O capítulo 23 de Mateus marca o ápice do confronto entre Jesus e os líderes religiosos de Israel. Após inúmeras discussões e tentativas de armadilhas feitas pelos fariseus e escribas, o Mestre agora os denuncia publicamente com palavras duras e claras. É um dos discursos mais intensos e reveladores do Evangelho, no qual Jesus expõe a hipocrisia e o legalismo que afastavam o povo de Deus.
R. C. Sproul afirma que “neste capítulo, Jesus faz os oráculos de ai, como os profetas do Antigo Testamento, para denunciar a liderança religiosa e anunciar o juízo iminente” (SPROUL, 2010, p. 587). Esse texto é um alerta para qualquer tempo e lugar onde a religiosidade exterior substitui o arrependimento verdadeiro e a comunhão com Deus.
Qual o contexto histórico e teológico de Mateus 23?
>>> Inscreva-se em nosso Canal no YouTube
O Evangelho de Mateus foi escrito para um público predominantemente judeu, e isso transparece na ênfase que o autor dá à relação de Jesus com a Lei, o Templo e as tradições judaicas. O capítulo 23 está inserido na última semana do ministério terreno de Jesus, durante sua permanência em Jerusalém, pouco antes de sua prisão e crucificação.
Nosso sonho é que este site exista sem precisar de anúncios.
Se o conteúdo tem abençoado sua vida, você pode nos ajudar a tornar isso possível.
Contribua para manter o Jesus e a Bíblia no ar e sem publicidade:
A tensão com os fariseus, saduceus e escribas estava no auge. Esses grupos religiosos, especialmente os fariseus, tinham grande influência sobre o povo, mas sua espiritualidade era, em grande parte, superficial e centrada em aparências. William Hendriksen explica que “os fariseus começaram como um movimento legítimo de zelo pela Lei, mas ao longo do tempo degeneraram em formalismo vazio e orgulho espiritual” (HENDRIKSEN, 2001, p. 865).
O discurso de Jesus contra os fariseus não é apenas um ataque pessoal, mas um chamado ao arrependimento e uma denúncia contra o falso ensino que impedia o povo de conhecer o verdadeiro Reino de Deus.
O que Jesus revela sobre os fariseus e escribas? (Mateus 23.1–12)
Jesus começa falando ao povo e aos discípulos sobre os líderes religiosos. Ele reconhece que os escribas e fariseus ocupam a “cadeira de Moisés” (v. 2), ou seja, eles tinham a responsabilidade de ensinar a Lei. Por isso, Jesus orienta: “obedeçam-lhes e façam tudo o que eles dizem, mas não façam o que eles fazem” (v. 3).
Aqui Jesus já aponta o primeiro problema: a incoerência. Os líderes ensinavam corretamente alguns princípios da Lei, mas sua vida estava em total desacordo com o que pregavam. É o clássico “façam o que eu digo, não façam o que eu faço”.
Além disso, eles impunham “fardos pesados” ao povo (v. 4), regras e tradições humanas que iam além da própria Lei de Deus, mas eles mesmos não se submetiam a esse peso.
Jesus também denuncia a vaidade desses homens: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens” (v. 5). Seus filactérios e franjas — símbolos de piedade — eram usados de forma exagerada para impressionar.
Por fim, Jesus ensina um princípio fundamental para a vida cristã: a humildade. “O maior entre vocês deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (v. 11–12). É uma lição que ecoa o próprio exemplo de Jesus, como lemos em Mateus 20.
Por que Jesus pronuncia os “ais” contra os líderes religiosos? (Mateus 23.13–36)
A partir do verso 13, Jesus profere uma série de oráculos de condenação, os famosos “ais”. Essa expressão era típica dos profetas do Antigo Testamento ao anunciar o juízo divino, como vemos em Isaías 5.
Eles impedem o povo de entrar no Reino (v. 13)
Os fariseus, ao invés de guiar o povo ao Messias, tornavam-se obstáculos. R. C. Sproul observa: “Eles se recusavam a entrar no Reino e faziam de tudo para impedir que outros entrassem” (SPROUL, 2010, p. 589).
