O capítulo 20 de 2 Reis encerra a narrativa sobre o reinado de Ezequias, um dos reis mais piedosos de Judá. O contexto é o mesmo do capítulo anterior, quando Senaqueribe, rei da Assíria, invadiu Judá e cercou Jerusalém. A data provável desses eventos gira em torno de 701 a.C., ano da invasão assíria. É nesse tempo que Ezequias adoece gravemente, e o profeta Isaías é enviado para lhe anunciar que sua morte estava próxima (2 Rs 20.1).
A nação vivia dias de tensão militar e espiritual. A Assíria ainda era uma ameaça. Embora Deus tivesse prometido defender Jerusalém — como vimos em 2 Reis 19 —, a situação ainda exigia fé e vigilância.
Segundo Thomas Constable, “Deus adicionou quinze anos à vida de Ezequias em resposta ao seu pedido por misericórdia… Esse incidente aconteceu no mesmo ano da invasão de Senaqueribe” (CONSTABLE, 1985, p. 578). Isso mostra como a oração de Ezequias e o livramento da cidade estão interligados.
Ezequias, portanto, enfrentava uma crise pessoal (sua saúde) e uma crise nacional (o cerco da Assíria). A maneira como ele lidaria com ambas revelaria o coração de um rei justo — mas também humano e limitado.
Como Deus responde à oração de Ezequias? (2 Reis 20:1–7)
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“Ponha em ordem a sua casa, pois você vai morrer; não se recuperará” (2 Rs 20.1).
A notícia foi dura. Ezequias, mesmo sendo um rei fiel, recebeu a sentença de morte através do profeta. Mas sua reação foi imediata: virou o rosto para a parede e orou com intensidade (v. 2). Ele não protestou contra Deus, mas clamou com base em sua integridade e devoção. E chorou amargamente.
Esse choro revela o coração de alguém que ainda ansiava por cumprir seu propósito. Talvez ele temesse pela instabilidade do reino, ou pela juventude de seu herdeiro, Manassés, como destacam estudiosos (CONSTABLE, 1985, p. 578).
A resposta de Deus foi impressionante: antes que Isaías deixasse o pátio do palácio, Deus mandou que ele voltasse. O Senhor disse: “Ouvi sua oração e vi suas lágrimas; eu o curarei” (v. 5). Além da cura, prometeu mais quinze anos de vida e a libertação de Jerusalém das mãos do rei da Assíria (v. 6).
O tratamento ordenado por Isaías — um emplastro de figos — era conhecido na antiguidade como método medicinal. Estudos arqueológicos confirmam o uso desse tipo de remédio em Ugarite e outras culturas (WALTON et al., 2018, p. 528). Mas o ponto principal aqui é que Deus poderia curar diretamente, mas escolheu usar um meio simples para manifestar seu poder.
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Essa parte do texto me ensina que Deus vê nossas lágrimas e responde à oração sincera. E que Ele pode operar milagres por caminhos naturais, usando o que está ao nosso alcance.
Qual foi o sinal dado por Deus e por que ele é importante? (2 Reis 20:8–11)
“Prefiro que a sombra recue dez degraus” (2 Rs 20.10).
Ezequias pediu um sinal de que realmente seria curado e subiria ao templo em três dias. Esse pedido, embora pareça audacioso, tem precedente bíblico. Gideão fez algo semelhante em Juízes 6, e Deus não repreendeu seu pedido.
Isaías então oferece duas opções: que a sombra avance ou recue dez degraus na escadaria de Acaz (v. 9). Ezequias escolhe o mais difícil — que a sombra retroceda. Isso se tornaria um sinal incontestável de que Deus estava no controle do tempo e da criação.
Segundo o Comentário Histórico-Cultural, essa escadaria poderia ser um tipo rudimentar de relógio de sol, possivelmente usado até mesmo para cultos aos astros, o que tornaria o sinal ainda mais simbólico (WALTON et al., 2018, p. 528–529). Deus estava dizendo: “Eu controlo o tempo, não os astros.”
Esse sinal extraordinário reafirma a soberania de Deus sobre a natureza. Ele não apenas cura Ezequias, mas deixa claro que sua Palavra é confiável e que Ele está no controle de todas as coisas.
Por que Ezequias recebeu os babilônios com tanta abertura? (2 Reis 20:12–15)
“Não há nada em meus tesouros que não lhes tenha mostrado” (2 Rs 20.15).
A visita de Merodaque-Baladã, rei da Babilônia, parece cordial. Ele manda presentes para Ezequias após saber da sua doença e cura. Mas havia motivações políticas por trás do gesto.
Merodaque-Baladã era um líder caldeu que resistia ao domínio assírio. Ao enviar emissários a Judá, ele buscava alianças contra a Assíria (WALTON et al., 2018, p. 529). Ezequias, animado com o prestígio, mostrou tudo o que possuía: tesouros, armamentos, suprimentos. Ele não escondeu nada.
Esse momento revela um lado fraco de Ezequias. Ao invés de glorificar a Deus pelo milagre, ele buscou reconhecimento político. Thomas Constable observa que “Ezequias provavelmente não via sua atitude como falta de confiança em Deus… mas era exatamente isso” (CONSTABLE, 1985, p. 579).
