconteceu e como isso fala diretamente à nossa vida hoje.
Qual é o contexto histórico e teológico de Atos 14?
O livro de Atos foi escrito por Lucas, médico e companheiro de Paulo, para narrar o avanço do Evangelho desde Jerusalém até os confins do mundo conhecido. Segundo Kistemaker (2016), Atos 14 faz parte da chamada primeira viagem missionária de Paulo, iniciada em Antioquia da Síria e estendida por Chipre e regiões da Ásia Menor.
Craig Keener (2017) explica que as cidades visitadas neste capítulo — Icônio, Listra e Derbe — estavam situadas em regiões culturalmente diversas, com influência grega, romana e anatólia. Icônio, por exemplo, embora politicamente ligada à província da Galácia, possuía uma forte identidade frígia e licaônica.
Religiosamente, predominava o politeísmo pagão. Listra, em especial, tinha um templo dedicado a Zeus e praticava cultos populares marcados por lendas como a de Zeus e Hermes visitando os mortais. Isso ajuda a entender o espanto do povo ao ver Paulo curar um paralítico e logo quererem adorá-los como deuses.
Além disso, as comunidades judaicas dessas cidades, embora pequenas em algumas delas, exerciam influência, o que explica tanto a presença inicial de Paulo nas sinagogas quanto a forte oposição que enfrentou.
Teologicamente, Atos 14 mostra o Evangelho cruzando fronteiras culturais e religiosas, mas também evidencia o preço da missão: perseguição, sofrimento e rejeição. No entanto, como veremos, Deus continua conduzindo sua obra.
Como o texto de Atos 14 se desenvolve?
1. O que aconteceu em Icônio? (Atos 14.1-7)
O capítulo começa narrando:
“Em Icônio, Paulo e Barnabé, como de costume, foram à sinagoga judaica. Ali falaram de tal modo que veio a crer grande multidão de judeus e gentios” (Atos 14.1).
Isso me chama atenção. Apesar dos desafios da viagem, Paulo e Barnabé mantêm o foco: anunciar as boas novas. Como era de costume, começam pela sinagoga, onde judeus e gentios tementes a Deus frequentavam e conheciam as Escrituras.
A mensagem gera frutos: muitos creem. Mas logo surge oposição:
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“Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos” (Atos 14.2).
Keener (2017) lembra que, na cultura judaica, a incredulidade não era vista apenas como dúvida, mas como desobediência ativa à revelação de Deus. Esses judeus rejeitam o Evangelho e inflamam os ânimos dos gentios contra os cristãos.
Mesmo assim, Paulo e Barnabé permanecem:
“Falaram corajosamente do Senhor, que confirmava a mensagem da sua graça realizando sinais e maravilhas pelas mãos deles” (Atos 14.3).
Isso me faz pensar: Deus confirma sua Palavra com sinais, mas não isenta seus servos das dificuldades. O texto diz que a cidade ficou dividida (Atos 14.4), e, diante de uma conspiração para matá-los, os missionários fogem para Listra e Derbe, onde continuam a pregar (Atos 14.5-7).
2. O que aconteceu em Listra? (Atos 14.8-20)
Em Listra, um episódio marcante revela tanto o poder de Deus quanto a confusão espiritual do povo:
“Em Listra havia um homem paralítico dos pés, aleijado desde o nascimento […] Paulo olhou diretamente para ele e viu que o homem tinha fé para ser curado” (Atos 14.8-9).
A cura acontece de forma pública e impactante:
“Levante-se! Fique de pé! Com isso, o homem deu um salto e começou a andar” (Atos 14.10).
O povo, sem entender o Evangelho, interpreta o milagre à luz de suas crenças pagãs:
“Os deuses desceram até nós em forma humana!” (Atos 14.11).
Barnabé é chamado de Zeus e Paulo de Hermes, por ser o orador principal. Kistemaker (2016) explica que, segundo a tradição local, Zeus e Hermes teriam visitado a região no passado. Temerosos de repetir a falta de hospitalidade dos antigos, o povo tenta oferecer sacrifícios aos missionários (Atos 14.13).
A reação de Paulo e Barnabé é clara:
“Homens, por que vocês estão fazendo isso? Nós também somos humanos como vocês. Estamos trazendo boas novas para que se voltem dessas coisas vãs para o Deus vivo” (Atos 14.15).
Paulo usa a criação como ponto de contato:
“Ele fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há” (Atos 14.15).
Keener (2017) observa que, ao falar com gentios sem base bíblica, Paulo não cita as Escrituras diretamente, mas aponta para o testemunho da natureza — as chuvas, as colheitas, a alegria — como evidência da bondade de Deus (Atos 14.17).
