Mateus 15 é um capítulo que evidencia o confronto entre a tradição humana e a Palavra de Deus, ao mesmo tempo em que revela a compaixão de Jesus para além das fronteiras de Israel. Ao longo do texto, vemos o Senhor corrigindo equívocos religiosos, expondo a verdadeira contaminação do ser humano e demonstrando graça em territórios gentios.
Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 15?
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Mateus escreve seu Evangelho para mostrar que Jesus é o Messias prometido ao povo de Israel. A essa altura do relato, o ministério de Jesus já causava inquietação entre os líderes religiosos. Os fariseus e escribas, defensores zelosos da tradição oral judaica, se viam ameaçados pela popularidade e autoridade do Nazareno.
Havia uma crescente ênfase entre os judeus em regras e tradições elaboradas, como o ritual de lavar as mãos antes das refeições. Essa prática, registrada na tradição dos anciãos, não era uma exigência direta da lei de Moisés para o povo comum, mas fora amplamente difundida e se tornara símbolo de pureza religiosa.
Segundo William Hendriksen, “essa tradição começou como uma tentativa sincera de aplicar a lei de Deus ao cotidiano, mas com o tempo se desviou de sua intenção original e passou a substituir o próprio mandamento divino” (HENDRIKSEN, 2010, p. 134).
Além do conflito com os líderes religiosos, o capítulo mostra Jesus atravessando as fronteiras de Israel e visitando terras gentias, como Tiro e Sidom. Isso marca o início de uma demonstração mais clara do alcance universal de sua missão.
O que Mateus 15 revela sobre o verdadeiro problema do ser humano? (Mateus 15.1–20)
O capítulo começa com uma crítica dos fariseus e mestres da lei: “Por que os seus discípulos transgridem a tradição dos líderes religiosos? Pois não lavam as mãos antes de comer!” (Mateus 15.2). Eles estavam preocupados com um ritual exterior, mas ignoravam o que Deus realmente exige.
Jesus responde de forma direta: “E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?” (v. 3). Ele expõe o absurdo de priorizar tradições humanas enquanto se violam os princípios da lei divina, como o mandamento de honrar pai e mãe.
Essa crítica se encaixa perfeitamente nas palavras do profeta Isaías: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (v. 8). O problema central não está nas mãos, mas no coração.
Essa é uma lição profunda. Eu mesmo percebo como, muitas vezes, podemos nos apegar a práticas externas, esquecendo que Deus olha para o interior. Posso frequentar cultos, evitar certos comportamentos, mas se o meu coração estiver longe do Senhor, tudo isso é vazio.
Jesus ainda diz: “O que entra pela boca não torna o homem impuro; mas o que sai de sua boca, isto o torna impuro” (v. 11). Ou seja, a verdadeira contaminação não vem de fora, mas de dentro.
Pedro, sem entender, pede explicações (v. 15), e Jesus esclarece: “Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e são essas que tornam o homem impuro” (v. 18). Ele lista pecados que brotam do coração: “maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidades sexuais, roubos, falsos testemunhos e calúnias” (v. 19).
Essa verdade ecoa por toda a Escritura. Jeremias já dizia: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável” (Jeremias 17.9).
R. C. Sproul comenta: “Regras externas, como não comer, não tocar, não mexer, não resolvem o problema do coração humano. Só o Espírito Santo pode transformar nosso interior” (SPROUL, 2017, p. 416).
Essa passagem me confronta. Eu não preciso apenas de boas práticas. Preciso de um coração renovado por Cristo.
Como Jesus revela sua compaixão em território gentio? (Mateus 15.21–28)
Na sequência, Jesus se retira para a região de Tiro e Sidom, fora das fronteiras judaicas. Ali, uma mulher cananeia clama por ajuda: “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Minha filha está endemoninhada e está sofrendo muito” (v. 22).
Essa mulher é uma gentia, excluída, mas demonstra surpreendente fé. Mesmo sendo ignorada inicialmente (v. 23) e recebendo palavras duras de Jesus (v. 26), ela persevera, reconhecendo sua condição e declarando: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (v. 27).
William Hendriksen observa que “a aparente demora de Jesus em socorrê-la não revela falta de compaixão, mas visa fortalecer sua fé e proporcionar uma demonstração gloriosa da graça” (HENDRIKSEN, 2010, p. 153).
O desfecho é impressionante: “Mulher, grande é a sua fé! Seja conforme você deseja” (v. 28). Sua filha foi curada naquele instante.
Essa história me ensina que a fé genuína rompe barreiras culturais e religiosas. A mulher cananeia reconheceu sua indignidade, mas não desistiu de buscar a misericórdia de Cristo.
Isso me faz pensar: quantas vezes, em momentos difíceis, eu desanimo, achando que Deus não vai me ouvir? Essa mulher me desafia a perseverar, mesmo quando o céu parece em silêncio.
