O Salmo 125 faz parte dos “Cânticos de Degraus” (Sl 120–134), entoados pelo povo de Israel em suas peregrinações a Jerusalém. O objetivo desses salmos era preparar espiritualmente os fiéis enquanto subiam à cidade santa, especialmente durante as grandes festas como a Páscoa e a Festa dos Tabernáculos. Ao caminhar em direção ao templo, o povo cantava sobre fé, livramento, comunhão e esperança.
Este salmo, em específico, destaca a firmeza dos que confiam no Senhor e a proteção contínua que Deus oferece ao seu povo. Ainda que não saibamos quem o escreveu, sua mensagem se alinha com momentos em que Israel esteve oprimido por nações estrangeiras, como nos períodos babilônico ou persa. A referência ao “cetro dos ímpios” (v. 3) sugere uma época em que o domínio dos inimigos parecia ameaçar a fé dos justos.
Hernandes Dias Lopes observa que “a confiança no Senhor não nos isenta da opressão dos inimigos nem do cetro dos ímpios, mas nos garante estabilidade e companhia, justiça e paz” (LOPES, 2022, p. 1357). João Calvino reforça a mesma ideia ao dizer que “os fiéis estão misturados com os ímpios neste mundo, mas são defendidos por uma muralha inexpugnável” (CALVINO, 2009, p. 357).
Ao ler este salmo, eu percebo que fé verdadeira não é ausência de conflito, mas segurança mesmo em meio à instabilidade.
1. A firmeza dos que confiam (Sl 125:1–2)
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“Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se pode abalar, mas permanece para sempre” (v. 1)
O salmista usa duas figuras para descrever os que confiam em Deus: o monte Sião e os montes ao redor de Jerusalém. O monte Sião representa estabilidade e permanência. Ele era o lugar onde estava o templo, a arca da aliança, e onde a presença de Deus era manifesta. Os fiéis, então, são comparados a algo inabalável.
“Como os montes cercam Jerusalém, assim o Senhor protege o seu povo, desde agora e para sempre” (v. 2)
A segunda imagem é a dos montes que cercam Jerusalém, simbolizando a proteção divina. A cidade estava naturalmente fortificada por sua geografia, e essa realidade visível era um lembrete do cuidado invisível de Deus.
Calvino observa que “os montes são como um espelho visível da proteção secreta de Deus” (CALVINO, 2009, p. 357). Essa ideia me lembra que, mesmo que eu não veja o agir de Deus o tempo todo, posso ter certeza de que estou cercado por sua graça.
Assim como em Salmo 91, o Senhor é descrito como abrigo, refúgio, proteção permanente. A confiança não é uma emoção, mas uma convicção baseada em quem Deus é.
2. A limitação do poder dos ímpios (Sl 125:3)
“O cetro dos ímpios não prevalecerá sobre a terra dada aos justos, se assim fosse, até os justos praticariam a injustiça” (v. 3)
A expressão “cetro dos ímpios” fala de domínio, opressão, controle. No entanto, o salmista afirma que esse domínio tem prazo de validade. Deus não permitirá que a injustiça reine para sempre sobre o seu povo. Ele intervém.
Hernandes Dias Lopes afirma que “o domínio dos maus tem prazo de vencimento” (LOPES, 2022, p. 1359). E Calvino acrescenta que “Deus modera nossas adversidades porque sabe que somos fracos e poderíamos, pela opressão prolongada, nos desviar” (CALVINO, 2009, p. 359).
Essa é uma lição poderosa para mim. Quando as pressões se acumulam, quando o mal parece ter vencido, o Senhor não fica indiferente. Ele cuida para que a tentação não nos ultrapasse, como também é prometido em 1 Coríntios 10:13.
3. A oração por fidelidade (Sl 125:4)
“Senhor, trata com bondade aos que fazem o bem, aos que têm coração íntegro” (v. 4)
Depois de afirmar que Deus protege e limita o mal, o salmista ora. Ele pede que o Senhor continue fazendo o bem aos que são bons e retos de coração. Aqui não se trata de perfeição moral, mas de fidelidade à aliança. São aqueles que andam com Deus, apesar das lutas.
Calvino entende essa oração como “uma forma de unir fé e súplica, pois, mesmo confiando nas promessas, os fiéis não devem se sentar passivamente, mas buscar o Senhor com fervor” (CALVINO, 2009, p. 360).
