Apocalipse 9 continua a narrativa iniciada em Apocalipse 8, quando as primeiras quatro trombetas são tocadas e juízos atingem a natureza. Agora, com a quinta e a sexta trombeta, o cenário se intensifica. O ataque não é mais contra o meio ambiente, mas contra o próprio ser humano. O texto se torna ainda mais sombrio, revelando que há realidades espirituais invisíveis que também participam do juízo divino.
João escreve para igrejas do primeiro século que enfrentavam perseguições sob o Império Romano e tentações de acomodação espiritual. Sua mensagem é clara: o juízo de Deus é inevitável. E ele vem com propósito — despertar, sacudir, chamar ao arrependimento.
Hernandes Dias Lopes afirma que “as trombetas são juízos temporários com o objetivo de despertar os homens para a realidade espiritual e levá-los ao arrependimento” (LOPES, 2022, p. 206). Já Simon Kistemaker nos lembra que “essas calamidades refletem o agir do mal na história, que será plenamente derrotado por Cristo no fim” (KISTEMAKER, 2004, p. 367).
Ler esse capítulo é como ter o véu da realidade puxado por um instante. O que vemos é assustador. Mas é também necessário. Deus está nos alertando.
O que a quinta trombeta revela sobre a ação demoníaca no mundo? (Apocalipse 9:1–12)
“O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que havia caído do céu sobre a terra. À estrela foi dada a chave do poço do Abismo” (v. 1)
A imagem de uma estrela caída do céu é simbólica. João descreve algo que já havia acontecido — “havia caído”. Isso remete diretamente à queda de Satanás, como mencionado por Jesus em Lucas 10:18: “Eu via Satanás caindo do céu como relâmpago”.
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Essa “estrela” recebe autoridade limitada: a chave do Abismo. Quando ela abre, sai fumaça — símbolo de escuridão espiritual — e dela emergem gafanhotos demoníacos. Mas eles não tocam na vegetação, como os do Egito em Êxodo 10. Eles ferem somente os que “não tinham o selo de Deus na testa” (v. 4), ou seja, os que não pertencem ao Senhor.
Esses demônios atormentam as pessoas por cinco meses. E o sofrimento é tão intenso que “os homens procurarão a morte, mas não a encontrarão” (v. 6). Um retrato profundo da angústia sem esperança.
Kistemaker descreve isso como “um período de sofrimento espiritual e psicológico permitido por Deus para levar o ser humano ao reconhecimento de sua necessidade de salvação” (KISTEMAKER, 2004, p. 370).
As criaturas descritas têm aparência grotesca: “pareciam cavalos preparados para a batalha”, “tinham rosto humano”, “dentes como os de leão”, “cabelos de mulher” e “couraças de ferro” (vv. 7–9). Essas imagens simbolizam força, inteligência, sedução e agressividade — uma combinação destrutiva que age contra a humanidade.
Eles são liderados por um ser chamado Abadom (hebraico) ou Apoliom (grego), ambos significando Destruidor. Esse é o nome do anjo do Abismo — e é também o nome de Satanás. Hernandes observa que “o diabo age como destruidor, mas sua atuação está sob o controle soberano de Deus” (LOPES, 2022, p. 212).
Esses ataques não atingem os selados. Isso me consola. Mesmo em meio ao caos, Deus guarda os seus. Como aprendemos em Apocalipse 7, há um selo de proteção sobre os servos de Deus.
Por que a sexta trombeta é ainda mais assustadora? (Apocalipse 9:13–19)
“O sexto anjo tocou a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das pontas do altar de ouro que está diante de Deus” (v. 13)
Agora, a ordem vem do próprio altar de Deus. A sexta trombeta libera quatro anjos que estavam amarrados junto ao rio Eufrates — uma região simbólica de conflitos históricos (como as guerras contra a Babilônia e a Assíria). Esses anjos são maus. Eles estavam presos, aguardando o tempo exato — “hora, dia, mês e ano” (v. 15) — para agir.
Quando são soltos, liberam um exército de duzentos milhões de cavaleiros. Um número gigantesco, impossível de imaginar. É mais do que o dobro da população do Império Romano na época. Isso reforça o caráter simbólico: um juízo em escala global.
Esses cavalos lançam “fogo, fumaça e enxofre” pelas bocas. E um terço da humanidade morre por causa dessas pragas. A cena ecoa os julgamentos de fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra em Gênesis 19.
