Apocalipse 4 marca uma mudança profunda na narrativa do livro. Até aqui, João descreveu Jesus andando entre as igrejas, revelando sua autoridade e cuidado pastoral. Mas agora, com uma nova visão, ele é transportado ao céu. João ouve uma voz como de trombeta dizendo: “Suba para cá” (Ap 4.1). Ele é chamado para ver não apenas o que acontece na terra, mas como tudo é governado a partir do céu.
Historicamente, esse texto foi escrito por volta de 95 d.C., durante o reinado do imperador Domiciano, uma época de perseguição severa contra os cristãos. João, exilado na ilha de Patmos, recebe visões que revelam que, apesar do caos aparente, Deus continua soberano.
Simon Kistemaker comenta que “essa visão do universo governado pelo trono precede a descrição simbólica das tribulações pelas quais a igreja deve passar” (KISTEMAKER, 2014, p. 248). Hernandes Dias Lopes reforça essa ideia: “Antes que a igreja veja os juízos sobre a terra, ela vê o trono no céu. A mensagem é clara: Deus está no controle” (LOPES, 2005, p. 147).
Esse é o pano de fundo de Apocalipse 4: perseguição na terra, mas autoridade no céu. O céu não está em silêncio. Ele governa.
O que João viu ao entrar no céu? (Apocalipse 4.1–3)
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“Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu e nele estava assentado alguém.” (Ap 4.2)
João é tomado pelo Espírito e vê o centro do universo: um trono. Mas, curiosamente, ele não descreve Deus em si, apenas sua glória. Ele usa imagens simbólicas: “aspecto semelhante a jaspe e sardônio”, e um “arco-íris, parecendo uma esmeralda” (v. 3).
Kistemaker explica que “a luz de Deus é comparada a pedras preciosas, porque sua glória é indescritível. A santidade e o juízo são retratados pela jaspe e pela cornalina” (KISTEMAKER, 2014, p. 251). Já o arco-íris verde, como esmeralda, relembra a aliança de Deus com Noé (Gn 9.13-16). Graça antes do juízo.
Esse detalhe me toca profundamente. Antes que João veja qualquer selo sendo aberto, qualquer trombeta sendo tocada, ele vê o trono — e um arco-íris. O juízo de Deus não cancela sua misericórdia. Pelo contrário, é cercado por ela.
Quem está ao redor do trono? (Apocalipse 4.4–6)
“Ao redor do trono havia outros vinte e quatro tronos, e assentados neles havia vinte e quatro anciãos.” (v. 4)
Os vinte e quatro anciãos aparecem sentados, vestidos de branco e com coroas de ouro. Para Kistemaker, isso indica que “os anciãos representam os santos redimidos — a igreja do Antigo e Novo Testamento — com honra, autoridade e pureza” (KISTEMAKER, 2014, p. 254).
Hernandes Dias Lopes concorda: “Esses vinte e quatro anciãos representam a igreja glorificada, unida, completa, reinando com Cristo no céu” (LOPES, 2005, p. 152). O número 24 pode simbolizar os 12 patriarcas e os 12 apóstolos. A igreja completa.
Ao redor do trono, também há relâmpagos, vozes e trovões (v. 5). Esses elementos remetem à presença de Deus no Sinai (Êx 19.16) e antecipam juízo.
Diante do trono, ardem sete lâmpadas — “os sete espíritos de Deus” (v. 5), símbolo da plenitude do Espírito Santo (compare com Apocalipse 1:4).
E há ainda “um mar de vidro, claro como cristal” (v. 6). Esse mar pode representar a santidade e a separação entre Deus e a criação, mas também a paz e a clareza da Sua soberania.
Eu gosto de imaginar essa cena como uma sala de comando celestial. Tudo está organizado. Tudo está sob autoridade. Nenhum caos entra ali.
Quem são os quatro seres viventes e o que eles fazem? (Apocalipse 4.6b–8)
João vê quatro seres viventes, cheios de olhos, cada um com uma forma diferente: leão, boi, homem e águia. Eles têm seis asas e proclamam continuamente:
“Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir.” (v. 8)
Kistemaker destaca que “esses seres representam a criação e os atributos de Deus: majestade, força, sabedoria e rapidez” (KISTEMAKER, 2014, p. 259). Eles são similares aos querubins de Ezequiel (Ez 1.5–10) e aos serafins de Isaías (Is 6.1–3).
