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Gênesis 13 Estudo: O que a escolha de Ló ensina?

Diego Nascimento
Escrito por Diego Nascimento

Gênesis 13 é um texto profundamente revelador sobre caráter, fé e escolhas. Ao reler esse capítulo, fico impressionado com a maneira como as Escrituras expõem as consequências das decisões humanas e a fidelidade de Deus em meio aos conflitos. Este não é apenas um relato de separação entre parentes, mas uma poderosa lição sobre confiança em Deus, desprendimento e o preço de escolher pelas aparências.

Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 13?

O capítulo 13 de Gênesis faz parte do ciclo das narrativas patriarcais, que acompanham a trajetória de Abrão (mais tarde chamado Abraão) e sua jornada de fé. Segundo estudiosos como Walton, Matthews e Chavalas (2018), o pano de fundo dessa história dialoga com o contexto social e cultural do antigo Oriente Próximo, especialmente o estilo de vida nômade, as tensões por recursos e as alianças familiares.

Abrão havia acabado de sair do Egito, onde enfrentou sua primeira grande crise de fé (Gn 12.10-20). Ele desceu ao Egito devido à fome na terra e, temendo pela sua vida, mentiu sobre Sarai, sua esposa. Apesar do erro, Deus o protegeu e, como observam Waltke e Fredericks (2010), Abrão saiu do Egito com grandes riquezas, uma evidência da fidelidade divina, mesmo diante da fraqueza humana.

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Geograficamente, o texto menciona o Neguebe, o sul árido de Canaã, e o retorno de Abrão à região de Betel e Ai. Essa trajetória reflete o padrão nômade dos pastores da época, que, como explicam Walton, Matthews e Chavalas (2018), precisavam se deslocar em busca de água e pastagem, principalmente nas estações secas.

Teologicamente, Gênesis 13 destaca temas centrais: fé versus ambição, a generosidade como fruto da confiança em Deus e a reafirmação das promessas divinas. O contraste entre Abrão e Ló não é apenas geográfico, mas espiritual. Enquanto Abrão amadurece em sua confiança, Ló se deixa guiar pelas aparências, uma decisão cujas consequências veremos em capítulos posteriores.

Como o texto de Gênesis 13 se desenvolve? (Gênesis 13.1-18)

O capítulo se divide de maneira clara em três cenas: o retorno de Abrão à terra (v. 1-4), o conflito entre os pastores e a separação de Ló (v. 5-13) e a reafirmação da promessa a Abrão (v. 14-18).

O retorno ao altar e à comunhão com Deus (Gênesis 13.1-4)

O texto começa com Abrão deixando o Egito e voltando ao Neguebe:

“Saiu, pois, Abrão do Egito e foi para o Neguebe, com sua mulher e com tudo o que possuía, e Ló foi com ele” (Gênesis 13.1).

Abrão agora é um homem enriquecido, mas, como destaca Waltke (2010), o texto sugere um contraste com sua situação anterior no Egito, onde havia fraquejado na fé. Ao retornar a Betel, Abrão também retorna espiritualmente ao lugar onde, pela primeira vez, invocou o nome do Senhor (v. 4). Isso demonstra um recomeço, um voltar à fé simples e confiante.

Aprendo aqui que mesmo após falhas, Deus nos chama de volta ao altar, ao lugar de dependência e adoração.

O conflito e a escolha reveladora de Ló (Gênesis 13.5-13)

A prosperidade de Abrão e Ló trouxe um desafio:

“E não podiam morar os dois juntos na mesma região, porque possuíam tantos bens que a terra não podia sustentá-los” (Gênesis 13.6).

Essa é uma ironia bíblica clássica: a bênção material gerando tensão. Walton, Matthews e Chavalas (2018) explicam que disputas por pasto e água eram comuns entre pastores na região, o que contextualiza o conflito.

Abrão, com humildade e generosidade, propõe a separação:

“Não haja desavença entre mim e você, ou entre os seus pastores e os meus; afinal somos irmãos!” (Gênesis 13.8).

Ao ler isso, admiro o desprendimento de Abrão. Ele poderia, como líder e tio, impor sua vontade. Mas sua confiança em Deus o capacita a abrir mão dos direitos em favor da paz.

Ló, por outro lado, escolhe pela aparência:

“Olhou então Ló e viu todo o vale do Jordão, todo ele bem irrigado, até Zoar; era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito” (Gênesis 13.10).

Aqui, Ló repete o erro de Abrão no Egito, fascinado pelas semelhanças externas com o paraíso ou com o Egito, sem discernir o perigo espiritual. O texto destaca que Sodoma, para onde Ló se dirige, era habitada por homens extremamente perversos (v. 13).

