Marcos 15 é, sem dúvida, um dos capítulos mais impactantes do Evangelho. Aqui, acompanho os últimos momentos da vida de Jesus antes da crucificação, e sou confrontado com o sofrimento, a injustiça e, ao mesmo tempo, com o plano soberano de Deus sendo cumprido. Cada detalhe deste texto me leva a refletir sobre o amor de Cristo e o preço da minha redenção.
Qual é o contexto histórico e teológico de Marcos 15?
O Evangelho de Marcos foi escrito, provavelmente, entre 60 e 70 d.C., para cristãos gentios, especialmente em Roma, como destaca Keener (2017). Esses primeiros leitores estavam em meio a perseguições, sofrendo por causa da fé. Nesse cenário, Marcos apresenta Jesus como o Servo Sofredor, cuja glória passa pela cruz, revelando o verdadeiro caminho do Reino de Deus.
O capítulo 15 descreve o clímax da rejeição de Jesus. As autoridades religiosas já o haviam condenado, e agora Ele é entregue ao poder romano, representado por Pilatos. A crucificação, prática cruel dos romanos, tinha o objetivo de humilhar e aterrorizar. Hendriksen (2014) lembra que Marcos, ao relatar a paixão de Cristo, faz questão de destacar não só o sofrimento físico, mas o abandono, o escárnio e o desprezo enfrentados por Jesus, cumprindo as antigas profecias messiânicas, como Isaías 53.
Teologicamente, esse capítulo revela o contraste entre o poder aparente dos homens e o plano soberano de Deus. Jesus, aparentemente derrotado, é na verdade o Rei vitorioso, que conquista a redenção através do sofrimento.
Como o texto de Marcos 15 se desenvolve?
O capítulo se organiza em quatro grandes momentos que revelam o sofrimento e a vitória de Cristo.
Do Getsêmani | Mateus | Marcos | Lucas | João |
---|---|---|---|---|
1. A Anás | 18.13 | |||
2. A Caifás | 26.57 | 14.53 | 22.54 | 18.24 |
3. A Pilatos | 27.2 | 15.1 | 23.1 | 18.28 |
4. A Herodes | 23.7 | |||
5. A Pilatos | 23.11 | |||
6. Para dentro do pretório | 27.27 | 15.16 | 18.33 | |
7. Para fora diante da multidão | 19.5 | |||
8. Para dentro do pretório | 19.9 | |||
9. Para fora diante da multidão | 19.13 | |||
10. Ao Calvário | 27.31 | 15.20 | 23.26 | 19.17 |
1. Por que Jesus foi entregue a Pilatos? (Marcos 15.1-15)
Os líderes religiosos, buscando condenar Jesus à morte, levam-no a Pilatos, o governador romano. Apenas ele tinha autoridade legal para aplicar a pena capital.
Pilatos questiona Jesus: “Você é o rei dos judeus?” (15.2). A resposta de Jesus, “Tu o dizes”, revela sua identidade messiânica, mas de forma sutil, conforme Keener (2017) explica. Jesus não nega ser o Rei, mas seu reinado não se limita às expectativas políticas da época.
Apesar de Pilatos perceber a inocência de Jesus (15.10,14), a pressão popular, manipulada pelos líderes, o faz ceder. Escolhem Barrabás, um criminoso, e pedem a crucificação de Cristo. Hendriksen (2014) destaca que, nesse momento, vemos o cumprimento do padrão de rejeição ao Messias, já anunciado pelos profetas, como em Salmo 118.22: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.”
Esse trecho me mostra o quanto o coração humano pode ser manipulável e injusto. Também me ensina que, muitas vezes, as aparências enganam: Jesus parece fraco, mas está caminhando para o maior ato de vitória da história.
2. Como Jesus foi humilhado antes da cruz? (Marcos 15.16-20)
Os soldados levam Jesus ao pretório, onde Ele é alvo de escárnio. Vestem-no com um manto púrpura, colocam-lhe uma coroa de espinhos e zombam: “Salve, rei dos judeus!” (15.18).
A cena expõe a ironia: os soldados, sem perceber, proclamam a verdade. Jesus é, de fato, o Rei, mas o seu trono passa pela cruz. Keener (2017) explica que o uso do manto e da coroa fazia parte das práticas romanas de zombaria aos condenados, principalmente aqueles acusados de rebeldia política.
O sofrimento físico de Jesus, as agressões, o escárnio e a zombaria, tudo isso cumpre o que Isaías profetizou: “Como um cordeiro foi levado ao matadouro” (Isaías 53.7).
Ao meditar nessa cena, percebo como o Salvador se humilhou por amor a mim. Sua dignidade foi negada, sua glória escondida, mas Ele suportou tudo em silêncio, para que eu pudesse ser reconciliado com Deus.