Hernandes Dias Lopes observa que “esses quatro seres representam toda a criação louvando o Criador. O céu é um lugar de adoração contínua” (LOPES, 2005, p. 154).
O louvor incessante dos seres viventes me ensina que adoração não é uma pausa na vida. É a essência da vida. Eles existem para glorificar. E eu também.
Como o céu responde à adoração? (Apocalipse 4.9–11)
“Toda vez que os seres viventes dão glória… os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele que está assentado no trono.” (v. 9-10)
Essa é uma cena de resposta. O céu é cheio de movimento, mas não de pressa. Há reverência. Os anciãos se prostram, retiram suas coroas e dizem:
“Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas…” (v. 11)
Kistemaker comenta que “Deus é adorado não apenas por sua santidade, mas porque é o Criador de todas as coisas” (KISTEMAKER, 2014, p. 261). Hernandes diz: “Aqui não há menção ainda da redenção. O foco está na criação e na soberania do Criador” (LOPES, 2005, p. 155).
Essa cena me desafia. Quantas vezes eu adoro a Deus só pelo que Ele faz por mim? E quando foi a última vez que eu me prostrei simplesmente porque Ele é o Criador?
Como Apocalipse 4 se conecta com o restante da profecia?
Apocalipse 4 é a introdução à segunda grande seção do livro, que vai até Apocalipse 8:1. É o céu se preparando para revelar o juízo.
O capítulo termina com uma ênfase no Deus Criador. No capítulo seguinte, veremos o Cordeiro Redentor. Primeiro, a soberania. Depois, a salvação.
Essa estrutura é essencial. Kistemaker explica que “João é chamado ao céu não apenas para ver o futuro, mas para entender a história a partir do trono” (KISTEMAKER, 2014, p. 249). A história começa com Deus e termina com Deus.
Essa visão é fundamental para entender todo o livro do Apocalipse. É uma mensagem para uma igreja perseguida: o trono não está vazio.
Quais são as lições práticas de Apocalipse 4 para hoje?
- Deus está no trono, mesmo quando tudo parece fora de controle
Mesmo em tempos de perseguição, caos político ou medo, o céu não perdeu o comando. “Aquele que está assentado no trono” continua reinando. - A adoração é central no céu — e deve ser na terra também
A rotina do céu é adoração. Isso mostra o que deve ocupar nosso coração hoje. Adoração não é um momento; é um estilo de vida. - A graça de Deus sempre vem antes do juízo
O arco-íris vem antes dos trovões. Deus é justo, mas também misericordioso. Ele sempre oferece salvação antes de exercer juízo. - A igreja é chamada a reinar, não apenas a sobreviver
Os anciãos estão com coroas e tronos. Eles representam os santos que venceram. Isso me lembra que não fui chamado para andar derrotado, mas para reinar com Cristo (Ap 3.21). - Tudo começa e termina com Deus
O louvor final é: “Tu criaste todas as coisas”. Deus é o ponto de partida e o destino de todas as coisas. Viver para outro fim é perder o propósito.
Como viver à luz do trono de Deus?
Depois de ler Apocalipse 4, eu sou lembrado de algo essencial: o centro do universo não sou eu. Nem minha agenda, nem minha dor, nem meus sonhos. O centro é o trono. E o trono está ocupado.
Se o céu vive em torno do trono, por que eu viveria de outro jeito? Se os santos glorificados lançam suas coroas diante de Deus, como posso querer segurar as minhas? Se toda criação o adora, por que minha vida seria uma exceção?
O trono não é apenas um símbolo. É uma realidade. Uma verdade que sustenta a história. E que, quando compreendida, muda a forma como eu vivo cada dia.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento – Apocalipse. Tradução de Jonathan Hack, Markus Hediger e Mary Lane. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 241–262.
- LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: O Futuro Chegou, as Coisas que em Breve Devem Acontecer. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 146–156.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.