Esse erro ecoa uma tentação atual: quando Deus nos abençoa, há o risco de atribuir a nós mesmos a glória. O orgulho é sutil, mas perigoso. Ezequias tropeçou justamente após uma grande vitória espiritual.
Como Deus julgou o orgulho de Ezequias? (2 Reis 20:16–19)
“Tudo o que se encontra em seu palácio… será levado para a Babilônia” (2 Rs 20.17).
Isaías, com autoridade profética, confronta Ezequias. A mensagem é dura: tudo o que ele mostrou será levado como despojo para a Babilônia. E mais — seus descendentes seriam levados e feitos eunucos no palácio babilônico (v. 18). Isso prenuncia o exílio que acontecerá cerca de um século depois.
A profecia mostra que as ações de um rei podem afetar gerações futuras. Embora Ezequias tenha se arrependido, o julgamento foi mantido. A resposta do rei é surpreendente: “Boa é a palavra do Senhor” (v. 19). Ele reconhece que o juízo é justo e agradece por ainda haver paz durante seus dias.
Essa resposta não é indiferença. Segundo 2 Crônicas 32.26, Ezequias se humilhou diante de Deus. Ele aceitou a disciplina com maturidade e submissão.
Essa parte do texto me ensina que Deus leva a sério o orgulho e que mesmo servos fiéis estão sujeitos a cair. Mas também aprendo que o arrependimento sincero ainda pode abrir espaço para misericórdia.
O que podemos aprender com a morte de Ezequias? (2 Reis 20:20–21)
“Ezequias descansou com os seus antepassados, e seu filho Manassés foi o seu sucessor” (2 Rs 20.21).
O autor encerra o capítulo mencionando as realizações de Ezequias, especialmente a construção do túnel que conduzia a água do Gihon até Jerusalém. Esse túnel ainda pode ser visto hoje em Israel e é considerado um marco da engenharia da época.
Constable destaca que “o túnel de Ezequias foi um feito extraordinário, cavado de dois lados até se encontrarem no meio” (CONSTABLE, 1985, p. 580). Era uma estratégia defensiva contra o cerco assírio: garantir água para o povo e impedir o acesso dos inimigos à fonte.
Ezequias morreu em paz, mas o texto sugere uma transição delicada. Seu filho Manassés, que começou a reinar como corregente, se tornaria um dos piores reis de Judá. O legado espiritual de Ezequias seria rapidamente esquecido.
Isso me leva a refletir: que tipo de herança estou deixando para a próxima geração? A fidelidade de hoje precisa ser acompanhada pela formação de líderes fiéis amanhã.
Essas profecias se cumpriram no Novo Testamento?
Embora o texto não cite diretamente Jesus ou o Novo Testamento, ele aponta para temas que aparecem na nova aliança:
- O pedido de um sinal (2 Rs 20.8) lembra as palavras de Jesus em Mateus 12.39, quando Ele diz que uma geração má pede sinais, mas só receberia o sinal de Jonas.
- A cura de Ezequias ecoa os muitos milagres de cura operados por Jesus, mostrando que Deus se importa com o corpo e a alma.
- A disciplina de Ezequias lembra a exortação de Hebreus 12:6: “o Senhor disciplina a quem ama”.
E, de forma simbólica, a sombra que retrocede aponta para um Deus que pode reverter o tempo — um lembrete do poder de Cristo sobre a morte e sobre o tempo em Apocalipse 1.
O que 2 Reis 20 ensina para nossa vida hoje?
- Deus responde orações sinceras – Ezequias orou com lágrimas, e Deus o ouviu. Isso me encoraja a ser vulnerável diante do Senhor.
- A cura pode vir de maneira sobrenatural ou por meios simples – Um emplastro de figos foi usado, mas o milagre estava em Deus, não no remédio.
- Devemos ter cuidado com o orgulho depois das vitórias – Ezequias caiu após ser curado. A vitória pode nos deixar vulneráveis.
- As consequências dos nossos atos podem afetar o futuro – A visita dos babilônios parecia inofensiva, mas gerou consequências graves.
- O arrependimento ainda tem valor diante de Deus – Ezequias se humilhou e foi poupado de ver o juízo em seus dias.
- O fim de um servo fiel não apaga seus erros, mas confirma a graça de Deus – Ezequias não foi perfeito, mas foi lembrado por sua fé e devoção.
Conclusão
2 Reis 20 nos mostra o coração de um rei justo que ora, chora, vence — e também falha. Ezequias é um espelho da nossa caminhada: fé e fraqueza andando lado a lado. Mas o que permanece é a fidelidade de Deus.
A oração ainda tem poder. O orgulho ainda corrompe. E Deus ainda levanta vozes como Isaías para nos chamar de volta ao caminho certo.
Seja na doença, no sucesso ou na tentação, que possamos nos voltar para Ele com o rosto na parede — e o coração aberto.
Referência
- CONSTABLE, Thomas L. 2 Kings. In: WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (Orgs.). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures. Vol. 1. Wheaton, IL: Victor Books, 1985. p. 578–580.
- WALTON, John H.; MATTHEWS, Victor H.; CHAVALAS, Mark W. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2018. p. 528–529.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.