Atos 1 marca um dos momentos mais importantes da história bíblica. É a ponte entre o ministério terreno de Jesus e o início da missão da igreja. Ao ler esse texto, vejo como Deus, em sua soberania, prepara cada detalhe para que o Evangelho alcance o mundo. Aqui, o Cristo ressurreto instrui seus discípulos, promete o Espírito Santo e os envia como testemunhas, exatamente como Ele havia antecipado em Lucas 24.
Qual é o contexto histórico e teológico de Atos 1?
O livro de Atos foi escrito por Lucas, o mesmo autor do terceiro Evangelho. Como lembra Kistemaker (2016), tanto o Evangelho quanto Atos formam uma obra em duas partes, dedicada a Teófilo. Possivelmente, Teófilo era um gentio de destaque social, convertido ou interessado na fé cristã.
Craig Keener (2017) explica que, na Antiguidade, era comum o autor de uma obra em dois volumes iniciar o segundo livro recapitulando o primeiro. É exatamente isso que Lucas faz aqui, ao se referir aos acontecimentos descritos em Lucas 1 e no restante do seu Evangelho.
Historicamente, o capítulo ocorre logo após a ressurreição de Jesus e antes do Pentecostes, por volta do ano 30 d.C. Jerusalém está sob domínio romano e, entre os judeus, há grande expectativa pela restauração de Israel.
Teologicamente, Atos 1 revela o início do cumprimento das promessas do Antigo Testamento sobre o Reino de Deus, o derramamento do Espírito e a missão global da igreja, conforme já anunciado por Jesus em Mateus 28.18-20.
Como o texto de Atos 1 se desenvolve?
O capítulo se divide em quatro momentos que mostram como Deus prepara a igreja para a missão.
1. O que aprendemos com a introdução e as instruções de Jesus? (Atos 1.1-5)
Lucas começa relembrando:
“Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar” (Atos 1.1).
Isso me chama atenção. O verbo começou revela que a obra de Jesus continua. Ela não terminou com a ascensão, mas segue por meio da igreja, como veremos ao longo de Atos e também já vimos em Lucas 4, quando Jesus iniciou seu ministério proclamando o Reino.
Nos versículos seguintes, Jesus dá instruções por meio do Espírito Santo (Atos 1.2). Kistemaker (2016) destaca que o Espírito, que guiou o ministério de Cristo, agora capacitará os discípulos para a missão.
O versículo 3 afirma que Jesus apareceu por 40 dias aos discípulos, dando provas de sua ressurreição e falando do Reino de Deus. Esse período reforça a fé dos discípulos e prepara o caminho para o que virá.
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Por fim, Ele ordena:
“Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual lhes falei. Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” (Atos 1.4-5).
Aqui, vejo o cuidado de Deus. Os discípulos não deveriam agir no impulso, mas aguardar o poder do alto, como prometido em João 14.16-17. Keener (2017) lembra que esse batismo com o Espírito estava ligado às expectativas proféticas da restauração de Israel e à capacitação para o testemunho.
2. Qual é o significado da pergunta dos discípulos? (Atos 1.6-8)
Mesmo após tudo o que viveram, os discípulos ainda carregavam expectativas políticas:
“Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?” (Atos 1.6).
Muitos veem essa pergunta como ingênua, mas ao considerar o contexto, percebo que ela fazia sentido. No Antigo Testamento, a vinda do Espírito Santo estava associada à restauração do povo, como em Ezequiel 36.25-28.
Mas Jesus responde, ampliando a visão deles:
“Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas…” (Atos 1.7-8).
Essa resposta fala comigo. Em vez de perder tempo com curiosidades sobre o futuro, Jesus nos chama para o compromisso no presente. O poder do Espírito não é para especulações, mas para testemunhar — algo que se conecta com a Grande Comissão em Mateus 28.
Keener (2017) explica que as expressões Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra formam o esboço geográfico e teológico do livro. O Evangelho se expande progressivamente, culminando na chegada até Roma e simbolicamente aos confins do mundo.
3. O que significa a ascensão de Jesus? (Atos 1.9-11)
Depois das instruções, o texto relata:
“Foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles” (Atos 1.9).
Kistemaker (2016) explica que a nuvem simboliza a glória divina, como vemos em Êxodo 40.34-35 e Daniel 7.13. A ascensão não foi apenas um desaparecimento, mas a confirmação visível da exaltação de Cristo.
Enquanto os discípulos olhavam para o céu, dois anjos aparecem e dizem:
“Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir” (Atos 1.11).
Essa promessa renova minha esperança. Assim como Jesus ascendeu, Ele voltará, como já havia dito em Lucas 21.27.
4. Como a igreja se prepara em oração e unidade? (Atos 1.12-26)
Após a ascensão, os discípulos voltam para Jerusalém, onde lemos:
“Todos eles se reuniam sempre em oração, com as mulheres, inclusive Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (Atos 1.14).
Essa imagem me toca. Vejo aqui a importância da oração e da unidade, um tema que aparece novamente em Atos 2.42, logo após o Pentecostes.
Pedro então lidera o grupo e relembra:
“Era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse por boca de Davi a respeito de Judas” (Atos 1.16).
Kistemaker (2016) ressalta que Pedro não vê o fracasso de Judas como algo fora do plano de Deus, mas como cumprimento das Escrituras, conforme Salmo 69.25 e Salmo 109.8.
Eles então selecionam dois candidatos e, após oração, Matias é escolhido. Keener (2017) explica que essa escolha mantém o círculo dos 12, representando as 12 tribos de Israel e apontando para o novo povo de Deus.
Que conexões proféticas encontramos em Atos 1?
Atos 1 ecoa as promessas do Antigo Testamento:
- O batismo com o Espírito Santo cumpre as profecias de Joel 2.28-29.
- A ascensão de Jesus cumpre o quadro profético de Daniel 7.13.
- A escolha de Matias e a preservação dos 12 apóstolos apontam para o novo Israel, reunido em Cristo.
- A promessa da volta de Jesus se conecta a textos como Zacarias 14.4 e Apocalipse 1.7, que falam de seu retorno visível e glorioso.
Essas conexões fortalecem minha fé. Vejo que Deus conduz cada detalhe da história conforme o plano revelado nas Escrituras.
O que Atos 1 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo traz lições práticas e profundas:
- Deus conduz a história, mesmo quando não entendo os detalhes. A ascensão e o cumprimento das promessas me lembram disso.
- O poder vem do Espírito, e não da minha força. Preciso buscar essa capacitação diariamente.
- A missão é global. O Evangelho é para todos, e sou chamado a participar ativamente dela.
- A igreja precisa de oração e unidade, como modelo de preparo para qualquer avanço.
- Jesus voltará, e isso me motiva a viver com esperança e santidade.
- As Escrituras são confiáveis, pois cada detalhe prometido se cumpre.
Como Atos 1 me conecta ao restante das Escrituras?
Atos 1 me mostra como toda a Bíblia está conectada:
- A missão global cumpre a promessa a Abraão de abençoar as nações (Gênesis 12.3).
- A exaltação de Cristo ecoa o Salmo 110.1.
- O derramamento do Espírito cumpre Joel 2.
- A promessa da volta de Jesus aponta para o desfecho glorioso de Apocalipse 21.
Percebo que Deus está reunindo um povo, capacitando-o com o Espírito e enviando-o ao mundo. Atos 1 é o início dessa grande missão, da qual, pela graça, também faço parte.
Referências
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- KISTEMAKER, Simon. Atos. Tradução: Ézia Mullis e Neuza Batista da Silva. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2016.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.