2 Reis 14 apresenta um contraste impressionante entre dois reis: Amazias de Judá e Jeroboão II de Israel. O capítulo mostra como o orgulho pode arruinar uma boa liderança, enquanto a compaixão de Deus pode restaurar uma nação — mesmo que espiritualmente ela continue perdida.
Este texto me confronta com a realidade de que nem sempre fazer “o que é certo” é o suficiente, quando feito com motivações erradas. É um capítulo onde vitórias militares, orgulho ferido, idolatria e misericórdia divina se entrelaçam de forma intensa, como já vimos também em 2 Reis 13.
Qual era o cenário histórico e espiritual nesse período?
Amazias começou a reinar em Judá por volta de 796 a.C., enquanto Jeoás reinava em Israel. Segundo Thomas Constable, “Amazias foi um rei jovem e sua liderança inicial refletia a do seu pai, Joás. Ele respeitava a lei de Deus, mas permitia práticas religiosas condenadas, como o culto nos altos” (CONSTABLE, 1985, p. 564).
Mesmo mantendo o templo ativo, Amazias tolerava o sincretismo. O povo sacrificava em lugares elevados, o que contrariava a ordem clara de Deuteronômio 12. Isso revela um cenário de religiosidade misturada, algo muito comum no Reino do Sul.
Do outro lado, Jeroboão II assumiu o trono de Israel em 782 a.C. Seu governo foi longo (41 anos), marcado por conquistas militares e expansão territorial. Contudo, espiritualmente, foi mais um rei que “fez o que o Senhor reprova” (2 Rs 14.24). Esse ciclo de infidelidade já vinha sendo descrito desde 2 Reis 10, quando Jeú, apesar de reformar parte da idolatria, não rompeu com os pecados de Jeroboão I.
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Como explica o Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, “Israel, nesse período, desfrutava de prosperidade e segurança política por causa da fraqueza momentânea da Síria e da Assíria” (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018, p. 519).
Ou seja, era um tempo de contraste: Judá tentava manter alguma fidelidade formal, enquanto Israel colhia vitórias militares apesar da completa infidelidade espiritual.
O que o texto ensina sobre Amazias, rei de Judá? (2 Reis 14:1–22)
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“Ele fez o que o Senhor aprova, mas não como Davi, seu predecessor” (2 Rs 14.3). Essa frase resume Amazias. Um homem correto, mas incompleto. Obediente, mas não devoto como Davi. Esse mesmo tipo de avaliação aparece com outros reis em 2 Reis 12, quando o autor bíblico separa obediência formal de fidelidade profunda.
Quando se consolidou no poder, Amazias puniu os assassinos de seu pai, mas poupou os filhos — uma decisão que respeita Deuteronômio 24:16. Isso mostra senso de justiça e fidelidade à Lei.
Depois, ele enfrentou os edomitas no Vale do Sal e venceu. Segundo 2 Crônicas 25, essa vitória foi significativa, mas também marcou o início de sua queda. Por quê? Porque após derrotar Edom, ele trouxe ídolos pagãos para Jerusalém e os adorou (2 Cr 25.14). Foi uma traição silenciosa, como a de Salomão em seus últimos dias, como vimos em 1 Reis 11.
Movido por orgulho, Amazias desafiou Jeoás, rei de Israel: “Venha me enfrentar” (2 Rs 14.8). Mas Jeoás respondeu com uma parábola: “O espinheiro do Líbano enviou uma mensagem ao cedro do Líbano” (v. 9). Era um alerta: “você está se exaltando demais por uma vitória pequena”.
Amazias ignorou. E perdeu. Em Bete-Semes, foi derrotado, capturado e humilhado. Jeoás invadiu Jerusalém, destruiu parte do muro e saqueou o templo (v. 13-14). Esse episódio é um exemplo vívido de como o orgulho precede a queda — literalmente.
Constable observa que “Deus permitiu a derrota de Amazias como juízo, pois ele havia trazido ídolos edomitas e os adorado, desviando-se do Senhor” (CONSTABLE, 1985, p. 564).
Depois da derrota, Amazias ainda viveu 15 anos. Foi vítima de uma conspiração e morto em Láquis (v. 19-20). Seu filho Azarias (também chamado Uzias) assumiu o trono com apenas 16 anos, sendo citado novamente em 2 Reis 15.
A primeira ação de Azarias foi restaurar Elate (v. 22), importante cidade portuária. Isso aponta para uma tentativa de recuperar influência econômica e estratégia comercial.
