Gênesis 50 encerra o primeiro livro das Escrituras com uma mensagem profunda de esperança, providência e fidelidade divina. Ao ler este capítulo, percebo como Deus permanece conduzindo a história, mesmo quando o cenário é marcado pela morte e pelo luto. A trajetória de Jacó e José não termina aqui; pelo contrário, ela aponta diretamente para o futuro glorioso que Deus preparava para o Seu povo.
Qual é o contexto histórico e teológico de Gênesis 50?
O livro de Gênesis foi escrito por Moisés, muito provavelmente durante o período do êxodo ou logo depois, entre os séculos XV e XIII a.C., segundo os estudiosos mais conservadores. Este capítulo final não é apenas o encerramento de uma história familiar, mas a transição clara para a formação da nação de Israel e para o cumprimento das promessas divinas.
O pano de fundo deste capítulo é a presença dos hebreus no Egito. Após José ter sido elevado a governador, sua família se estabelece na terra de Gósen (ver Gênesis 47), em segurança e prosperidade. Contudo, o texto deixa claro que o Egito é apenas uma morada temporária; a terra prometida a Abraão, Isaque e Jacó continua sendo o destino final do povo.
Waltke e Fredericks (2010) observam que a morte de Jacó e depois a de José encerram o ciclo patriarcal, mas reafirmam os grandes temas do livro: a terra prometida, a fidelidade de Deus e a continuidade da aliança, mesmo longe de Canaã.
Além disso, como explicam Walton, Matthews e Chavalas (2018), o embalsamamento, o luto e os costumes egípcios presentes no texto mostram como a família de Jacó estava imersa na cultura do Egito, mas sem perder sua identidade como povo da promessa.
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Como o texto de Gênesis 50 se desenvolve? (Gênesis 50.1-26)
O luto e o sepultamento de Jacó (Gênesis 50.1-14)
O capítulo começa com José expressando seu luto de forma intensa:
“José atirou-se sobre seu pai, chorou sobre ele e o beijou” (Gênesis 50.1).
Essa cena revela o afeto e o respeito de José, e me lembra que, mesmo os grandes líderes espirituais, como Jacó e José, enfrentaram as dores da separação.
José ordena o embalsamamento do corpo (v. 2), uma prática típica do Egito. Walton, Matthews e Chavalas (2018) explicam que esse processo era elaborado, envolvia sacerdotes especializados e tinha o propósito de preservar o corpo como repositório da alma, segundo a crença egípcia. Para os israelitas, porém, o embalsamamento aqui tem um valor prático: preservar o corpo até o sepultamento em Canaã.
O luto dura setenta dias (v. 3), um período que, segundo Walton (2018), demonstra a honra conferida a Jacó, digna de um líder ou autoridade egípcia.
Após o luto, José pede permissão ao faraó para sepultar seu pai em Canaã, conforme este o havia feito jurar (v. 4-5). O faraó concede o pedido (v. 6), reconhecendo a importância de Jacó e, ao mesmo tempo, reforçando o prestígio de José no Egito.
A comitiva que acompanha José é grandiosa: autoridades egípcias, familiares, conselheiros e soldados (v. 7-9). Essa cena destaca a magnitude da ocasião e o quanto o sepultamento de Jacó tinha relevância tanto para os egípcios quanto para os hebreus.
O cortejo segue pela Transjordânia até a Eira de Atade, onde realizam sete dias de pranto (v. 10). Segundo Walton, Matthews e Chavalas (2018), a escolha desse trajeto, aparentemente mais longa, tinha significado cerimonial, e o luto solene reforça o status de Jacó como patriarca.
O local recebe o nome de Abel-Mizraim, um jogo de palavras entre abel (córrego) e ebel (luto), tornando-se um memorial perene à liderança de Jacó (v. 11).
Os filhos de Jacó o sepultam na caverna de Macpela (v. 13), o mesmo local onde Abraão e Sara foram enterrados (ver Gênesis 23). Isso me lembra como Deus estava cumprindo a promessa de dar a terra, mesmo que de forma progressiva.
O medo dos irmãos e o perdão de José (Gênesis 50.15-21)
Após o sepultamento, o velho medo dos irmãos de José ressurge:
“E se José guardar rancor contra nós e resolver retribuir todo o mal que lhe causamos?” (Gênesis 50.15).