As caudas dos cavalos são “como cobras, com cabeças que ferem”. Kistemaker observa que “esse é um retrato grotesco da força do mal, que ataca com inteligência e fúria” (KISTEMAKER, 2004, p. 386).
Ao ler isso, lembro que o juízo de Deus não é acidental. Ele é justo, planejado e progressivo. Primeiro o tormento (quinta trombeta), depois a morte (sexta trombeta). Deus está sacudindo o mundo.
Como o mundo reage aos juízos de Deus? (Apocalipse 9:20–21)
“O restante da humanidade que não morreu por essas pragas, nem assim se arrependeu…” (v. 20)
Esse é, para mim, o ponto mais triste do capítulo. A dureza do coração humano. As pessoas continuam adorando “demônios e ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira” — imagens que “não podem ver, nem ouvir, nem andar”.
Mesmo depois da morte de bilhões, ninguém se volta para Deus. Pelo contrário, continuam praticando assassinatos, feitiçarias, imoralidade sexual e roubos (v. 21). Isso mostra que o arrependimento não vem apenas pela dor. Ele precisa do toque da graça de Deus.
Essa dureza me lembra o que aconteceu no Egito, quando Faraó endureceu o coração mesmo após as pragas. A dor, sozinha, não muda ninguém. Só o Espírito Santo convence do pecado (cf. João 16:8).
Hernandes comenta que “os homens seguem adorando ídolos mesmo diante da destruição porque seus corações estão presos ao pecado” (LOPES, 2022, p. 229). Isso deve nos despertar.
Essas profecias já se cumpriram ou ainda vão se cumprir?
Essa pergunta é inevitável. E a resposta mais segura, como aponta Simon Kistemaker, é que “os juízos descritos em Apocalipse têm aplicação tanto presente quanto futura” (KISTEMAKER, 2004, p. 389).
A quinta trombeta pode representar épocas de opressão espiritual, angústia emocional e ataques demoníacos que marcam a história da humanidade. Já a sexta trombeta pode apontar para guerras de grandes proporções, como vimos no século XX, mas também para um juízo ainda mais severo no fim dos tempos.
O que João vê é um padrão: o mal age com fúria; Deus permite com limites; o objetivo é chamar ao arrependimento. Se isso está se cumprindo hoje ou se cumprirá mais adiante, o ponto central permanece o mesmo: Deus está falando.
E como vimos em Apocalipse 3, Ele ainda bate à porta, esperando que alguém ouça Sua voz.
Quais lições práticas Apocalipse 9 nos oferece?
Ao refletir sobre esse capítulo, tiro sete lições espirituais:
- O mal é real e organizado – Ele não age por acaso. É estruturado, liderado e ativo. Mas está sob controle divino (Ap 9:1, 11).
- Deus coloca limites à ação demoníaca – Os gafanhotos não podem matar. Apenas atormentar. Deus é soberano.
- O sofrimento não garante arrependimento – A dor sem quebrantamento apenas endurece mais o coração (Ap 9:20–21).
- A idolatria ainda é o maior pecado humano – Mesmo em tempos modernos, ídolos invisíveis como poder, sexo e dinheiro ocupam o lugar de Deus.
- A igreja está protegida pelo selo de Deus – Quem tem o Espírito Santo não precisa temer o juízo (Ap 9:4).
- Juízo é uma expressão da misericórdia de Deus – Ele prefere alertar antes de destruir.
- A graça ainda está disponível hoje – Se ouvirmos a trombeta e respondermos com fé, seremos poupados.
Conclusão
Apocalipse 9 é uma visão dramática do juízo de Deus. Um juízo que vem não apenas pela força da natureza, mas pelo avanço do mal espiritual. Ele nos lembra que há realidades além do que os olhos enxergam, e que o pecado não é apenas uma escolha moral — é uma aliança com a escuridão.
Mas esse capítulo também carrega uma esperança silenciosa: os selados não são tocados. O altar ainda fala. E Deus ainda espera.
Como em Apocalipse 21, haverá um dia sem lágrimas e sem morte. Mas antes disso, precisamos ouvir o som das trombetas. Não com medo. Mas com reverência.
Referências
- KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
- LOPES, Hernandes Dias. Apocalipse: O futuro chegou. São José dos Campos: Hagnos, 2022.
- Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional. São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2001.

Sou Diego Nascimento e o Jesus e a Bíblia não é apenas um projeto, é um chamado. Deus deu essa missão a mim e a Carol (esposa) por meio do Espírito Santo. Amamos a Palavra de Deus e acreditamos que ela pode mudar a sua vida, assim como mudou a nossa.