Como foi o reinado de Jeroboão II? (2 Reis 14:23–29)
Jeroboão II foi o rei mais longevo do Reino do Norte e, militarmente, o mais bem-sucedido. Seu reinado trouxe de volta o território que Israel havia perdido para a Síria.
“Foi ele quem restabeleceu as fronteiras de Israel desde Lebo-Hamate até o mar da Arabá, conforme a palavra do Senhor” (2 Rs 14.25). Esse cumprimento profético é atribuído ao ministério do profeta Jonas, o mesmo que pregaria em Nínive, como lemos em Jonas 1.
Essa profecia, embora não registrada no livro de Jonas, revela que mesmo em tempos de apostasia, Deus ainda falava e agia por meio de seus servos.
Segundo o Comentário Histórico-Cultural, “o termo ‘Lebo-Hamate’ marca a fronteira norte do império israelita, enquanto o mar da Arabá refere-se ao Mar Morto, ao sul. A restauração dessas fronteiras foi possível devido ao enfraquecimento da Assíria e da Síria naquele período” (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018, p. 519).
Porém, espiritualmente, o texto é claro: Jeroboão II perpetuou os pecados de Jeroboão I (v. 24), promovendo idolatria, cultos nos altos e afastamento do Senhor.
Mesmo assim, Deus teve compaixão: “O Senhor viu a amargura com que todos em Israel estavam sofrendo” (v. 26). Ele não os destruiu, mas os libertou por meio de Jeroboão. A mesma graça surpreendente também aparece em Oséias 11, onde o coração de Deus se revira ao pensar em destruir Israel.
Essa misericórdia me ensina que Deus não age apenas com base na performance do líder, mas também por amor ao povo e por fidelidade à Sua aliança.
Quais profecias se cumprem em 2 Reis 14?
A primeira está ligada ao juízo sobre Amazias. Sua derrota diante de Israel cumpre a palavra do Senhor registrada em 2 Crônicas 25.20: “Deus decidiu entregá-lo nas mãos dos inimigos por causa da idolatria”.
Já Jeroboão II cumpre a profecia de Jonas, filho de Amitai (2 Rs 14.25). Embora o livro de Jonas não traga essa profecia territorial, o texto afirma que ele anunciou essa palavra — e ela se cumpriu com precisão.
Além disso, a preservação de Israel, mesmo após anos de idolatria, cumpre a promessa implícita de Deus de não apagar seu povo da face da terra (v. 27). Essa ideia ecoa em passagens como Romanos 11, onde Paulo explica que Deus não rejeitou Israel, mesmo após tantos fracassos.
Quais são as aplicações espirituais para hoje?
- Obediência parcial não agrada a Deus – Amazias fez o que era certo, mas não com integridade plena. Isso me ensina que Deus vê além das ações — Ele sonda os motivos (cf. Provérbios 21:2).
- O orgulho precede a ruína – Amazias se exaltou e provocou Israel. Isso levou à sua derrota. Como Provérbios 16.18 diz: “O orgulho vem antes da destruição”.
- Vitórias não substituem fidelidade – Amazias venceu uma batalha, mas perdeu a guerra espiritual. Como também vimos com Asa em 2 Crônicas 16.
- A compaixão de Deus vai além da nossa fidelidade – Mesmo com um rei ímpio, Deus teve misericórdia de Israel. Isso me lembra que Deus não desiste do Seu povo.
- As profecias de Deus se cumprem – As palavras anunciadas por Jonas se cumpriram. Isso nos encoraja a crer nas promessas de Apocalipse 22.
- A idolatria ainda é uma tentação presente – Assim como Amazias trouxe ídolos, hoje podemos colocar outras coisas no lugar de Deus: vaidade, segurança, status…
- Deus vê o sofrimento do Seu povo – Mesmo quando o povo estava longe d’Ele, o Senhor viu sua dor. Isso também é verdade hoje.
Conclusão
2 Reis 14 é um alerta e um consolo. Alerta contra o orgulho, a idolatria disfarçada e a obediência incompleta. Mas também é consolo: mesmo em meio à decadência, Deus ainda cuida, ainda fala e ainda cumpre Suas promessas.
A história de Amazias me lembra que uma boa intenção não sustenta uma vida inteira de fé. E o reinado de Jeroboão II mostra que a graça de Deus pode florescer mesmo nos desertos espirituais mais secos.
Esse capítulo me convida a olhar para o meu coração: onde está meu Jocteel? Onde está meu orgulho? Onde estão meus ídolos?
E, acima de tudo, ele me convida a confiar naquele que nunca falha — o Deus que vê, fala e salva.
Referências
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 564–566.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 519–520.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.