Eles enviam um recado pedindo perdão e, em seguida, se prostram diante dele, cumprindo novamente o sonho profético de José (ver Gênesis 37).
José responde com graça e maturidade:
“Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos” (Gênesis 50.20).
Waltke e Fredericks (2010) destacam que essa frase resume o tema central de Gênesis: Deus transforma o mal humano em instrumento de redenção. Assim como em Romanos 8.28, vemos que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”.
José reafirma seu compromisso de sustentar seus irmãos e seus filhos (v. 21). Isso me ensina que o verdadeiro perdão não fica apenas nas palavras, mas se traduz em atitudes concretas de cuidado e restauração.
Os últimos anos e a esperança de José (Gênesis 50.22-26)
José permanece no Egito, vê três gerações de sua descendência e adota os filhos de Maquir, de Manassés (v. 22-23). A longevidade de José, 110 anos, é vista como sinal de bênção, conforme a tradição egípcia (WALTON; MATTHEWS; CHAVALAS, 2018).
Antes de morrer, José faz um pedido carregado de esperança:
“Deus certamente virá em auxílio de vocês e os tirará desta terra, levando-os para a terra que prometeu com juramento a Abraão, a Isaque e a Jacó” (Gênesis 50.24).
Este versículo conecta diretamente Gênesis ao Êxodo 1, preparando o leitor para a libertação do povo.
José pede que, quando isso acontecer, seus ossos sejam levados de volta (v. 25). Esse pedido é cumprido em Êxodo 13.19, e os ossos de José são finalmente sepultados em Siquém (ver Josué 24.32).
Como explica Waltke (2010), José é colocado num sarcófago, prática egípcia, mas seu coração e sua esperança pertenciam à promessa de Deus.
Que conexões proféticas encontramos em Gênesis 50?
Este capítulo ecoa as grandes promessas e profecias das Escrituras:
- O transporte dos ossos de José prefigura o Êxodo, a libertação do povo de Deus.
- A expectativa da intervenção divina aponta para o nascimento do Messias, como vemos em Lucas 1.68.
- O perdão de José antecipa o perdão oferecido por Jesus, que transforma o mal em bem.
- A promessa da terra aos patriarcas conecta este final ao propósito de Deus em conduzir o povo à Canaã.
- A referência à Arca, tanto como sarcófago quanto como símbolo da aliança, encontra pleno cumprimento em Cristo, aquele que guardou perfeitamente a lei e venceu a morte.
O que Gênesis 50 me ensina para a vida hoje?
Ao refletir sobre este capítulo, aprendo que a fidelidade de Deus permanece, mesmo diante da morte e do luto. As promessas de Deus não morrem com seus servos.
O perdão de José me ensina a liberar o passado e confiar que Deus pode transformar o mal que sofri em instrumentos de redenção.
O pedido de José sobre seus ossos me lembra de viver com os olhos na eternidade. Assim como ele não se acomodou no Egito, preciso lembrar que meu lar definitivo não está neste mundo, mas na promessa do Senhor, como vemos em Apocalipse 21.
Também sou desafiado a confiar no tempo de Deus. A promessa feita a Abraão não se cumpriu de forma imediata, mas Deus não esqueceu. Quando me sinto impaciente ou desanimado, preciso lembrar que Deus certamente virá em auxílio, como disse José.
Como Gênesis 50 me conecta ao restante das Escrituras?
Este capítulo me mostra que a Bíblia é uma história contínua de redenção:
- A morte de José prepara o caminho para o Êxodo.
- O perdão de José antecipa a graça revelada em Romanos 5.
- A promessa da terra se concretiza sob a liderança de Josué.
- O transporte dos ossos de José aponta para a esperança da ressurreição, como em 1 Coríntios 15.
- A aliança com os patriarcas culmina em Cristo, o descendente prometido, conforme Gálatas 3.
Gênesis 50 não é o fim da história. É o lembrete de que o Deus da aliança continua escrevendo sua história de amor e salvação, que se cumpre plenamente em Cristo e será consumada na eternidade.
Referências
- WALTKE, Bruce K.; FREDRICKS, Cathi J. Gênesis. Organização: Cláudio Antônio Batista Marra. Tradução: Valter Graciano Martins. 1. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. Tradução: Noemi Valéria Altoé da Silva. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.