Marcos 3 é um capítulo intenso e revelador. Nele, eu vejo Jesus desafiando estruturas, revelando o coração de Deus e deixando claro que o Reino que Ele inaugura não se encaixa nas expectativas humanas. Cada cena desse capítulo mostra que seguir Cristo exige discernimento, coragem e disposição para romper com padrões estabelecidos.
Qual é o contexto histórico e teológico de Marcos 3?
O Evangelho de Marcos foi escrito por volta dos anos 60 ou 70 d.C., para cristãos gentios, muitos em Roma. Marcos registra o ministério de Jesus de forma direta e dinâmica, destacando Seus milagres e confrontos com as autoridades religiosas.
O capítulo 3 acontece na Galileia, sob domínio romano, em meio a tensões sociais e religiosas. O clima era de expectativa messiânica, mas também de forte legalismo. Como destaca Keener (2017), havia debates intensos entre os fariseus sobre as leis do sábado, o papel do Messias e as tradições.
Hendriksen (2014) mostra que, neste ponto do ministério de Jesus, a oposição contra Ele cresce rapidamente. As curas, expulsões de demônios e ensinos de Jesus colocam em xeque o sistema religioso dos escribas e fariseus.
Como o texto de Marcos 3 se desenvolve?
O capítulo se divide em cinco momentos marcantes:
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Curar ou matar no sábado? (Marcos 3.1-6)
Jesus entra na sinagoga, onde está um homem com a mão atrofiada:
“Levante-se e venha para o meio” (Marcos 3.3).
Essa enfermidade era séria. Segundo Keener (2017), os músculos e nervos estavam inativos, sem cura conhecida. Alguns fariseus permitiam tratamento no sábado, mas só para salvar vidas — e a cura aqui não se enquadrava nisso. Porém, o problema maior não era técnico, mas a hostilidade contra Jesus.
Jesus questiona:
“O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar a vida ou matar?” (Marcos 3.4).
A pergunta confronta a hipocrisia deles. Até na Revolta dos Macabeus matar era permitido no sábado em legítima defesa, mas fazer o bem? Isso eles condenavam.
Indignado, Jesus cura o homem. Resultado? Os fariseus, aliados aos herodianos — grupo político-religioso contrário — tramam matar Jesus (Marcos 3.6). Um contraste gritante: proíbem curar no sábado, mas planejam assassinato.
Por que as multidões seguiam Jesus? (Marcos 3.7-12)
Jesus se retira para o mar, mas as multidões o seguem de todos os lados: Galileia, Idumeia, Pereia, Tiro e Sidom. Como destaca Keener (2017), mesmo cidades gentias estavam presentes.
Havia uma comoção incomum. Profetas de sinais existiram antes, mas ninguém realizava milagres assim desde Elias e Eliseu.
A fama de Jesus cresce tanto que Ele precisa de um barco para evitar ser esmagado pela multidão. Além disso, os espíritos imundos o reconhecem:
“Tu és o Filho de Deus” (Marcos 3.11).
Mas Jesus os repreende, evitando falsas associações com o mundo espiritual maligno.
Qual o significado do chamado dos doze? (Marcos 3.13-19)
Jesus sobe ao monte, lugar de comunhão com Deus (cf. Êxodo 3.1; 1 Reis 19.8), e chama os que Ele quis. Dos discípulos, escolhe doze, símbolo das doze tribos de Israel, indicando que Ele forma o verdadeiro remanescente do povo de Deus (Keener, 2017).
Os apóstolos são comissionados para pregar e expulsar demônios, dando continuidade à missão do Reino.
Os nomes dos doze revelam o contexto cultural: apelidos comuns, como “Boanerges” (filhos do trovão) para Tiago e João, e distinções como “Simão, o zelote” ou “Cananeu”, indicando até possíveis envolvimentos políticos anteriores.
Jesus realmente estava fora de si? (Marcos 3.20-30)
De volta para casa, a multidão não dá sossego. Nem conseguem comer. Preocupados, os parentes de Jesus tentam contê-lo:
“Ele está fora de si” (Marcos 3.21).
Na cultura da época, isso podia evitar problemas legais, pois considerar alguém insano poderia livrá-lo de punições (Keener, 2017).
Enquanto isso, os mestres da lei o acusam de estar possuído por Belzebu e expulsar demônios pelo poder de Satanás.
Jesus responde com lógica irrefutável:
“Como pode Satanás expulsar Satanás?” (Marcos 3.23).
Se um reino ou casa está dividido, não subsiste. Jesus revela que, ao expulsar demônios, Ele “amarra o valente”, ou seja, Satanás está sendo derrotado.
Jesus então alerta sobre o pecado imperdoável:
“Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão” (Marcos 3.29).
Segundo Hendriksen (2014) e Keener (2017), essa blasfêmia ocorre quando alguém, vendo a ação clara do Espírito, atribui deliberadamente tal obra a Satanás. É um endurecimento tão profundo que impede o arrependimento.
Quem são a verdadeira família de Jesus? (Marcos 3.31-35)
Os parentes de Jesus chegam e o chamam. A resposta surpreende:
“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” (Marcos 3.33).
Ele aponta para os discípulos ao seu redor e declara:
“Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Marcos 3.35).
Keener (2017) mostra que, embora a família fosse importante, o discipulado supera os laços de sangue. Quem segue Jesus, obedece e participa de Sua missão pertence à Sua família espiritual.
Que conexões proféticas encontramos em Marcos 3?
Esse capítulo aponta para várias verdades proféticas:
- Jesus é o Filho de Deus, como até os demônios reconhecem, cumprindo as promessas messiânicas (cf. Isaías 9).
- Os milagres e expulsões de demônios revelam a chegada do Reino, anunciada por João Batista e pelos profetas.
- O chamado dos doze aponta para a renovação de Israel.
- A “amarração do valente” ecoa profecias como Isaías 49.24-25, onde Deus liberta Seu povo do domínio do opressor.
O que Marcos 3 me ensina para a vida hoje?
Ao meditar nesse texto, percebo lições preciosas:
- Fazer o bem é sempre certo, mesmo que isso confronte tradições religiosas.
- Preciso discernir quando o legalismo sufoca a compaixão e a missão.
- Jesus me chama para segui-Lo e me envia como representante do Reino.
- O inimigo é real, mas Jesus já o venceu. Em Cristo, sou livre.
- A blasfêmia contra o Espírito Santo me alerta a nunca endurecer o coração diante da atuação de Deus.
- Minha verdadeira família é formada por aqueles que fazem a vontade de Deus. Pertencer a Cristo é o maior vínculo que existe.
Como Marcos 3 se conecta ao restante das Escrituras?
Esse capítulo conversa com toda a narrativa bíblica:
- A oposição a Jesus cumpre o que Isaías profetizou sobre o Servo Sofredor.
- A vitória sobre Satanás aponta para a derrota final do mal, descrita em Apocalipse 20.
- O chamado dos doze ecoa a formação do povo de Deus e aponta para a Igreja, fundada sobre o ensino apostólico (cf. Efésios 2.20).
- A redefinição da família espiritual antecipa o ensino de que, em Cristo, somos todos irmãos e irmãs, independentemente de origem ou sangue.
Jesus não apenas realiza milagres ou ensina verdades abstratas. Ele revela o Reino, expõe o coração humano e nos convida a segui-Lo com fé, coragem e discernimento.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Marcos. Tradução: Lucas Ribeiro. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.