1 João 3 sempre me faz lembrar de quem eu sou em Cristo e o que isso muda na prática da vida. Não são apenas palavras bonitas ou conceitos abstratos sobre ser “filho de Deus”, mas uma realidade concreta, que afeta meu jeito de pensar, agir e amar. À medida que leio esse capítulo, percebo que João não está escrevendo de forma teórica. Ele fala como um pastor, como alguém que ama profundamente o povo de Deus e que quer ver esse amor se traduzindo em atitudes.
Qual é o contexto histórico e teológico de 1 João 3?
A Primeira Carta de João foi escrita provavelmente entre os anos 85 e 95 d.C., quando o apóstolo já estava idoso e servia como uma espécie de líder pastoral na região de Éfeso, na Ásia Menor.
Naquela época, as igrejas estavam enfrentando divisões internas provocadas por mestres hereges. Esses falsos mestres negavam que Jesus veio em carne, o que compromete toda a base do evangelho (KEENER, 2017). É por isso que João, de forma tão clara, fala sobre o amor prático, a justiça, e o fato de que quem é nascido de Deus não pode viver no pecado como um estilo de vida.
Kistemaker destaca que o estilo de João é simples, mas extremamente profundo. Ele faz contraste entre luz e trevas, verdade e mentira, amor e ódio, vida e morte. Não há meio-termo na forma como João enxerga a vida cristã (KISTEMAKER, 2006).
O pano de fundo também traz o impacto da cultura grega e romana, onde o pecado muitas vezes era tratado como algo comum ou até mesmo motivo de orgulho. João vai na contramão disso, chamando seus leitores a viverem como filhos de Deus, separados do sistema pecaminoso do mundo.
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Como o texto de 1 João 3 se desenvolve?
1. O que significa ser chamado filho de Deus? (1 João 3.1-3)
João começa o capítulo maravilhado: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1 Jo 3.1).
Essa é uma das afirmações mais encorajadoras da Bíblia. Eu sempre fico impressionado ao lembrar que Deus, criador do universo, me chama de filho. Não é um título vazio. É algo real, fruto do Seu amor.
Mas João também alerta: “Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu” (1 Jo 3.1). Ou seja, não podemos esperar ser compreendidos ou aceitos pelo mundo. A mesma rejeição que Jesus sofreu, seus filhos também sofrerão.
João continua: “Agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser…” (1 Jo 3.2). Ele aponta para o futuro glorioso, quando seremos transformados e semelhantes a Cristo.
Kistemaker lembra que essa esperança não é passiva. Pelo contrário, ela nos impulsiona à santidade: “Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro” (1 Jo 3.3) (KISTEMAKER, 2006).
2. Qual é a relação entre pecado e a vida cristã? (1 João 3.4-10)
Essa é uma das partes mais diretas e desafiadoras da carta. João escreve: “Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei” (1 Jo 3.4).
Aqui, ele está deixando claro que o pecado não é algo leve ou apenas uma fraqueza humana. É uma violação da vontade de Deus.
Ele lembra que Jesus veio “para tirar os nossos pecados, e nele não há pecado” (1 Jo 3.5). Se estamos em Cristo, o pecado não deve mais dominar nossa vida.
Isso não significa que o cristão nunca mais peca. Mas João está falando do pecado como um estilo de vida contínuo, deliberado. Por isso ele diz: “Todo aquele que nele permanece não está no pecado” (1 Jo 3.6).
Keener explica que, no pensamento judaico da época, havia uma divisão muito clara entre justos e ímpios. João usa essa linguagem, mas com uma profundidade cristã: ou você pertence a Deus e pratica a justiça, ou pertence ao diabo e vive no pecado (KEENER, 2017).
Ele diz: “Aquele que pratica o pecado é do diabo… Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo” (1 Jo 3.8).
A diferença entre os filhos de Deus e os filhos do diabo fica evidente: “quem não pratica a justiça não procede de Deus; e também quem não ama seu irmão” (1 Jo 3.10).
