2 Reis 15 é um retrato da instabilidade política e espiritual de Israel e Judá em pleno século VIII a.C. Vemos aqui o contraste entre reis que caminharam com Deus e outros que perpetuaram a idolatria. Ainda que alguns tenham tido longos reinados, como Azarias (ou Uzias), a marca predominante do capítulo é o colapso do reino do norte, a corrupção da liderança e a crescente ameaça da Assíria.
Enquanto lia este capítulo, me veio uma pergunta: por que tantos reis com tanto tempo de reinado deixaram tão pouco legado espiritual? A resposta parece estar nas “alturas” que eles não removeram — os pecados tolerados que permaneciam como rachaduras nas fundações de suas nações.
Qual era o contexto histórico e espiritual de Israel e Judá?
O capítulo 15 se passa durante o período do século VIII a.C., época em que o Império Assírio ressurgia como grande ameaça para os povos do Oriente Próximo. Em Judá, Azarias (ou Uzias) assume o trono com apenas 16 anos e reina 52 anos (v. 2). Em Israel, várias transições de poder marcam uma fase de decadência, com golpes, assassinatos e alianças políticas desastrosas.
De um lado, Judá mantinha certa estabilidade. Do outro, Israel vivia sua pior crise institucional. Em menos de 40 anos, sete reis passaram pelo trono do reino do norte — a maioria por vias violentas.
Thomas Constable observa que “a longevidade do reinado de Azarias contrasta fortemente com os reinados curtos e sangrentos dos reis de Israel nesta época” (CONSTABLE, 1985, p. 566). Esse contraste serve de pano de fundo para entendermos a crise espiritual: enquanto Judá tinha reis que “faziam o que o Senhor aprova” (v. 3, 34), Israel mergulhava em rebeliões e idolatria.
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A espiritualidade popular também era marcada pela confusão. Mesmo em Judá, os altares idólatras (as chamadas “alturas”) permaneciam, ainda que o culto a Yahweh estivesse oficialmente preservado (v. 4, 35).
É nesse cenário que Deus levanta profetas como Isaías e Oseias para advertir os reinos. Seus escritos, como vemos em Isaías 1 e Oseias 4, refletem o mesmo ambiente de corrupção e religiosidade superficial.
Como cada rei é retratado em 2 Reis 15?
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Azarias (ou Uzias) – rei de Judá (15.1–7)
Azarias é lembrado como um bom rei: “Ele fez o que o Senhor aprova” (v. 3). No entanto, não removeu os altares pagãos. Um ponto marcante de sua história é o juízo de Deus em forma de lepra (v. 5), consequência de sua arrogância ao tentar exercer funções sacerdotais (2 Cr 26.16–21).
Mesmo com a doença, Azarias continua exercendo liderança indireta enquanto seu filho Jotão governa o povo. Thomas Constable destaca que “Azarias foi um dos reis mais eficazes de Judá, estendendo o território e fortalecendo o exército” (CONSTABLE, 1985, p. 566).
Apesar de sua força militar, sua falha espiritual em desobedecer os limites impostos por Deus teve um preço alto: isolamento, humilhação e legado comprometido.
Zacarias, Salum, Menaém, Pecaías e Peca – reis de Israel (15.8–31)
O trono de Israel se torna uma sucessão de tragédias. Zacarias reina apenas seis meses (v. 8). Salum governa por um mês antes de ser assassinado (v. 13). Menaém, por sua vez, reina 10 anos, mas com mãos de ferro, chegando a rasgar ao meio mulheres grávidas (v. 16).
Depois dele, Pecaías governa dois anos e também é assassinado por um de seus oficiais (v. 25). Por fim, Peca governa 20 anos, mas sob forte instabilidade. Durante seu reinado, a Assíria invade e deporta parte significativa da população israelita (v. 29).
É um ciclo vicioso: reis maus, idolatria persistente, violência interna e a mão de Deus retirando sua proteção. Como observamos em 2 Reis 17, esse período culmina na destruição total de Israel.
