O capítulo 5 de Apocalipse continua a cena iniciada no capítulo anterior. João está diante do trono de Deus e agora vê um livro em forma de rolo, selado com sete selos, na mão direita de quem está sentado no trono. Esse livro representa o plano completo e soberano de Deus para a história da humanidade.
Hernandes Dias Lopes comenta que “não são os poderosos deste mundo que determinam os rumos da história. Não são os filósofos, nem os futurólogos. A história começa com Deus, está nas mãos de Deus e terminará sob o comando de Deus” (LOPES, 2005, p. 158).
Simon Kistemaker também observa que “a mão direita simboliza poder e autoridade, e o fato de o rolo estar escrito por dentro e por fora mostra a completude da mensagem. Ele estava totalmente selado, indicando que ninguém, por si mesmo, poderia revelá-la ou executá-la” (KISTEMAKER, 2014, p. 265).
O texto foi escrito no final do século I, em um contexto de perseguição contra os cristãos. João, exilado na ilha de Patmos, recebe essas visões como consolo e revelação para a igreja que sofria. A pergunta que pairava era: quem está no controle? A resposta vem do céu: Jesus, o Cordeiro, é digno.
1. Por que ninguém era digno de abrir o livro? (Apocalipse 5:1–4)
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“Então vi na mão direita daquele que está assentado no trono um livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com sete selos.” (v. 1)
Esse livro não podia ser aberto por qualquer criatura. Um anjo proclama em alta voz: “Quem é digno de romper os selos e de abrir o livro?” (v. 2). Mas a resposta é desoladora: “não havia ninguém, nem no céu nem na terra nem debaixo da terra, que pudesse abrir o livro, ou sequer olhar para ele” (v. 3).
João então chora. “Eu chorava muito” (v. 4). O pranto não era simples emoção, mas um grito pela ausência de esperança. Se o livro ficasse selado, a história não teria redenção.
Hernandes Dias Lopes escreve que “a crise de João é a crise da impotência de todos nós. A incapacidade de compreender ou resolver os dilemas da vida. Ele chorava porque via a história à deriva” (LOPES, 2005, p. 161).
Kistemaker destaca que “o verbo usado para ‘chorava’ está no tempo imperfeito, indicando que João soluçava continuamente, sentindo a urgência de uma resposta para a crise da humanidade” (KISTEMAKER, 2014, p. 271).
2. Quem é digno de abrir o livro? (Apocalipse 5:5–7)
“Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos.” (v. 5)
A resposta vem de um dos anciãos, representante da humanidade redimida. Ele diz: não chore, há um vencedor. O Leão da tribo de Judá é o mesmo Cordeiro que foi morto. Um título de majestade é seguido por uma imagem de sacrifício. O poder e a humildade se unem na figura de Jesus.
João olha e vê “um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono” (v. 6). Essa cena é central no Novo Testamento. O trono é ocupado por um Cordeiro que carrega em si as marcas da morte, mas que está vivo e em pé.
Kistemaker interpreta essa visão dizendo que “o Cordeiro carrega os sinais da crucificação, mas está de pé, glorificado e digno. Ele está no centro do trono, revelando que a autoridade final pertence a Ele” (KISTEMAKER, 2014, p. 274).
O versículo 7 diz: “Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele que estava assentado no trono”. A autoridade foi transferida. O domínio foi confiado ao Filho.
3. O que significa o louvor ao Cordeiro? (Apocalipse 5:8–14)
Ao tomar o livro, o Cordeiro é imediatamente adorado. “Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro” (v. 8). Eles entoam um novo cântico:
“Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (v. 9).
O cântico destaca o sacrifício de Jesus e seu resultado: a redenção universal. Ele não morreu por uma tribo apenas, mas por todos os povos. Seu sangue não apenas possibilitou a salvação, mas comprou efetivamente o povo de Deus.
Hernandes Dias Lopes afirma: “Cristo não morreu apenas para possibilitar a salvação. Ele morreu para salvar. Sua morte foi eficaz, substitutiva e redentora” (LOPES, 2005, p. 164).
O louvor cresce em intensidade. Primeiro os anciãos, depois milhões de anjos, depois toda a criação. “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor” (v. 12). É um coro universal que reconhece o senhorio de Cristo.
Kistemaker descreve esse clímax como “um crescendo glorioso de adoração que vai do trono até os confins da criação. Cada criatura existente reconhece que Jesus é o centro da história” (KISTEMAKER, 2014, p. 280).
4. Onde vemos o cumprimento profético?
O título “Leão da tribo de Judá” remete a Gênesis 49:9–10, onde Jacó profetiza que o cetro não se afastará de Judá. Já o termo “Raiz de Davi” conecta-se a Isaías 11:1 e 10, onde se anuncia um rei justo e sábio que reinará com justiça.
Ambas as profecias apontam para o Messias, que venceria não com espada, mas com sacrifício. Jesus cumpre ambas: Ele reina porque morreu. Ele é Rei porque se fez servo.
O Apocalipse repete o padrão dos evangelhos: morte seguida de glória. O Cordeiro vitorioso não é outro senão aquele que foi rejeitado, crucificado e ressuscitado. Isso ecoa a promessa de Apocalipse 1:18: “Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre!”
Além disso, a linguagem universal do louvor cumpre o que os profetas anunciaram sobre um reino eterno e global. Em Daniel 7:14, lemos que ao Filho do Homem foi dado domínio e glória sobre todos os povos e línguas. Apocalipse 5 é o cumprimento disso.
5. O que essa visão muda na minha vida?
Este capítulo me lembra que a história não está fora de controle. Ainda que pareça que o mal domina, o livro da história está nas mãos do Cordeiro. Isso me dá paz.
Também me ensina que dignidade não está ligada a força ou aparência, mas à obediência até a morte. Jesus é digno porque foi morto. Isso me desafia a ver valor no sofrimento.
Quando oro, estou falando com Aquele que recebeu o livro. Minhas orações não são palavras jogadas ao vento. Elas estão em taças de ouro diante do trono (v. 8). Isso me encoraja a orar com fé.
Além disso, ver que Jesus comprou pessoas de todas as nações me impulsiona à evangelização. O evangelho é para todos. A missão não é opcional, é a consequência lógica do louvor: se Ele comprou, precisamos anunciar.
Também aprendo que adoração é mais do que cantar. É reconhecer quem está no trono. É me render à autoridade do Cordeiro. É deixar que Ele guie a minha história.
Por fim, lembrar que fomos feitos reino e sacerdotes (v. 10) muda como vejo minha identidade. Não sou apenas alguém salvo, mas alguém chamado para representar Deus no mundo.
Conclusão
Apocalipse 5 é uma resposta à pergunta mais profunda do coração humano: quem pode dar sentido à história? A resposta não vem da terra. Nem dos anjos. Vem do céu. E tem um nome: Jesus, o Cordeiro.
O trono está ocupado. O livro está nas mãos certas. O sacrifício já foi feito. O louvor já começou. E nós, como igreja, somos chamados a unir nossas vozes a esse coro eterno.
Que, diante dos desafios do presente, você se lembre: há um Cordeiro em pé no trono. Ele venceu. E porque Ele venceu, você também pode vencer.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
- LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: O Futuro Chegou, as Coisas que em Breve Devem Acontecer. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2022