Mateus 27 narra o ápice da rejeição e sofrimento de Jesus. Estamos na reta final do ministério terreno de Cristo, na véspera da crucificação. O cenário é politicamente tenso: a Judeia vivia sob domínio romano e os líderes religiosos judeus não possuíam autoridade para aplicar a pena de morte, por isso precisavam envolver Pilatos no processo.
Mateus, ao registrar esses fatos, não apenas apresenta um relato histórico. Ele deseja mostrar que tudo o que está acontecendo é cumprimento das Escrituras e parte do plano soberano de Deus.
Segundo R. C. Sproul, “Mateus escreve de maneira a destacar que, mesmo diante do ódio, da injustiça e da traição, Deus continua absolutamente no controle, conduzindo a história para a cruz e a ressurreição” (SPROUL, 2010, p. 709).
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Além disso, o capítulo deixa evidente a cegueira espiritual dos líderes judeus e a covardia política de Pilatos. Em contraste, Jesus se mantém firme, silencioso e consciente de que está cumprindo sua missão como Cordeiro de Deus.
O que o texto bíblico de Mateus 27 nos revela?
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O remorso de Judas (Mateus 27.1–10)
Logo pela manhã, os líderes judeus decidem levar Jesus a Pilatos (v. 1–2). Eles já haviam condenado Jesus por blasfêmia, mas precisam agora acusá-lo de algo que justifique a pena de morte perante os romanos.
Enquanto isso, Judas, tomado de remorso, tenta desfazer o que fez (v. 3–4). Ele reconhece: “Pequei, pois traí sangue inocente”, mas não busca arrependimento genuíno diante de Deus. Como explica Hendriksen, “Judas teve remorso, mas não se lançou à misericórdia divina como fez Pedro após negar o Senhor” (HENDRIKSEN, 2001, p. 938).
Desesperado, ele devolve as moedas e se enforca (v. 5). Os líderes religiosos, em contradição, afirmam que o dinheiro é “preço de sangue” e compram com ele o Campo do Oleiro, chamado de Campo de Sangue (v. 6–8).
Mateus vê neste episódio o cumprimento da profecia (v. 9–10), combinando elementos de Jeremias 32.6–9 e Zacarias 11.12–13. Isso revela que até mesmo a traição e o fim trágico de Judas fazem parte do plano divino.
Jesus diante de Pilatos (Mateus 27.11–26)
Jesus é interrogado por Pilatos. A pergunta central: “Você é o rei dos judeus?” (v. 11). Jesus responde: “Tu o dizes”, deixando claro que Ele é rei, mas não segundo as categorias humanas.
Diante das acusações, Jesus permanece em silêncio (v. 12–14). Sproul destaca que esse silêncio cumpre Isaías 53.7: “Ele foi oprimido e afligido, e contudo não abriu a boca” (SPROUL, 2010, p. 713).
Pilatos, percebendo que os líderes religiosos estão motivados por inveja (v. 18), tenta libertar Jesus usando o costume da Páscoa. Oferece ao povo a escolha entre Jesus e Barrabás, um criminoso perigoso (v. 15–17).
Mesmo com o aviso da esposa de Pilatos sobre o caráter justo de Jesus (v. 19), os líderes manipulam a multidão. Esta escolhe Barrabás e exige a crucificação de Jesus (v. 20–23).
Pilatos, temendo tumultos, lava as mãos em um gesto simbólico de isenção (v. 24). Mas a multidão assume a responsabilidade: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (v. 25). Tragicamente, como veremos em Mateus 24, essa declaração ecoaria na destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.
A zombaria e a crucificação (Mateus 27.27–44)
Jesus é entregue aos soldados romanos, que o humilham publicamente. Vestem-no com um manto vermelho, colocam uma coroa de espinhos e zombam: “Salve, rei dos judeus!” (v. 27–29).
Ele é espancado e levado para ser crucificado (v. 30–31). Simão Cireneu é forçado a carregar a cruz (v. 32), o que aponta para o sofrimento extremo de Jesus.
No Gólgota, dão a Jesus vinho misturado com fel, mas Ele recusa (v. 33–34). Crucificado, suas vestes são repartidas por sorteio, cumprindo o Salmo 22.18.