Essa postura me inspira: confiar e orar. Saber que Deus já prometeu o bem não elimina meu clamor, apenas o fortalece.
4. A advertência contra a apostasia (Sl 125:5)
“Mas aos que se desviam por caminhos tortuosos, o Senhor dará o castigo dos malfeitores. Haja paz em Israel!” (v. 5)
A conclusão do salmo traz um alerta. Nem todos que estão entre o povo são realmente fiéis. Há aqueles que se desviam, seguem caminhos tortuosos. A esses, o Senhor tratará como trata os malfeitores. Ou seja, haverá juízo.
Hernandes Dias Lopes comenta que “o perigo da apostasia é real. Alguns, seduzidos ou oprimidos, se afastam do caminho e serão julgados por isso” (LOPES, 2022, p. 1361). Calvino é ainda mais incisivo: “os hipócritas, ainda que se misturem ao trigo, não escaparão da mão justa de Deus” (CALVINO, 2009, p. 363).
Essa palavra me desafia. Não basta estar no meio do povo de Deus, é preciso andar em retidão. E é preciso vigiar constantemente, pois o desvio começa com pequenos passos.
Cumprimento das profecias
O Salmo 125 não traz uma profecia messiânica explícita, mas seu conteúdo aponta para verdades que se cumprem plenamente em Jesus Cristo. A imagem do monte Sião como símbolo de firmeza se realiza na Igreja, edificada sobre Cristo, a Rocha inabalável (cf. 1 Pedro 2:6).
A proteção divina prometida ao povo se manifesta na presença constante do Espírito Santo. E a promessa de justiça se cumprirá plenamente no retorno de Cristo, quando o cetro dos ímpios será definitivamente quebrado (cf. Apocalipse 19:15).
Além disso, a advertência contra os que se desviam também ecoa no Novo Testamento, especialmente em Hebreus 10:38–39: “o meu justo viverá pela fé; e, se retroceder, não me agradarei dele”.
Significado dos nomes e simbolismos do Salmo 125
- Monte Sião – símbolo da estabilidade espiritual e da presença de Deus entre o seu povo.
- Montes ao redor de Jerusalém – imagem da proteção constante de Deus, visível e invisível.
- Cetro dos ímpios – representa o domínio injusto, que é temporário e limitado por Deus.
- Caminhos tortuosos – expressão da apostasia, dos desvios morais e espirituais.
- Paz sobre Israel – não apenas ausência de guerra, mas plenitude, comunhão com Deus, prosperidade espiritual.
Lições espirituais e aplicações práticas do Salmo 125
- A confiança em Deus nos torna firmes em tempos instáveis. Como o monte Sião, não somos abalados.
- Deus está ao nosso redor como os montes em Jerusalém. Mesmo quando não sentimos, Ele está presente.
- O sofrimento existe, mas tem limite. O cetro dos ímpios não durará para sempre.
- Precisamos orar por fidelidade. A fé não é passividade, mas comunhão ativa com Deus.
- Apostatar é um perigo real. Pequenos desvios podem nos afastar completamente.
- O juízo virá para os que se afastam deliberadamente. Mas os fiéis receberão paz.
Ao ler esse salmo, eu aprendo que viver com fé é estar seguro mesmo quando tudo parece incerto. Não se trata de não enfrentar problemas, mas de saber que Deus me guarda, me guia e limita até mesmo a ação dos ímpios. Meu papel é confiar, obedecer e não me desviar do caminho.
Conclusão
O Salmo 125 é uma canção de esperança firme. Ele nos lembra que a fé nos dá raízes, que a presença de Deus é real mesmo em tempos difíceis, e que a fidelidade será recompensada com paz. Aos que se desviam, há advertência. Aos que permanecem, há promessa. Em um mundo de incertezas, confiar no Senhor é a única forma de permanecer inabalável.
Referências
- CALVINO, João. Salmos, org. Franklin Ferreira, Tiago J. Santos Filho e Francisco Wellington Ferreira; trad. Valter Graciano Martins. 1. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009. v. 4, p. 357–363.
- LOPES, Hernandes Dias. Salmos: O Livro das Canções e Orações do Povo de Deus, org. Aldo Menezes. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2022. v. 1 e 2, p. 1357–1363.