Jotão – rei de Judá (15.32–38)
Jotão é um respiro de justiça neste capítulo. Assim como seu pai Azarias, ele “fez o que o Senhor aprova” (v. 34), mas também não removeu os altares (v. 35). Uma de suas realizações foi reconstruir a porta superior do templo (v. 35), o que mostra preocupação com a adoração ao Senhor.
Em 2 Crônicas 27, vemos que ele também venceu os amonitas e edificou cidades. O segredo? Ele “andou firmemente diante do Senhor” (2 Cr 27.6).
Contudo, mesmo durante seu reinado, os inimigos se movem: Rezim, rei da Síria, e Peca, de Israel, se levantam contra Judá (v. 37). O juízo está cada vez mais próximo.
Que profecias se cumprem em 2 Reis 15?
A mais clara é a palavra de Deus a Jeú: “Seus descendentes ocuparão o trono de Israel até a quarta geração” (2 Rs 10.30). Com a morte de Zacarias, filho de Jeroboão II, essa profecia se cumpre (v. 12).
Além disso, as conquistas de Tiglate-Pileser III (v. 29) antecipam os julgamentos que os profetas haviam anunciado. Isaías e Oseias haviam advertido sobre a vinda de um império do norte. O cumprimento disso se inicia aqui, com a deportação de Naftali e Gileade.
Este capítulo confirma o que Deus prometeu: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4). O juízo não falha, mesmo que demore.
Quais lições espirituais e aplicações práticas 2 Reis 15 traz?
- Um bom começo não garante um bom final
Azarias começou bem, mas terminou isolado. Sua lepra física reflete uma doença espiritual: o orgulho. A caminhada cristã exige vigilância constante. - Não remover os pecados antigos enfraquece o futuro
Os “altares” que os reis não derrubaram foram tolerâncias perigosas. Eu percebo que, quando deixo pequenas transgressões sem confrontar, elas ganham força com o tempo. - A instabilidade política é fruto da idolatria espiritual
Israel se desintegra por dentro antes de ser ameaçado por fora. O mesmo vale para nossa vida: o maior inimigo não é externo, mas o pecado não tratado. - Deus não esquece suas promessas — nem de juízo, nem de misericórdia
A palavra a Jeú se cumpre. Assim como a deportação anunciada pelos profetas. Quando Deus fala, Ele cumpre — como em Hebreus 10:23. - Liderança sem temor de Deus é destrutiva
Reis como Menaém e Peca governam pela força, mas deixam destruição. A verdadeira autoridade começa com submissão a Deus. - A fidelidade individual ainda importa, mesmo em tempos caóticos
Jotão permaneceu firme mesmo com a pressão externa. Isso me ensina que posso ser fiel mesmo em ambientes hostis. - A história da nação é também a história das escolhas pessoais
Os reis, suas falhas e pecados, moldaram o destino de milhões. Minhas escolhas também têm consequências maiores do que imagino.
Conclusão
2 Reis 15 é um alerta vivo: estabilidade política, conquistas territoriais e longos reinados não substituem obediência. O capítulo nos mostra que a queda de uma nação começa na negligência espiritual.
Enquanto Judá oscilava entre fidelidade e omissão, Israel acelerava sua queda, corrompido por reis violentos e alianças equivocadas. No centro de tudo, Deus continuava falando — por meio de profetas, eventos e julgamentos.
O capítulo termina com uma tensão crescente. A Assíria se aproxima. O pecado se acumula. E o tempo da misericórdia está se esgotando. É como se Deus estivesse dizendo: “Ainda há tempo. Mas por quanto tempo mais?”
Se eu olhar para minha própria vida, quais altares ainda não derrubei? Onde tenho tolerado aquilo que Deus condena?
Como vemos em Apocalipse 2, Cristo ainda caminha entre os candelabros, chamando a Igreja ao arrependimento.
Referência
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 566–568.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

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