Acima de sua cabeça, uma placa anuncia: “Este é Jesus, o rei dos judeus” (v. 37). Hendriksen observa que, ironicamente, os próprios romanos proclamaram a verdadeira identidade de Cristo, mesmo sem entender (HENDRIKSEN, 2001, p. 944).
Enquanto Jesus sofre, é insultado por transeuntes, líderes religiosos e até pelos criminosos crucificados ao seu lado (v. 38–44). Todos exigem um sinal: “Desça da cruz”, mas é justamente ao permanecer nela que Jesus cumpre sua missão.
A morte de Jesus e os sinais sobrenaturais (Mateus 27.45–56)
Das 12h às 15h, trevas cobrem a terra (v. 45). Sproul explica que esse fenômeno aponta para o juízo divino e simboliza o abandono do Filho (SPROUL, 2010, p. 726).
Às 15h, Jesus clama: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (v. 46). Essa citação do Salmo 22.1 revela o peso do pecado e o real abandono, ainda que momentâneo, por parte do Pai.
Jesus entrega o espírito (v. 50). Nesse instante, ocorrem sinais extraordinários:
- O véu do templo se rasga de alto a baixo (v. 51), simbolizando o acesso direto a Deus por meio do sacrifício de Cristo, como também vemos em Hebreus 10.19–20.
- A terra treme, rochas se partem (v. 51).
- Túmulos se abrem e mortos ressuscitam, testemunhando o poder sobre a morte (v. 52–53).
O centurião romano, impressionado, reconhece: “Verdadeiramente este era o Filho de Deus!” (v. 54). Mais uma vez, um pagão confessa a identidade de Jesus, enquanto os líderes judeus o rejeitam.
Mulheres fiéis, como Maria Madalena e outras, acompanham tudo de longe (v. 55–56).
O sepultamento de Jesus (Mateus 27.57–61)
José de Arimateia, discípulo de Jesus e homem rico, pede o corpo de Cristo (v. 57–58). Ele o sepulta em um túmulo novo, escavado na rocha, cumprindo a profecia de Isaías 53.9.
Maria Madalena e “a outra Maria” observam o sepultamento (v. 61). Elas serão testemunhas importantes da ressurreição, como veremos em Mateus 28.
Quais profecias se cumprem em Mateus 27?
O capítulo está repleto de cumprimentos proféticos:
- A traição de Judas e as 30 moedas (v. 9–10) remetem a Zacarias 11.12–13 e Jeremias 32.6–9.
- O silêncio de Jesus diante das acusações ecoa Isaías 53.7.
- A zombaria com a coroa de espinhos e o manto faz referência à humilhação do Servo Sofredor de Isaías 53.
- O sorteio das vestes cumpre o Salmo 22.18.
- O abandono de Jesus na cruz cita o Salmo 22.1.
- O véu rasgado aponta para a inauguração de um novo caminho até Deus, anunciado em Jeremias 31.31–34 e detalhado no Novo Testamento.
Esses detalhes mostram que a crucificação não foi acidente. Ela estava prevista e faz parte do plano redentor de Deus.
O que Mateus 27 me ensina para a vida hoje?
Ao ler este capítulo, meu coração se constrange. Vejo a gravidade do pecado, que levou o Filho de Deus à cruz. Mas também enxergo o amor profundo de Deus, que entregou Jesus para nos salvar.
Aprendo que o remorso, como o de Judas, sem arrependimento verdadeiro, só gera destruição. Mas o arrependimento, como o de Pedro, traz restauração.
Entendo que, muitas vezes, Deus age de maneira silenciosa, sem manifestações grandiosas, como no silêncio de Jesus diante de Pilatos. Mesmo assim, Ele segue no controle.
A humilhação de Jesus me ensina sobre o custo da salvação. O véu rasgado me lembra que tenho livre acesso ao Pai. E o sepultamento em um túmulo novo reforça que o final não é a morte, mas a ressurreição, esperança garantida aos que creem.
Posso olhar para minha vida e confiar que, mesmo em meio a sofrimento e injustiça, Deus está cumprindo o que prometeu. Assim como Ele conduziu cada detalhe da crucificação, Ele conduz minha história até a glória final, como vemos em Apocalipse 21.
Referências
- HENDRIKSEN, William. O Comentário do Novo Testamento: Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
- SPROUL, R. C. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.