Essa cena me faz refletir sobre quantas vezes, na vida, fazemos escolhas apenas pelo que os olhos veem, sem considerar as consequências espirituais e morais. Ló, ao priorizar a vantagem imediata, caminha para um futuro desastroso.

A reafirmação da promessa e o altar em Hebrom (Gênesis 13.14-18)

Após a separação, Deus fala novamente com Abrão:

“De onde você está, olhe para o Norte, para o Sul, para o Leste e para o Oeste: toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre” (Gênesis 13.14-15).

Como explicam Waltke e Fredericks (2010), esse olhar panorâmico tem valor legal no contexto antigo. Era como uma declaração formal de posse. Deus reafirma a Abrão a promessa da terra e de uma descendência numerosa como o pó da terra.

Em resposta, Abrão muda-se para Hebrom e edifica um altar ao Senhor (v. 18). Hebrom, como destacam Walton, Matthews e Chavalas (2018), era um lugar estratégico, fértil e religiosamente significativo, que mais tarde se tornaria um centro político e espiritual importante para Israel.

O altar em Hebrom representa o compromisso renovado de Abrão com Deus, sua fé fortalecida e sua convicção de que o Senhor cumprirá o que prometeu.

Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 13?

Embora Gênesis 13 não contenha uma profecia explícita, ele se conecta ao plano redentivo das Escrituras de várias formas:

  • A promessa da terra a Abrão ecoa por toda a Bíblia, culminando na posse de Canaã e, espiritualmente, apontando para a Nova Jerusalém descrita em Apocalipse 21.
  • A descendência numerosa, como o pó da terra (v. 16), se cumpre não apenas fisicamente, mas também espiritualmente, naqueles que são filhos de Abraão pela fé, conforme Paulo ensina em Gálatas 3.6-9.
  • O contraste entre a escolha de Abrão pela fé e de Ló pela aparência prefigura o contínuo chamado bíblico para vivermos pela fé, não pela vista, como destaca 2 Coríntios 5.7.
  • A figura de Abrão, que renuncia seus direitos e é exaltado por Deus, aponta para Cristo, que, ao humilhar-se, recebeu o nome que está acima de todo nome (Filipenses 2.5-11).

Gênesis 13, portanto, é mais do que um relato histórico; é um convite a confiarmos em Deus, sabendo que Ele honra aqueles que O buscam com integridade.

O que Gênesis 13 me ensina para a vida hoje?

Ao ler esse capítulo, sou desafiado a repensar minhas escolhas. Quantas vezes, assim como Ló, me deixo levar pelo que os olhos veem, ignorando os princípios espirituais? Gênesis 13 me mostra que aparência de prosperidade pode esconder caminhos perigosos.

Aprendo também que abrir mão de direitos, quando guiado pela fé, não é fraqueza, mas sabedoria. Abrão preferiu a paz ao orgulho. Ele sabia que, com Deus, perder terreno humano é ganhar território espiritual.

Além disso, o retorno de Abrão ao altar me lembra da importância de recomeçar. Mesmo quando falho, Deus me chama de volta à comunhão, à oração e à confiança. Não importa onde errei, sempre posso voltar ao “lugar do altar”.

E por fim, vejo que Deus honra aqueles que esperam nEle. Abrão não lutou pela terra, mas recebeu tudo das mãos do Senhor. Quando confio em Deus, posso descansar, sabendo que Ele cumpre Suas promessas.

Como Gênesis 13 me conecta ao restante das Escrituras?

Este capítulo se encaixa perfeitamente no grande plano da Bíblia:

  • A promessa a Abrão se desenvolve em Gênesis 15 e encontra eco em toda a narrativa bíblica.
  • A separação de Ló prepara o cenário para o juízo sobre Sodoma em Gênesis 19 e para o livramento que Deus concede a Ló.
  • A escolha de Abrão pela fé é mencionada no Novo Testamento como modelo para nós (Hebreus 11.8-10).
  • O altar em Hebrom aponta para a centralidade da adoração na vida do povo de Deus, um tema recorrente em toda a Escritura.
  • A descendência de Abrão, tanto física quanto espiritual, culmina em Cristo, o verdadeiro herdeiro das promessas.

Gênesis 13, portanto, não é um episódio isolado, mas parte do fio contínuo da redenção, que se estende desde Abraão até a consumação em Cristo e na Nova Jerusalém.


Referências

  • WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
  • WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
  • Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.
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