3. O que aconteceu durante a crucificação? (Marcos 15.21-41)
A caminho do Gólgota, Simão de Cirene é forçado a carregar a cruz de Jesus (15.21). Hendriksen (2014) destaca que Marcos menciona Alexandre e Rufo, filhos de Simão, conhecidos dos cristãos de Roma (cf. Romanos 16.13), o que indica o impacto daquele momento na vida dessa família.
No Calvário, Jesus é crucificado entre dois criminosos (15.27), em cumprimento à profecia de Isaías 53.12: “Ele foi contado entre os transgressores.” Suas roupas são divididas (15.24), como anunciado em Salmo 22.18.
A zombaria continua: os passantes, os líderes religiosos e até os criminosos o insultam. Dizem: “Desça da cruz para que vejamos e creiamos” (15.32). Não compreendem que o maior sinal de amor e poder está justamente no fato de Jesus permanecer na cruz.
Do meio-dia às três da tarde, trevas cobrem a terra (15.33). Keener (2017) ressalta que, na tradição judaica, trevas simbolizam o juízo divino. Aqui, apontam para o peso do pecado sendo lançado sobre Cristo.
Às três da tarde, Jesus brada: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (15.34), citando Salmo 22.1. Hendriksen (2014) lembra que esse brado revela a profundidade do sofrimento espiritual do Salvador, que, em seu corpo e alma, carrega o castigo do pecado.
Após um último brado, Jesus morre. O véu do templo se rasga (15.38), indicando que o acesso a Deus está agora aberto. O centurião, impressionado, reconhece: “Realmente este homem era o Filho de Deus!” (15.39).
Olhando para essa cena, meu coração se enche de gratidão. Cada detalhe mostra o preço pago pela minha salvação. Cristo foi rejeitado, humilhado e crucificado, mas a sua morte abriu o caminho para que eu me aproxime de Deus.
4. Como Jesus foi sepultado? (Marcos 15.42-47)
José de Arimateia, membro do Sinédrio e discípulo de Jesus, pede o corpo do Mestre a Pilatos. Com coragem, ele providencia um sepultamento digno, cumprindo Isaías 53.9: “Designaram-lhe um túmulo com os ímpios, mas com o rico esteve na sua morte.”
Mulheres fiéis, como Maria Madalena e Maria, mãe de José, acompanham o sepultamento (15.47), garantindo que o local seja conhecido, o que será fundamental no relato da ressurreição.
Esse trecho me ensina que, mesmo em tempos difíceis, Deus levanta pessoas corajosas e fiéis. José e as mulheres são exemplo de devoção, quando muitos haviam se dispersado.
Que conexões proféticas encontramos em Marcos 15?
Marcos 15 está profundamente ligado ao cumprimento das Escrituras:
- A rejeição e o sofrimento de Jesus cumprem Isaías 53.
- A divisão das roupas de Jesus cumpre Salmo 22.18.
- A crucificação entre criminosos cumpre Isaías 53.12.
- O brado de Jesus ecoa Salmo 22.1.
- O sepultamento no túmulo de um rico cumpre Isaías 53.9.
Além disso, o rasgar do véu aponta para o cumprimento do propósito redentor de Deus, anunciado ao longo de toda a Escritura, de restaurar o relacionamento entre o Criador e a humanidade, como vemos em Hebreus 10.19-22.
O que Marcos 15 me ensina para a vida hoje?
Este capítulo me confronta e me consola:
- Jesus, mesmo inocente, foi rejeitado e sofreu, ensinando-me que o caminho da fé nem sempre será fácil.
- O silêncio de Cristo diante das acusações me desafia a confiar em Deus, mesmo quando não compreendo as injustiças ao meu redor.
- Seu amor incondicional se revela ao suportar o escárnio e a cruz, em meu lugar.
- O rasgar do véu me lembra que tenho livre acesso a Deus, não por méritos próprios, mas pela graça.
- O exemplo de José de Arimateia e das mulheres fiéis me inspira a ter coragem e devoção, mesmo em tempos de crise.
Ler Marcos 15 me faz valorizar ainda mais o sacrifício de Jesus. Cada dor, cada humilhação, cada palavra, tudo foi parte do plano de Deus para me salvar.
Como Marcos 15 me conecta ao restante das Escrituras?
Este capítulo é a chave que conecta o Antigo e o Novo Testamento:
- As profecias de Isaías 53, Salmo 22, Salmo 118.22 e outras se cumprem de forma literal.
- A humilhação e a rejeição de Cristo se alinham à experiência dos profetas perseguidos.
- O sacrifício de Jesus abre o caminho para o cumprimento das promessas de redenção, descritas em Hebreus 10.
- O sepultamento e a preparação para a ressurreição apontam para a vitória definitiva, revelada em Apocalipse 21.4, onde não haverá mais dor, nem morte.
Em Marcos 15, vejo o Filho de Deus entregando sua vida para que eu tenha vida. A cruz não é o fim, mas o caminho para a glória.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Marcos. Tradução: Lucas Ribeiro. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.