3. Como o amor verdadeiro se manifesta? (1 João 3.11-18)
João volta ao tema central da carta: o amor. Ele diz: “Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que nos amemos uns aos outros” (1 Jo 3.11).
Ele dá o exemplo negativo de Caim, que odiou e matou seu irmão Abel. O motivo? “Suas obras eram más e as de seu irmão eram justas” (1 Jo 3.12).
O mundo vai odiar os filhos de Deus da mesma forma. João alerta: “Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1 Jo 3.13).
Mas o sinal de que realmente passamos da morte para a vida é o amor: “Quem não ama permanece na morte” (1 Jo 3.14).
Esse amor não é apenas sentimento. É algo prático, visível, que se traduz em atitudes: “Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1 Jo 3.16).
Eu sempre paro nessa parte e me pergunto: será que estou disposto a amar desse jeito? João diz que, se temos recursos e vemos um irmão em necessidade, mas não nos compadecemos, o amor de Deus não está em nós (1 Jo 3.17).
Por isso ele conclui: “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” (1 Jo 3.18).
4. Como podemos ter confiança diante de Deus? (1 João 3.19-24)
João mostra que o amor prático gera segurança espiritual: “Assim saberemos que somos da verdade; e tranqüilizaremos o nosso coração diante dele” (1 Jo 3.19).
Mesmo quando nossa consciência nos acusa, podemos lembrar: “Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas” (1 Jo 3.20).
Kistemaker comenta que João reconhece que, em momentos de fraqueza, podemos duvidar da nossa posição diante de Deus. Mas o amor e a obediência prática nos trazem paz (KISTEMAKER, 2006).
João afirma: “Se o nosso coração não nos condenar, temos confiança diante de Deus e recebemos dele tudo o que pedimos” (1 Jo 3.21-22).
Mas esse “receber” está diretamente ligado à obediência: “Porque obedecemos aos seus mandamentos e fazemos o que lhe agrada” (1 Jo 3.22).
E quais são esses mandamentos? João resume de forma linda: “Que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros” (1 João 3.23).
Aqueles que vivem assim “permanecem nele, e ele neles”, e o Espírito Santo é a garantia dessa comunhão (1 João 3.24).
Quais conexões proféticas encontramos em 1 João 3?
O capítulo todo ecoa as grandes promessas bíblicas:
- A expressão “seremos semelhantes a ele” (1 João 3.2) aponta para o cumprimento final da glorificação dos crentes, mencionada em Filipenses 3.21 e 1 Coríntios 15.49.
- A referência a Caim e Abel (1 João 3.12) conecta o texto a Gênesis 4, mostrando que o conflito entre os justos e os ímpios é tão antigo quanto a humanidade.
- A manifestação do amor de Jesus ao dar a vida por nós (1 João 3.16) cumpre as palavras de Jesus em João 10.11, onde Ele diz ser o bom pastor que dá a vida pelas ovelhas.
- A promessa do Espírito como garantia da presença de Deus (1 João 3.24) remete às promessas de Jesus em João 14.16-17.
O que 1 João 3 me ensina para a vida hoje?
Esse capítulo é um lembrete prático de que ser filho de Deus muda tudo:
- Muda a forma como vejo a mim mesmo: Sou amado, sou chamado filho de Deus.
- Muda minha relação com o pecado: Não posso viver no pecado como se fosse normal.
- Muda a maneira como trato as pessoas: O amor precisa ser visível, prático, sacrificial.
- Muda minha segurança espiritual: Quando ando na luz, tenho paz no coração e confiança diante de Deus.
- Muda minha vida de oração: Posso pedir com confiança, sabendo que estou alinhado à vontade de Deus.
- Muda minha perspectiva: Espero o dia glorioso em que serei semelhante a Cristo.
Ler 1 João 3 me desafia, mas também me consola. Não se trata de perfeição imediata, mas de um processo real de transformação. Um processo onde o amor de Deus me constrange, me chama à responsabilidade e me lembra: eu pertenço a Ele.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Tiago e Epístolas de João. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
- KEENER, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. Tradução: José Gabriel Said. Edição Ampliada. São Paulo: Vida Nova, 2017.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.