O que aprendemos com os milagres de Jesus entre os gentios? (Mateus 15.29–39)
Depois do encontro com a mulher cananeia, Jesus vai para a beira do mar da Galileia. Lá, multidões o procuram, trazendo “os mancos, os aleijados, os cegos, os mudos e muitos outros” (v. 30). Ele os cura, e todos ficam maravilhados, louvando ao Deus de Israel (v. 31).
Perceba que Mateus destaca a expressão “Deus de Israel”, sugerindo que muitos ali eram gentios. Isso reforça a mensagem: a compaixão de Jesus não tem fronteiras.
Logo em seguida, temos a segunda multiplicação de pães e peixes, agora para uma multidão de quatro mil homens, além de mulheres e crianças (v. 38). Jesus expressa: “Tenho compaixão desta multidão” (v. 32).
Mais uma vez, os discípulos duvidam: “Onde poderíamos encontrar, neste lugar deserto, pão suficiente para alimentar tanta gente?” (v. 33). Mesmo após a primeira multiplicação (Mateus 14), eles ainda não compreenderam plenamente o poder e a provisão do Senhor.
Eu me vejo nesses discípulos. Quantas vezes Deus já me sustentou, me guiou, me socorreu, e mesmo assim, diante de uma nova dificuldade, sou tentado a duvidar?
Jesus, com paciência, repete o milagre. Ele parte os sete pães e alguns peixinhos, e todos comem até se fartar. Sobram ainda sete cestos cheios (v. 37).
Essa cena aponta profeticamente para o alcance do Evangelho. Se a primeira multiplicação simbolizou a provisão de Deus para Israel, essa segunda, em território gentio, prefigura a inclusão das nações no Reino.
Sproul destaca: “O fato de Jesus realizar o mesmo milagre entre os gentios é uma demonstração clara de que as bênçãos do Messias não se restringem a Israel, mas alcançam o mundo inteiro” (SPROUL, 2017, p. 425).
Essa verdade me enche de esperança. Eu, que sou fruto da missão aos gentios, sou prova viva de que o Evangelho rompeu fronteiras.
Onde vemos o cumprimento das promessas em Mateus 15?
Ainda que Mateus 15 não contenha uma citação direta de profecias messiânicas, o capítulo ecoa temas fundamentais do Antigo Testamento:
- A ênfase de Jesus em “Honra teu pai e tua mãe” (v. 4) reafirma o valor dos Dez Mandamentos (Êxodo 20.12).
- A citação de Isaías 29.13 (v. 8–9) mostra que o formalismo religioso já era denunciado pelos profetas.
- O socorro à mulher cananeia aponta para o plano divino de incluir os gentios, promessa antecipada em textos como Isaías 49.6, onde Deus declara: “Eu farei de você uma luz para os gentios, para que você leve a minha salvação até os confins da terra”.
Jesus, ao curar, alimentar e demonstrar compaixão entre os povos não judeus, está concretizando o que os profetas anunciaram: o Reino de Deus ultrapassaria as fronteiras de Israel.
O que Mateus 15 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo me desafia profundamente. Em primeiro lugar, ele expõe o perigo de uma religiosidade exterior, sem transformação interior. Posso seguir tradições, participar de cultos, e ainda assim manter o coração longe de Deus.
Além disso, sou confrontado a avaliar se estou mais preocupado com regras humanas ou com a Palavra viva do Senhor. Como os fariseus, posso facilmente priorizar minhas preferências e negligenciar o que realmente importa.
A mulher cananeia me inspira a buscar a Deus com humildade e perseverança, mesmo quando as respostas demoram. Ela me lembra que Jesus não ignora um coração sincero e quebrantado.
Por fim, os milagres entre os gentios me mostram que o Evangelho é para todos. A compaixão de Cristo não conhece barreiras, e sua provisão é abundante.
Hoje, ao olhar para minha vida, reconheço que preciso dessa compaixão e desse poder diariamente. E sou grato por saber que Jesus continua sendo o mesmo — pronto para me ensinar, transformar e sustentar.
Conclusão
Mateus 15 revela o coração do evangelho. Deus não se interessa apenas por tradições ou rituais. Ele olha para o interior. A verdadeira contaminação não está fora, mas dentro de nós. Por isso, precisamos de um Salvador que transforme o coração.
Jesus não apenas confronta o legalismo, mas também revela sua graça para além de Israel, curando, libertando e alimentando gentios. Isso aponta para o plano eterno de Deus: incluir todos os povos em seu Reino.
Como a mulher cananeia, posso me achegar a Cristo com humildade. Como os discípulos, posso ser confrontado pela minha incredulidade. Mas, acima de tudo, sou lembrado de que o Senhor é cheio de compaixão e capaz de suprir todas as necessidades — físicas e espirituais.
Minha oração é que, ao meditar nesse capítulo, eu busque um coração puro, uma fé perseverante e uma confiança inabalável em Jesus, o Messias prometido.
Referências
- HENDRIKSEN, William. Mateus: Comentário do Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.