Mesmo assim, a multidão mal se contém (Atos 14.18).
Logo, chegam judeus de Antioquia e Icônio, inflamam o povo e apedrejam Paulo (Atos 14.19). Pensam que ele está morto e o arrastam para fora da cidade. Milagrosamente, Paulo se levanta e volta à cidade (Atos 14.20).
Esse episódio me emociona. Vejo a resiliência e a coragem que só o Espírito Santo pode dar.
3. O que aconteceu em Derbe e no retorno? (Atos 14.21-28)
Em Derbe, o Evangelho segue avançando:
“Eles pregaram as boas novas naquela cidade e fizeram muitos discípulos” (Atos 14.21).
Depois, Paulo e Barnabé retornam às cidades onde enfrentaram perseguição. Isso me faz pensar: eles não fogem do compromisso pastoral.
Em cada igreja, fortalecem os discípulos:
“É necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (Atos 14.22).
Eles também nomeiam presbíteros e os confiam ao Senhor (Atos 14.23). Kistemaker (2016) destaca que essa liderança local era fundamental para a saúde das comunidades recém-formadas.
Por fim, viajam até Antioquia da Síria, onde relatam à igreja tudo o que Deus fez:
“Deus abrira a porta da fé aos gentios” (Atos 14.27).
Essa expressão me lembra que a obra não é dos homens, mas de Deus. Ele abre as portas. Ele sustenta seus servos. Ele garante o avanço do Reino.
Que conexões proféticas encontramos em Atos 14?
Embora Atos 14 não contenha citações explícitas de profecias messiânicas, vejo conexões importantes com o Antigo Testamento:
- A ênfase na criação (Atos 14.15-17) ecoa o testemunho dos Salmos sobre Deus como Criador e Sustentador (Salmo 19.1-4; Salmo 104).
- O sofrimento dos apóstolos se conecta às profecias de que o Messias e seus seguidores seriam rejeitados e perseguidos (Salmo 2; Isaías 53).
- A expressão “Reino de Deus” (Atos 14.22) aponta para o cumprimento das promessas messiânicas de restauração e governo divino.
Além disso, a reação do povo de Listra, confundindo os apóstolos com deuses, mostra o vazio espiritual e a necessidade urgente do verdadeiro conhecimento de Deus, algo já anunciado pelos profetas.
Que lições espirituais e aplicações práticas Atos 14 traz?
Ao ler Atos 14, vejo lições profundas para minha caminhada cristã:
- A oposição faz parte da missão
Quando anuncio o Evangelho, devo esperar rejeição e resistência. Mas isso não deve me paralisar. - Deus usa o sofrimento para fortalecer a fé
Como Paulo disse: “É necessário que passemos por muitas tribulações” (Atos 14.22). As provações me amadurecem. - O testemunho da criação aponta para Deus
Mesmo quem nunca leu a Bíblia pode perceber o cuidado e a bondade de Deus nas coisas simples da vida: a chuva, o alimento, a alegria. - A idolatria precisa ser confrontada com sabedoria
Paulo e Barnabé não ofendem o povo, mas os chamam a abandonar as coisas vãs e se voltar ao Deus vivo. Também devo agir assim. - A igreja precisa de líderes e encorajamento
Paulo e Barnabé não apenas evangelizam, mas organizam as igrejas. Discipulado e liderança saudável são indispensáveis. - O Reino de Deus cresce apesar das dificuldades
Mesmo com perseguição, o Evangelho avança. Deus abre portas que ninguém pode fechar. - O poder vem de Deus, não dos homens
Os sinais e milagres confirmam a mensagem, mas o centro é Cristo e sua graça, não os instrumentos humanos.
Como Atos 14 me conecta ao restante das Escrituras?
Atos 14 reforça o fio condutor da Bíblia:
- O Deus Criador é o mesmo que sustenta o mundo (Gênesis 1).
- As perseguições dos apóstolos refletem o sofrimento de Cristo e dos profetas (Mateus 5.10-12).
- A expansão do Reino cumpre a promessa feita a Abraão: “Em você todas as nações serão abençoadas” (Gênesis 12.3).
- A necessidade de líderes e discipulado ecoa o modelo de Moisés e dos anciãos (Êxodo 18).
- A proclamação aos gentios aponta para a universalidade do Evangelho, como já previsto pelos profetas (Isaías 49.6).
Percebo que Atos 14 não é um relato isolado, mas parte de uma grande história: o avanço do Reino de Deus no mundo.
Referências
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- KISTEMAKER, Simon. Atos. Tradução: Ézia Mullis e Neuza Batista da Silva. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.