Eles exploram os vulneráveis (v. 14)
Jesus denuncia a exploração das viúvas, um pecado grave, já que a Lei ordenava o cuidado com os necessitados.
Eles fazem prosélitos (discípulos) para a perdição (v. 15)
O zelo missionário dos fariseus era distorcido. Eles convertiam as pessoas ao farisaísmo, não a Deus, tornando-as “filhos do inferno”.
Eles são mestres cegos e hipócritas (v. 16–22)
Os líderes religiosos faziam distinções absurdas sobre votos e juramentos, tentando contornar a seriedade do compromisso diante de Deus.
Eles priorizam o superficial e ignoram o essencial (v. 23–24)
Jesus critica o legalismo exagerado: “Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas negligenciam a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. É um alerta contra o foco exagerado em detalhes religiosos, enquanto se ignora o coração da fé.
Eles cuidam da aparência, mas o interior está corrompido (v. 25–28)
Os fariseus limpavam o exterior do copo, mas por dentro havia ganância. Por fora eram “sepulcros caiados”, belos, mas cheios de morte.
Eles seguem os passos dos assassinos dos profetas (v. 29–36)
Eles diziam: “Se tivéssemos vivido no tempo dos nossos antepassados, não teríamos tomado parte com eles no derramamento do sangue dos profetas”. Mas na prática, estavam prestes a rejeitar e matar o maior de todos os enviados de Deus: o próprio Jesus.
William Hendriksen destaca: “Os líderes construíam túmulos para os profetas antigos, enquanto conspiravam para matar o Profeta por excelência” (HENDRIKSEN, 2001, p. 877).
Como Jesus lamenta sobre Jerusalém? (Mateus 23.37–39)
A denúncia de Jesus não é fria ou rancorosa. Ao final, ele revela seu coração amoroso e ferido. Ele chora por Jerusalém, símbolo de todo o povo de Deus que o rejeitava.
“Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (v. 37).
Esse é o drama da rejeição do Messias. Deus oferece abrigo, cuidado e salvação, mas o povo insiste em fechar o coração. Como consequência, Jesus profetiza: “Eis que a casa de vocês ficará deserta” (v. 38), uma clara referência à destruição do templo e da cidade, cumprida no ano 70 d.C.
Mas há também uma esperança futura. Jesus diz: “Vocês não me verão desde agora, até que digam: ‘Bendito é o que vem em nome do Senhor’” (v. 39), apontando para a sua segunda vinda, quando Israel reconhecerá o Messias, conforme vemos em Romanos 11.
Como Mateus 23 se conecta com as profecias do Antigo e Novo Testamento?
Todo o discurso de Jesus carrega ecos dos profetas antigos. Isaías, Jeremias e outros já haviam denunciado a hipocrisia e o legalismo do povo. Os “ais” de Jesus ecoam os “ais” de Isaías (Is 5) e o lamento por Jerusalém lembra o choro de Jeremias (Lm 1.1).
Além disso, o anúncio da desolação de Jerusalém e a promessa de um reencontro futuro apontam para o cumprimento das palavras dos profetas sobre o juízo e a restauração de Israel, como vemos em Zacarias 12.
O que Mateus 23 me ensina para a vida hoje?
Ao ler este capítulo, eu sou confrontado a examinar meu coração e minha fé. A hipocrisia não é um problema exclusivo dos fariseus. É uma tentação constante para todos nós. Posso, sem perceber, cair no mesmo erro de priorizar aparência, rituais e tradições, enquanto meu interior permanece frio e distante de Deus.
Jesus nos chama a uma fé autêntica, que começa no coração e se manifesta em humildade, justiça, misericórdia e fidelidade.
Também aprendo que Deus se entristece com a rejeição. Assim como Jesus chorou por Jerusalém, Ele ainda chora por cada pessoa que fecha o coração ao Evangelho. Mas a porta da graça continua aberta.
Por fim, esse capítulo me faz olhar para o futuro com esperança. Um dia, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus é o Senhor, como nos lembra Filipenses 2.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.